Descrição de chapéu violência

Jornalistas estão sob ameaça na amazônia, aponta relatório

Segundo o Instituto Vladimir Herzog, houve 230 casos de violência contra jornalistas na amazônia na última década

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Anthony Boadle
Reuters

O assassinato do repórter britânico Dom Phillips na floresta amazônica, há dois anos, não foi um crime isolado. Na região, a violência contra jornalistas cresceu nos últimos anos, segundo um relatório publicado nesta quarta-feira (19).

Com o aumento do interesse mundial pela amazônia como freio contra as mudanças climáticas, cresceu também o trabalho dos jornalistas que fazem reportagens sobre crimes ambientais e outros delitos na região, mas isso tem custado um preço alto.

Houve 230 casos de violência contra jornalistas na amazônia na última década, com nove repórteres assassinados, disse o Instituto Vladimir Herzog, organização sem fins lucrativos.

Projeção em empena de edifício com foto de Dom e Bruno e a mensagem '2 anos sem Dom e Bruno' fotografada à noite; ao fundo a catedral de brasília iluminada
Projeção no edifício do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, em Brasília, marcou os dois anos da morte de Dom Phillips e Bruno Pereira, em 5 de junho - Ueslei Marcelino - 5.jun.2024/Reuters

Incidentes de violência contra jornalistas mais que dobraram, de 20 para 45, de 2021 a 2022, anos em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estava no poder, de acordo com a entidade.

Bolsonaro afrouxou os controles ambientais e enfraqueceu os órgãos de fiscalização na amazônia, o que gerou um aumento do garimpo ilegal de ouro e da extração irregular de madeira.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu enfrentar o crime organizado que contribui para a destruição da maior floresta tropical do mundo. O desmatamento diminuiu, mas o progresso tem sido lento em outras frentes.

A violência contra jornalistas recuou em 2023 (foram 24 casos), segundo o relatório do Instituto Vladimir Herzog, mas permaneceu um pouco acima da média histórica (de 20,9 casos por ano na última década).

Dom Phillips foi baleado em 2022 por pescadores ilegais quando viajava com Bruno Pereira, indigenista especializado em povos isolados que estava rastreando atividades ilegais em áreas protegidas.

O relatório do instituto apontou que repórteres têm deixado a floresta após receberem ameaças de garimpeiros, madeireiros e fazendeiros que ocuparam terras indígenas.

Em 2020, Roman dos Anjos, que fez uma reportagem sobre o garimpo ilegal de ouro na Terra Indígena Yanomami, foi sequestrado, espancado e deixado na floresta com fraturas pelo corpo. Ele sobreviveu às agressões e ainda está à espera de que seus sequestradores sejam levados à Justiça.

Também em 2020, um jornalista que investigava a venda de mercúrio, usado por garimpeiros para separar o ouro do minério, foi perseguido e ameaçado por garimpeiros em Porto Velho. Em uma viagem a trabalho um ano depois, homens armados dispararam para o alto para afugentá-lo, disse o Instituto Vladimir Herzog.

Em 2022, na mesma cidade, criminosos metralharam o escritório do jornal local Rondônia ao Vivo, que havia criticado os interesses dos fazendeiros que empurravam a fronteira agrícola para as terras indígenas, segundo o relatório.

"É preciso, com urgência, que o Estado brasileiro garanta a segurança para esses jornalistas e para suas fontes; para os defensores dos povos tradicionais; para os que enfrentam os grileiros, garimpeiros, madeireiros ou criminosos disfarçados de empresários do agro; para todas as pessoas que vivem na amazônia, um território cada vez mais controlado por organizações criminosas", escreveu no relatório a repórter Sônia Bridi, da TV Globo, veterana na cobertura da amazônia.

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