Andanças na metrópole

As camadas de história encobertas em construções, ruínas e paisagens

Andanças na metrópole - Vicente Vilardaga
Vicente Vilardaga
Descrição de chapéu Assembleia Legislativa

As várias camadas de história do Palácio das Indústrias

Maleta com caveira foi encontrada no prédio, que serviu de aparato repressivo

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São Paulo

Nenhum edifício em São Paulo tem tantas camadas de história como o Palácio das Indústrias, no Parque Dom Pedro 2º, às margens do rio Tamanduateí. Projetado pelo escritório de Ramos de Azevedo teve sua construção totalmente concluída em abril de 1924, há 100 anos, e ao longo desse período passou por múltiplas utilizações.

Sua construção foi iniciada em 1911 e demorou 13 anos para ser finalizada. Em estilo eclético, com a aparência de um castelo, foi concebido para ser um pavilhão de exposições agrícolas, comerciais e industriais e celebrar o progresso econômico do estado.

Começou a abrigar eventos antes mesmo do fim das obras. O primeiro deles aconteceu em 1917 e exibiu produtos fabricados na cidade. Em 1920, foi organizada a 3ª Exposição Internacional de São Paulo, dentro do espírito moderno que tomava conta da elite local. Em 1923, foi inaugurada no Palácio das Indústrias a Rádio Educadora Paulista, primeira emissora da cidade.

Museu Catavento, no centro de São Paulo
Edifício levou 13 anos para ser concluído e foi inaugurado em 1924: palco de exposições industriais

Nesse meio tempo, Azevedo cedeu um espaço no prédio para ser o ateliê do artista Victor Brecheret, que fez ali a escultura que daria origem ao Monumento às Bandeiras, inaugurado no Ibirapuera mais de 30 anos depois. A maquete de sua obra foi apresentada no Teatro Municipal durante a Semana de Arte Moderna.

O prédio cumpriu sua função original até 1947, quando deu lugar à Assembleia Legislativa, que havia sido fechada em 1937 por causa do Estado Novo. Nesse período foi rebatizado e recebeu o nome de Palácio 9 de Julho, referência ao início da Revolução Constitucionalista e à data de promulgação da Constituição paulista.

Foi a terceira sede da Assembleia, que contava então com 75 deputados. O Poder Legislativo de São Paulo funcionaria ali até 1968, quando foi transferido para o atual endereço, no Ibirapuera.

Palácio das Indústrias quando era usado como sede da Polícia Civil
Palácio das Indústrias serviu de aparato repressivo durante a ditadura e foi sede da Polícia Civil

Depois de receber o legislativo estadual, o Palácio das Indústrias virou um aparato repressivo. Segundo o Memorial da Resistência, a partir de 1970, o local passou a sediar o Centro de Comunicação do Departamento Regional de Polícia da Grande São Paulo (Degran).

Contava com as tecnologias de troca de informações mais avançadas que havia na época, como o telex e o telefoto, e servia totalmente aos interesses da ditadura militar., tendo sido, possivelmente, palco de torturas. Ganhou gabinetes policiais e celas para presos, o que descaracterizou sua arquitetura original.

Também funcionaram ali nos anos seguintes a Delegacia da Grande São Paulo, o 1º Distrito Policial e o 7º Batalhão da Polícia Militar. O lugar teve uso policial até meados da década de 1980

Com o fim da ditadura, o prédio passou vários anos abandonado, até que a prefeita Luiza Erundina, pensando em um lugar mais central para ser a sede da administração municipal, levou a Prefeitura para lá. Isso aconteceu em 1992, depois de uma restauração projetada pela arquiteta Lina Bo Bardi.

Exposição 'Oceano Sem Fronteiras' no Museu Catavento
Além do acervo permanente, Catavento faz exposições periódicas, como a 'Oceano Sem Fronteiras'

Durante as reformas foram encontrados vestígios de um passado sombrio no porão do edifício. Foi o caso de um mala com um crânio humano no seu interior. Nunca se descobriu de quem era o crânio. Também se descobriram diversos armários de aço perfurados por balas como se tivessem sido usados para a prática de tiro ao alvo.

A Prefeitura ficou ali durante 12 anos e nesse período recebeu, além de Erundina, os prefeitos Paulo Maluf, Celso Pitta e Marta Suplicy, que, em 2004, transferiu a sede da administração para o atual endereço, o Edifício Matarazzo, no Viaduto do Chá.

Passariam mais cinco anos até que, em 2009, o espaço passasse a abrigar o Museu Catavento, um espaço de ciência e tecnologia. Antes da inauguração do museu, o Palácio das Indústrias ficou mais uma vez em situação de abandono. As grades que cercavam o prédio chegaram a ser roubadas e a região passou a ser chamada de "Faixa de Gaza" por causa da violência e da criminalidade.

A inauguração do Catavento, que já recebeu sete milhões de visitantes desde que sua fundação, revitalizou o local. Além do acervo permanente, o museu também faz exposições periódicas, como a "Oceano sem Fronteiras", realizada no ano passado.

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