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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Lá se foi um trio de ouro

O luto na imprensa falada, escrita e televisada: Apolinho, Antero e Silvio Luiz

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Antigamente, mas nem tão antigamente assim, o jornalista que escrevia se sentava diante de uma coisa chamada máquina de escrever, punha um papel, chamado de lauda, no rolo dela e muitas vezes passava minutos olhando para aquela folha em branco à espera da inspiração, à procura de uma abertura de texto que despertasse a vontade no leitor de ler o que seguiria.

Faz muito tempo, mas também nem tanto assim, que, em vez do papel, o jornalista que escreve fica frente a frente com uma tela. A espera é a mesma.

Há vezes em que a questão não é exatamente sobre o que escrever, mas, melhor, sobre o que escolher para escrever.

Então, em menos de 24 horas, o Campeonato Brasileiro é paralisado em solidariedade ao Rio Grande do Sul, o Brasil é escolhido para sediar a Copa do Mundo de futebol de mulheres em 2027 e… morrem Washington Rodrigues, o Apolinho, Antero Greco e Silvio Luiz.

Washington Rodrigues, o Apolinho, Antero Greco e Silvio Luiz: o trio de ouro se foi de uma vez só - Reprodução/Rodrigo Capote/Folhapress

Corinthians, Flamengo, Palmeiras e São Paulo foram contra a paralisação, e é constrangedor concordar com eles. Então, passa.

A Copa no país é bem-vinda, porque não precisará de grandes investimentos, provavelmente afirmará definitivamente a modalidade por aqui —e tomara que sirva para acabar as obras de melhoria nas cidades que receberam a dos homens, dez anos atrás.

Daí, o melhor tema é o pior.

Apolinho foi comentarista de enorme sucesso no Rio de Janeiro, criador, ou popularizador, de frases incorporadas ao vocabulário nacional, além de comunicador adotado pela massa. Saiu de cena aos 87 anos bem vividos.

Silvio Luiz andou ainda mais longe, até os 89, consagrado, narrador revolucionário ao criar estilo único, inimitável, autor de bordões eternos, companheiro de trabalho que combinava a aparente dureza no trato com discreta e firme solidariedade.

E tem o Antero, o Anterito, o my friend do Amigão e de todos.

Que foi cedo demais, aos 69, duas semanas antes de completar 70. Um democrata.

As novas gerações o conhecem das madrugadas na ESPN.

As dos tempos das laudas e máquinas de escrever aprenderam a admirá-lo nas folhas impressas dos jornais em que trabalhou, esta Folha, inclusive.

Editor de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, onde também era colunista, tornou muito difícil concorrer com ele.

Indisfarçavelmente palmeirense, porque nunca houve, nem há, por que disfarçar o time de coração, referia-se ao maior rival como "o nosso Corinthians", nascidos ambos no mesmo Bom Retiro.

Tinha o riso fácil, a gargalhada mais fácil ainda e, na dupla histórica com Paulo Soares, sabia explorar a mesma característica do parceiro para alegria de todos nós.

Claustrofóbico, não entrava em elevador nem amarrado, razão pela qual seus amigos religiosos têm certeza de que ele subiu de foguete e sem baldeação.

Paulo Soares e Antero Greco formaram grande parceria na ESPN - Reprodução ESPN

Olhar para a quarta-feira, com a notícia à noite da morte de Apolinho; para a quinta, na madrugada e pela manhã, das de Antero e Silvio e o velório de Antero; e para a sexta, com o velório de Silvio, dá a medida da nossa fragilidade e da dimensão dos que não vieram ao mundo a passeio.

O trio de ouro que se foi de uma vez só é prova doída de uma coisa e de outra.

Para tristeza e admiração dos geraldinos e arquibaldos, pelo amor dos meus filhinhos e para a gargalhada final de quem cumpriu com seu dever.

Para os que ficam, ao menos dará para conferir no replay.

Porque gente assim não morre.

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