Morre Louise Glück, poeta americana vencedora do Nobel, aos 80 anos
Autora era conhecida por sua franqueza ao explorar a família e a infância em poemas breves e inconfundíveis
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Louise Glück, renomada poeta vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2020, morreu aos 80 anos. A informação foi confirmada pelo seu editor. A causa da morte não foi divulgada.
Sua poesia era conhecida por sua franqueza ao explorar a família e a infância, "com uma voz inconfundível" e "uma beleza austera", segundo o Comitê do Nobel há três anos, quando lhe concedeu o prêmio.
"Mas mesmo que Glück não negue a importância do fundo autobiográfico, ela não pode ser vista como uma poeta confessional", disse o comitê sueco na época. "Ela busca o universal, e para isso procura inspiração nos motivos e mitos clássicos, presentes na maioria de seus trabalhos."
Glück publicou 12 coletâneas de poemas, assim como volumes de ensaios sobre poesia. Entre suas obras mais premiadas estão "The Triumph of Achilles", "Ararat" e "The Wild Iris". No Brasil, estão publicados "Poemas (2006-2014)" —que reúne os livros "Averno", "Uma Vida no Interior" e "Noite Fiel e Virtuosa"— e "Receitas de Inverno da Comunidade", ambos pela Companhia das Letras.
Seus poemas, muitas vezes breves, com menos de uma página, fizeram de Gluck uma das poetas e ensaístas contemporâneas mais célebres dos Estados Unidos.
A escritora foi professora da Universidade Yale e venceu prêmios importantes, como o Pulitzer, o National Book Award e a Medalha Nacional de Humanidades. Seus avós eram judeus que emigraram da Hungria, e ela foi a primeira de sua família a nascer nos EUA.
Glück é a 16ª mulher escolhida desde que o prêmio começou a ser entregue, em 1901, e a primeira poeta do seu gênero a receber o Nobel desde que a polonesa Wislawa Szymborska foi premiada em 1996.
Lembrada com frequência como poeta lírica, de alta precisão e tom austero, seus versos avançam sem recorrer muito às rimas, mas extraindo da repetição e das quebras de verso um ritmo singular de exposição e pensamento.
Cada um dos seus livros constitui também, segundo ela própria, uma negação do anterior. Segundo Glück, escrever poesia é se aventurar, por isso cada livro é experimentado como algo desconhecido e novo. "Não me interessa ficar polindo um monumento", disse ela certa vez sobre o seu processo criativo.
Seus poemas investigam circuitos pessoais, mas num sentido pós-confessional, estruturados como microficções autobiográficas. Viúvas, cemitérios, feiticeiras, crianças e hospitais povoam seus livros, há fome e trauma, alusões à anorexia que determinou os rumos da vida de Glück e seu encontro com a poesia.
Há também felicidade quando um homem e uma mulher, deitados numa cama branca, são observados de pertinho em estado de contemplação mútua, entre "rodas de fogo" e calma extrema. Em seus livros, há espaço para o triunfo e a morte de Aquiles, a dor de Pátroclo e a de alguém que poderia se chamar Louise.
Sem medo de retornar aos lugares clássicos da poesia, a autora conduz os leitores até o velho jardim e "seria um erro pensar/ que por nunca sairmos do jardim/ o que sentimos era reduzido ou parcial".
Além da vasta produção poética, Glück publicou dois livros de ensaios sobre poesia, chamados "Proofs and Theories" e "American Originality".
Este último investiga a construção do lugar americano de onde a poesia fala para o mundo e sobre ele, observando tensões e contradições de vozes que oscilam entre o brio da invenção de si e o travo amargo da mentira.
Glück soube decifrar os fantasmas que assombram as expectativas de sucesso no contexto da literatura dos Estados Unidos, país em que a arte é um truque e truques são muitas vezes artísticos. Talvez daí a fascinante lucidez com que constrói seus versos, como diz o eu lírico de "O Poder de Circe", ao se despedir de sua vítima: "toda feiticeira é/ no fundo pragmática".
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