Pesquisadores brasileiros estão desenvolvendo um tipo de café que já sai do pé sem cafeína, no que deve ser o primeiro café descafeinado obtido por melhoramento genético do mundo –ou seja, naturalmente descafeinado.
O projeto começou há mais de duas décadas, quando pesquisadores do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), principal centro de pesquisa e melhoramento genético cafeeiro do Brasil, encontraram germoplasma –estrutura que armazena o material genético de uma espécie– de três plantas de café de origem etíope com menos de 0,10% de cafeína.
Segundo resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para que um produto seja considerado descafeinado, o valor máximo permitido de cafeína deve ser de 0,1% –um grão "normal" tem, em geral, entre 1% e 3%.
Ou seja, as plantas localizadas pelos pesquisadores Maria Bernadete Silvarolla e Paulo Mazzafera eram descafeinadas, segundo esse critério. Na ocasião, a descoberta chegou a ser publicada na revista científica Nature.
A partir daí, os pesquisadores começaram a clonar as plantas e a cruzá-las com variedades brasileiras, até chegar a cruzamentos que atendessem a dois requisitos: 1) menos de 0,1% de cafeína e 2) alta produtividade.
Agora, após anos de pesquisa, essas variedades finalmente foram selecionadas e começaram a ser de fato plantadas. Inicia-se, pois, uma das etapas finais do projeto. São os chamados testes regionais, nos quais as sementes são plantadas em diferentes regiões produtoras de café do Brasil.
Esta etapa é necessária para ter uma certeza sobre a viabilidade da planta. "Os dados obtidos até o presente foram animadores, mas, como vieram de um único experimento, há necessidade de submeter os materiais a experimentos em vários locais, para confirmar ou não os primeiros resultados", explica Silvarolla.
Apesar de estar entrando em uma fase final, o resultado ainda deve demorar para chegar aos consumidores. Para que uma muda de café comece a dar frutos, são necessários alguns anos. Além disso, o cafezal só dá frutos uma vez ao ano, e são necessárias algumas colheitas para avaliar os resultados.
O pesquisador Júlio César Mistro, que integra a equipe responsável pelo experimento, estima em mais ou menos oito anos o tempo para a conclusão efetiva do projeto. A partir daí, para que isso seja replicado em larga escala e chegue até a prateleira do supermercado, Mistro diz que serão necessários no mínimo mais quatro anos.
A espera, contudo, pode valer a pena, pois os impactos na indústria devem ser significativos.
Atualmente, o processo de descafeinização é feito utilizando água e solventes químicos, o que leva a um aumento dos custos de produção e uma queda na qualidade da bebida, já que o processo leva embora, além da cafeína, compostos aromáticos do café.
Assim, com a nova variedade naturalmente descafeinada, em tese seria possível obter um café descafeinado mais barato e mais saboroso.
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