Lula diz que não quer criticar taxa de juros, mas que 'está difícil'
Presidente deu declaração em Brasília; em SP, Campos Neto diz que incerteza global reduz previsibilidade de cortes da Selic
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (22) que não iria repetir as tradicionais críticas às taxas de juros, para não ofuscar as medidas que são anunciadas pelo seu governo. No entanto, acrescentou que "todo mundo sabe que está difícil".
"Eu não quero nem falar mal de juros, de outras coisas, se não a manchete do jornal será essa e não o programa Acredita", afirmou o presidente Lula.
"Você veja que ninguém falou mal de juro, que ninguém falou mal. Todo mundo sabe que está difícil, mas hoje, aqui, a gente tomou a seguinte decisão: a gente não ficar lamentando o que é difícil, o que a gente não controla. A gente vai fazer aquilo que a gente pode", disse.
Lula participou na manhã desta segunda de cerimônia de lançamento do Acredita, no Palácio do Planalto. Trata-se de de um programa estimular o crédito para empreendedores e famílias de baixa renda, além de renegociar dívidas de pequenos negócios.
A MP (medida provisória) que institui o programa prevê ainda medidas para impulsionar o mercado imobiliário e facilitar atração de investimentos estrangeiros para o Brasil.
Já Roberto Campos Neto, presidente do BC, afirmou em evento em São Paulo que o nível de incerteza global reduz previsibilidade de cortes da Selic.
Lula acrescentou que está otimista com o desempenho da economia brasileira. Disse que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), em 2,9%, surpreendeu já os críticos e analistas, mas que ainda não é o índice ideal. Acrescentou que "ainda é pouco".
"Um crescimento de 2,9% em 2023 é claro que é pouco, mas, diante da expectativa do mercado, foi excepcional. Não sou eu ou o [ministro da Fazenda, Fernando] Haddad acreditando na economia, são os empresários acreditando na economia", afirmou.
Lula então acrescentou que o crescimento da economia neste ano vai surpreender os "pessimistas".
"Eu quero alertar aos pessimistas: esse país vai crescer neste ano mais do que vocês falaram até agora. Os empregos vão ser gerados mais do que vocês imaginaram até agora. A massa salarial vai crescer mais do que vocês falaram até agora", completou.
O presidente então exaltou o programa lançado nesta segunda-feira, acrescentando que o desenvolvimento do país está necessariamente atrelado à criação de oportunidades e oferta de crédito para a população. E então disse que o principal benefício do programa é atender uma parcela da população que necessita de uma ordem menos de recursos, mas que não são atendidos pelos bancos privados.
"As pessoas que precisam de R$ 1.000, R$ 500, de R$ 1.500, de R$ 2.000, para curar uma dor qualquer que tenham dentro de casa. Banco não foi preparado para receber pobre, que chegue lá de sandália, não vou dizer o nome da sandália para não fazer propaganda", disse o presidente.
Campos Neto diz que nível de incerteza global reduz previsibilidade de cortes da Selic
Alvo de críticas do governo Lula pela Selic de dois dígitos, o presidente do Banco Central também voltou a falar de juros nesta segunda.
Segundo Roberto Campos Neto, o aumento no nível de incerteza na economia global, especialmente com relação à política monetária americana, leva a uma menor previsibilidade para os próximos cortes na Selic, hoje em 10,75%.
"Um cenário é essa incerteza diminuir, e a gente voltar para a nossa forma de atuação [ritmo de cortes na Selic] que a gente tinha começado. Um outro cenário é esse aumento de incerteza ficar mais tempo, e criar ruídos crescentes e aí a gente tem que trabalhar em como é que vai ser o ritmo, se a gente o diminui", disse durante evento em São Paulo.
Na última semana, os investidores passaram a precificar corte de apenas 0,25 ponto percentual na Selic em maio, não de 0,50 ponto percentual, como vinha indicando o BC em suas comunicações mais recentes.
Com relação à Bolsa de Valores do Brasil, o economista avalia que o mercado local está "um pouquinho pior que a média" em relação aos pares emergentes para investidores estrangeiros.
"Mas o Brasil teve suas peculiaridades. [O mercado brasileiro] tem bastante peso em empresas estatais, e teve um ruído do governo nelas. E os nossos juros são mais altos, então você tem uma taxa de desconto mais alta, a perspectiva de que o risco de prêmio que entra na Bolsa pela parte fiscal tem piorado um pouquinho também", disse o economista.
"No final das contas, se você olha que o Brasil tem um juro de longo prazo que paga acima de 6%, isso explica um pouco por que a Bolsa não sobe. Você tem aí uma âncora pesada para carregar. Isso não tem nada a ver com o Banco Central, isso é uma percepção de risco do Brasil", afirmou Campos Neto.
Os juros de longo prazo são precificados diariamente pelo mercado financeiro com base em expectativas econômicas. Quanto maior a percepção de risco fiscal, ou seja, de desequilíbrio nas contas públicas, maior tendem a ser os juros.
Segundo o presidente do BC, o risco fiscal dos países estará cada vez mais sob o holofote de investidores, pois a realidade fiscal dos países estaria descolada da política monetária em todo o mundo.
"Principalmente nos Estados Unidos, Europa e Japão. Se somarmos [os três], isso mais ou menos dá dois terços da dívida soberana mundial. E se ela custava 1% para rolar, agora custa 3%. Além disso, essa dívida subiu 25% durante a pandemia. Em algum momento, a sustentabilidade da dívida vai virar um tema e o fiscal vai ficar mais no foco", disse Campos Neto.
J.P.Morgan eleva de 9,5% para 10% projeção para Selic terminal
O banco J.P.Morgan passou a prever que a Selic terminará este ano em 10%, ante projeção anterior de 9,5%, antecipando três cortes consecutivos de 0,25 ponto percentual cada na taxa básica de juros a partir de maio.
Em relatório divulgado nesta segunda-feira (22), a economista-chefe para Brasil do J.P.Morgan, Cassiana Fernandez, e o economista Vinicius Moreira destacaram que o aperto das condições financeiras globais e a redução da meta fiscal do país para 2025 provavelmente alteram a avaliação do balanço de riscos do BC para a inflação.
"De fato, muitos membros do Copom parecem ter reconhecido essa possibilidade, abrindo a porta para romper o forward guidance dado na última reunião de um corte de 0,50 p.p. na reunião seguinte", disseram.
"Nesse contexto, agora achamos que o Copom fará um corte de 0,25 p.p. na reunião de maio, em duas semanas."
Eles destacaram que o câmbio e as expectativas de inflação são os principais canais pelos quais os eventos recentes afetam os cenários do BC, ponderando que o ciclo de política monetária ainda dependerá fortemente de outras variáveis, como pressões inflacionárias domésticas e o crescimento do PIB.
"No entanto, os tópicos das dinâmicas fiscal e externa devem ser particularmente importantes em ditar a taxa terminal", afirmaram os economistas.
Eles disseram ver chances crescentes de novas decepções no campo fiscal e também de os juros nos EUA permaneceram altos por mais tempo —o que mantém um viés de alta para o risco de a taxa Selic fechar o ciclo de cortes acima de 10%.
Com Reuters
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