Development Impact Desenvolvimento Impacto - HBF Paradiso

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Development
with Impact

Desenvolvimento
de Impacto
Presented by in partnership with

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At a crossroads: Em uma encruzilhada:
x
introduction from Tamara Tatishvili, introdução por Tamara Tatishvili,
x Head of the Hubert Bals Fund Diretora do Hubert Bals Fund x
page 4 página 5

Strong narratives begin in development: Narrativas fortes começam no desenvolvimento:


introduction from Josephine Bourgois, Josephine Bourgois, Diretora Executiva
Executive Director of Projeto Paradiso do Projeto Paradiso
page 7 página 8

Put ourselves in motion: Fazer a gente se mexer:


Marcelo Caetano on Baby Baby de Marcelo Caetano
page 10 página 13

Be there for each other: Apoiar uns aos outros:


Payal Kapadia on All We Imagine as Light Payal Kapadia sobre Tudo Que Imaginamos Como Luz
page 16 página 19

Vanja Kaludjercic and Tamara Tatishvili Vanja Kaludjercic e Tamara Tatishvili


on the Hubert Bals Fund sobre o Hubert Bals Fund
page 22 página 25

Overview of Hubert Bals Fund support in Brazil Panorama dos apoios do Hubert Bals Fund no Brasil
page 28 página 29

Development support in the Brazilian audiovisual industry: O apoio ao desenvolvimento no audiovisual brasileiro:
history and perspectives histórico e perspectivas
page 35 página 40

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x

Projeto Paradiso and the Hubert Bals Fund present Projeto Paradiso e Hubert Bals Fund apresentam
Development with Impact, a publication that Desenvolvimento de Impacto, publicação que
aims to expand the debate on financing visa ampliar o debate sobre o financiamento
the development of feature films in Brazil do desenvolvimento de longas-metragens
and around the world. no Brasil e no mundo.

The launch of this publication is an integral part O lançamento deste material integra
of the Impact Day, an event promoted by both a programação do Impact Day, evento promovido
organisations during the IV Encontro de Ideias pelas duas organizações durante o IV Encontro
Audiovisuais of the 48th Mostra Internacional de de Ideias da 48a Mostra Internacional de Cinema
Cinema em São Paulo held at the Cinemateca em São Paulo, na Cinemateca Brasileira,
Brasileira in October 2024. em outubro de 2024.

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At a crossroads: At the Hubert Bals Fund (HBF) of International
Film Festival Rotterdam (IFFR), we are proud to
continue our partnership with Projeto Paradiso
regions with limited access to resources.
Since then, the HBF has pioneered a support
mechanism, providing a vital springboard for
x

introduction from
and co-present this publication, Development talent in territories where filmmaking might
with Impact. otherwise be a genuine challenge. This model
of early-stage development funding has

Tamara Tatishvili,
inspired many and has been replicated across
the European film industry, highlighting the
This work serves as a importance of development support on the
reminder of the importance agenda of industry decision-makers.

Head of the of development funding What began in the 1980s has, over the
decades, helped launch extraordinary talent
in Brazil and across the
Hubert Bals Fund
worldwide, with HBF’s seed funding often being
globe amidst a rapidly a decisive factor in the realisation of some films
that might otherwise never have been made.
evolving industry marked The Fund has offered a launchpad to some of
the most distinguished filmmakers of recent
by technological shifts and times, like Apichatpong Weerasethakul, Djibril
global political uncertainty. Diop Mambéty, Wang Bing, Kleber Mendonça
Filho, Kaouther Ben Hania and Lucrecia Martel.
We are also proud of the role we’ve played
in nurturing talent and contributing to the
Together, we have spoken to Brazilian and vibrant film landscape in Brazil, and have in
international filmmakers, collected internal recent years supported the highly anticipated
data, reflected and would like to emphasise the upcoming debuts from filmmakers including
essential role of development funding in nurturing Grace Passô, Karen Suzane, Everlane Moraes
emerging talent. We’re posing a question: how and Leonardo Martinelli.
can we ensure continuous and sustainable
support for filmmakers in the early stages of their As the industry continues to evolve, we stand
careers, both at a national and international level? at a crossroads, where sustained investment in
Tatishvili reflects on the uncertainty facing early-stage early-stage financing is increasingly uncertain.
When IFFR’s founder and first director Hubert Our presence in Brazil through this partnership
financing, and calls for unified action to future-proof ‘Huub’ Bals envisioned the Fund before its with Projeto Paradiso and by attending the
talent development and the relevant funding. inception in 1988, he recognised the pressing Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
need to support filmmakers, particularly in signals not only our commitment and dedication

