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pantanal

Corrida atrás de incêndios e cheiro forte da fumaça marcaram a cobertura da Folha no pantanal

Em meio a deslocamentos exaustivos, registramos um trabalho sem fim para evitar desastres

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São Paulo

Um personal trainer, uma cozinheira e um carpinteiro jogavam conversa fora com outros oito colegas a bordo de uma lancha da Marinha no rio Paraguai. No início daquela tarde de 15 de junho, a embarcação passava pelo centro de Corumbá, município de Mato Grosso do Sul perto da fronteira com a Bolívia.

Eles formavam o grupo de 11 brigadistas que seguia para controlar um incêndio próximo da casa de ribeirinhos. Nós havíamos chegado à cidade fazia menos de três horas para reportar o início antecipado da temporada de fogo no pantanal. Após alguns contatos, conseguimos nos juntar à equipe na lancha.

Depois de uma hora de viagem pelo rio, adentramos uma nuvem espessa de fumaça e desembarcamos. Foi enquanto registrávamos a ação de combate que descobrimos as profissões que pouco tinham a ver com o trabalho especializado de combate ao fogo, feito na região por equipes de organizações públicas, como bombeiros e fuzileiros navais, e privadas, caso das ONGs.

A imagem mostra um incêndio em uma área de vegetação de espinheiros, que têm cerca de dois metros de altura. Há uma grande quantidade de fumaça cinza que obscurece parte da cena, enquanto chamas laranjas são visíveis à direita. Galhos secos e arbustos estão presentes, indicando um ambiente de vegetação densa. Ao fundo, atrás da fumaça, há dois brigadistas
Brigadistas do PrevFogo, do Ibama, combatem incêndio em fazenda no leste de Corumbá (MS), no pantanal - Bruno Santos - 19.jun.2024/Folhapress

No nosso caso, acompanhamos agentes temporários contratados por seis meses pelo PrevFogo, braço do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) para prevenção e controle de incêndios florestais. No resto do ano é preciso achar outro trabalho.

Mas a motivação das equipes que acompanhamos ao longo daquela semana contrastava com essa incerteza, talvez reforçada pelo tereré distribuído religiosamente antes e depois dos combates.

Os brigadistas abriam com facilidade caminhos no mato, chamados de picadas, para a passagem dos colegas. Carregando equipamentos pesados, transitavam por espinheiros e perto de casas de marimbondos —alguns foram feridos— e passavam horas rodando por estradas de terra atrás dos focos.

Muitos deles já atuaram em outras temporadas, inclusive em 2020, quando o pantanal foi destroçado pelos piores incêndios já registrados na região.

Logo que chegamos a Corumbá fomos recebidos no aeroporto pelo cheiro de fumaça e por uma névoa cinza, lembretes da destruição que se aproximava.

No centro da cidade, porém, o fantasma de 2020 aparecia de forma lateral em comentários sobre a preparação para o Arraial do Banho de São João. Tradicional em Corumbá, o evento viraria notícia nacional após viralizarem imagens da realização de um show enquanto, ao fundo, na margem oposta do rio, ocorria um incêndio.

Em campo, logo percebemos que o deslocamento era a parte mais difícil do combate às chamas.

Durante uma ação em uma fazenda, localizada a ao menos duas horas de carro do centro de Corumbá, uma viatura do Ibama atolou na areia e precisou ser guinchada por outra, que a acompanhava. Já o controle do fogo, em si, durou cerca de meia hora.

Em outra ocasião, no rio, os condutores da lancha da Marinha perderam temporariamente o contato de rádio com a embarcação que estava próxima de um foco de incêndio. Já tínhamos nos deslocado por quase três horas e a ação poderia ser abortada. Isso depois de a lancha esbarrar várias vezes em bancos de areia submersos, mais perigosos por causa da seca atípica deste ano, verificada também no baixo nível do rio.

O tamanho do problema ficou evidente na semana seguinte, com o tom de urgência dos governos e a aceleração do envio de agentes, aviões e helicópteros para a região.

Acionados diariamente para combater focos de incêndio pela região, os agentes sabiam que enxugavam gelo e refletiam, com algum desânimo, sobre quanto tempo ainda duraria o fogo, cujo pico normalmente ocorre entre agosto e setembro. A mesma impressão era compartilhada por funcionários de fazendas e moradores de pequenas comunidades no campo.

O deslocamento talvez seja a melhor forma de resumir o combate a incêndios. As viagens de barco eram modorrentas, e as de carro, um teste de paciência por estradas de terra e areia ou com ondulações no asfalto. O destino sempre era indicado por colunas de fumaça, que faziam sombra sobre lotes inteiros de fazendas ou de áreas vazias.

O dia de trabalho dos brigadistas terminava após o controle dos focos e a volta à base. O nosso, depois do envio de fotos, textos e vídeos à Redação da Folha. Mas o perigo que corre o pantanal, na forma de fumaça e fogo, continuava a se aproximar da cidade.

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