O atual presidente usou uma pegadinha para, mais uma vez, confundir a opinião pública e tentar convencer que é a melhor opção entre os candidatos à eleição. Sua estratégia foi induzir o eleitor a analisar os números absolutos do desmatamento computados anualmente pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), escolhendo alguns poucos anos e desconsiderando suas trajetórias de evolução.
Somados os anos de 2003 a 2006, a área total desmatada é, de fato, maior do que a verificada no mandato do atual presidente. Mas o que ele omitiu, propositadamente, é que seu governo é responsável por um desmatamento bem maior do que o verificado no segundo mandato de Lula e dos que se seguiram até ele assumir o poder, em 2019.
O desmatamento na Amazônia estava em alta desde 1997. A partir de 2001, adquiriu uma dinâmica de crescimento superacelerado, rompendo o patamar de 20 mil km2 em 2002.
Lula assumiu o governo com um desmatamento explosivo, que atingiu 27.772 km2 em 2004. Como o presidente agiu diante desse fato desastroso? Negou os números dizendo que era coisa de ONG? Mandou demitir o diretor do Inpe?
Não, ao contrário. Desde o início de 2003, quando foi informado que o desmatamento estava acelerando, Lula deu aval para que Marina Silva montasse o PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal), o maior e mais ambicioso conjunto de políticas públicas já concebido no país para enfrentar esse problema, que nos aflige desde os anos 1970.
Coordenado politicamente pela Casa Civil e tecnicamente pelo Ministério do Meio Ambiente, o PPCDAm implementou centenas de ações por meio de 13 ministérios e mais de uma dezena de órgãos vinculados, numa verdadeira guerra contra o desmatamento.
Os números são impressionantes, "basta dar um Google" nas inúmeras publicações científicas, estudos técnicos e até livros escritos sobre esse período. Só para dar um gostinho para o (e)leitor que estiver sem tempo de pesquisar, aqui vão alguns: 1,5 mil empresas clandestinas de madeira fechadas e mais de 1 milhão de metros cúbicos de madeira apreendida; desarticuladas várias organizações criminosas que promoviam a extração ilegal de madeira, com 659 pessoas presas, incluindo funcionários públicos dos governos federal e estaduais; cancelados cerca de 66 mil pleitos ilegais de títulos de terra fraudados por grileiros; e criadas 40 unidades de conservação, somando 26 milhões de hectares, para barrar a expansão da fronteira predatória, ampliando em mais de 76% a extensão territorial dessas áreas, comparado com tudo o que havia sido feito até então.
Tem muito mais, como a aprovação em tempo recorde da Lei 11.482/06, que instituiu o sistema de gestão de florestas públicas, tornando mais rígido o controle de circulação de madeira nativa, e a criação do Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real), pelo Inpe, em 2004.
O fato histórico inegável é que Lula recebeu o desmatamento em alta e o reduziu de forma espetacular. Em 2006, no final de seu primeiro mandato, já tinha conseguido diminuir em 48,5% e seguiu aperfeiçoando as políticas públicas.
Resultado: em 2010, quando deixou o governo, entregou a Amazônia com a menor taxa de desmatamento já registrada pelo Inpe e, principalmente, com tendência de queda. Queda que se seguiu até 2012, já no primeiro mandato de Dilma.
E, afinal, o que fez o atual presidente? Desmantelou o PPCDAm, desarticulou as políticas públicas, desmoralizou e enfraqueceu os órgãos de fiscalização e controle do desmatamento e, principalmente, estimulou desmatadores, grileiros, garimpeiros a invadirem terras públicas, territórios indígenas e unidades de conservação.
A diferença entre os dois candidatos é óbvia. Um pegou a Amazônia com o desmatamento em alta explosiva e o reduziu às menores taxas da história. O outro fez o oposto. Pegou o desmatamento em baixa e está o entregando com taxas explosivas.
Será que precisa de Google para saber quem é melhor para o futuro da maior floresta tropical do planeta?
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