Review Helldivers 2: jogo agrada e justifica hype, mas pede atualizações

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Helldivers 2 não tem uma história propriamente dita, mas isso não quer dizer que sua ambientação é mal feita. O charme do jogo está no seu ar patriota propositalmente exagerado, o que deixa bem-humorada a missão de "libertar" o universo. A todo momento, o usuário é lembrado da sua função, que é a de ser parte de uma comunidade de soldados que precisam dar suas vidas — inúmeras vezes — pelo bem da humanidade e democracia. Porém, isso é feito de uma forma tão caricata, que é impossível não achar cômica toda a situação.

De certa forma, Helldivers 2 lembra o jogo BroForce, que busca satirizar heróis de filmes americanos, como Rambo e Robocop. Ambos exageram na ação, patriotismo e heroísmo, com o uso de bordões ultranacionalistas que beiram ao humor nonsense. Com isso, o game da Sony faz parecer que é tudo uma brincadeira, algo interessante já que títulos com o mesmo tema, normalmente, optam por um ar mais sério.

Destiny, por exemplo, também se enquadra na categoria de jogos espaciais nos quais usuários precisam se juntar para derrotar alienígenas ou robôs. Porém, mesmo com a gameplay cooperativa, o protagonista do título da Bungie é, de fato, a peça central e insubstituível, como se fosse o grande escolhido para salvar o mundo.

Já em Helldivers, você sabe que há um objetivo maior, e seu personagem é apenas uma peça em meio a várias outras. A insignificância do "protagonista" é alvo de brincadeiras o tempo todo, até mesmo com os próprios players. Não à toa, o jogo salienta que a média de idade dos recrutas é algo em torno dos 18 anos, e que eles estão "vivendo um sonho de infância" ao lutar contra aliens com armas de fogo e explosivos. Por isso, é possível dizer que, além de satirizar o militarismo, os conflitos armados e o ultranacionalismo, Helldivers 2 "debocha" de praticamente todos os jogos do gênero.

Apesar da sátira, a jogabilidade Helldivers 2 bebe da mesma fonte dos games de tiro. Porém, é completamente diferente do primeiro título da série, no qual a visão das partidas era isométrica, ou seja, de cima para baixo — semelhante a Diablo 4, League of Legends e afins. Agora, o usuário controla o seu personagem em um visão em terceira pessoa por trás do ombro, mas também com a possibilidade de mirar no formato tradicional de FPS ao apertar o botão R3 no PS5.

Por mais que a antiga gameplay tenha sido elogiada pela crítica e público, a mudança de estilo fez com que o jogo entrasse no patamar dos grandes lançamentos. Afinal, o game de 2015 se assemelhava mais com um jogo indie do que um possível indicado a grandes prêmios, algo que certamente irá acontecer no final do ano.

Em Helldivers 2, os usuários são colocados em mapas repletos de inimigos, sendo necessário completar tarefas em um período de tempo definido para depois bater em retirada para a sua nave. Além do objetivo principal, os locais contam com missões secundárias espalhadas pelo mapa, que aumentarão a recompensa no final.

Cada missão representa uma pequena porcentagem na "tarefa democrática" de libertar o universo, valores que são contados de acordo com o esforço coletivo de toda a comunidade do game — algo que pode ser um problema para a sua vida útil. Além disso, as partidas oferecem dinheiro e experiência que são úteis para a liberação de armas e estratégias para o seu arsenal, elementos impactantes na gameplay.

As armas principais seguem o modelo tradicional de todos os jogos de tiro. O usuário pode escolher um equipamento mais pesado, como fuzis e escopetas; uma secundária, ou seja, pistolas menores; e granadas explosivas.

Por outro lado, as estratégias são algo que dão alma à gameplay. Esse recurso funciona de forma parecida com os scorestreaks presentes na série Call of Duty, ou seja, se tratam de habilidades especiais que o usuário adquire no decorrer da partida — como ataques aéreos, metralhadoras fixas e estoques de munição. Porém, em Helldivers 2, não é necessário matar uma quantidade específica de inimigos para destravar. Ao invés disso, você precisa esperar um tempo de recarga, que varia de acordo com o "poder" escolhido antes mesmo de começar a partida.