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At a crossroads Introduction from Tamara Tatishvili

but also our alertness to new, innovative forms


of cooperation to be identified. Together, we
aim to raise awareness of the precarious state
Em uma encruzilhada: x

introdução por
of development funding and the essential role
European financing models still play in supporting
international filmmakers. With subsidies shrinking

Tamara Tatishvili,
in many European countries and the world
grappling with conflicts, we present this informal
publication to share some narratives, remind us of
the value of legacy and to reflect on how we can
secure the future of this crucial support for the
next generation of filmmakers. Now is the time for
unified action to future-proof talent development
Diretora do
Hubert Bals Fund
and relevant funding in years to come.

Just like life itself, all funding models and


support mechanisms must evolve, recalibrate,
and chart new courses. We are offering a path
for joint reflection and seek to reinvent our
presence in Brazil, with a stronger emphasis on
existing partnerships and new players. As you
explore the following case studies, stories, and
imperfect data, we remind you that our aim is not
perfection, but progress — an evolution shaped Tamara Tatishvili,
by both challenges and achievements. Head of the Hubert Bals Fund

Tatishvili traz uma reflexão sobre as incertezas do


financiamento de projetos em estágio inicial e defende
uma ação unificada no desenvolvimento de talentos
e em financiamentos relevantes para o futuro.

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Em uma encruzilhada Introdução por Tamara Tatishvili

Nós, do Hubert Bals Fund (HBF) do Festival


Internacional de Cinema de Roterdã (IFFR),
Quando o fundador e primeiro diretor do IFFR,
Hubert ‘Huub’ Bals, idealizou o fundo, antes de
O setor segue evoluindo, e nos vemos agora
em uma encruzilhada, onde um investimento
imperfeitos, lembramos que nosso objetivo
não é a perfeição, mas o progresso — uma
x
temos o orgulho de dar continuidade à nossa criá-lo em 1988, ele reconheceu a necessidade contínuo no financiamento de projetos em evolução moldada tanto por desafios quanto
parceria com o Projeto Paradiso e apresentar urgente de apoiar cineastas, especialmente estágio inicial é cada vez mais incerto. Nossa por conquistas.
em conjunto esta publicação, Desenvolvimento em regiões com recursos limitados. Desde presença no Brasil por meio dessa parceria
de Impacto. a sua criação, o HBF foi um mecanismo com o Projeto Paradiso e da participação na
pioneiro, atuando como uma plataforma vital Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
de lançamento de talentos em territórios onde sinaliza não apenas nosso compromisso e
Esse trabalho serve como a produção audiovisual poderia, sem este dedicação, mas também nossa busca por novas
apoio, ser um enorme desafio. Esse modelo de e inovadoras formas de cooperação. Juntos,
lembrete da importância financiamento de desenvolvimento de projetos buscamos chamar atenção para o estado
em estágio inicial inspirou muitos outros, e foi precário do financiamento de desenvolvimento
do financiamento do replicado em todo o setor cinematográfico e o papel essencial que os modelos de
desenvolvimento de projetos europeu, destacando a importância do apoio ao financiamento europeus ainda desempenham
desenvolvimento na agenda dos tomadores de no apoio a cineastas internacionais. Com a
no Brasil e em todo o mundo, decisão desta indústria. diminuição de subsídios em muitos países da
Europa e inúmeros conflitos por todo o mundo,
já que a indústria audiovisual Iniciado nos anos 1980, ele vem, ao longo apresentamos esta publicação informal para
segue em rápida evolução, das décadas, ajudando a lançar talentos compartilhar algumas narrativas, lembrar-nos
extraordinários em todo o mundo, com de um legado valioso e refletirmos sobre as
marcada por mudanças o seed funding do HBF sendo muitas vezes possibilidades de garantir o futuro desse apoio
um fator decisivo na realização de alguns crucial para a próxima geração de cineastas.
tecnológicas e incertezas filmes que, sem ele, jamais teriam sido feitos. Agora é a hora de agir de forma unificada
políticas globais. O fundo foi responsável por revelar para o para garantir o desenvolvimento de talentos
mundo alguns dos mais ilustres cineastas e financiamentos relevantes para o futuro nos
dos últimos tempos, como Apichatpong próximos anos.
Juntos, conversamos com cineastas brasileiros Weerasethakul, Djibril Diop Mambéty,
e internacionais, coletamos dados internos, Wang Bing, Kleber Mendonça Filho, Assim como a própria vida, todos os modelos
refletimos sobre o cenário atual e queremos Kaouther Ben Hania e Lucrecia Martel. de financiamento e mecanismos de apoio
enfatizar o papel essencial que o financiamento Também nos orgulhamos do papel que precisam evoluir, ser recalibrados e traçar
de desenvolvimento de projetos tem no desempenhamos na formação de talentos novos rumos. Oferecemos aqui um caminho
fomento a talentos emergentes. Nos fizemos e na contribuição para o vibrante cenário para a reflexão conjunta e buscamos
a seguinte pergunta: como podemos garantir cinematográfico brasileiro — nos últimos anos, reinventar nossa presença no Brasil, com
apoio contínuo e sustentável a cineastas no apoiamos estreias aguardadas de cineastas maior ênfase nas parcerias existentes e em
início de suas carreiras, tanto a nível nacional como Grace Passô, Karen Suzane, Everlane novos profissionais do setor. Ao explorar
quanto internacional? Moraes e Leonardo Martinelli. esses estudos de caso, histórias e dados

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Strong narratives The application of development resources is
one of the audiovisual industry’s most strategic
and transformative pillars. The contributions
scene, early-phase involvement has become
even more critical. However, development
investment within the country has proven
x

begin in development:
directed to this initial phase are essential, not unpredictable. In recent years, the majority of
only for the completion of the projects but also funding for this phase was privately sourced,
as impact investments that generate substantial originating from streaming platforms, which

introduction from
returns throughout the entire production chain. usually work with the retention of the intellectual
This perception was consolidated in 2018, property of the works. In regards to public funds,
when, alongside Olga Rabinovich, our founder, contributions have been made through municipal
I conducted interviews with big names in the or state laws, especially since the pandemic, by

Josephine Bourgois, Brazilian audiovisual industry to support the


creation of Projeto Paradiso. Since then, this
crucial phase has become one of the main focus
means of emergency policies.

Audiovisual Sector Fund (FSA) investments

Executive Director of
of our activities. — the primary source of direct resources
for Brazilian cinema — illustrate significant
Development ranges from the conception shortages during this critical production stage,

Projeto Paradiso
of an idea to the structuring of the script according to data from National Cinema Agency
and the project’s financing — including (ANCINE). In fact, the last call for a specific line
research, character development, feasibility for development dates back to 2017. Since then,
studies, audience design, and more. At this the dedicated percentage of FSA contracted
moment, the work’s creative and conceptual resources has ranged from only 0.6% to 4% of
foundation is born, determining its quality, the fund’s global investment.
appeal to the public, sales and distribution
potential. In an increasingly rigorous and The publication we present here, conceived in
saturated global market, with ever-increasing partnership with the Hubert Bals Fund, includes
production of original content, the success a review of public investment in development
of a work is directly linked to the initial stage. in Brazil. This study, by Ana Paula Sousa and
Dedicating time and resources to this phase Maria Marta Pinto, researchers and specialists
brings creative and strategic clarity, making the in audiovisual public policies, provides data
project more robust, and adding a competitive on financing fluctuations for this stage and
Bourgois explains the creation of Projeto Paradiso edge. In the long term, this increases its an overview of the sector’s challenges and
chances in markets, festivals, the box office, opportunities. It reinforces the importance
and the special attention it gives to the development and its international projection. of continuous support for development
of feature films, a phase that, she argues, as a fundamental component capable of
As the Brazilian audiovisual industry has sought strengthening the whole audiovisual industry.
must be seen as an investment, not a cost. to consolidate its position on the international

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Strong narratives begin in development Introduction from Josephine Bourgois

Aware of significant gaps in this phase, Projeto


Paradiso created a specific programme to offer
time, space and structure for Brazilian fiction
Narrativas fortes x

começam no
feature film projects. Incubadora Paradiso, now
in its sixth edition, offers fellowships, script
mentoring, and production consultancy so that

desenvolvimento:
projects can move on to the next stage more
robustly and better prepared for the challenges
of the international market.

With this in mind, Projeto Paradiso became the


first international partner of the Hubert Bals
Fund. Over more than 35 years, the Dutch fund
Josephine Bourgois,
Diretora Executiva
has supported more than 40 Brazilian projects
at the development stage alone. This alliance
aims to increase the quality of the productions

do Projeto Paradiso
and the cultural, social and economic impact
of the works since the endorsement offered by Josephine Bourgois,
institutions like the Hubert Bals Fund brings Executive Director of Projeto Paradiso
much-needed resources and visibility.

It is necessary to see development as an Solving gaps in the development stage does


investment, not a cost. This is the type of support not guarantee a film’s success, as distribution
that makes it possible for innovative and diverse also suffers from a lack of investment. It is
narratives to emerge and reach audiences evident, in terms of public support policies, that
around the world. The commitment to this the hyperfocus on production neglects both
crucial phase bears fruit for both the supported the initial phase, which can bolster the overall
projects and the global audiovisual ecosystem, quality of the work, and the final phase, which is
as it creates systemic value for a more diverse, responsible for generating increased demand,
inclusive, and globally connected industry. Well- flow, and connection. Consequently, Brazilian
developed works have a greater chance of film projects miss out on opportunities to stand Bourgois conta da origem do Projeto Paradiso
standing out in the market and can communicate out in the market and reverberate beyond the
with different audiences, leading to films that can audiovisual sector. We hope that these pages e de seu enfoque no apoio ao desenvolvimento de longas,
truly leave a mark. can point us in the direction of strengthened uma fase que ela encara como investimento, e não gasto.
collaboration and lasting solutions.

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Narrativas fortes começam no desenvolvimento Introdução por Josephine Bourgois

