Oposição a Bolsonaro vê crise no governo como chamariz de atos antecipados para este sábado
Novas manifestações por impeachment foram organizadas às pressas após escândalo das vacinas e devem ter participação de setores à direita
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Pelo terceiro mês consecutivo, setores de oposição a Jair Bolsonaro (sem partido) vão às ruas neste sábado (3) em manifestações contra o presidente, aproveitando o momento de maior fragilidade do governo, diante do escândalo da compra de vacinas e da pressão por impeachment.
O ato foi preparado às pressas, depois que as organizações que puxam a iniciativa se reuniram no sábado passado (26) e decidiram antecipar a mobilização. Até então, o ato seguinte seria em 24 de julho, mais de um mês depois do protesto de 19 de junho. O do dia 24, no entanto, está mantido.
As manifestações, no Brasil e no exterior, são convocadas por movimentos sociais e partidos de esquerda, que têm buscado ampliar a adesão de alas da direita e do centro contrárias a Bolsonaro. Embora não seja a posição majoritária, parte dos líderes resiste à entrada de novas cores ideológicas.
Até a noite desta sexta-feira (2), o balanço da Campanha Nacional Fora Bolsonaro —fórum que agrupa as entidades à frente dos protestos— registrava a previsão de 361 atos em 315 cidades no Brasil, incluindo todas as capitais, e 34 cidades no exterior.
Em 19 de junho, foram 426 atos no total, em 407 cidades no Brasil e 19 cidades no exterior.
Os organizadores atribuem a diminuição no número de atividades ao prazo curto que tiveram para preparar a nova rodada. De maio para junho, a quantidade de atos tinha quase dobrado. A expectativa é que, ao menos nas maiores capitais, o volume de participantes, na casa dos milhares, seja mantido.
Embora o rol dos convocadores tenha ganhado novas adesões, os responsáveis avaliam que um eventual aumento no número de manifestantes se dará mais em virtude das denúncias envolvendo a compra de imunizantes em curso na CPI da Covid no Senado e do crescente apoio ao afastamento de Bolsonaro.
Na quarta-feira (30), um superpedido de impeachment foi protocolado na Câmara dos Deputados, por iniciativa de PT, PDT, PSB, PC do B e PSOL, além de ex-bolsonaristas como os deputados Alexandre Frota (PSDB-SP) e Joice Hasselmann (sem partido-SP) e de outros movimentos da sociedade civil.
A bandeira "fora, Bolsonaro" se mantém como a principal das manifestações, ao lado dos pleitos por mais vacinas e por auxílio emergencial de R$ 600. As suspeitas de corrupção que vieram à tona nos últimos dias vão engrossar a lista de pautas e têm potencial para atrair pessoas que ainda não se engajaram.
Partidos como o PT do ex-presidente Lula —hoje o maior adversário de Bolsonaro para as eleições de 2022—, o PSOL e o PC do B estão envolvidos na organização desde maio, em conjunto com frentes como a Povo sem Medo, a Brasil Popular e a Coalizão Negra por Direitos, que reúnem centenas de entidades.
No lado dos mobilizadores, uma das principais novidades foi a entrada do diretório municipal de São Paulo do PSDB, anunciada ao longo da semana por seu presidente, Fernando Alfredo. O diretório nacional do partido, no entanto, manteve a decisão de não participar ativamente da convocação.
A situação se repete em outras legendas, que também têm movimentos internos e instâncias locais envolvidas na mobilização, mas no plano nacional adotaram posição de neutralidade, alertando para os riscos de aglomerações em meio à pandemia e deixando a adesão a critério dos filiados.
Setores ou dirigentes de siglas como PSL, PV e Avante decidiram endossar os atos, uma novidade em relação a junho. Já estavam nessa situação: PDT, PSB e Rede Sustentabilidade. O Cidadania é o único partido mais ao centro que decidiu, em gesto do presidente nacional, Roberto Freire, apoiar os protestos.
Grupos à direita, como o MBL (Movimento Brasil Livre) e o VPR (Vem Pra Rua), que capitanearam manifestações contra governos do PT e em favor da Operação Lava Jato, até aqui se mantêm fora da convocação, apesar de assinarem pedidos de impeachment.
No caso do MBL, o coordenador nacional Renan Santos se declarou durante a semana favorável à ida às ruas, não necessariamente em atos da esquerda, mas o restante do grupo discorda da posição.
A eventual participação do MBL, embora defendida por parte dos líderes de esquerda, motivou conflitos nos últimos dias. Os principais articuladores sempre disseram que o objetivo maior é derrubar o presidente e que as mobilizações não têm caráter partidário ou eleitoral.
Na última quinta-feira (1º), em uma plenária virtual da organização para afinar o discurso para este sábado, representantes do PCO (Partido da Causa Operária) criticaram duramente a participação de porta-vozes do PSDB e de grupos da direita, lembrando divergências históricas.
Os movimentos Agora! (que tem entre os integrantes o apresentador e ex-presidenciável Luciano Huck) e Livres (que propaga o liberalismo e reúne nomes da direita avessos a Bolsonaro) anunciaram apoio aos atos de deste sábado, ressaltando a necessidade de cuidados sanitários contra o vírus da Covid.
A campanha Somos 70%, idealizada pelo economista e ativista Eduardo Moreira para agregar a parcela da população contrária ao presidente demonstrada em pesquisas, também se somou à convocatória e divulgou um vídeo sobre a liberdade de usar qualquer cor nos protestos —e não só o vermelho.
