Fotos: Foca Lisboa / UFMG |
O papel das l�nguas na forma��o da identidade e seu emprego como forma de estabelecer poder foram temas que nortearam as discuss�es da mesa-redonda Identidades e l�nguas, que integra programa��o da Confer�ncia internacional sul-americana: territorialidades e humanidades. As apresenta��es, mediadas pela professora Heliana Mello, da Faculdade de Letras da UFMG, ocorreram na tarde desta ter�a-feira, 4, no audit�rio da Faculdade de Ci�ncias Econ�micas, campus Pampulha. Abrindo a discuss�o, o pesquisador haitiano Michel DeGraff (MIT, EUA) [foto ao lado] explorou alguns exemplos de preconceito lingu�stico, com foco na expans�o do uso do franc�s em seu pa�s de origem, denominado por ele como �o maior apartheid lingu�stico da hist�ria do Haiti�. Utilizando v�deo de entrevista concedida pelo presidente franc�s, Fran�ois Hollande, durante visita ao pa�s caribenho, DeGraff teceu cr�ticas ao real objetivo da francofonia no Haiti. �O presidente da Fran�a disse que o franc�s faz parte da forma��o da identidade haitiana. Quem conhece o Haiti sabe que o franc�s n�o � falado nem por 5% da popula��o. A identidade do haitiano � formada pela l�ngua crioula�, defendeu. No v�deo, Hollande ainda defende que o idioma franc�s seja ensinado, no Haiti, exclusivamente por franceses. Segundo DeGraff, esse depoimento ilustra o objetivo da francofonia: um projeto de poder cujo objetivo � manter a hegemonia francesa no pa�s caribenho. �A utiliza��o do franc�s em institui��es de ensino � uma viola��o dos direitos dos cidad�os haitianos. A crian�a cresce falando o crioulo e v� seu idioma nativo ser exclu�do do sistema educacional�, argumentou. Em seguida, Alberto Guarani Mby� [foto acima], professor de l�ngua guarani na Universidade Federal Fluminense (UFF), exibiu curta-metragem que explora l�ngua, h�bitos e outros aspectos da vida dos �ndios guarani no Brasil. Atualmente, o professor tamb�m realiza oficinas de forma��o em aldeias. �Nosso objetivo, nessas atividades, tem sido ensinar modos de produzir filmes e explicar a import�ncia que esse recurso audiovisual tem para o registro do modo de viver dos povos guarani. Os filmes s�o um caminho para documentar a pr�pria l�ngua, fortalecendo-a nas pr�prias comunidades falantes�, defendeu. Alberto Mby�, que cursa a Licenciatura Intercultural para Educadores Ind�genas ofertada pela Faculdade de Educa��o da UFMG, explica que o portugu�s, embora l�ngua oficial do Brasil, �, para ele, uma segunda l�ngua. �Para mim, o portugu�s nasceu na ponta de uma caneta�, sentenciou. Diversidade lingu�stica no Brasil De acordo com Gilvan de Oliveira [foto ao lado], h� no Brasil pelo menos 200 munic�pios onde �maiorias ou �grandes minorias� falam outras l�nguas al�m do portugu�s�. Tamb�m lembrou que diversos munic�pios reconhecem, por meio de decis�es de suas respectivas C�maras de Vereadores, l�nguas ind�genas como cooficiais, possibilidade inaugurada pela Constitui��o de 1988, que garante, no artigo 231, o direito dos �ndios �s suas l�nguas. �Essas cidades est�o distribu�das em quatro das regi�es do Brasil, com exce��o do Nordeste, a mais monol�ngue do pa�s. Precisamos de pol�ticas p�blicas que ajudem a resgatar identidades lingu�sticas apagadas pela constru��o de uma identidade nacional baseada na l�ngua portuguesa�, defendeu. �Os linguistas ficaram surpresos, pois trabalhavam com a exist�ncia de cerca de 160 l�nguas ind�genas no Brasil. Mas o que nos assusta � o silenciamento delas pelo Estado, pelos meios de comunica��o e pelos sistemas de ensino, onde o idioma do colonizador � hegem�nico�, criticou. De acordo com dados do Censo de 2010, 37,4% dos autodeclarados ind�genas afirmaram falar uma l�ngua amer�ndia e 17,5% informaram desconhecer o portugu�s. �Esses dados revelam um quadro geral: a transmiss�o das l�nguas nativas entre as gera��es tem diminu�do�, contextualizou. Para a pesquisadora, essa constata��o � preocupante �e ajuda a refor�ar a import�ncia de iniciativas como a do professor Alberto Guarani Mby� de registrar em filmes a express�o dessas l�nguas, como forma de perpetuar o conhecimento e transmiti-lo a novas gera��es�, completou. A Confer�ncia internacional sul-americana: territorialidades e humanidades integra as comemora��es dos 90 anos da UFMG e prossegue at� sexta-feira A programa��o pode ser consultada no site do evento.
A valoriza��o das diversas l�nguas faladas pelos povos ind�genas brasileiros foi defendida pelos pesquisadores Gilvan M�eller de Oliveira (UFSC) e Bruna Franchetto (UFRJ). Ambos abordaram a import�ncia do respeito �s l�nguas que comp�em a identidade desses povos no pa�s. �O Brasil � o oitavo pa�s mais multil�ngue do mundo, mas � comum as pessoas, inclusive os brasileiros, pensarem que aqui s� se fala portugu�s�, afirmou o professor.
A pesquisadora da UFRJ Bruna Franchetto [foto ao lado] tamb�m se demonstrou favor�vel � manuten��o das diversidades lingu�sticas no Brasil. Durante sua apresenta��o, ela mostrou alguns dados do Censo de 2010, realizado pelo IBGE, que revelou a exist�ncia de 274 l�nguas ind�genas no Brasil.
P�blico acompanhou apresenta��es sobre identidades e l�nguas