Jairo Marques

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Descrição de chapéu pessoa com deficiência

Assistencialismo macula e atrasa avanços no debate da deficiência

Em vez da ampliação de iniciativas de autonomia, há quem defenda um salário-mínimo eterno para o 'serumano' ficar em casa

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Os conceitos de dependência extrema, de total impossibilidade e de necessidade profunda de assistência seguem firmes em aderência com a imagem de pessoas com deficiência. A consequência disso não poderia ser pior, a conta para "cuidar" do povo avariado está ficando grande demais para a saúde, para a previdência e para a sociedade.

A benevolência de parlamentares com o dinheiro público somada a uma demanda emocionada, chorosa e aflita de famílias que enfrentam questões relativas à diversidade física, intelectual ou sensorial dentro de casa vai gerando um passivo de necessidades quase individualizadas, vai criando regras de proteção cada vez mais específicas para alguns e ampliando o universo de quem tem direito a ser assistido.

Um grupo diversificado de pessoas posa sorrindo durante parada do orgulho LGBTQ+, exibindo roupas coloridas e acessórios vibrantes. Eles estão cercados por bandeiras do arco-íris
Pessoas com deficiências diversas participam da 26ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo - Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência

A maneira como olhamos para a deficiência –que ainda se confunde com doença—, como rotulamos alguém rapidamente como improdutivo e imprestável é determinante para criarmos um saco sem fundo de supostas proteções, de leis e de benefícios que jamais irão incentivar novas vidas possíveis, novas maneiras de entender a diversidade humana.

Antes que queiram me arranjar um coração e uma alma, sei bem o impacto de uma deficiência e, evidentemente, que há uma série de demandas justas e urgentes inerentes à condição, incluindo apoio financeiro, créditos específicos, recuos fiscais. O ponto é que vemos essa questão como há cinquenta anos.

Hoje, todo o mundo pode realizar, produzir e fazer, da sua maneira. Os sistemas de amparo a cruezas da vida precisam se modernizar tanto na porta de entrada –com menos exigências absurdas e mais inteligência de dados— como na de saída, com escalonamentos de valores cedidos à medida que se retoma a capacidade de atuar. Equilíbrio!

A questão é que a roda está girando ao contrário. Em vez da ampliação de iniciativas de autonomia –possível para 99% do grupo, em algum nível— que vai consequentemente gerar cidadania, há quem defenda um salário-mínimo eterno para o "serumano" ficar enfurnado em casa.

Em vez de criarmos políticas de incentivo fiscal a empresas para que contratem mais, muito mais, pessoas com deficiência, criamos leis que demarcam vagas coloridas em estacionamentos e damos prioridade nos elevadores para quem não tem questões de mobilidade. Coitados.

Deficiências são reabilitadas com tecnologias, com medicina, com terapias, com treinamento e com acessibilidade. A busca pela "normalização" das pessoas é o perigo. Enquanto não se age exatamente com os outros, se afasta, se considera doente, ocultam-se oportunidades, empurra-se ao assistencialismo pagando um dinheirinho que se transforma numa conta gigantesca.

Não se trata de tirar a responsabilidade pública –e privada, alôô planos de saúde— pelo bem-estar e pela inclusão de um grupo mais vulnerável, mas de entender com mais profundidade, critério e efetividade como tratá-lo, como contemplá-lo e como não deixá-lo com a pecha de fraudador, de aproveitador e de encostado.

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