Picada de borrachudo coça mais porque sua 'boca' morde de um jeito diferente
Enquanto outros mosquitos têm uma 'agulha', os Simulium fazem uma ferida e bebem sangue dali; conheça mais sobre eles
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De perto eles parecem tão fofinhos com seus corpinhos minúsculos que quase dá para se afeiçoar. Mas, olhando mais de perto ainda, quando eles pousam na gente e ficam ali quietinhos, aí o sentimento muda —a fofura vira coceira, muita coceira, uma coceira quase insuportável.
É assim que são os borrachudos, insetos minúsculos "primos" das moscas, pertencentes ao gênero Simulium e que costumam ficar mais ativos em dias de calorão como os dessa semana. Eles não vivem em qualquer lugar: é preciso que haja água em movimento para que os ovos da fêmea consigam prosperar.
"A fase larvária deles é aquática como a dos mosquitos, mas as larvas dos mosquitos vivem soltas e normalmente na água parada. Já o borrachudo precisa da correnteza. Suas larvas ficam presas à rocha e têm uma espécie de tufos no corpo, que filtram a água. Por ali eles se alimentam e respiram", ensina Paulo Ribolla, biólogo docente da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Por isso é tão comum ver um monte de borrachudos em cidades no litoral onde existem tanto praias quanto cachoeiras com suas águas doces, perfeitas para o ciclo de vida dos borrachudos. As praias do norte do estado de São Paulo, por exemplo, costumam sofrer com este problema.
Mas voltando à picada dos borrachudos lá do começo, aquela que coça um monte: de acordo com o biólogo Paulo, essa sensação acontece porque, quando vai atacar os seres de sangue quente (mamíferos e aves), o borrachudo precisa injetar várias substâncias em sua vítima.
"Para conseguir tomar o sangue do animal ou da pessoa, ele injeta anticoagulante [que não deixa o sangue coagular, ou seja, ficar mais "grosso" e parar de fluir] e outras substâncias que vão controlar a dor ali naquele local. Depois de um tempo, tudo isso acaba gerando uma reação, que é a coceira", diz Paulo.
É muito pouco provável que alguém sinta a picada do borrachudo enquanto ela acontece (já depois…). "É como se acontecesse uma reação inflamatória do corpo àquela mordida", afirma o biólogo.
Por falar em mordida, o método do borrachudo para tomar o sangue das vítimas é diferente do usado pelos outros mosquitos tipo pernilongo e Aedes aegypti, o transmissor da dengue.
"Os outros mosquitos têm uma espécie de agulha que eles enfiam na pele e vão tomando o sangue como se fosse de canudinho", compara Paulo. "O borrachudo não tem essa agulha porque seu aparelho bucal é diferente."
"Ele faz uma ferida no local e toma o sangue dali. Com isso, a aparência que fica no lugar é a de uma picada com uma bolinha vermelha no meio", diz. O processo todo de picar alguém dura de três a oito minutos e acontece quase sempre nos períodos da manhã e da tarde. E, assim como acontece com seus "primos" mosquitos, são só as fêmeas que se alimentam de sangue (e por isso picam).
Elas colocam em média de 200 a 300 ovos por mês, que demoram de cinco a seis dias para eclodir, dependendo da temperatura da água. As larvas que saem deles vivem por cerca de 15 dias nessa fase, passando depois para a fase de pupa, onde vão se desenvolver por em média quatro dias.
"O casulo se rompe e, dentro de uma bolha de ar, o adulto vai para a superfície da água e o borrachudo é então liberado. Os adultos vivem entre três e quatro semanas", diz Paulo.
Fora o incômodo pela picada, os borrachudos não costumam causar problemas. Mas há alguns lugares em que as consequências são mais graves, como por exemplo no norte do Brasil e em alguns lugares da África. Lá, explica o biólogo, os borrachudos transmitem a oncocercose, doença causada por uma filária [parasita] que ataca os olhos do paciente.
"Ela é chamada de ‘cegueira dos rios’. No Brasil acontece principalmente em Roraima e é um problema sério entre os yanomamis", diz Paulo. "Tudo começa quando o borrachudo pica alguém que tenha essa filária em seu organismo, alguém infectado. Então, ele se infecta também e para sempre vai transmitir isso a quem ele picar."
"A filária vai se desenvolver e ficar no aparelho bucal do borrachudo. A filária, que é um parente distante dos vermes intestinais e se adaptou para crescer em outro lugar, vai entrar em mais uma pessoa na próxima mordida que o borrachudo der, e assim por diante até o mosquito morrer", diz.
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