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Café na Prensa - David Lucena
David Lucena
Descrição de chapéu alimentação

Brasileiro, melhor barista do mundo anuncia planos após conquistar título

Aos 32 anos, Boram Um traça novas metas depois de anos com foco em competição

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São Paulo

O melhor barista do mundo não sabe o que fazer.

Depois de anos com foco total em campeonatos, o brasileiro Boram Julio Um, 32, chegou ao topo do mundo e, pela primeira vez desde 2019, não precisa se levantar todas as manhãs pensando na incessante rotina de treinos.

Em junho deste ano, Boram venceu o Campeonato Mundial de Barista, a mais importante competição da área, feito que o Brasil jamais havia alcançado –o torneio existe desde 2000.

Diferentemente de competições esportivas, uma vez que o barista conquista o título de melhor do mundo, não compete mais.

Homem com camisa azul marinho prepara café
Barista Boram Um prepara café em sua cafeteria, a Um Coffee Co., no bairro do Bom Retiro, em São Paulo - David Lucena/Folhapress

A disputa envolve treinos exaustivos e muita insistência. Existem baristas que disputam por vários anos e desistem sem alcançar o título máximo.

"Então conquistar o mundial foi, de certa forma, um alívio muito grande. Eram rotinas muito intensas. Mas eu ainda não sei o que fazer da minha vida hoje", brinca Boram.

Antes do título, a vida era só treinar. Ele se encantou pelo mundo das disputas desde os primeiros passos neste universo.

Formado em administração na Universidade de Boston, Boram, descendente de sul-coreanos, trabalhava no mercado financeiro até 2014, quando ficou de "saco cheio", nas suas palavras, e decidiu auxiliar o pai, que desde 2009 cultivava café em Minas Gerais.

Começou atuando no controle de qualidade e, depois, assumiu a missão de ajudar o pai a exportar.

Então começou a rodar o mundo em feiras e eventos do setor. Foi quando teve o primeiro choque: a indústria dos cafés especiais via os grãos brasileiros com ressalvas.

"Eu falava ‘a gente está produzindo café de alta qualidade no Brasil’ e 90% das respostas eram na linha do ‘o Brasil não faz café especial, vocês fazem café comercial’. Muitos dos clientes não queriam nem provar nosso café", lembra.

Por isso, o agora campeão diz que quer usar o destaque internacional que está recebendo para fortalecer a imagem do Brasil como produtor de grãos de qualidade.

Em um dos primeiros eventos de café, em 2015, Boram teve o segundo choque, mas esse positivo. Foi quando assistiu ao campeonato mundial de barista, em Seattle, nos EUA. Na ocasião, o australiano Sasa Sestic foi coroado o melhor do mundo.

Aquele momento causou forte impacto em Boram, então com 24 anos e recém-saído do mercado financeiro para a indústria cafeeira. Ele testemunhava, ali, aquilo que é considerado o auge da profissão de barista.

Mas o brasileiro preferiu ir com calma e se planejar bem. Assim, deu os primeiros passos em competições em 2019, já com um objetivo muito claro: ser o melhor do mundo.

Logo na primeira disputa, Boram venceu o campeonato brasileiro –requisito para representar o país na etapa mundial.

Na primeira tentativa no palco global, não deu. Caiu na semifinal. No ano seguinte, mais uma vez venceu a etapa nacional, mas, novamente, o tropeço mundial se deu na semifinal.

Em maio deste ano, perguntei para Boram se agora seria diferente.

Ele demonstrou confiança e respondeu: "Acreditamos que estamos bem próximos de um primeiro título brasileiro no mundial". Estava mesmo. Cerca de um mês depois, levantou o troféu em Atenas, onde foi realizado o World Barista Championship.

Por coincidência, o anúncio dos vencedores foi feito pelo brasileiro Edgard Bressani, autor do livro "Guia do Barista", obra pioneira no assunto, e responsável por trazer ao país os campeonatos de barista, no início dos anos 2000.

Bressani, que atuava como mestre de cerimônia do evento, disse que precisou conter a emoção ao receber o ranking final. Era, de certa maneira, o resultado de mais de duas décadas de trabalho em prol dos baristas brasileiros.

Estava na hora do Brasil, diz Bressani, ao destacar que o país é o maior produtor do mundo e o segundo que mais consome café.

Para ele, o talento e a preparação foram fundamentais na conquista de Boram. Pessoas que acompanham a carreira do barista costumam usar termos como "dedicado" e "focado" para descrever sua trajetória.

Para se preparar para a disputa, Boram se cercou de uma equipe composta por pessoas com muita experiência em competições de barista. Ele chegava a treinar 12 horas por dia.

Nesses quatro anos dedicados às competições, ele diz que teve apenas uma semana de folga, para ir ao casamento de um amigo.

Agora, livre dessas rotinas de treinos, pergunto se ele finalmente vai tirar férias. O barista ri e afirma esperar que sim. Mas, dessa vez, não demonstra muita confiança no que diz.

Enquanto isso, as atenções de Boram se voltam à cafeteria da família, a Um Coffee Co., em São Paulo, e a promover os grãos do Brasil. "O plano é cumprir os objetivos que a gente queria: elevar e enaltecer a qualidade do café brasileiro".

Segundo Bressani, o título de fato dá uma projeção muito grande a Boram, que deve aproveitá-la para se tornar um embaixador dos cafés do Brasil.

No mundial, os competidores precisam preparar três bebidas: um espresso, uma com leite e um drink. O espresso de Boram foi um café da variedade geisha cultivado no Panamá. Mas, para a bebida com leite, utilizou um blend de grãos panamenhos (70%) e brasileiros (30%). E, no drink, foi de café 100% do Brasil.

A partir de agosto, ele deve embarcar para uma série de compromissos internacionais. Como campeão, ele precisa frequentar vários eventos do setor.

Agora, ao girar o mundo na condição de melhor barista do mundo, espera receber respostas diferentes daquelas que ouvia em 2015 quando falava sobre o café brasileiro.

Ao fim, ele volta a afirmar que quer ver o Brasil percebido pelo mundo como sinônimo de produtor de café de qualidade.

E vai advogar por isso.

O melhor barista do mundo parece saber muito bem o que fazer.

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