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Soneca no trabalho? Empresas se convencem do benefício

Vantagens do cochilo foram reforçados por pesquisa divulgada no periódico Sleep Health no mês passado

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Emma Jacobs
Londres | Financial Times

Uma amiga especulou certa vez que o número de bebês que você tem pode ter correlação direta com sua capacidade de tirar cochilos. Eu tive apenas um.

Durante minha licença-maternidade, mais de uma década atrás, minha incapacidade de dormir enquanto meu bebê dormia me deixava alucinada. Eu tentava de tudo. Vestia pijamas no meio da manhã, à moda de Winston Churchill. Colocava tampões nos olhos, deixava o ambiente completamente escuro, caminhava ao ar livre, pulverizava colônia de lavanda sobre meu travesseiro, comia fatias de peru. Nada funcionava.

Não sou contra cochilos. Não encaro uma soneca breve como sinal de preguiça ou decadência moral. Pelo contrário: se ela é vista sob essa ótica, me parece ainda mais atraente. Mas sou resistente a cochilos. Isso é algo inato em mim. Ou, pelo menos, era o que eu pensava.

Mulher exausta dorme em cima do teclado - Adobe Stock

Cara Moore, coach executiva e fundadora da consultoria empresarial ProNappers, pensava diferente. Proponente resoluta do poder do cochilo, ela virou tão adepta de uma soneca que consegue pegar no sono em um espaço de trabalho que divide com outras pessoas –basta colocar fones de ouvido e uma máscara sobre os olhos.

Ela diz que uma soneca aumenta a produtividade. "Se você vai tirar um cochilo enquanto está com um problema para resolver –um email que não conseguiu formular corretamente, uma discussão que o está preocupando--, frequentemente, ao acordar, vai saber o que fazer ou dizer."

Os benefícios do cochilo foram reforçados por uma pesquisa divulgada no periódico Sleep Health no mês passado. A pesquisa revelou que tirar sonecas regularmente desacelera o ritmo de encolhimento do cérebro que ocorre à medida que envelhecemos, reduzindo o risco de demência e outros males.

Os cochilos se enquadram em três categorias. O cochilo reparador: um descanso após o almoço para reavivar a energia; o cochilo de recuperação, para repor o sono perdido, possivelmente no meio da manhã; e o cochilo preparatório para um turno de trabalho noturno ou uma balada.

As empresas estão tomando consciência das vantagens do cochilo. O Dr. Guy Meadows, diretor clínico da The Sleep School, que organiza programas para empresas e indivíduos, detecta uma mudança de atitudes. Ele diz que alguns empregadores nos setores do direito, consultoria, bancos e NHS (o serviço nacional de saúde britânico) estão pedindo ajuda para funcionários que fazem turnos de trabalho longos ou em horários antissociais. Eles temem que os funcionários percam a concentração e corram mais riscos quando estão cansados.

No caso de organizações que exigem que seus profissionais trabalhem até mais tarde que o normal para fechar um negócio, por exemplo, Meadows pode sugerir um "cochilo estratégico". "No passado, os empregadores hesitavam em falar sobre deixar seus funcionários privados de sono. Hoje eles discutem o bem-estar dos funcionários mais abertamente."

Nas sessões que Meadows promove com empresas, uma das perguntas mais frequentes que ele ouve é como tirar um cochilo. Segundo ele, funcionários geralmente não tiram cochilos porque não sabem o que fazer ou não conseguem pegar no sono.

É claro que há outros grandes obstáculos, como gerentes que fazem pouco-caso da necessidade de cochilos e a ausência de lugares para cochilar no escritório (como ambientes tranquilos ou "casulos" próprios para sonecas).

Quantas organizações têm uma cultura do cochilo, com gerentes realmente esclarecidos sobre a importância do cochilo no trabalho? Meu editor é uma pessoa flexível, mas não consigo me imaginar prometendo que vou entregar um artigo assim que tiver terminado de tirar minha soneca.

O home office pode ter facilitado as coisas para alguns profissionais de colarinho branco. Pesquisa da LifeSearch, seguradora especializada em seguros de vida, descobriu que um em cada seis dos profissionais que trabalham de casa admite tirar um cochilo no horário de trabalho.

Para superar minha resistência a cochilar, Cara Moore me pede para examinar os pensamentos que me impedem de fazê-lo. Segundo ela, um dos mais comuns é o orgulho de ser ativo. Eu já passei da fase da falsa modéstia, mas acredito que, se eu continuar firme, darei conta do trabalho em menos tempo. Segundo Moore, o desejo de continuar sem interrupções e "ticar mais alguns itens de sua lista de tarefas" é uma lógica falsa.

Como é o caso com uma boa rotina de exercício físico, Meadows recomenda que os cochilos sejam programados em sua agenda diária. Você deve ativar um alarme ou pedir a um colega que lhe cobre tirar o cochilo. Meadows sugere que você experimente com sonecas de comprimento diferente, geralmente algo entre dez e 20 minutos.

No primeiro dia do programa, estou em casa. Depois do almoço começo com uma soneca de dez minutos, ligando o alarme caso eu mergulhe num sono profundo. Me deito numa rede com uma almofada sobre os olhos para reduzir a luz. Fico pensando que meus vizinhos vão especular por que estou com uma almofada sobre os olhos, e isso não me deixa dormir. Moore sugeriu que eu ouça alguma coisa para desacelerar meus pensamentos internos que não param.

Experimento uma meditação conduzida, mas ela é interrompida por um pedido para financiar o podcast da pessoa. No dia seguinte fico ouvindo um livro entediante. Funciona por um tempinho, mas depois meus pensamentos recomeçam: como o narrador descobriu que tinha jeito para fazer as pessoas pegarem no sono? Será que isso atrapalha sua vida romântica? A opção melhor foi a meditação ProNappers, proposta por Moore, que afirma que "tirar um cochilo é uma ótima maneira de fazer uso de seu tempo", acompanhado pelo som de ondas.

No quarto dia, mergulhei numa espécie de consciência crepuscular. Sucesso, segundo Meadows, cujo conselho mais importante é "não fique pensando em adormecer". Para ele, isso cria seu próprio estresse –algo que é evidenciado por quem sofre de insônia.

Duas semanas mais tarde, tirando sonecas de maneira esporádica, descubro que o repouso virou sua própria recompensa. Vou perseverar. Afinal, criar o hábito de tirar um cochilo requer prática. Moore sugere que as pessoas pratiquem pelo menos uma vez por mês, e Meadows, três vezes. Ninguém pode me acusar de falta de vontade de aprender.

Tradução de Clara Allain

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