O Palácio do Planalto tem usado a presença majoritária de movimentos e partidos de esquerda para desqualificar os protestos. Bolsonaro e apoiadores tacharam a iniciativa como evento de campanha de Lula. O ex-presidente não compareceu aos atos e só em junho incentivou apoiadores a irem.
Na quarta, ao elogiar a união em torno do superpedido de impeachment, Lula estimulou as passeatas como forma de pressionar o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) a dar andamento ao processo. "Espero que as manifestações de rua convençam o presidente da Câmara a colocar em votação", disse.
O presidenciável Ciro Gomes (PDT), antes refratário a atos de rua por causa dos riscos da pandemia, mudou o tom e também reforçou a necessidade da mobilização neste sábado. "Empurra que ele cai. Todo o mundo na rua, se protegendo. Fora, Bolsonaro", afirmou o pré-candidato.
O presidente do diretório municipal do PSDB de São Paulo, Fernando Alfredo, que deve discursar na avenida Paulista, diz não temer eventuais vaias. A legenda contratou um caminhão de som.
"Não tenho nenhum receio, até porque estamos conversando bem, em total diálogo e sintonia. Que haja alguma hostilidade entre os participantes é exatamente o que o outro lado quer, o que Bolsonaro quer", afirma à Folha.
Alfredo diz que irá discursar e subirá no caminhão de outras entidades se for convidado. Nos bastidores, tucanos e movimentos de esquerda conversam para tentar diminuir a resistência de militantes mais radicais à adesão do PSDB local.
A participação do MBL, também alvo de críticas, por ora é descartada. O movimento faz reuniões internas e consulta seus seguidores sobre a possibilidade de realizar atos próprios, já que se unir a protestos puxados pelo chamado campo progressista não é uma opção por enquanto.
Nesta sexta-feira, o MBL começou a testar intervenções pelo “fora, Bolsonaro”. Integrantes do movimento penduraram uma faixa com a inscrição “Fora Bolsonaro Buzine” na avenida 23 de Maio e registraram o buzinaço dos carros em vídeo.
Presidente do PSL no estado de São Paulo e opositor de Bolsonaro, o deputado federal Júnior Bozzella afirmou que deve comparecer ao ato na avenida Paulista.
As novas suspeitas de irregularidades na aquisição de vacinas contra a Covid-19, reveladas pela Folha e escrutinadas ao longo da semana pela CPI do Senado, movimentaram algumas peças. A antecipação da convocação dos atos foi decidida para que se aproveitasse o momento de comoção.
A avaliação geral é a de que Bolsonaro perdeu de vez um fundamento estruturante de seu discurso, o de que seu governo não tinha casos de corrupção –embora a tese já fosse contestada a partir de investigações de ministros e de filhos por suspeitas de rachadinha.
Apesar da elevação da temperatura, o presidente da Câmara vem reafirmando a indisposição de levar o processo de impeachment adiante. "Não será feito agora, né? Tem que esperar", disse Lira ao ser questionado se rejeitaria ou analisaria o pedido apresentado na quarta.
Dividida ao longo de 2020 e no início de 2021 sobre o dilema de promover manifestações de rua em meio à pandemia, a esquerda decidiu retomar as convocações em maio. Segundo as organizações, foi possível manter a obediência às regras sanitárias nos atos, principalmente o uso de máscara.
As críticas pelo incentivo a aglomerações são rebatidas pelos responsáveis com o argumento de que a ida às ruas se tornou inevitável diante dos problemas do governo e do descaso com a crise de saúde e a compra de vacinas.
Bolsonaristas, no entanto, afirmam que a oposição cai em contradição e faz agora o que criticava antes, em referência aos atos de apoio ao presidente, alguns com a participação do próprio, em que os cuidados para evitar a propagação do vírus são desprezados.
ATOS CONTRA BOLSONARO
Números de atos
- Em 3 de julho: 361 atos no total, em 315 cidades no Brasil e 34 cidades no exterior (previsão até a noite desta sexta-feira)
- Em 19 de junho: 426 atos no total, em 407 cidades no Brasil e 19 cidades no exterior
- Em 29 de maio: 227 atos no total, em 210 cidades no Brasil e 14 cidades no exterior
(algumas cidades realizam mais de um ato)
Organizações envolvidas
- frentes Povo sem Medo, Brasil Popular e Coalizão Negra por Direitos
- MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto)
- UNE (União Nacional dos Estudantes)
- CMP (Central de Movimentos Populares)
- Uneafro Brasil
- articulação Povo na Rua
- centrais sindicais, como CUT (Central Única dos Trabalhadores) e Força Sindical
- MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
- movimento Acredito
Novas adesões:
- movimentos Agora!, Livres e Somos 70%
Partidos envolvidos
- PT
- PSOL
- PC do B
- PCB
- UP
- PCO
- PSTU
- Cidadania
- instâncias internas e líderes de: PSB, PDT, Rede Sustentabilidade
Novas adesões:
- instâncias internas e líderes de: PSDB, PSL, PV, Avante
Bandeiras
- fora, Bolsonaro
- vacina para todos
- auxílio emergencial de R$ 600
- comida no prato
- fim do genocídio negro
- apoio à CPI da Covid
Locais em SP, RJ e DF
São Paulo:
- Concentração às 15h, em frente ao Masp, na avenida Paulista, com caminhada pela rua da Consolação e dispersão na praça Roosevelt
Rio de Janeiro:
- Concentração às 10h, em frente ao Monumento Zumbi dos Palmares, na avenida Presidente Vargas, com caminhada até a Candelária
Brasília:
- Às 16h, no Museu da República (sem caminhada)
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