Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).
Tem menos água nas usinas de onde vem sua eletricidade
Reservatórios estão nos melhores níveis desde 2012, mas abaixo da média histórica e chove menos
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A gente se esquece das crises de geração de eletricidade, como se fosse um detalhe da economia. Dá de barato que haverá força e luz, como se dizia antigamente; que basta apertar o interruptor, embora não seja tão simples assim nem mesmo no cotidiano comezinho. Note-se o que acontece na supostamente avançada cidade de São Paulo depois de chuva forte, quando se fica sem luz, por dias.
Depois de 2012, passamos por três sufocos, causados em última instância por secas, mas não apenas por isso: em 2015, 2019 e 2021, anos de energia ainda mais cara e quase racionamento. Em 2023, os reservatórios das hidrelétricas estavam em níveis altos. Depois de uma década seca, parecem um copo bem mais para lá de cheio. Há viradas dramáticas, porém.
Em meados deste fevereiro, os reservatórios estavam em cerca de 62% da capacidade no Sudeste/Centro-Oeste, o coração do sistema hidrelétrico brasileiro (em 2021, no mesmo mês, baixaram a 29%; em 2015, a 21%).
Para esta época, é o maior nível depois de 2012, com exceção do excelente 2023. No entanto, ainda é menor do que o dos anos de 2002 a 2012 —2001 foi o ano do apagão de FHC.
Assustar-se com tais números é alarmismo. Entendidos do sistema não se arriscam a dar um chute do que virá antes de verificar a situação no final do período úmido, em fins de abril, no mínimo.
Além do mais, a matriz elétrica, a composição das fontes de energia, tem mudado, assim como a capacidade de transporte de eletricidade entre as regiões. No ano da crise de 2015, a participação da fonte eólica na geração de eletricidade era de 3,7%; em 2022, de 12%, de acordo com o Balanço Energético Nacional mais recente; a solar passou de quase nada para 4,5%.
Isto posto, a gente sabe que as variações climáticas são cada vez maiores e mais frequentes, se não desastrosas. Descendo às circunstâncias mais imediatas, as notícias sobre chuvas e represas já não são tão animadoras.
Pioraram um tanto as medidas de "Energia Natural Afluente", grosso modo a quantidade de água que vai para os rios que abastecem usinas hidrelétricas e que pode ser transformada em energia.
Como dizia na sexta-feira o Operador Nacional do Sistema Elétrico Nacional, ONS, o "diretor nacional de tráfego" da eletricidade: "O boletim do Programa Mensal de Operação referente à semana operativa entre os dias 17 e 23 de fevereiro apresenta um cenário sobre o qual o ONS vem alertando nas últimas semanas: as estimativas para a Energia Natural Afluente têm se mantido abaixo das médias históricas para o período tipicamente úmido em curso".
O Boletim Agroclimatológico de fevereiro do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apresenta previsões para os meses de fevereiro, março e abril. O que diz?
Chuvas abaixo da média "em grande parte da região" Norte. "Abaixo da média em todo" o Nordeste. "Tendência de precipitação abaixo da média histórica em áreas de Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal". No Sudeste, "chuvas próximas e abaixo da média no Rio de Janeiro, Espírito Santo e norte de Minas Gerais". No Sul, acima da média.
A economia anda no melhor ritmo trienal desde o começo da década de 2010. O consumo de eletricidade cresce. Como mostraram reportagens desta Folha, o setor elétrico é cheio de distorções, favores a empresas, subsídios malucos. A energia é cara. É assunto fundamental para o crescimento. A esse respeito, temos mais ouvido que o governo quer nomear diretores para a Eletrobras.
A gente deveria prestar mais atenção a tudo isso, desde o que se passa com chuvas, nível de represas e planejamento do uso de fontes à necessidade de grande reforma do setor elétrico: colocar as barbas de molho, antes que falte molho.
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