Poluição de incêndios florestais na Califórnia matou 52 mil pessoas em 10 anos, diz estudo

Material particulado liberado pelas queimadas tem impacto devastador na população, afirmam pesquisadores

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São Paulo

A poluição causada pelos incêndios florestais na Califórnia matou mais de 52 mil pessoas ao longo de uma década, afirmou, nesta sexta-feira (7), um novo estudo. Com a iminente chegada do verão no hemisfério norte, o oeste dos Estados Unidos se prepara para altas temperaturas, que podem trazer mais fogo.

Grandes áreas de floresta e pradaria são queimadas todos os anos na Califórnia e em outras partes do país, causando milhões de dólares em destruição e, às vezes, custando vidas.

Mas os pesquisadores dizem que o material particulado liberado pelos incêndios tem um efeito devastador nas populações locais que supera em muito o número de mortes diretamente atribuíveis às chamas.

Fumaça se espalha pelo céu, subindo de uma floresta que queima. No primeiro plano, três bombeiros com roupas amarelas e capacetes estão de costas para a câmera
Fumaça se espalha atrás dos bombeiros no condado de Mariposa, Califórnia (EUA) - David McNew - 24.jul.2022/AFP

Um estudo liderado por Rachel Connolly da Universidade da Califórnia em Los Angeles descobriu que esses minúsculos poluentes no ar —conhecidos como PM2.5 por terem 2,5 micrômetros ou menos— estão matando um elevado número de pessoas.

A equipe analisou dados de 2008 a 2018 e isolou a quantidade de PM2.5 liberada especificamente pelos incêndios florestais —diferente do que é gerado por outras fontes, como transporte e indústria.

Eles descobriram que pelo menos 52.480 mortes prematuras poderiam ser atribuídas à poluição das queimadas. O custo do tratamento das pessoas afetadas foi calculado em US$ 432 bilhões (cerca de R$ 2,29 trilhões).

"A importância da gestão de incêndios florestais só crescerá nas próximas décadas, à medida que a aridez se intensifica com as mudanças climáticas e mais regiões se tornam suscetíveis a incêndios", escreveram os pesquisadores no artigo, publicado na revista Science Advances.

"Essas descobertas têm implicações diretas para a Califórnia, um estado na vanguarda do desenvolvimento de políticas climáticas, com muitas regiões propensas a incêndios e uma população diversa para proteger", acrescentaram. "Ampliar a base de evidências sobre os impactos na saúde causados por incêndios florestais e outras exposições relacionadas ao clima é crucial."

Altas temperaturas causam alerta

O estudo chega em um momento em que grande parte da Califórnia e outras partes do oeste americano estão sofrendo com a primeira onda de calor do ano. No Vale da Morte, os termômetros chegaram a 49°C na quinta-feira (6), enquanto Las Vegas estava sufocando com um calor de 43,9°C.

Essa onda de calor antes mesmo do início do verão levantou temores de que a temporada de incêndios seja feroz em 2024, após dois anos relativamente tranquilos graças a invernos úmidos.

Por enquanto, os incêndios que estão surgindo tendem a ser de gramados, que são mais fáceis de controlar e não queimam tão intensamente. Mas à medida que o tempo esquenta e os arbustos e árvores maiores começam a secar, a vegetação se torna vulnerável a cabos de energia derrubados e cigarros descartados.

Depois de cerca de 20 anos de seca e em um clima que está lentamente se tornando mais árido, a Califórnia teve um número alarmante de megaincêndios neste século: 18 dos 20 maiores incêndios florestais já registrados no estado ocorreram nas últimas duas décadas.

O fogo é uma parte natural —e necessária— do ciclo de vida da natureza nesta região. Mas as mudanças climáticas, causadas pela queima desenfreada de combustíveis fósseis pela humanidade, que bombeia gases de efeito estufa na atmosfera, estão tornando os incêndios maiores, mais quentes e mais imprevisíveis.

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