Diretor de 'Priscilla, a Rainha do Deserto' revela que vai fazer filme no Rio de Janeiro
Stephan Elliott participa do Festival do Rio, alfineta Bolsonaro e diz que deve voltar às extravagâncias de sua grande obra queer
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No Brasil para exibir a versão remasterizada do icônico "Priscilla, a Rainha do Deserto" no Festival do Rio, o cineasta australiano Stephan Elliott afirmou que vai tirar da gaveta um novo filme, guardado há décadas, e que o gravará no Rio de Janeiro.
Em conversa com este jornal, ele diz estar pronto para voltar ao estilo inegavelmente extravagante e excêntrico que garantiu a "Priscilla" lugar de destaque no cinema queer mundial —e em solo carioca, terra povoada por pessoas únicas, diz ele.
"Com o passar dos anos, eu me cansei do peso de ‘Priscilla’, eu fui me distanciando dele e de qualquer material gay. Eu não queria ficar preso na imagem do cara extravagante fã de musicais, mas 30 anos depois, agora que estou mais velho, eu mudei minha relação com o filme e decidi que é hora de revisitar esse universo", afirma Elliott, sem esconder a ansiedade.
"E vai ser aqui, no Rio de Janeiro. Eu vou voltar à direção de um filme e eu decidi que essa é a cidade na qual quero fazer o meu retorno. Se vai ser grandioso, na escala que eu pretendo, tem que ser aqui. Provavelmente será meu projeto de maior orçamento e, se for meu último filme, que seja. Eu só quero ter mais um momento sensacional como o que tive com ‘Priscilla’."
Elliott ainda não pode dar detalhes sobre o projeto, mas diz que o roteiro está pronto e que só está esperando "o dinheiro cair na conta" para anunciá-lo oficialmente. Talvez nem deixe o Brasil após o Festival do Rio, emendando ao evento o trabalho de pesquisa e desenvolvimento do novo longa.
O cineasta nutre um carinho especial pela capital fluminense, onde já filmou um segmento de "Rio, Eu te Amo", longa que em 2014 reuniu diferentes diretores numa ode à cidade maravilhosa.
A última entrada em sua tímida filmografia foi há quatro anos, com "Swinging Safari". A verdade é que, depois de "Priscilla", Elliott não emplacou nenhum outro sucesso tão grandioso, quadro que ele espera reverter.
Talvez a tarefa seja mais difícil do que foi em 1994, quando lançou sua magnum opus. O australiano acredita que, hoje, mesmo com vários estúdios dispostos a liberar verba para tramas sobre diversidade, ele não teria a liberdade que teve com o pequeno e mutilado orçamento que chegou às suas mãos na época.
Ninguém ligava se o filme faria dinheiro, então ele se esbaldou numa liberdade criativa que hoje, diante do politicamente correto e da pressão para contar histórias do tipo, jamais teria. "E eu continuo esperando, há 30 anos, para que o filme envelheça e ele nunca envelhece", diz.
"Eu não tinha ideia de que o filme teria esse impacto quando o fiz, mas aqui estamos, três gerações depois. Se eu tentasse fazer algo parecido hoje, querendo alcançar algo grandioso, eu estaria tentando –e, a partir do momento em que você tenta, não é a mesma coisa."
Ciente de que "Priscilla" foi peça fundamental para mudar a percepção do cinema sobre a temática LGBTQIA+ e para também atrair os olhares curiosos que anos mais tarde provocariam uma revolução drag queen com RuPaul, o australiano diz acompanhar a cena musical queer do Brasil –ele está sempre vindo ao país, já que seu companheiro tem raízes luso-brasileiras.
"Me surpreende que num país tão católico, com um cara de direita na presidência, vocês tenham alguém como Pabllo Vittar. Eu acho que essa pressão conservadora está tendo um efeito contrário, está dando vazão a talentos diversos, seja sob Trump ou Bolsonaro. Você tenta calar e as vozes ficam mais fortes. O cenário aqui tem tudo a ver com o governo de vocês."
O repórter viajou a convite do Festival do Rio
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