Com seis horas de filme, 'A Melhor Juventude' é um alento ao cinema italiano
O longa constitui a rigor o pano de fundo das transformações da Itália ao longo de 40 anos
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Quando acaba a primeira parte de “A Melhor Juventude”, há quem consulte o relógio para conferir se as luzes não acenderam por engano. Não. Com efeito, se passaram as cerca de três primeiras horas da saga familiar dirigida por Marco Tullio Giordana.
São no total seis horas e seis minutos de projeção, tendo por centro os destinos dos irmãos Nicola (Luigi Lo Cascio) e Matteo (Alessio Boni). A história começa no fim do chamado milagre italiano, nos anos 1960, quando os dois são estudantes universitários —Nicola é um extrovertido aspirante a médico e Matteo, um literato introvertido e cabeludo.
O encontro deles com a jovem e perturbada Giorgia de certo modo marcará o futuro de ambos. Enquanto Nicola se engaja na luta antimanicomial, Matteo buscará outro caminho: corta o cabelo, entra para o exército, torna-se mais tarde policial. A reação do primeiro é racional; a do segundo, emocional. É uma busca por algo que lhe dê um sentido de disciplina.
O filme é marcado por várias transformações. A primeira diz respeito a Giulia, a jovem pianista que Nicola encontra e por quem se apaixona, enquanto ambos ajudam Florença a superar a catastrófica enchente de 1966, que atingiu inclusive arquivos e museus. Nicola e Giulia se casam e têm uma filha. Mas Giulia abandonará o piano e mais tarde a família pela luta política.
Luta perigosa, numa Itália já em convulsão. Ela e Nicola estão do mesmo lado, enfrentando a polícia nos embates do final da década de 1960. Mas do outro lado, distribuindo borrachadas, estará o frágil, contraditório e violento Matteo.
Muitas coisas se sucederão, entre elas o engajamento de Giulia nas Brigadas Vermelhas, o aprofundamento da luta de Nicola contra as internações psiquiátricas e a intensificação das contradições de Matteo, suspenso entre o caráter sensível e o trabalho “lei e ordem”.
Muita coisa mais acontecerá ao longo dessa saga que, se nunca deixa de ser familiar, constitui a rigor o pano de fundo das transformações da Itália ao longo de 40 anos.
Não falta ambição a Marco Tullio Giordana. Mas, verdade seja dita, ele se mostra a cada cena à altura do desafio, seja pela fluência de sua narrativa, pela beleza que encontra nas locações e nas personagens (por serem discretas, não são menos sensíveis).
O que mais chama a atenção, no entanto, é a maneira calorosa como se aproxima de seus personagens e os acompanha ao longo de erros e acertos, encontros e desencontros, como se o objetivo fosse acolher as pessoas, apesar de suas dificuldades, fraquezas e desencontros eventuais.
Num momento em que a produção italiana deixa tantas saudades do que já foi um dia, o cinema de Giordana é um alento. Por vezes, esse vasto, talentoso, inteligentíssimo painel da vida italiana que é “A Melhor Juventude” parece mesmo um milagre.
Até porque, sendo perfeitamente italiano (as personagens viajam por quase todo o país), seus elementos são tão universais quanto próximos de nós.
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