Imagens de satélite revelam a velocidade com que rios da Amazônia desapareceram durante a seca na maior floresta tropical do mundo. Os registros vão do fim de julho à primeira semana de outubro e mostram a formação de bancos de areia de até dois quilômetros de largura, além de cicatrizes deixadas por queimadas.
A região sofre com os menores índices de chuva de julho a setembro dos últimos 40 anos, além de enfrentar os efeitos do El Niño, que tende a contribuir para o tempo quente e mais seco na porção norte do país.
Mas fatores como a degradação da floresta e o aquecimento global também contribuem para a situação que ameaça e causa prejuízos a comunidades ribeirinhas e matou centenas de animais. A reversão do quadro, com chuvas, deve ser lenta.
O período convencional de chuvas vai de novembro a março, e o mais seco, de maio a setembro (abril e outubro são considerados meses com transição entre os regimes), mas o fenômeno El Niño provoca precipitação abaixo da média e um atraso no estabelecimento da temporada chuvosa.
As fotos são do programa Brasil Mais, que disponibiliza a instituições públicas imagens do sistema de satélites da empresa Planet por meio da plataforma SCCON. O projeto é do Ministério da Justiça e Segurança Pública e tem quase 350 organizações cadastradas atualmente.
Em Tefé, no Amazonas, é possível comparar, entre o fim de julho e de agosto, os primeiros sinais da seca na cidade de 73,6 mil habitantes (veja abaixo).
O município registrou 154 mortes de golfinhos em setembro e outubro. Para ribeirinhos, beber água ficou muito mais difícil, já que os igarapés viraram bancos de areia superaquecida. Por isso, moradores tiveram que carregar nos ombros galões e garrafas de água transportados desde a cidade.
A 194 km dali, Coari viu um banco de areia de 2 km de largura aparecer no rio Coari Grande em pouco mais de um mês. Já no rio Aruã, na mesma cidade, os bancos apareceram em dez dias, a partir de 4 setembro.
Antes e depois da seca no rio Coari Grande, em Coari (AM)
Seca atinge diversas regiões da Amazônia - Planet/SCCON - 24.ago.2023 e 2.out.2023/Programa Brasil Mais
Entre o fim daquele mês e os primeiros dias de outubro, as partes totalmente secas do Aruã se proliferaram enquanto aumentavam as queimadas e cicatrizes de fogo detectadas pelos satélites do Brasil Mais nas duas margens do rio.
Antes e depois da seca no rio Aruã, em Coari (AM)
Satélites mostram seca de rio e bancos de areia em meio a seca que atinge regiões da Amazônia - Planet/SCCON - 4.set.2023 e 5.out.2023/Programa Brasil Mais
Os focos e cicatrizes de incêndio apareceram no começo de setembro, antes mesmo de secarem as áreas marginais do lago Grande Urucurituba. No fim do mês, a paisagem do lago deu lugar a uma imagem barrenta e cercada de queimadas.
Antes e depois da seca no Lago Grande Urucurituba, em Urucurituba (AM)
Seca criou bancos de areia em lago e facilitou o surgimento de queimadas em áreas marginais - Planet/SCCON - 2.set.2023 e 7.out.2023/Programa Brasil Mais
Em Manaus, que também sofre com a fumaça de queimadas, bancos de areia surgiram no rio Puraquequara, que dá nome ao bairro na zona leste da capital amazonense.
Antes e depois da seca no rio Puraquequara, em Manaus (AM)
Seca atingiu rio que dá nome a bairro da zona leste da capital amazonense - Planet/SCCON - 3.set.2023 e 7.out.2023/Programa Brasil Mais
A reversão desse cenário depende de chuvas. As previsões, no entanto, apontam para precipitação abaixo da média, especialmente por causa do El Niño. Com a estiagem amazônica mais longa que o normal, os níveis de rios ainda seguem baixos, mesmo que tenham começado a subir nas últimas semanas.
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