Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.
O canto exato e o canto mágico
Doris Monteiro e Leny Andrade eram tão diferentes no estilo quanto iguais na perfeição
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Doris Monteiro era cool; Leny Andrade era hot. Cada qual foi mestra em sua especialidade. Doris era a palavra exata, as notas perfeitas, o sonho dos compositores e letristas que quisessem sua canção cantada precisamente como eles a escreveram. Leny era a palavra mágica, as notas em voo, a favorita dos que escreviam para a improvisação. Leny, que era puro ritmo, podia ser romântica quando quisesse. E Doris, nunca exatamente romântica, também sabia quebrar o ritmo como ninguém, vide sua gravação de "O Pato".
Ambas tinham paralelos entre as mais ilustres cantoras americanas surgidas entre 1930 e 1960. Doris era Mildred Bailey, Lee Wiley, Peggy Lee, June Christy, Julie London. E Leny era Ethel Waters, Ivie Anderson, Ella Fitzgerald, Anita O’Day, Annie Ross. Mas eram só paralelos, um jeito de cantar que marca determinada época. Doris e Leny nunca tiveram essas cantoras como modelo, e posso afirmar que nem sabiam da existência das duas primeiras de cada lista.
A inspiração confessada de Doris foi Lucio Alves, e isso pode ser conferido no incrível disco "Doris-Lucio no Projeto Pixinguinha", de 1978, resultado de uma turnê que eles fizeram pelo país. Já a cantora que tornou Leny uma scat singer não foi nenhuma jazzista americana, mas, como ela tantas vezes contou, Dolores Duran cantando "Fim de Caso". É só ouvir a interpretação de Dolores, registrada em disco, que a garota Leny escutou ao vivo no Beco das Garrafas, aos 16 anos, em 1959.
As duas eram informadas e atentas. Valorizavam letra e música por igual e sabiam muito bem o que estavam cantando. Pode-se gostar mais de uma ou de outra, mas é pena —eu, por exemplo, prefiro as duas.
Na terça-feira (25), elas estavam lado a lado no saguão do Teatro Municipal, no Rio. Doris, coberta pela bandeira do Vasco; Leny, pela do Flamengo. As longas palmas de despedida anteciparam a falta que nos farão.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters