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Nicolle "Cherrygumms" Merhy é uma das principais personalidades do cenário mundial de esports. Isso porque não só é ex-jogadora profissional de Rainbow Six e primeira mulher a competir em campeonatos de alto nível do jogo na América Latina, mas também por ser CEO da Black Dragons, organização de enorme destaque no país. Além disso, ela é dona de um dos maiores canais de games do YouTube, com 472 mil inscritos. Com esse currículo e mais de 270 mil seguidores no Instagram, não à toa a influencer recebeu o título de Forbes Under 30 em 2019, representando a área de Web e esports.

“Tive muitas ajudas, muitos patrocínios, mas, no final das contas, era eu fazendo o meu trabalho por mim mesma. Era eu acreditando no meu sonho”, disse Cherrygumms em papo com o TechTudo. Ela contou sobre o início de sua carreira, o impacto de ser uma das maiores representações femininas no cenário de esports, a tarefa de gerenciar uma das maiores equipes do Brasil e suas expectativas para o mercado gamer em 2023. Confira a seguir.

Nicolle "Cherrygumms" Merhy, CEO da Black Dragons, é ex-pro player de Rainbow Six e uma das principais responsáveis por levantar o cenário de esports no Brasil; veja entrevista — Foto: Reprodução/Nicolle Merhy
Nicolle "Cherrygumms" Merhy, CEO da Black Dragons, é ex-pro player de Rainbow Six e uma das principais responsáveis por levantar o cenário de esports no Brasil; veja entrevista — Foto: Reprodução/Nicolle Merhy

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O começo no universo gamer e da carreira profissional

Nicolle foi apresentada ao mundo dos jogos aos seis anos de idade, quando seu pai, técnico de Informática, a ensinou a jogar alguns títulos para PC, como Doom, Unreal Tournment e o sangrento Quake 3 Arena. Mesmo depois tendo conhecido outros games mais calmos, como The Sims, foi no fast FPS que ela encontrou a sua maior paixão. "Da mesma maneira que meu pai me ensinou, ensinou também para minha irmã mais velha. Ela odiava, ficava passeando pelo mapa. Já eu, ficava lá querendo matar a galera", disse a ex-jogadora.

Aos 13 anos, mudou para o console, passando a disputar campeonatos de Battlefield e Call of Duty na escola. Porém, no ano seguinte, com a chegada de uma nova versão de Quake para computadores mais modernos, a jovem voltou ao título e não parou mais. Então, entrou no clã da Black Dragons, que, na época, se tratava apenas de "um grupo amigos que entravam todos os dias num certo horário — pós-trabalho, pós-faculdade, pós-colégio —, e ficavam jogando em grupo".

Jogaram juntos contra outros clãs online em disputas de nível competitivo, mas ainda de forma amadora, até 2015. Depois, com a eventual defasagem do game e a descambada de usuários para outros FPS, como Counter-Strike, decidiram explorar um novo título que havia sido lançado: Tom Clancy's Rainbow Six Siege.

Tendo em vista toda a experiência acumulada em Quake, a equipe passou a se inscrever em campeonatos de alto rendimento de R6, com a pretensão de jogar seriamente. "Quem joga profissionalmente Quake, joga bem qualquer outro jogo. É quase como aprender a dirigir um carro: você aprende a dirigir outros também". Assim, conforme avançavam nos torneios, recebiam destaque no jogo, "a garota que estava ganhando de times grandes" passou a estar sob vários holofotes — algo incomum em um cenário que, ainda hoje, é bastante masculinizado.

Jogadora profissional, mas também Youtuber

Com cada vez mais atenção como a primeira mulher pro-player de Rainbow Six na América Latina, Cherrygumms decidiu abrir um canal no YouTube e viu sua carreira como personalidade da web deslanchar. Desse modo, viu os números de suas redes sociais crescerem na mesma proporção que as visualizações e os comentários em seus vídeos, atraindo muitos interessados. Acontece que, junto deles, vieram os haters, que não só faziam questão de julgar sua jogabilidade simplesmente por seu gênero, mas também sua aparência e jeito de ser.

"Comentários na Internet sobre meu rosto, sobre minha aparência, eu nem me importo. Mas, dentro do jogo, quando a minha própria equipe, os meus meninos, começaram a sentir que o holofote tava indo mais para mim do que para eles, ou então começaram a seguir uma onda de hate que eles acabavam tomando por minha conta… afetou meu psicológico"

Vale dizer que, na mesma época, a streamer era também a responsável pelo gerenciamento do clã, de forma a cuidar de pagamentos dos integrantes e encontrar equipamentos, além de buscar por investidores e visibilidade para a equipe. Eventualmente, o peso de todas essas atribuições, junto da pressão de ser, até então, a única representante feminina no meio e precisar criar conteúdo, acabou custando muito. "Quando você tem muita obrigação com uma cabeça ainda muito jovem, você perde a magia do mundo."

Cherrygumms foi indicada no Esports Awards 2022, o "Oscar" da indústria, na categoria Personalidade do ano — Foto: Reprodução/Nicolle "Cherrygumms" Merhy
Cherrygumms foi indicada no Esports Awards 2022, o "Oscar" da indústria, na categoria Personalidade do ano — Foto: Reprodução/Nicolle "Cherrygumms" Merhy

Nesse sentido, ela também pontuou sobre a dificuldade de enfrentar atitudes e falas machistas, bem como ter sua propriedade de fala validada no cenário. "Deslegitimam muito a palavra da mulher porque ela não pertence 'àquele lugar'. Então, a nossa fala é sempre questionada. (...) Mesmo eu tendo muita propriedade, sempre, até hoje, sou muito indagada".

Tal questão se apresenta como um problema não só para Cherrygumms em si, mas também para o reconhecimento de outras tantas mulheres nos esports. Prova disso, segundo a influencer, é que em 2022, todas as indicações de personalidade do ano no Prêmio Esports Brasil, o maior do cenário, foram direcionadas a homens. "A proporção é desleal. E aí que entra o pensamento de: por que a gente tem que fazer vinte vezes mais e mesmo assim não ser reconhecida?".

As responsabilidades como CEO de organização

Pensando nisso tudo, Cherrygumms, agora como CEO da Black Dragons, também falou sobre a importância de ter lideranças em organizações que se preocupem com as oportunidades dadas aos jogadores, uma vez que isso influencia diretamente na maneira como a indústria funciona.

"Os grandes profissionais do mercado — sejam eles agentes, publishers, entre outros —, detêm o volante para guiar para onde [o time deve] ir. Então, se eu como organização quero guiar um atleta, eu posso tanto guiar para o crescimento quanto para prejudicar a vida dele. A gente tem esse poder nas nossas mãos".

Nessa lógica, ela explica que, ao gerenciar a Black Dragons, busca sempre levantar pautas que ainda precisam de maior reconhecimento dentro do mercado — como a causa feminina. Não à toa, a BD foi a primeira e única equipe do Brasil a colocar um time exclusivo feminino para disputar o Campeonato Brasileiro de Counter-Strike (CBCS) em 2018 e 2019. Vale dizer, ainda, que, na época, Olga "olga" Rodrigues, mulher trans eleita a segunda melhor jogadora de CS:GO do mundo em 2022, fazia parte da line-up da organização.

"Acreditar não é só dar mídia, como muitas organizações hoje em dia fazem. Apostar é injetar no financeiro, até para que a pessoa tenha o suporte e, na mente dela, não tenha uma ansiedade de pagar contas a impedindo de seguir o sonho", explicou, mas sem tirar o peso de se ter um bom retorno por conta do investimento privado.

