Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Descrição de chapéu África

Dá para viver sem?

Macumba agora é uma palavra pejorativa. Mas será enxotando-a da língua que iremos reabilitá-la?

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Ziquizira inesperada no equipamento me levou a chamar meu técnico em computador. Diante da emergência, ele se despencou. Clicando em velocidade, fez todas aquelas operações em que milhares de letrinhas correm pela tela, produzindo silvos e apitos, e, quando pensei que iria se meter fisicamente pelas entranhas do bicho, ele anunciou: "Prontinho. Resolvido". Aliviado, bufei: "O que era? Isso nunca aconteceu antes! Como se explica?". Ele respondeu: "Não tem explicação. Você pensa que computador é só matemática. É macumba também".

Queria dizer que a informática não é uma ciência exata. Pode ser também uma ciência mágica, o que a aproximaria dos nossos próprios limites, que nos impedem de saber por que algumas coisas são como são. Comentei a história com uma amiga e disse que podia me render uma crônica. Ela advertiu: "Cuidado. A palavra macumba foi cancelada. É considerada pejorativa dos cultos afrobrasileiros".

Embatuquei. Macumba é uma das mil palavras de origem afro que nos definem como falantes brasileiros da língua portuguesa. Como dispensá-la apenas porque um ou outro a emprega com impropriedade? Será enxotando-a da língua que iremos reabilitá-la? Se sim, todas as palavras como ela estarão um dia sujeitas ao opróbrio. Exemplos:

Acarajé, agogô, angu, axé, babá, bagunça, balaio, balangandã, banguela, banzé, batuque, birita, bunda, cabaço, caçula, cachaça, cachimbo, cacunda, cafundó, cafuné, cafungar, cambada, camundongo, careca, catimba, catinga, caxumba, chilique, cochilo, cuíca, cumbuca.

Dengo, farofa, fofoca, fuleiro, fuxico, fuzuê, gandaia, ginga, jagunço, lambada, lambança, lenga-lenga, macambúzio, mandinga, mingau, moleque, moringa, muamba, muvuca, muxoxo, pamonha, perrengue, pinga, quengo, quindim, quitute, quizumba, sapeca, sarará, serelepe, tagarela, tanga, tutano, tutu, urucubaca, xodó, zoeira, zumbi, zunzum. Etc. etc. Dá para viver sem?

Algumas das inúmeras palavras que nos definem como falantes brasileiros da língua portuguesa - Heloisa Seixas

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas