É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.
Trabalho remoto esvazia Manhattan e ameaça economia de Nova York
Metrópole vazia pode perder imagem centenária de polo da economia global, e setor cultural já sente baque
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"Os relatos da minha morte são muito exagerados", disse, uma vez, o grande escritor, frasista e vivíssimo Mark Twain. O mesmo comentário se aplicaria a Nova York.
Década após década, a densa metrópole onde o capital imobiliário tem poder sem paralelo nos EUA lida com altos e baixos na ocupação de seus metros quadrados verticais —entre os mais caros do mundo.
E a cada declínio econômico os profetas do apocalipse da skyline nova-iorquina perguntam: a cidade voltará?
Sempre voltou. Esta colunista e perpétua inquilina enfrentou três crises econômicas e o maior atentado terrorista da história, mas corações de proprietários residenciais nem sempre amolecem aos ventos da oferta e da procura. Já os grandes inquilinos comerciais têm outro poder de barganha.
Uma alarmante (ou alarmista?) capa da revista New York estampa a manchete "WORTH LESS", trocadilho de "valer menos" com "valer nada", sobre a célebre silhueta de Manhattan identificando edifícios com escritórios vazios ou hipotecas sob risco de não serem honradas. O número recorde de espaços comerciais ociosos, estimado em 22% da oferta da cidade, enfrenta um novo obstáculo para baixar.
Nova York registra hoje a média de uma morte de Covid por dia, tendo chegado a 800 mortes diárias em 2020. O governo municipal tentou forçar funcionários públicos a voltar ao trabalho presencial de segunda à sexta-feira; os grandes proprietários de imóveis, que mantêm boa parte da classe política no bolso com doações, disseram que voltar aos escritórios era um dever cívico.
Os trabalhadores votaram com as pernas e muitos foram arrumar novos empregos remotos ou mais perto de casa.
Corporações enfrentando escassez de mão de obra tiveram que ceder e oferecer vagas de trabalho híbrido. A prefeitura não consegue preencher 20% das vagas de funcionários, com efeito sobre vários serviços públicos. O que não é nada perto do que pode acontecer se os donos de edifícios imitarem o bilionário Scott Rechler e disserem "toma seu prédio de volta" a um banco credor. Estamos falando de US$ 1,5 trilhão (R$ 7,2 trilhões) em empréstimos imobiliários que maturam nos próximos dois anos.
Bancos retomando enormes prédios desvalorizados tiram o sono de Wall Street. Pior: Nova York tem uma dependência fiscal insalubre de taxas de propriedades comerciais, e todos os serviços —educação, transporte, segurança pública— podem sofrer se o orçamento municipal encolher ainda mais.
A crise que estaria se anunciando teria um efeito secundário. Manhattan esvaziada de profissionais pode perder sua imagem centenária de polo da economia global. E por que não transformar tantos escritórios vazios em residências?
Estimativas colocam entre 20% e 30% o número de edifícios em que o custo das obras poderia resultar em moradias para quem, como eu, gasta mais da metade da renda em aluguel.
O destino de prédios da geração pré-digital, sem equipamentos hoje esperados por profissionais de mídia, tecnologia e finanças, seria a demolição.
A resistência a voltar a Manhattan já fez vítimas mais vulneráveis. Os caros espetáculos da Broadway sobrevivem com margens apertadas de bilheteria. Teatros off-Broadway estão ameaçados. O venerado Public Theater, laboratório da dramaturgia americana há 70 anos, demitiu um quinto dos empregados e cortou produções. A inovadora Brooklyn Academy of Music dispensou 10% da equipe.
Desta vez será diferente?
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