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Biden pede ao Congresso dos EUA US$ 33 bilhões em ajuda à Ucrânia

Solicitação reserva mais de US$ 20 bi para armas e assistência militar; Rússia diz que Ocidente 'testa a paciência' de Moscou

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Washington e Kiev | Reuters e AFP

Em uma dramática escalada dos esforços dos Estados Unidos contra a Rússia, o presidente Joe Biden pediu nesta quinta-feira (28) US$ 33 bilhões (cerca de R$ 166,6 bilhões) ao Congresso americano em ajuda à Ucrânia, além de novas ferramentas legais que permitam endurecer sanções e esvaziar bens de oligarcas russos.

A ampla solicitação de financiamento inclui mais de US$ 20 bilhões (R$ 100,7 bilhões) para armas, munições e outros tipos de assistência militar e US$ 8,5 bilhões (R$ 42,8 bilhões) em ajuda econômica direta ao governo em Kiev, além de US$ 3 bilhões (R$ 15,1 bilhões) para auxílio humanitário e alimentar.

Os US$ 20 bilhões reservados por Biden para o flanco militar representam cinco vezes o orçamento ucraniano de 2021 para a área da Defesa, incluindo aí gastos com pensões e salários de militares.

O presidente Joe Biden durante evento na Casa Branca, em Washington - Saul Loeb - 27.abr.22/AFP

"Precisamos desse projeto de lei para apoiar a Ucrânia em sua luta pela liberdade", afirmou Biden nesta quinta, em Washington. "O custo dessa luta não é barato, mas ceder à agressão vai sair mais caro."

Os EUA descartaram enviar militares ou deslocar forças da Otan, coalizão militar ocidental, para a Ucrânia, com medo de que o movimento ampliasse ainda mais o conflito, mas os americanos e seus aliados europeus forneceram armas a Kiev, como drones, artilharia pesada e mísseis antitanque.

Os russos vêm reagindo à cada vez mais intensa ajuda americana no conflito. Na última segunda, por meio de uma nota e de uma entrevista de seu embaixador em Washington, Moscou criticou o envio de armamentos. "O que os americanos estão fazendo é jogar gasolina no fogo", disse o embaixador Anatoli Antonov. "Enfatizamos que é inaceitável que os EUA despejem armas na Ucrânia."

Nesta quinta, a porta-voz da chancelaria Maria Zakharova, ao comentar ataques contra a cidade russa de Belgorodo, junto à fronteira nordeste da Ucrânia, afirmou que a presença de "consultores ocidentais" em Kiev não deterá ataques. Nesta semana, os secretários de Estado e de Defesa dos EUA estiveram na capital ucraniana. "Não aconselhamos vocês a continuarem testando nossa paciência."

O aviso dos russos foi seguido de duas explosões em Kiev durante a visita do secretário-geral da ONU, António Guterres, que se reuniu com o presidente Volodmir Zelenski. Segundo o prefeito da cidade, Vitali Klitschko, as explosões, que deixaram ao menos três feridos, foram causadas por dois mísseis russos —a informação não pôde ser verificada de maneira independente.

"[O ataque] me chocou, não porque estou aqui, mas porque Kiev é uma cidade sagrada para ucranianos e russos", afirmou o secretário-geral à emissora portuguesa RTP —o encontro com Zelenski já havia ocorrido.

Para o chefe de gabinete do presidente, Andrii Iermak, as explosões reforçam a necessidade do envio de armas e esforços humanitários. "Todo dia a Ucrânia paga um preço alto pela proteção da democracia e da liberdade", disse. Em vídeo postado no Telegram, Zelenski afirmou que os bombardeios indicam que os russos visam a "humilhar a ONU e tudo o que a organização representa".

Até as explosões desta quinta Kiev vinha passando por um período de relativa calma, após forças russas falharem em capturar a capital. A cidade, no entanto, segue vulnerável a armamentos de longo alcance.

O secretário-geral da ONU visitou também os arredores, onde os ucranianos acusam os russos de um massacre de civis. "Quando vemos esse lugar horrível, entendo como é importante ter uma investigação completa e estabelecer as responsabilidades. Peço à Rússia que aceite cooperar com o TPI [Tribunal Penal Internacional]", declarou Guterres ao sair de Butcha.

O foco da conversa entre o diplomata e Zelenski, no entanto, foi Mariupol. O chefe da ONU chamou a cidade de "crise dentro da crise", ressaltando que milhares de civis carecem de assistência. "Eles precisam de uma rota de fuga do apocalipse."

A reunião se deu dois dias após o encontro de Guterres com o presidente russo, Vladimir Putin —que, a princípio, concordou com a participação da ONU e da Cruz Vermelha na retirada de pessoas da usina de Azovstal, ao sul da cidade portuária. Sobre isso, o português se limitou a dizer que "discussões intensas" estão sendo realizadas. "Apenas posso dizer que estamos fazendo o que podemos para fazer acontecer."

Ao lado de Guterres, Zelenski disse confiar em um resultado bem-sucedido.

