Instituições estão de pé, mas a ofensiva autoritária já começou
Desinformação, extremismo e tentativas de concentração de poder terão efeitos duradouros na democracia
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Este texto faz parte da série Cartas para o Futuro, em que colunistas, repórteres e editores da Folha imaginam os cenários das suas respectivas áreas de atuação em 2031.
Quem medir os sinais vitais da democracia brasileira em 19 de fevereiro de 2031 vai conhecer o resultado de um teste de estresse. Os choques produzidos pela desinformação, pelos incentivos ao extremismo e pelas tentativas de concentração de poder vão ter efeitos duradouros sobre a política do país.
Até aqui, as instituições democráticas estão de pé, mas o processo de deterioração começou. A fabricação de desconfianças sobre eleições, o estímulo à ação violenta contra adversários e a manipulação dos fatos fragilizam aos poucos essa estrutura.
Essas ferramentas foram usadas por líderes populistas com traços autoritários em várias partes do mundo. Eles exploraram a fúria de eleitores e o barulho da arena política para chegar ao poder pelas urnas. Depois, seguiram o mesmo caminho para desgastar os freios democráticos e ampliar sua força.
Jair Bolsonaro se tornou uma marca internacionalmente reconhecida nesse campo. O brasileiro transformou em instrumentos corriqueiros os ataques ao processo eleitoral, o enfrentamento agressivo a rivais e a divulgação de informações falsas.
Como consequência, o bolsonarismo se formou como uma base popular radicalizada, que julga necessário derrubar pilares da democracia para implementar seu projeto. Mesmo que seja possível conter a demolição, as investidas já são suficientes para fazer com que fatia considerável da população deixe de confiar nessas regras.
Com a ameaça instalada, o Brasil ainda pode repetir a experiência dos Estados Unidos
Os próximos dez anos vão dizer por que trilha o país vai seguir. Os brasileiros perderam a primeira saída em 2018, quando escolheram um presidente sem compromisso com as instituições democráticas. Já países como a Alemanha, com maturidade eleitoral e posições institucionais firmes, tiveram mais sucesso em isolar políticos radicais.
Com a ameaça instalada, o Brasil ainda pode repetir a experiência dos Estados Unidos. As instituições americanas foram fortes o bastante para conter a ação violenta que tentava reverter a derrota de Donald Trump nas urnas. O republicano teve que sair da Casa Branca, mas o ciclo deixou sequelas na política nacional e fortaleceu grupos extremistas.
Com menos sorte, os brasileiros podem ver a democracia tombar. Na Hungria, um governo populista aproveitou o mandato para se infiltrar nas instituições de controle, como o Judiciário, e desmontar os limites a seu poder. Na Venezuela, um regime autoritário trabalhou para se perpetuar no poder e levou a política local ao colapso.
O desfecho desse processo de deterioração depende de como a população e as instituições são capazes de reagir. Se os eleitores forem seduzidos ou permissivos diante de plataformas antidemocráticas, e se as autoridades não estiverem dispostas a punir líderes com comportamento destrutivo, o terreno ficará livre para eles.
Mesmo quando políticos dessa linhagem são bloqueados, suas marcas continuam presentes —como deve ser o caso do trumpismo nos Estados Unidos. Inaugurada a corrosão, o risco se torna permanente. Para chegar até 2031, o Brasil precisará exercer vigilância constante.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters