Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.
Festa de Nossa Senhora de Nazaré em Belém é linda celebração da fé popular
Junto com Fafá de Belém, Paulo Vieira e Jacira Santana, cantamos e dançamos inebriados pela magia do Círio
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O mês de outubro marca celebrações de fé muito importantes no Brasil —é o mês que abriga o dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora de Aparecida, mas também que celebra Nossa Senhora de Nazaré em uma festa histórica. Eu me refiro ao Círio de Nazaré, a maior festa religiosa do mundo que, anualmente, recebe mais de 3 milhões de pessoas.
A convite de Fafá de Belém, a quem chamo de rainha, fui junto a meu babalorixá Rodney William conhecer a Nossa Senhora de Nazaré. Há 11 anos, Fafá criou a iniciativa Varanda de Nazaré, em que convida pessoas com o objetivo de divulgar o Círio e as manifestações culturais do Pará, algo importante em um país que, de modo geral, invisibiliza a riqueza cultural desse estado.
Ao lado de sua filha e cantora Mari Belém, ela comanda a programação com muita gentileza, acolhimento e conhecimento profundo sobre as riquezas culturais da região. Neste ano, por causa da pandemia, não houve procissão, apesar de centenas de milhares de pessoas ainda terem ido fazer seus agradecimentos e preces.
Neste ano, os encontros foram mais fechados e tiveram uma programação que incluía uma varanda fluvial, idas ao teatro e à basílica, para ver a imagem da santa, um dos momentos mais emocionantes da viagem.
Nas águas do rio, a bordo de um barco em que fomos confortados pelo colo de Nazinha, e na varanda, cantamos e dançamos inebriados pela magia do Círio.
Neste ano, fui convidada junto do ator e humorista Paulo Vieira, de Jacira Santana, mãe de Gil do Vigor, da campeã olímpica do vôlei Virna, da jornalista Glenda Koslowski, de Carol Costa, criadora da Universidade Minhas Plantas, e da chef Kátia Barbosa.
Juntos, vimos Fafá se apresentar no Theatro da Paz, com a participação emocionante da filha, cantando músicas dos compositores paraenses Paulo André e Ruy Barata sob todos os aplausos. Em seguida, mãe e filha nos levaram a um sarau em que fomos recebidos dançando carimbó e que reuniu cantores da região como Jeff Moraes, que encantou e levantou o público, Aíla, entre outros. Foi uma grande noite e excelente oportunidade de conhecer mais artistas paraenses.
Romeiros, em agradecimento e devoção, vêm de diversas regiões formar uma corrente de fé. De Nazinha sai o cordão por quilômetros. A energia é tamanha, que somos atraídos para um transe coletivo de memória, irmandade e obstinação.
Junto a Nazinha, o povo do Pará e de todo Brasil faz seus pedidos, agradece e tem colo. Foram cinco dias que ficarão marcados no coração, num sentimento inexplicável.
Como canta a rainha do Círio, Fafá de Belém, na música composta pelo padre Fábio de Mello: "Pois há de ser mistério agora e sempre/ Nenhuma explicação sabe explicar/ É muito mais que ver um mar de gente/ Nas ruas de Belém a festejar/ É fato que a palavra não alcança/ Não cabe perguntar o que ele é/ O Círio ao coração do paraense/ É coisa que não eu não sei dizer".
Ir ao Círio de Nazaré foi uma das experiências mais intensas da minha vida, e digo a qualquer pessoa que vá pelo menos uma vez na vida.
E já que estará em Belém, vai se encantar com a hospitalidade do povo paraense. "Meu país, Pará", como dizem, e que tanto amam. Vá também ao mercado Ver-o-Peso, com seus cheiros, cores e sabores. Vá se deliciar com um caldo de tucupi e um peixe do rio na brasa com açaí. Do outro lado do rio, na ilha do Combu, na maré baixa, há o restaurante Saldosa Maloca, escrito assim mesmo, onde fiz uma das mais deliciosas refeições da minha vida. Belém é difícil de explicar, tem uma magia que só quem foi para lá pode entender.
Foi muito bonito acompanhar a fé popular, a devoção das pessoas, ver tantas casas e estabelecimentos com faixas de homenagem à Nossa Senhora de Nazaré. Eu, que não sou católica, me vi emocionada, encantada, acolhida.
E como não citar a Festa da Chiquita, que acontece há mais de 40 anos? A festa celebra o orgulho da população LGBTQIA+ no sábado que antecede o Círio de Nazaré. A festa é patrimônio cultural tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e pela Unesco. Friso: festa que celebra a diversidade sexual, a luta por direitos e a felicidade há mais de 40 anos.
Voltei para São Paulo cantarolando "Naza, Nazarezinha, Nazaré rainha, Nazaré, mãe da terra, mãezinha me ajuda a cuidar", um grande hino composto por Almirzinho Gabriel, com as energias renovadas.
A música marcou a viagem e aumentou ainda mais a sintonia do grupo, que já estava se chamando de família. Fafá diz que Naza, Nazinha é para os íntimos, Nossa Senhora de Nazaré é para quem não tem muita intimidade. Após dias de emoção que só o Círio pôde proporcionar, já a chamo de Nazinha com a certeza de voltar no próximo ano.
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