Para ativá-los é necessário apertar as setas do controle em uma sequência colocada na tela, quase como se estivéssemos realizando um cheat code do GTA. Alguns são mais fáceis e podem até ser memorizados, mas outros são difíceis e precisam ser realizados com calma. Por isso, a dica é sempre se afastar do conflito para escolher a estratégia desejada.

A gameplay de Helldivers 2 é repleta de ação, sendo quase impossível piscar durante as partidas. O número de inimigos é enorme e eles aparecem de todos os lugares, variando entre pequenos insetos ou até grandes aliens resistentes. É possível jogar sozinho, mas a dificuldade reduz drasticamente caso você tenha um amigo do lado.

Inclusive, o multiplayer torna tudo mais divertido, principalmente por conta do fogo amigo presente nas partidas, ou seja, a possibilidade de acertar seus próprios aliados durante o conflito. Normalmente, os jogos te punem caso você mate seu time sem querer, não à toa alguns games até anulam o dano de balas, explosivos e afins. Porém, em Helldivers 2, não existe o conceito de "sem querer".

Como dito, a existência dos personagens é insignificante, então morrer não faz tanta diferença. Durante nossos testes, em praticamente todas as partidas fomos eliminados pelos nossos aliados de alguma forma engraçada e proposital. Da mesma forma, também fizemos questão de jogar a maior quantidade de explosivos possível na cabeça dos nossos camaradas de guerra. Ainda assim, a missão foi completada sem problemas, porque no fim das contas o jogo pode ser difícil. Mas, novamente, morrer não é um empecilho, e sim uma diversão.

Afinal, Helldivers 2 traz uma jogabilidade inovadora e melhor do que Starfield ou Call of Duty? Definitivamente não - são bem semelhantes na realidade. O game tem problemas graves? Também não. O único pequeno erro, ao meu ver, é a impossibilidade de pular durante a gameplay. Exatamente, você não consegue saltar do chão até o nível 8, que é quando o usuário desbloqueia a mochila a jato na aba de estratégias. É algo com um impacto praticamente nulo na gameplay, mas que não deixa de ser um pouco bizarro.

Porém, no geral, o game entrega uma experiência divertida, e que justifica o grande sucesso entre os usuários de todo o mundo. Sem dúvidas, os grandes destaques são as estratégias e o fogo amigo, os pontos principais de toda a experiência.

Helldivers 2 tem gráficos incríveis, e que, mais uma vez, nunca seriam atingíveis caso o jogo continuasse com a visão isométrica do seu antecessor. Por não ser um jogo de exploração, belas paisagens passam longe de ser o foco visual. Porém, os detalhes de inimigos, personagens e efeitos especiais são satisfatórios e agradam até os players mais exigentes.

Algo curioso é que os seus gráficos de respeito criam um ar de seriedade, algo que a ambientação passa longe. Borderlands, por exemplo, é um franquia que também tem esse lado de humor mais irônico, mas conta com visuais cartunizados que condizem com a ambientação. Isso é algo ruim em Helldivers 2? Claro que não, talvez até deixe as coisas mais irônicas ainda.

Já os mapas, se enquadram no quesito sandbox, locais semi-abertos que os usuários podem explorar minimamente e completar as missões. O tamanho não é tão grande quanto os ambientes de Warzone ou Fortnite, mas você não se sentirá claustrofóbico durante as partidas. Também não há muitos segredos escondidos além das tarefas secundárias, até por conta do cronômetro de ação das partidas.

Os planetas podem ser vistos mais como fases do que mapas, já que são locais em que o usuário entra, completa a missão, e vai embora. Não há veículos para uma melhor locomoção, mas eles não teriam tanta utilidade quanto em outros jogos citados no decorrer deste review — principalmente em Starfield, que sofreu com a ausência em seu lançamento.

Helldivers 2 entra na categoria jogo como serviço (Gaas), com a presença das típicas microtransações e passe de batalha. Porém, diferente de Fortnite e League of Legends, as duas maiores referências do segmento, o game da Sony não é gratuito. Mesmo que o seu preço não seja cheio como é o caso de grandes lançamentos, que normalmente custam R$ 349, usuários precisam desembolsar um valor real para adquirir uma parte das camuflagens ou roupas diferentes.

