Castillo escolhe moderado como novo ministro da Economia no Peru
Pedro Francke, que tem Uruguai como modelo, aceitou após recuo ante escolha de primeiro-ministro radical
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Depois de mais de 48 horas de expectativa, o presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou finalmente o nome de seu ministro da Economia. Conforme esperado, o escolhido foi o moderado Pedro Francke. Ele e o novo titular da Justiça, o advogado Aníbal Torres, tomaram posse já na madrugada deste sábado (31) na capital, Lima.
Na verdade, ambos já haviam aceitado o convite do presidente, mas, diante da escolha do esquerdista radical Guido Bellido Ugarte para ser o primeiro-ministro, eles recuaram e colocaram em dúvida suas participações no novo governo. Com isso, Castillo —que tomou posse na quarta (28)— passou os últimos dois dias tentando convencê-los a assumirem os cargos.
A escolha de Guido Bellido —um congressista em primeiro mandato, sem grande experiência em cargos públicos— causou surpresa no país, já que muitos esperavam que Castillo indicasse um nome mais conciliador para a função. No sistema político peruano, o premiê funciona como uma espécie de coordenador dos ministros, papel que no Brasil geralmente fica a cargo do chefe da Casa Civil.
O novo primeiro-ministro está envolvido em uma série de polêmicas. Ele responde a um processo por suposta "apologia ao terrorismo", por fazer elogios à ação do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, que atuou no país nas décadas de 1980 e 1990.
O tema é delicado porque, na campanha, Castillo foi acusado de ligação com a guerrilha —ele não só negou envolvimento, como ainda afirmou que fez parte das “rondas campesinas”, os grupos paramilitares que ajudaram o Exército peruano a derrotar o Sendero, num conflito que deixou mais de 70 mil mortos.
Além disso, Bellido também é famoso por declarações homofóbicas. Ele afirmou, por exemplo, que os homossexuais deveriam deixar o país, citando o líder da Revolução Cubana Fidel Castro (1926-2016) como modelo.
Francke, por sua vez, é um economista mais moderado, que já auxiliou políticos de centro-esquerda, como a ex-candidata Verónika Mendoza. Em entrevistas, ele já defendeu que o governo Castillo deve seguir o modelo econômico adotado no Uruguai durante o governo da esquerdista Frente Ampla, com Tabaré Vázquez e Pepe Mujica (2005-2020).
No período, o país adotou políticas econômicas pragmáticas que mantiveram o crescimento sustentável do país durante 15 anos, ao mesmo tempo em que estenderam as políticas de proteção social aos mais pobres.
Formado na Pontifícia Universidade Católica do Peru, o novo ministro da Economia assessorou Pedro Castillo durante a campanha eleitoral e não é a favor de estatizações nem de mudanças nos pilares da economia atual do Peru.
Um de seus pedidos a Castillo, nos últimos dias, foi que o presidente do Perú Libre (partido governista), Vladimir Cerrón, deixasse de criticá-lo publicamente.
Em postagens em suas redes sociais, Cerrón afirmou que Francke não tinha a mesma linha ideológica do partido e estava mais alinhado aos "Chicago Boys" (nome dado a grupo de economistas liberais que participou da ditadura de Augusto Pinochet no Chile), que apontariam para "uma política econômica que já falhou em tantos países", segundo ele.
Em outro post, Cerrón havia dito que o conselho de ministros será uma resposta aos críticos da chegada do Perú Libre ao poder. “Existe uma conspiração caviar com relação ao futuro gabinete, ante a qual o presidente, o partido e a bancada darão uma resposta sólida. Vamos seguros em direção à mudança que a Pátria necessita.”
Exatamente para contornar esses desentendimentos entre a ala mais radical de seu partido —representada por Cerrón e por Guido Bellido— e os moderados convidados para integrar o governo, que Castillo demorou dois dias para anunciar os ministros.
No fim, a negociação conduzida pelo presidente parece ter dado certo. Na noite de sexta-feira (30), Cerrón deu seu suporte ao novo ministro, lançando a seguinte mensagem: "Pedro Francke tem todo o nosso apoio para aplicar a política econômica de estabilidade expressada no plano Bicentenário sem Corrupção".
Já o novo ministro da Justiça, Aníbal Torres, teria ficado mais incomodado com as posições de Guido Bellido em relação à diversidade sexual e aos direitos de minorias. Ele só aceitou assumir o cargo depois que o próprio Castillo o convenceu que o premiê não teria interferência na pasta. Além disso, o presidente teria prometido apoiar pessoalmente iniciativas nessas áreas.
Essas sinalizações aos dois novos ministros representam uma mudança em relação à campanha, quando Castillo adotou uma plataforma que misturava pauta conservadora nos costumes com populismo de esquerda na economia. Foi com esse discurso que ele conseguiu se eleger com 50,12% dos votos em uma disputa acirrada contra Keiko Fujimori, que só terminou após 40 dias de contagem.
Durante a disputa, o então candidato deu declarações contra o aborto, contra o casamento gay e contra a eutanásia, por exemplo. Em todos os casos, porém, ele afirmou que esses temas deveriam ser decididos pelo Parlamento.
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