Camarão considerado um dos mais gostosos do mundo é vendido a R$ 300 o kg
Após 33 dias no mar, o primeiro barco-indústria brasileiro dedicado à pesca de camarão-carabineiro atracou em Navegantes, Santa Catarina, em 18 de dezembro com quase 5 toneladas do crustáceo.
Congelado ainda a bordo, logo ao alçar a superfície, o ingrediente chegou pronto para viajar até as mãos de chefs pelo Brasil. Uma porção, por exemplo, surgiu no stories de Paola Carosella, na última quarta (25).
Com até 35 centímetros de comprimento e coloração avermelhada, o camarão chama a atenção de longe. "É uma pesca de profundidade, muito difícil. Mas a cada vez que dá certo, o carabineiro sobe ao barco com uma cor tão linda que me deixa encantado. Isso me motiva", diz o pescador Manoel Cordeiro.
Os atributos surgem sobretudo na mordida. Katherina Cordás, do Centro de Pesquisa e Criatividade TUJU, diz:
É um dos melhores camarões do mundo. O sabor é adocicado e tem muito umami".
Para comer sem medo
Dono do restaurante Capincho, em Porto Alegre, Marcelo Schambeck decidiu entender o novato da pescaria nacional com quem tem o crustáceo como um velho conhecido. Em Portugal e na Espanha, a espécie é queridinha. Explorada principalmente no Algarve e nas Ilhas Canárias, vai ao prato de bons restaurantes grelhada rapidamente ou crua.
"Recebi uma amostra e fiquei bastante impressionado pela potência. Ele é bem diferente de outros camarões. Fui até o restaurante do catalão e amigo Xavier Gamez, do Restaurante Xavier, de Porto Alegre, para conversar sobre o produto".
Ele me mostrou como os europeus fazem. Comem sem medo, com as mãos. Colocam a casca e as patinhas na boca e mastigam até extrair o sabor por completo para só então descartar".
Tirando isso e o sistema digestivo, tudo se come. Outro costume na Península Ibérica — e indicado para ser reproduzido aqui — é sugar a cabeça do animal. "Gastronomicamente falando, é a melhor parte", defende o chef Ivan Ralston, que reabrirá o Tuju em maio, em São Paulo.
Para contornar uma possível torcida de nariz da freguesia brasileira para a ingestão de miúdos de crustáceo, Marcelo usa os órgãos como base do caldo que acompanha o camarão cozido, servido também com pó de tomate e maionese de alho. Pelo prato individual do Capincho, é necessário desembolsar R$ 190.
Grande, gostoso e caro
O valor alto no cardápio não é exclusividade do estabelecimento gaúcho. Dono da distribuidora Quinta do Mar, Carlos Leal, que acompanhou desde o início a construção do barco e é responsável por levar o produto até outros fornecedores, conta que o quilo sai entre R$ 270, para restaurantes, e R$ 330, para consumidor final — a título de comparação, o camarão-rosa de tamanho similar custa cerca de R$ 130.
"Outra questão é que, depois de limpo, perde-se até 70% do peso inicial. Mesmo assim, sai mais barato que na Espanha, onde o quilo fica de 80 a 90 euros (R$ 440 a R$ 500)", defende Carlos.
Por enquanto, o custo acaba sendo uma barreira para os chefs trabalharem com a pedida. Adriano de Laurentiis, sócio do Cais, em São Paulo, encara as contas com pesar: "Infelizmente, pela baixa margem de lucro, eu só consigo comprar em ocasiões especiais". Quando isso acontece, ele gosta de preservar as características do produto. "Grelhamos com a cabeça e usamos as cascas para infusionar a manteiga que entra como acompanhamento".
Carlos acredita que a perspectiva de mercado é positiva a longo prazo: "Conforme a produção aumentar, o preço vai diminuir".
O barco-fábrica do Manoel
Por trás do projeto nacional que debuta na pesca de carabineiro no Brasil, antes explorada somente por espanhóis entre 2000 e 2007, está Manoel Cordeiro, de 54 anos.
Filho de pescador, ele vendeu camarão no litoral catarinense quando criança e embarcou pela primeira vez como tripulante aprendiz aos 17 anos. Desde então, não parou. Envolvido a vida toda com o mar, ele começou a construir a embarcação de 27 metros de comprimento e 300 toneladas em 2016.
"Vendi outro barco e três imóveis em Navegantes até conseguir concluir a obra. Demorou quatro anos. Todo mundo me chamou de louco. Mas tudo o que temos foi a pesca que deu".
A ideia inicial era usar o barco-indústria para o peixe-sapo (denominado também de tamboril), espécie que Manoel se dedicava até a Europa travar a importação de peixes do Brasil. "Eu exportava tudo que capturava e, a partir de 2018, não pude mais. Tive um prejuízo gigante. Depois, pesquisei outra modalidade de profundidade".
Para achar o carabineiro, a tripulação de 10 integrantes navega uma distância de 100 milhas da costa (185,2 quilômetros) de Santa Catarina e realiza a pesca por arrasto entre 700 e 800 metros da superfície. É tão profundo que a temperatura fica entre 5 e 10 graus e demora uma hora para o camarão "subir a bordo", já morto.
"Para manter a qualidade o carabineiro é rapidamente processado e congelado a -18 graus".
A batalha de Manoel, agora, é fazer a regulamentação para garantir a sustentabilidade do negócio. "Há carabineiro do Sul até o Rio Grande do Norte. Mas para evitar a extinção, tem que haver um estudo e um ordenamento. Nada de pescar tudo de uma vez só e depois não ter mais nada".
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