Porém, o game não é Pay-to-Win, ou seja, você não adquire vantagens caso decida investir dinheiro, como é o caso de EA Sports FC 24 ou Diablo Immortal. Todas as armas e estratégias são desbloqueadas apenas com a moeda do jogo, sendo necessário apenas realizar missões e passar de nível. Esse é um bom ponto para Helldivers 2, uma vez que títulos que fornecem mais vantagem para usuários "gastadores", tendem a ser alvos de críticas e, ocasionalmente, cair no esquecimento — haja vista Star Wars Battlefront 2.

Por outro lado, algo que pode diminuir a vida útil do game é a falta de competição. Isso não é uma regra definida, mas praticamente todos os Gaas de sucesso apresentam, por mentor que seja, uma atmosfera de disputa direta entre a comunidade. Até Pokémon GO, que se baseia em capturar monstrinhos pela tela do seu celular, tem as disputas de ginásio.

Talvez a grande exceção seja Genshin Impact, título em mundo aberto da HoYoverse que lembra os mais recentes The Legend of Zelda. Ainda assim, justamente uma das maiores críticas ao game é a ausência de um modo PvP, ou seja, nos qual os jogadores podem se enfrentar em batalhas diretas.

Juntar forças com amigos e desconhecidos para libertar o universo é divertido, mas por quanto tempo? As missões não oferecem inúmeras possibilidades diferentes uma das outras, e você já sabe exatamente o que esperar ao pisar nos planetas. Isso somado ao fato da insignificância das suas ações é algo preocupante, uma vez que completar missões rende uma contribuição quase que mínima na taxa de liberdade dos planetas.

Sim, o jogo brinca com o fato de não sermos o personagem principal, mas depender de uma comunidade inteira para — em tese — zerar o game, é uma mistura de sentimentos. Essa é uma ideia legal e inovadora, mas que faz o usuário pensar que, no fim das contas, ele está jogando sem um objetivo claro.

Jogos como serviço precisam de fatores que justifiquem o alto número de partidas, que são quase como uma nova chance de experimentar ou sentir algo. O LOL, por exemplo, tem quase 170 personagens diferentes, cada um com habilidades próprias e funções diferentes para masterizar. Já o Counter-Strike 2 (CS2) a competição chega no nível máximo, uma vez que você quer melhorar e se superar para alcançar a vitória. Sem falar que ambos são de graça.

Esses são elementos que adicionam no fator replay de um game. Porém, Helldivers 2 tem a cara de um título que, daqui mais ou menos dois meses, começará a ser um pouco enjoativo caso se mantenha intocável. Como a Sony pode resolver isso? Atualizando o game constantemente, com novas armas, planetas, missões e até, quem sabe, modos de jogo.

Helldivers 2 parece bater um recorde dia após dia, mas não é para menos. O game é muito divertido, carismático e é uma ótima opção para quem procura um novo jogo para unir os amigos. Além disso, a chegada ao PC logo no lançamento parece ter sido um acerto da Sony, que normalmente espera cerca de um ano para disponibilizar seus exclusivos no Steam, como foi em God of War e Horizon Zero Dawn. Fica de aprendizado para a empresa: façam isso mais vezes.

Vale também dizer que o game tem crossplay, então usuários do PS5 podem jogar tranquilamente com players dos computadores. Porém, até o momento, o progresso não é transferível de uma plataforma para a outra, ou seja, armas, dinheiro e experiência são válidas apenas para um sistema. Então, foque em apenas um dos seus personagem — ou compre só uma versão mesmo.

Claro que microtransações e passes de batalha são frustrantes, mas é possível aproveitar Helldivers 2 sem gastar nenhum centavo. Inclusive, este é um jogo com menos tentação do que outros Gaas, que às vezes beiram ao abusivo. Vamos torcer para que atualizações mantenham sua comunidade viva por anos, já que este é um game que provou em pouco tempo toda a sua qualidade, mas não o seu potencial intergalático.

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