Conheça 7 experiências de compostagem urbana de resíduos orgânicos

Cidades brasileiras adotam diferentes modelos de reciclagem do lixo orgânico doméstico e geram economia para os cofres públicos

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São Paulo

O Brasil tem mais de 70 municípios com iniciativas de compostagem de orgânicos, em modelos e dimensões diferentes. Conheça sete dessas experiências:

FLORIANÓPOLIS (SC) – A PIONEIRA REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS

Em outubro de 2008, ratos infestaram o bairro de Monte Cristo, em Florianópolis, matando duas pessoas. Para impedir o avanço da praga, era preciso acabar com a comida disponível, o que significava dar fim ao lixo de ruas e terrenos. Três meses depois, com o apoio do Cepagro (Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo), uma ONG deu início à Revolução dos Baldinhos, movimento comunitário de compostagem de resíduos orgânicos.

Os baldinhos de plástico eram distribuídos para que os moradores recolhessem restos de comida das casas e levassem até postos de coleta. Duas vezes por semana, os restos eram transportados para a área de compostagem, numa escola do bairro, onde estudantes e agentes ambientais cuidavam do composto, que depois adubava as hortas comunitárias.

Resto de fruta é parte dos resíduos orgânicos que podem ser compostados
Resto de fruta é parte dos resíduos orgânicos que podem ser compostados - stokkete / adobe stock/adobe stock

A Revolução dos Baldinhos impulsionou a divulgação do processo de compostagem termofílica, em leiras (canteiros) de aeração natural, modelo da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) desenvolvido pelo agrônomo e professor Paul Richard Muller. O projeto premiado é modelo para outras cidades.

Em 2017, a cidade redesenhou sua estratégia com o projeto Minhoca na Cabeça, que já distribuiu 1.680 composteiras domésticas. Numa segunda frente, existem pontos de entrega voluntária de restos de alimentos.

Para ampliar a área de coleta na cidade, foram comprados caminhões adaptados para evitar o espalhamento de chorume nas ruas. E foi iniciada, em julho de 2021, uma coleta focada em comércios e condomínios, duas vezes por semana.

Florianópolis tem taxa de lixo, que ainda não cobre 100% dos custos de todo o sistema de coleta. "Há um custo climático que também precisa ser mensurado. A valorização do orgânico gera empregos a conseguimos economizar no composto orgânico que promove a agricultura urbana", explica Karina da Silva de Souza, engenheira sanitarista e ambiental, que trabalha na Comcap, empresa pública municipal responsável pelos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos da capital catarinense.

BOA VISTA (RR) – MULHERES, REFUGIADOS E IMIGRANTES

Boa Vista Acolhedora é um programa de promoção da autonomia de agricultores familiares, pessoas migrantes e refugiadas venezuelanas, mulheres e povos indígenas através da reciclagem dos resíduos orgânicos. O adubo orgânico é destinado à agricultura familiar local, pois o isolamento da cidade encarece o acesso a adubos e fertilizantes.

Segundo Gabriela Ramos Andrade, gerente da AVSI (Associação Voluntários para o Serviço Internacional) Brasil, o centro de compostagem também recebe resíduos orgânicos de seis geradores privados e, em contrapartida, fornece relatório mensal dos destinação adequada e estimativa de carbono equivalente que deixou de ser emitido. Trata-se de uma iniciativa da AVSI com a Fundação Avina, a Escola Agrícola Rainha dos Apóstolos, Pacto Global, ACNUR e Operação Acolhida, com financiamento da União Europeia e apoio da Fundação Banco do Brasil.

SOBRAL (CE) – ALTO VOLUME DE PODAS DE ÁRVORES

A cidade faz parte de um consórcio de gestão integrada, composto por 19 municípios, responsável por apoiar planos de educação ambiental, coleta seletiva e capacitação técnica. O trabalho de compostagem começou em 2021 e, em 2022, gerou economia de R$ 372 mil à prefeitura, levando em conta o custo de R$ 80 por tonelada em aterro.

No pátio de Sobral, são recebidos de 10 a 14 toneladas por dia de poda urbana de parques e jardins particulares junto com restos do mercado central e hortifrutis do entorno. O serviço está em expansão para restaurantes e empresas particulares. "Temos um volume de poda tão grande que precisamos ampliar a coleta de orgânicos", diz Cirliane Viana, coordenadora de gestão integrada de Sobral. O composto é distribuído aos moradores e também serve para manutenção de jardins, parques e áreas verdes.

