É preciso rever o futuro da Petrobras
Petrolíferas devem atuar de forma integrada, como conglomerados de energia
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Nos últimos 20 anos, a indústria de petróleo e gás passou por imensas transformações no Brasil. Nesse período, o país promoveu mudanças regulatórias importantes que, combinadas com os investimentos de diferentes players, principalmente a Petrobras, alcançaram resultados significativos. O país conquistou a autossuficiência em petróleo cru com a descoberta do pré-sal, aumentou sua capacidade de produção de derivados, atraiu investimentos privados na produção de campos maduros e ampliou significativamente a rede de distribuição de combustíveis.
Todavia, desde 2016, algumas mudanças na gestão da política de óleo e gás e da própria Petrobras colocaram novos desafios para a indústria. O principal deles diz respeito à abertura do refino e à adoção da paridade do preço dos combustíveis ao valor internacional —que não trouxeram, até o momento, os resultados esperados. Em vez de atração de investimentos e preços competitivos, o Brasil passou a conviver com a crescente volatilidade dos preços internos, a ausência de investimentos novos no parque de refino nacional e o aumento da dependência de importações para abastecer o mercado interno. A importação de diesel, por exemplo, que era de 12% em 2015, já está em torno de 25% neste ano de 2022.
Além disso, nesse período, abriu-se uma oportunidade para as empresas de petróleo ingressarem na produção de energia limpa, integrando os seus negócios de óleo e gás com a indústria de renováveis.
A superação desse desafio e o aproveitamento dessa oportunidade explicitam a importância de as empresas de petróleo, cada vez mais, atuarem de forma integrada, como grandes conglomerados de energia. É isso que vários players têm feito em diferentes localidades do mundo.
A petrolífera francesa Total mais que triplicou seus investimentos em renováveis nos últimos quatro anos. A anglo-holandesa Shell inaugurou recentemente um complexo integrado de refino e petroquímico nos EUA e deve lançar mais dois empreendimentos até 2024. Até a americana Chevron, que não tem priorizado a atuação em renováveis, recentemente adaptou uma de suas refinarias em biorrefinaria na Califórnia.
Por isso, para lidar com esse novo cenário, é necessária uma revisão da atual política de óleo e gás e da estratégia da Petrobras. Especificamente em relação ao "downstream" nacional [refino e distribuição de combustíveis], as medidas de promoção da concorrência devem ser conciliadas com ações que visem reduzir nossa vulnerabilidade externa no abastecimento doméstico. Para isso, a recuperação dos investimentos no refino nacional, envolvendo os players locais e potenciais parceiros, é vital para o futuro da indústria.
Em relação aos renováveis, a Petrobras precisa seguir o caminho de seus pares globais. A empresa deve aproveitar as potencialidades do mercado nacional, as sinergias existentes entre a indústria de óleo e gás e de renováveis, além das próprias competências criadas pela empresa, como a Petrobras Biocombustíveis, para se inserir no ramo de energia limpa.
A companhia precisa incorporar na sua estratégia de mudança climática não apenas a descarbonização, mas a produção de biocombustíveis limpos e de geração de energia, utilizando fontes renováveis.
Essas medidas não dialogam com o passado, mas com o futuro e a sustentabilidade da nossa indústria energética. Manter a estratégia de se concentrar apenas na produção de energia suja e continuar dependente das importações de derivados é que nos ameaça com um passado conhecido de perder nossa soberania energética e contribuir com a poluição do planeta.
* Os autores fazem parte do Grupo de Trabalho de Minas e Energia na equipe de transição do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
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