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O novo livro do historiador escocês Niall Ferguson começa e termina com a Covid-19, mas é algo mais que um estudo sobre a pandemia. "Doom" (Apocalipse, em tradução livre) oferece uma "história geral das catástrofes" que, de tempos em tempos, se abatem sobre a humanidade. Isso inclui terremotos, erupções de vulcão e pestes, bem como guerras, colapsos financeiros, grandes fomes, acidentes nucleares —e até alguns flagelos da ficção científica.
Afinal, diz o autor, "nós raramente encaramos o desastre que aguardávamos, e sim uma outra ameaça que a maioria ignorava".
Aquilo que Ferguson chama de história geral das catástrofes é, na essência, uma história de como as sociedades reagem ao imponderável. Por que algumas sucumbem, outras sobrevivem e umas poucas até mesmo se fortalecem? "Não podemos estudar a história das calamidades, naturais ou causadas pelos homens, separadamente da economia, dos arranjos sociais, da cultura e da política", diz ele.
A empreitada requer ferramentas tomadas de empréstimo de outras disciplinas, como a física e a matemática. As chamadas leis de potência desnudam a natureza das catástrofes. Infelizmente, revelam que seu tamanho e seu momento de eclosão são impossíveis de prever. Da mesma forma, a teoria das redes permite entender tanto os padrões de disseminação de uma pandemia quanto o peso da informação verdadeira ou falsa em meio a uma crise.
Enquanto demonstra a utilidade desses aparatos, Ferguson passeia pelos milênios. Fala da erupção do Vesúvio e do acidente nuclear de Tchernóbil, das Guerras Mundiais e da peste negra, do crash de 1929 e da Grande Fome na China de Mao Tsé-tung. Nos capítulos finais, retorna à Covid-19.
Aí se encontram passagens que vêm deixando alguns leitores eriçados. As primeiras reações ao livro destacaram o fato de que Ferguson critica a adoção de lockdowns com base num raciocínio de custo e benefício, que atribui valor monetário à vida humana (como fazem desde sempre as companhias de seguros). Mas essa é uma reação melindrosa.
Ferguson não endossa o "liberou geral". Argumenta, isso sim, que sistemas eficazes de testagem, mapeamento de contatos e isolamento seletivo —que foram implementados em lugares como Taiwan e Coreia do Sul— tornariam possíveis respostas muito mais racionais do que o abre-e-fecha desordenado de negócios que se viu mundo afora.
O autor também teria aliviado a barra de gente como Donald Trump (ou Jair Bolsonaro) no trato da pandemia. Afinal, na teoria das redes, líderes não ditam sozinhos os rumos da história: eles são apenas nódulos em malhas complexas de interações.
No entanto, Ferguson atribui aos governantes o papel de "superdisseminadores", ou seja, indivíduos que propagam informação de forma massiva. Eles certamente influenciam a resposta social aos momentos de crise. Aliás, dado o papel crucial da informação no enfrentamento de qualquer catástrofe, Ferguson defende que o uso de plataformas como Twitter e Facebook esteja sujeito a mais controles do que atualmente.
Segundo Ferguson, o passado permite identificar cinco tipos de atitude que costumam levar ao naufrágio quando as calamidades se impõem: incapacidade de aprender com a história; pobreza de imaginação; tendência a se concentrar sempre na batalha imediata; tendência a subestimar perigos; inclinação para aguardar certezas que jamais virão.
Modelar instituições capazes de escapar dessas armadilhas pode fazer toda a diferença quando o próximo germe assassino escapar do fundo da mata. Mas não está escrito em nenhum lugar de "Doom" que escolher bons líderes não ajuda em nada.
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