Black Dragons, organização comandada por Cherrygumms, atua em games como Rainbow Six, Free Fire, CS:GO, PUBG, LOL e mais. — Foto: Divulgação/Twitter/Cherrygumms
Black Dragons, organização comandada por Cherrygumms, atua em games como Rainbow Six, Free Fire, CS:GO, PUBG, LOL e mais. — Foto: Divulgação/Twitter/Cherrygumms

Ainda assim, ela ressalta que, por mais que o lucro seja essencial, é preciso também pensar pelo lado humano ao cuidar de uma equipe. Afinal, gerenciar pessoas nos esports trata-se também de zelar pelo sonho de várias meninas e meninos, bem como suas carreiras e futuros. Tal visão se mostra especialmente importante ao considerar que muitos dos jogadores competem não só pelo prazer de comemorar títulos, mas também por uma questão de necessidade financeira.

Eu vejo o sonho da molecada de poder levantar a taça, de poder ajudar a mãe dentro de casa porque não ta recebendo salário, porque saiu de uma equipe. Inclusive, na BD, já tirei jogadores do Free Fire de uma organização que estava ameaçando e coloquei dentro da minha sede. Fui lá, comprei pizza, fiz a cama e falei: aqui dentro vocês não vão precisar sentir esse medo"

Reconhecimento do mercado e expectativas para 2023

No início de janeiro, a falta de reconhecimento da importância dos esports como indústria esteve em evidência após a Ministra do Esporte, Ana Moser, afirmar que esportes eletrônicos não se enquadram na categoria. De acordo com Cherrygumms, esse impasse pode ser resolvido se as pessoas com maior poder na área estiverem "com o ouvido aberto para ouvir", de modo a não desmerecer o mercado simplesmente por desconhecimento de seu funcionamento e potencial.

Para ressaltar a importância de dar visibilidade e oportunidades a esse mercado, pensando no futuro socieconômico do Brasil, a empresária cita uma pesquisa realizada pelo Instituto DataFavela. Nela, mil jovens de comunidades foram entrevistados, dos quais 960 disseram ter o sonho de ser jogador profissional de esports. "Então, uma fala da Ministra com esse teor, significa que ela não conhece seu próprio povo. (...) Na minha visão, se continuar com esse pensamento, será uma negligência ao próprio país".

Cherrygumms disse ter a pretensão de voltar a jogar profissionalmente, mas ainda não traçou planos bem definidos sobre. — Foto: Divulgação/Facebook Cherrygumms
Cherrygumms disse ter a pretensão de voltar a jogar profissionalmente, mas ainda não traçou planos bem definidos sobre. — Foto: Divulgação/Facebook Cherrygumms

Ainda nesse sentido, a CEO da Black Dragons também ressalta como o Brasil tem ido na contramão de outros países com relação à valorização da indústria, estando atrasado. Por isso, ela cita o caso da França, que sediará as Olimpíadas de 2024 e já no dia 17 de janeiro de 2023 aprovou vistos especiais para pro players. Vale lembrar ainda que, nesse ano, o país sediará um dos principais campeonatos de CS:GO, o Blast Paris Major, que acontece a partir do dia 8 de maio.

"Olha como eles já estão como nação… criando mecanismos para melhorar e enaltecer os profissionais, e não só do próprio país, mas também do mundo. Então, por que isso também não poderia ser pensado aqui no Brasil?"

Tento isso em vista, Nicolle explica que, uma vez plenamente reconhecido, o cenário de esports poderá oferecer muito e, segundo ela, as projeções de crescimento são altas. Isso porque a indústria de games, por si só, já é muito ampla e impactante. Então, se tratado com mais seriedade, especialmente por parte do governo, o universo dos esports poderia ser "tão grande quanto".

Por isso, para aqueles que sonham em fazer parte dos esports e talvez não tenham fé, Cherry diz que é preciso tentar e persistir. "Se você tem um sonho na sua mente, ele é possível. Você consegue alcançar! Acredite, invista em você mesmo e não desista. A caminhada vai ser difícil, você tem que ter resiliência, mas vai ser bonito no futuro", concluiu.

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