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Jovens que sofrem castigos físicos têm mais chance de 'descontar' estresse na comida

Adolescentes consomem excesso de ultraprocessados como válvula de escape e reduzem itens saudáveis na alimentação, segundo estudo da UERJ

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Gabriela Cupani
Agência Einstein

Além do impacto físico e emocional, adolescentes que sofrem algum tipo de violência podem aumentar o consumo de alimentos considerados de baixa qualidade nutricional e diminuir a ingestão dos saudáveis. Eles preferem os ultraprocessados, como biscoitos, salgadinhos de pacote e doces, e deixam de lado frutas e verduras, como mostra uma pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Os autores avaliaram dados de mais de 100 mil jovens de mais de 3.000 escolas públicas e privadas de todo o país. Entre os estudantes, 15,3% reportaram ter sofrido algum tipo de punição física no mês anterior à entrevista.

Nesse grupo que sofreu algum tipo de castigo, a chance de comer salgadinhos quatro vezes por semana, por exemplo, era 44% maior. No caso dos doces, esse número foi 22% maior e, para bebidas açucaradas, 38%. Já a probabilidade de comer feijão e vegetais no mesmo período caiu 25% e 19%, respectivamente. Mais da metade dos entrevistados beliscava doces e biscoitos salgados pelo menos quatro vezes por semana.

Jovens que sofrem violência tendem a consumir mais ultraprocessados e menos alimentos saudáveis - Rawpixel/ Adobe Stock

Estresse X comida

"A preferência por esse tipo de alimento serve para aliviar a tensão, já que também são comidas 'afetivas' que reportam a bons momentos, como uma forma de compensar a tristeza", diz a nutricionista Emanuele Souza Marques, professora da UERJ e uma das líderes do estudo.

"Esses jovens sofrem um dano duplo em termos de nutrição, tanto pelo aumento do consumo de alimentos de má qualidade e quanto pela queda do consumo dos alimentos saudáveis", complementa.

Além disso, os hormônios do estresse estimulam o desejo por comidas ricas em gordura e açúcar: "esses alimentos agem no sistema de recompensa do cérebro", diz a nutricionista Thais Abad, das Clínicas Einstein. "Sabe-se que os ultraprocessados são 'desenhados' para serem superpalatáveis. Às vezes, a comida é a única fuga desse adolescente."

O problema é que esses itens acabam substituindo refeições saudáveis. "A pessoa come um prato de macarrão instantâneo na hora do almoço e prefere um chocolate a uma fruta como sobremesa", exemplifica Abad.

Está comprovado que uma dieta rica em alimentos ultraprocessados está associada a maior risco de doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer, entre outras. Por isso, o consumo desses itens deveria ser mínimo.

"Muitas vezes, o adolescente não consegue aderir a uma dieta ou hábitos saudáveis e o profissional precisa investigar outros aspectos da vida na tentativa de entender o motivo de suas escolhas alimentares", diz Marques, autora do estudo da UERJ.

Os números da violência

Estima-se que, a cada ano, metade das crianças e adolescentes entre dois e 17 anos no mundo todo sofra algum tipo de violência. Cerca de 300 milhões de crianças entre dois e quatro anos sofrem castigos violentos.

Além disso, um terço dos adolescentes entre 11 e 15 anos já se sentiu intimidado por seus pares, segundo dados de um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) para prevenção da violência infantil publicado em 2020.

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