Enquanto isso, o governador da região de Donestk, onde fica Mariupol, acusou os russos de impedirem militares ucranianos feridos de serem retirados da usina. Pavlo Kirilenko acrescentou que Moscou estava bloqueando esforços para a implantação de um corredor humanitário —nas semanas de impasse, a Rússia alega que a Ucrânia é culpada pelo fracasso de uma operação segura.

"Eles querem usar essa oportunidade para capturar os defensores de Mariupol", disse Kirilenko.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, respondeu afirmando que Putin foi claro ao determinar que, enquanto civis podem deixar a planta, combatentes precisam baixar as armas. "Qual poderia ser o tópico das negociações nesse caso?", questionou, segundo a agência russa Tass.

Além da capital, outras regiões foram alvos de bombardeios nesta quinta. Na madrugada, explosões atingiram Kherson —a mídia estatal de Moscou informou que a cidade passará a adotar o rublo como moeda a partir de domingo (1º). Segundo autoridades ucranianas, as tropas russas estão bombardeando o entorno da região e realizando ataques em direção de Mikolaiv e Krivii.

O Estado-Maior da Ucrânia afirmou que a Rússia também estava intensificando ataques no leste, onde Moscou busca tomar duas províncias parcialmente controladas por separatistas. O Ministério da Defesa de Putin afirmou que suas tropas dispararam mísseis contra seis depósitos de armas e combustível de Kiev e que 76 instalações militares ucranianas foram atingidas —a informação não pôde ser verificada de maneira independente.

Do lado russo, duas grandes explosões foram ouvidas em Belgorodo, mas não está claro o motivo nem se houve danos ou vítimas. Kiev não tem se responsabilizado diretamente pelos ataques à cidade.

AJUDA DO OCIDENTE

Com o anúncio desta quinta, Biden busca aumentar a capacidade de apreender mais dinheiro dos oligarcas, o que ajudaria a pagar o esforço de guerra, entregando os valores à Ucrânia e criminalizando ainda mais as tentativas de driblar as sanções, de acordo com a Casa Branca. As medidas incluem permitir que o Departamento de Justiça use a estrita lei de extorsão dos EUA, usada em ações contra a máfia, para processar pessoas que burlam as punições.

O democrata também busca dar aos promotores mais tempo para formular essas ações, estendendo o prazo de prescrição de processos de lavagem de dinheiro para dez anos, em vez de cinco. Ele ainda quer tornar crime a retenção de dinheiro de negócios corruptos com a Rússia, segundo resumo das propostas.

As medidas fazem parte dos esforços de Washington para isolar e punir Moscou. A nova solicitação representa o valor total que as autoridades dos EUA esperam precisar até setembro, quando acaba o ano fiscal em curso. Apenas a ajuda militar fornecida pelos americanos à Ucrânia já superou US$ 3 bilhões desde que a Rússia lançou o que chama de "operação militar especial".

Os EUA e seus parceiros europeus congelaram US$ 30 bilhões em ativos mantidos por indivíduos ricos com elos com Putin, incluindo iates, helicópteros, imóveis e obras de arte.

O projeto anunciado por Biden nesta quinta, no entanto, pode enfrentar problemas no Congresso, porque os legisladores democratas, que têm estreita maioria no Senado e na Câmara, querem aproveitar para aprovar, junto ao pacote para a Ucrânia, a liberação de US$ 22,5 bilhões que o presidente solicitou em março para financiar medidas contra a Covid-19.

Embora os parlamentares apoiem amplamente o envio de ajuda a Kiev, assessores republicanos disseram nesta quinta que os esforços para combinar o financiamento da guerra com a resposta à pandemia podem dificultar a aprovação. "Não me importo como, eles podem aprová-los separadamente ou juntos, mas precisamos dos dois", disse Biden.

Zelenski afirmou esperar que o Congresso aprove rapidamente a ajuda, que chamou de um "passo muito importante" dado pelos EUA. Após o anúncio, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o governo americano espera que outros países se mobilizem para providenciar assistência à Ucrânia.

A Otan, por sua vez, disse estar pronta para apoiar o país por anos, incluindo auxiliar Kiev no avanço de suas armas, passando dos equipamentos antigos da era soviética para os modernos do Ocidente. "Precisamos nos preparar para longo prazo", afirmou o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg. "Há absolutamente a possibilidade de essa guerra se arrastar durante meses e anos."


Algumas das ajudas financeiras dos EUA à Ucrânia

Desde o início da invasão russa:

  • 26.fev: US$ 350 milhões, em armas de estoque
  • 10.mar: US$ 53 milhões, em ajuda humanitária
  • 11.mar: US$ 13,6 bilhões*, em ajuda militar, econômica e humanitária
  • 12.mar: US$ 200 milhões, em assistência militar imediata
  • 21.abr: US$ 1,3 bilhão, em ajuda militar e econômica

*O pacote não é inteiramente destinado ao governo ucraniano. É previsto, no orçamento, os custos de suas próprias unidades militares em países aliados na Europa. A quantia também é destinada a substituir os equipamentos militares enviados a Kiev

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