O estado de São Paulo é repleto de cafezais. Mas nenhum talvez seja tão precioso como o que se encontra atrás do Instituto Biológico, na Vila Mariana. É a maior plantação urbana de café do mundo, com 2,5 mil pés de oito variedades. Ocupa uma área de 10 mil metros quadrados e tem uma finalidade educacional e científica, além de grande importância simbólica. Afinal o instituto foi criado, em 1927, justamente para encontrar uma solução para um praga que tirava o sono dos cafeicultores do oeste paulista na década de 1920: a broca do café.
Ali se descobriu uma forma eficaz de combater a broca: o parasitóide Prorops nasuta, conhecido como vespa de Uganda. Uma missão trouxe a vespa do país africano em 1929. A partir daí ela foi criada e multiplicada em laboratório e começou a ser usada com grande sucesso inicialmente nos cafezais de Campinas e depois em todo o estado para fazer o controle biológico da praga, que destrói o grão completamente. Muitos fazendeiros passaram a criar a vespa de Uganda em suas terras.
No século 18 o café era um bem precioso guardado a sete chaves em áreas vigiadas pelos países que o possuíam. Portugal não tinha acesso ao produto. E só foi consegui-lo numa operação sigilosa encabeçada pelo sargento-mor Francisco de Melo Palheta, que, em 1727, trouxe algumas mudas da Guiana Francesa para o Brasil. Ele recebeu as mudas de presente das mãos de Madame D'Orvilliers, esposa do governador de Caiena e elas foram plantadas inicialmente no Pará, onde floresceram sem dificuldade e depois desceram para o Vale do Paraíba até chegar no oeste paulista. Em 1880, o país já era o maior produtor mundial de café.
As primeiras mudas do cafezal do Instituto Biológico foram plantadas na década de 50. Hoje, todas as variedades de café cultivadas ali são da espécie arábica, que é a que dá a melhor bebida. Entre elas estão o catuaí amarelo, o catuaí vermelho, o SH3, resistente à ferrugem e tolerante ao déficit hídrico, e o RN25, resistente aos parasitas nematoides. Segundo a engenheira agrônoma Harumi Hojo, responsável pela plantação, na região de São Paulo o café robusta não é tão promissor, mas mesmo assim futuramente ele será plantado numa área experimental.
A produção do cafezal urbano é de poucas centenas de quilos. O máximo produzido até hoje, lembra Hojo, foram 500 quilos. Desde 2019 não se faz mais adubação química na plantação. Tudo é 100% biológico. "Aqui é nosso laboratório, um lugar para falar de sustentabilidade e de agricultura regenerativa orgânica e onde podemos estudar o comportamento das diversas variedades de café num mesmo ambiente", diz. "O atual cafezal vai para o terceiro ano consecutivo e com toda a renovação que fizemos, com o cuidado com o entorno, começamos a estudar se isso reflete na quantidade de polarizadores existentes na área."
Ela lembra que até 2016 havia poucos polinizadores e que seria necessário fazer um experimento por alguns anos seguidos para verificar o aumento da quantidade de abelhas. Segundo ela, as abelhas são um dos indicadores de um ambiente melhor e sustentável. Hoje elas são bem mais abundantes.
Além do cafezal, a área de cultivo do instituto possui também, desde 2022, um cacaual com quase 100 plantas. Além disso, fazendo uma espécie de roteiro histórico da economia agrícola brasileira, a área conta também com 75 árvores de pau-brasil, seringueiras e pés de cana-de-açúcar, plantas decisivas para o desenvolvimento do país.
Há um agendamento semanal para visitar o cafezal, e, desde 2006, o instituto realiza um evento chamado Sabor da Colheita, que coincide com o início da colheita do café no estado. Os visitantes colhem os frutos diretamente no cafezal, que é apresentado de forma didática e cultural. São abordados temas como boas práticas agrícolas, agricultura orgânica, métodos sustentáveis de controle de pragas e doenças e técnicas de colheita e secagem dos grãos. Além disso se compartilha conhecimento sobre o beneficiamento, a torra e a moagem. O evento ocorre no próximo dia 25 de maio.
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