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Adeus, tênia

Como é bom se despedir de alguém que sabemos que não vai fazer falta

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O brasileiro tem uma tolerância altíssima pra coisas detestáveis. Suportamos, sem pegar em armas, o surgimento de um terceiro pino na tomada. Toleramos, sem quebra-quebra, as passas do arroz na véspera de Natal, as caixinhas de som no transporte público, a isenção de imposto pra igreja.

Chegamos a criar carinho pelas coisas mais inusitadas, como a pizza de frango com Catupiry, o Corote e o Galvão Bueno, provando que a gente é capaz de se apegar a qualquer coisa.

Talvez seja por isso que nenhum presidente brasileiro, até hoje, tenha perdido uma reeleição. Não acho que tenha a ver com conformismo, mas com pavor. Um pavor muito justificado, diga-se de passagem. Aprendemos, em 200 anos de história, que tudo que está ruim sempre pode ficar pior.

A reeleição de um presidente garante a continuidade de um mal que, ao menos, já conhecemos. Mais vale um desastre na mão do que dois voando.

Ilustração publicada em 21 de setembro de 2022 - Catarina Bessel

Bolsonaro nos mostrou que desgraça pouca é bobagem. Encostamos os pés no fundo do poço e daqui só saímos pra cima. Feito uma Marie Kondo tupiniquim, Bolsonaro nos ensinou a experimentar as delícias do desapego.

Segundo as últimas pesquisas, vai bater um recorde duplo no país: não somente deve perder a reeleição, como deve perder no primeiro turno —isso depois de fazer tudo o que podia e o que não podia pra se manter no cargo, usando verba pública pra fazer comício, tentando roubar a atenção até no enterro da rainha.

Nesse último episódio fúnebre, fez com que o mundo inteiro sentisse aquilo que experimentamos ao longo de quatro anos: a repulsa por um homem que faz comício em cima de corpos recém-enterrados. Provou, na prática, que não é coveiro —não conheço coveiro que faça o caixão de palanque. É outra coisa: oportunista, sanguessuga, parasitário.

Bolsonaro poderia se contentar com o ódio da maioria da população do seu país. Não é pouca coisa. Mas ele sonha alto. Fez com que sua rejeição ganhasse o mundo. Pra alguém que se diz um antiglobalista, conseguiu uma proeza: globalizou o asco à sua figura. Graças a ele, já não exportamos somente commodities, mas também vergonha alheia.

Já vai tarde, o desgraçado. Como é bom se despedir de alguém que sabemos que não vai fazer a menor falta.

Parece que estamos tomando um vermífugo. Adeus, tênia.

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