SERGIPE – PROJETO COORDENADO COM FECHAMENTO DE LIXÕES

Para erradicar lixões e fazer a transição para uma disposição final adequada de resíduos, foi montado o Conscensul (Consórcio Público de Resíduos Sólidos e Saneamento Básico e do Sul e Centro Sul Sergipano), agrupando 16 cidades da região. Segundo Edivaldo Ribeiro, superintendente do Conscensul, até dezembro de 2023, os 75 lixões do Estado de Sergipe haviam sido encerrados e foram formadas 16 cooperativas de catadores de materiais recicláveis, envolvidas na compostagem.

O primeiro pátio de compostagem foi criado no município Tomar do Geru. Para a sua implantação, foi criado o primeiro termo de referência, com normas específicas, pois não havia legislação para a compostagem. Um segundo pátio está em fase de licenciamento para beneficiar mais quatro municípios e 200 mil sergipanos.

DISTRITO FEDERAL - COMPOSTAGEM JUNTO DA CENTRAL DE RECICLAGEM

Um projeto-piloto de compostagem municipal deve ser instalado nos próximos dois meses, usando orgânicos de cinco feiras das cidades satélites. Instalado junto à central de reciclagem, será operado por catadores. "Recebemos os recicláveis com muita sujeira, muito mal separados. Queremos mostrar as vantagens de resolver a seletiva junto com a coleta de orgânicos", conta Aline Souza, a catadora de material reciclável que ficou famosa por subir a rampa com o presidente Lula, na posse.

Os maiores custos, ainda não resolvidos, são de logística. O começo será com trabalho voluntário. "Estamos namorando o Ceasa, que tem custo de gerenciamento de resíduos muito alto e fração orgânica de qualidade", afirma. "O sistema atual precisa ser corrigido, porque não dá para gastar dinheiro só transportando e botando o lixo debaixo do tapete", diz Aline.

SERTÃOZINHO (SP) – ECONOMIA DE RECURSOS E DE EMISSÕES

A cidade de 140 mil habitantes e cerca de 60 mil domicílios não tem aterro sanitário. Leva os resíduos para as cidades vizinhas de Iguatu, Pará e Jardinópolis e os deslocamentos são de cerca de 65 km. A diminuição desses percursos "foi um apelo foi importante para a adesão ao programa", conta Rafael Jó Girão, da Agir Ambiental, empresa que criou e implementou o projeto de compostagem doméstica na cidade.

Com o Fundo Nacional do Meio Ambiente, a prefeitura obteve R$ 525 mil e, em 2019, foram distribuídas 1.156 composteiras em casas e escolas. Cada inscrito ganhava uma garrafinha de adubo líquido. O custo da prefeitura para coleta, transporte e aterramento é de R$ 342,15 por tonelada.

Com o projeto Composta Sertão em 1.000 residências, houve desvio de 300 toneladas por mês e uma economia de R$ 102 mil ao ano para os cofres públicos. O projeto durou até dezembro de 2023. A última pesquisa mostrou que 80% das casas e escolas mantêm as composteiras.

SÃO PAULO (SP) - CINCO PÁTIOS EM OPERAÇÃO

Em 2015, foi instalado o primeiro pátio de compostagem da cidade, na Lapa, inspirado na Revolução dos Baldinhos de Florianópolis, com o modelo de compostagem termofílica da UFSC. O pátio recebe restos de 24 feiras da zona oeste e podas de jardins.

Um estudo da Associação Internacional de Resíduos Sólidos, de 2016, concluiu que, "comparada à disposição de resíduos orgânicos em aterro com coleta de gás e queima de maçarico, a reciclagem em uma usina de compostagem de pequena escala, como a da Lapa, resulta numa redução de 87% das emissões de GEE".

O estudo recomendava ao poder público que replicasse o modelo em 20 a 25 pátios, para escoar 180 toneladas por dia. "Uma abordagem proativa das Subprefeituras, com a disponibilização dos locais, juntamente com o compromisso das concessionárias da cidade em realizar as instalações, permitiria implementar este tipo de usinas em até 24 meses", dizia o estudo.

Desde 2018, foram abertos os pátios da Sé, Mooca, São Mateus e Ermelino Matarazzo. Juntos, receberam em 2023 cerca de 7.000 toneladas de orgânicos e produziram 1.300 toneladas de composto. Operam hoje com menos da metade da capacidade de recebimento, de 15,6 mil toneladas.

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