Siga a folha

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Descrição de chapéu Partido Republicano

Aliança de minorias raciais com supremacia branca é fracasso da democracia

Identificação com grupos majoritários que cortejam ódio racial é tendência crescente, mas não precisa ser negação de identidade

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

A invasão do Capitólio ainda não teve um completo acerto de contas com a Justiça, depois de dois anos e meio. O julgamento de Donald Trump pela insurreição está inicialmente marcado para março de 2024, mas a defesa do ex-presidente ainda deve manobrar para pedir um adiamento.

As penas mais severas pela invasão do Capitólio pairam sobre os terroristas de uma milícia supremacista branca pró-Trump liderada por um personagem curioso: um afro-cubano nascido na Flórida. Enrique Tarrio, líder da milícia Proud Boys, ajudou a organizar o ataque e foi condenado com três cúmplices por "conspiração sediciosa", a mais grave acusação oferecida pelo Departamento de Justiça contra os mais de mil indiciados pela tentativa de golpe de Estado em 6 de janeiro de 2021.

Integrantes do grupo extremista Proud Boys em manifestação na capital dos Estados Unidos em dezembro de 2020 - Jose Luis Magana - 12.dez.20/AFP

Promotores federais pediram que o juiz que preside o caso dos Proud Boys imponha uma sentença de 33 anos a Tarrio, a mais longa de todos os já condenados. Ao se defender no tribunal, Tarrio argumentou que não poderia ser a favor da supremacia branca por ter origem afro-cubana. Disse que latinos não brancos, ele incluso, se identificam como "chauvinistas ocidentais".

Não é mais surpresa que latinos não brancos se aproximem de supremacistas brancos. É bom não esquecer que o eurocentrismo faz parte da formação de identidade na América Latina. Em maio deste ano, um extremista de origem hispânica matou 8 pessoas num shopping do Texas antes de ser morto pela polícia e deixar um manifesto pró-nazista.

Mas há algo especialmente assustador na lista mais diversa de candidatos da direita ainda semitrumpista que vai disputar as primárias com o ex-presidente.

O americano filho de indianos e pré-candidato republicano Vivek Ramaswamy se sente à vontade para comparar uma deputada negra aos racistas da Ku Klux Klan porque ele papagaia uma distorção republicana.

Trata-se de uma apropriação racista da famosa mensagem do líder pacifista Martin Luther King –"Sonho que meus quatro filhos vão um dia viver numa nação em que serão julgados não pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter."

Na versão hipócrita de direitistas que passam leis para impedir negros e latinos de votarem, qualquer admissão da evidente e trágica disparidade enfrentada por milhões de não brancos americanos seria uma distorção racial da mensagem de King.

A identificação de minorias com grupos majoritários que cortejam ódio racial é esperada e é também uma tendência crescente. Mas não precisa ser uma forma de negação de identidade. Identidade nada tem a ver com ódio ou discriminação.

A negação de não brancos americanos em reconhecer a ofensiva de republicanos para calar suas vozes nas urnas é um dos mais tristes fracassos no que restou de ritual democrático na política americana.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas