Sexoterapia #83: Relacionamento aberto dá certo para quem?
Poliamor, relacionamento aberto, troca de casais... os modelos de relacionamento que não pressupõem exclusividade afetiva ou sexual têm sido apontados como soluções para acabar com os problemas da monogamia, cada vez mais colocada em xeque. Mas será que todo mundo consegue lidar com a liberdade do outro, como propõe a não-monogamia?
Para discutir os desafios dos relacionamentos não monogâmicos, tema do último episódio da 10ª temporada do podcasts Sexoterapia, a sexóloga Ana Canosa e a editora de Universa Bárbara dos Anjos Lima recebem a psicóloga e sexóloga Adê Monteiro, dona de duas contas no Instagram sobre o tema, "Reflexões &Conexões não Mono" e "Psis não Mono".
'Só vou transar com ele para o resto da minha vida?'
Estudiosa e praticante da não-monogamia, Adê falou sobre a dificuldade que os não-monogâmicos têm de falar sobre seus desejos e necessidades. "Na monogamia, a gente meio que segue esse roteiro do amor romântico, de que o amor só é verdadeiro quando é exclusivo, quando é dedicado para uma única pessoa. A gente não sente no direito nem de abrir para o outro que temos desejo por outras pessoas".
A psicóloga contou também sobre sua própria dificuldade quando começou um relacionamento inicialmente monogâmico com o ex-marido, com quem ficou casada por 15 anos. "Eu me questionava: 'só vou transar com ele para o resto da minha vida?'. O sexo é algo muito importante para mim, eu sentia que tinha muito o que explorar. Explorar o meu sexo e a minha sexualidade é uma necessidade, e as minhas necessidades são válidas, são legítimas".
Privação x ciúme
Adê ressaltou ainda que, assim como na monogamia, na não-monogamia também existem dificuldades e questões difíceis para lidar. "Para ser monogâmico, a gente tem que abrir mão de um monte de coisas: tem que se privar, se podar, tem que focar o nosso desejo e o nosso afeto em uma pessoa. O não-mono pode se abrir, pode experimentar afeto e sexo com outras pessoas. Mas vai lidar com ciúmes, com insegurança, com um monte de gatilho. Você tem que ver o que vale mais a pena", conclui.
Para Ana Canosa, a não mono pode ser para todos, desde que estejam dispostos a questionar valores, crenças e rever sentimentos de posse. "A ilusão de ser exclusivo, busca garantir um lugar especial na vida psíquica das pessoas, é quase entendido como uma prova de amor. Viver o amor em liberdade, respeitando desejos e afetos e aceitando a sua impermanência", afirma.
É difícil viver a monogamia e a não monogamia. Escolha o seu difícil, diz sexóloga
Para Ana Canosa, ainda que na teoria seja positivo pensar na proposta não-monogâmica e desconstruir a ideia de monogamia compulsória, não é todo mundo que está preparado e dá conta de viver essa experiência na prática.
"Escolha o seu difícil. É difícil viver a monogamia. É difícil viver a não-monogamia, porque nós temos ainda uma estrutura de monogamia bastante forte. Essa estrutura tem, inclusive, base genética. A gente tem uma estrutura de romantismo, de patriarcado, é muita estrutura monogâmica para você, de uma hora pra outra, desconstruir isso", diz a sexóloga.
Confira as dicas culturais deste episódio
@genipapos - Perfil no Instagram da psicóloga guarani Geni Núñez, que discute assuntos relacionados à não-monogamia.
@opamayumi - Perfil no Instagram da colunista de Universa Mayumi Sato, que vive uma relação não-mono e fala bastante sobre o tema.
"Se organizar direitinho" (Netflix) - Comédia espanhola que acompanha uma noite de sexo de cinco casais em relações não-monogâmicas de forma leve e divertida.
"Ética do amor livre- Guia prático para poliamor, relacionamentos abertos e outras liberdades afetivas" - Como sugere o nome, o livro é uma espécie de manual para explicar os diferentes tipos de relacionamentos não-monogâmicos.
Sexoterapia é o espaço criado por UOL/Universa para falar de sexo e relacionamento. Você pode conferir o programa em plataformas de áudio como Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music. No Youtube de Universa, o programa também está disponível em vídeo.