Leandro Beguoci é diretor editorial de Nova Escola (novaescola.org.br). Ele explica sobre o que funciona (e o que não funciona) na educação brasileira.
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A empatia é uma das competências previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Faz sentido. Independente do diagnóstico, falta às nossas escolas, em linhas bem gerais, a capacidade de ensinar nossos estudantes a se colocar no lugar dos outros.
Não quero levantar culpados nem fazer sociologia de boteco, mas a quantidade de casos de bullying, agressões e afins mostra que a convivência não é o forte das nossas instituições.
Faço esse preâmbulo por um motivo simples. O ministro da educação, Abraham Weintraub, claramente teve problemas com as universidades, em geral, e com docentes, em particular.
Ele parece ter um desejo de vingança, uma vontade de provar algo a alguém bastante pronunciada. Porém, como essa é uma coluna de educação, e não de psicanálise, esgoto minha hipótese por aqui. É difícil identificar as razões do ministro, mas muito fácil verificar a forma como ele age.
O ministro da Educação faz bullying
Sei que Weintraub, como outros próceres do governo de Jair Bolsonaro (PSL), despreza Paulo Freire —para ficar em uma palavra elegante. Já escrevi isso antes, mas reforço por aqui.
O ministro deveria ler alguns livros de Freire antes de ter tantas certezas. Um deles me ajudou muito, bem além da educação. Freire mostra que o oprimido vive dentro do opressor. Quando a relação de poder muda, o oprimido do passado pode virar o opressor do futuro. Lembra alguém?
Quem trabalha em escola já viu esse fenômeno. Muitas vezes, a vítima do bullying no fundamental vira um monstro no ensino médio.
Se a escola não faz um trabalho preventivo, se não desmonta o contexto em que o bullying acontece, a situação só piora. Temos uma espiral de sofrimento e violência.
Pois bem. Se Weintraub sofreu bullying, ele claramente não refletiu sobre o que aconteceu. Como ministro, ele gosta de esculachar adversários políticos no Twitter, criticar oponentes, provocar.
Ele vem atuando como uma espécie de valentão na hora do recreio —e parece estar se divertindo no papel. Sinto dizer, mas ele está dando um péssimo exemplo para os nossos estudantes. O que a BNCC dá com uma mão o ministro tira com a outra.
O Brasil não precisa de pessoas que aumentem a tensão das nossas escolas. Sei que ser machão, intempestivo, está na moda. Criticar o bullying virou mimimi em alguns meios. Porém, a moda não me interessa muito, não. Minha preocupação é com o longo prazo —e com a comparação internacional. Não há sistema de ensino bem-sucedido em que a violência seja a base das relações pessoais
Se o ministro é o primeiro educador do Brasil, estamos numa sala de aula em que o protagonista da bagunça e do bullying é o próprio professor... Não tem como dar certo.
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