Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

Descrição de chapéu Páscoa

Tendência dos ovos de Páscoa é o sumiço total do chocolate

Corrida por novidades tirou protagonismo do cacau; dos 31 ovos degustados pela Folha, só 2 tinham casca 100% de chocolate

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São Paulo

Participei, ao lado de 16 colegas da Folha, da degustação que elegeu os melhores ovos de Páscoa da temporada 2023.

Quem nunca esteve numa prova dessas tem uma impressão equivocada da coisa. Eu mesmo tinha.

O open bar de doces é o sonho da criança que mora em nossas carcaças. Mas é preciso dizer: comer, numa tacada só, amostras de 31 ovos de Páscoa não é bolinho. Bem longe disso.

Ovos de Páscoa degustados por profissionais da Folha - Gabriel Cabral/Folhapress

Lá pelo terceiro chocolate a gente já se sente satisfeita, só que ainda não cumpriu 10% da missão. A produção do Guia providenciou água com gás para facilitar a tarefa, que presumia a ingestão de uma quantidade brutal de açúcar.

Não dá para pegar um pedacinho quase microscópico de chocolate, até porque o chocolate parece ser secundário nos ovos de última geração. Você precisa provar, numa mordida só, a ganache, o praliné, o pistache, o bolo de cenoura, o caramelo salgado e o diabo que o carregue.

Das 31 amostras inclusas na degustação, apenas duas tinham casca 100% de chocolate, sem recheio ou outros elementos: o ovo da Kinder e o da Danke, ambos na categoria menos cara (até R$ 100).

O Kinder Ovo é o que sempre foi: o que importa de verdade é o brinquedo. Já o Danke, todinho de chocolate ao leite, é muito gostoso.

Eu achei o Danke o melhor ovo de toda a degustação. Não por ser o melhor chocolate, mas por se encaixar naquilo que eu considero adequado para um ovo de Páscoa: bom chocolate ao leite, que as crianças adoram. Sério, ovo com cranberry e flor de sal é fetiche de adulto que se recusa a crescer.

A busca por novidades, Páscoa após Páscoa, tem como consequência o paulatino sumiço do chocolate como protagonista dos ovos. Os produtos degustados pela Folha ainda se encaixam na categoria "ovos de chocolate", longe de excentricidades como o ovo de coxinha ou o ovo de temaki de salmão.

E olha que estes ainda são de comer. Como o próprio jornal já mostrou, a tendência do setor pascoal é a "kinderovização". Ou seja, o que vale mesmo é o brinde. Até Barbie e fone de ouvido entra na dança dos presentes.

Termino o texto, ou quase termino, com a declaração de um diretor de marketing de uma dessas companhias:

"São brindes de qualidade e alto valor agregado, seguindo a tendência de posicionarmos a personagem com mais proximidade ao público jovem. Em total sinergia com o mundo gamer e também com o home office."

Ai, ai, ai. Dá saudade do velho ovo de chocolate recheado de bombons, tudo gostosinho, mas nem tanto...

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