A aplicação de recursos em desenvolvimento posição no cenário internacional, a aposta pilar capaz de fortalecer a indústria audiovisual É preciso enxergar x
é um dos pilares mais estratégicos e nessa fase se torna ainda mais importante. como um todo.
transformadores da indústria audiovisual. Os O investimento em desenvolvimento no país, o desenvolvimento como um
aportes direcionados a essa fase inicial são contudo, tem se mostrado imprevisível. Nos Atento à lacuna significativa nessa fase, o investimento, e não um custo.
essenciais não apenas para a concretização dos últimos anos, grande parte dos recursos Projeto Paradiso criou um programa específico
projetos, mas também como um investimento para esta fase eram privados e vieram de para tentar oferecer tempo, espaço e estrutura Esse tipo de suporte é o que
de impacto, gerando retornos significativos plataformas de streamings, que costumam para projetos brasileiros de longas-metragens
para toda a cadeia produtiva. Para nós, essa trabalhar com a retenção da propriedade de ficção. A Incubadora Paradiso, já em sua torna possível o surgimento
percepção foi consolidada em 2018, quando, intelectual das obras. Já em termos de fundos sexta edição, oferece bolsas em dinheiro, de narrativas inovadoras e
ao lado de Olga Rabinovich, nossa fundadora, públicos, os aportes têm se dado através de mentorias de roteiro e consultorias de produção
conduzi entrevistas com grandes nomes do leis municipais ou estaduais, sobretudo a partir para que os projetos possam passar à etapa de diversificadas que, sem o
audiovisual brasileiro para fundamentar a criação da pandemia, com editais emergenciais. produção mais robustos e bem preparados para
do Projeto Paradiso. Desde então, essa fase os desafios do mercado internacional. devido apoio, talvez nunca
crucial se tornou um dos principais focos das Os investimentos do Fundo Setorial do chegassem ao público.
nossas atividades. Audiovisual (FSA) — principal fonte de recursos É também com este diagnóstico em mente que
diretos para o cinema brasileiro — exemplificam a o Projeto Paradiso se tornou o primeiro parceiro
O desenvolvimento abrange desde a concepção carência sofrida nesta etapa crucial da produção. internacional do Hubert Bals Fund. Em seus 30
da ideia até a estruturação do roteiro e financeira A última chamada de uma linha específica para anos de existência, o fundo holandês já apoiou Isso não significa que ao solucionar lacunas
do projeto, passando por pesquisa, elaboração desenvolvimento data de 2017. Desde então, mais de 40 projetos brasileiros somente na na etapa do desenvolvimento o filme terá
de personagens, estudo de viabilidade, desenho o percentual de recursos contratados do FSA etapa de desenvolvimento. Essa aliança visa garantia de sucesso. Afinal, o outro extremo
de audiência e muito mais. É nesse momento para esta rubrica variou de 0,6% a 4% do ampliar não só a qualidade das produções, da cadeia audiovisual, a distribuição, sofre
que nascem as bases criativas e conceituais da investimento global do fundo, segundo dados da como o impacto cultural, social e econômico também com a falta de investimento. É evidente
obra, que irão determinar sua qualidade, apelo Agência Nacional do Cinema (Ancine). das obras, uma vez que a chancela oferecida que o hiperfoco na produção das políticas de
ao público, potencial de vendas e distribuição. por instituições como esta traz recursos e fomento público deixa à margem tanto a fase
Em um mercado global cada vez mais rigoroso A publicação que apresentamos a seguir, visibilidade para o projeto. inicial, capaz de oferecer mais qualidade à obra,
e saturado, com produção crescente de concebida em parceria com o Hubert Bals quanto a final, que gera demanda, escoamento
conteúdo original, o sucesso de uma obra está Fund (HBF), inclui um histórico do investimento O compromisso com essa fase crucial e conexão, perdendo assim a chance de
diretamente atrelado à etapa inicial. Ela traz uma público em desenvolvimento no Brasil, gera frutos tanto para os projetos dar às obras mais condições de se destacar
clareza criativa e estratégica que torna o projeto conduzido pelas pesquisadoras e especialistas contemplados quanto para o ecossistema no mercado, criando um produto final que
mais robusto, com diferencial competitivo. A em políticas públicas em audiovisual Ana Paula audiovisual global, já que cria valor sistêmico reverbera além do setor audiovisual. Esperamos
longo prazo, isso amplia suas chances em Sousa e Maria Marta Pinto. O estudo traz para uma indústria mais diversa, inclusiva que este material indique a direção de parcerias
mercados, festivais e nas bilheterias, bem como dados sobre as oscilações no financiamento e conectada globalmente. Projetos bem mais fortes e soluções duradouras.
sua projeção internacional. dessa fase para fundamentar uma reflexão desenvolvidos têm chances maiores de se
qualificada sobre os desafios e oportunidades destacar no mercado e alcançar audiências
No contexto brasileiro, onde a indústria para o setor, reforçando a importância de um diversas, gerando filmes memoráveis.
audiovisual tem buscado consolidar sua apoio contínuo ao desenvolvimento como um

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Put ourselves Despite working on his second film for more
than seven years, the true essence of Brazilian
filmmaker Marcelo Caetano’s Hubert Bals
to Caetano. “It’s very difficult to represent a
contradictory country like Brazil, because it
is very unequal, it’s very violent, but people
x

in motion:
Fund-backed Baby didn’t reveal itself until the here find ways to survive with solidarity, with
premiere. “When I screened the film in Cannes, happiness, with a lot of joy, with a lot of
I said, ‘Oh my God, it’s a love story!’” This came sensuality.” The best Brazilian cinema, he says,

Marcelo Caetano
as a surprise, given his intention to create a finds a way to balance the negativity with joy and
social commentary about a young gay man colour, in contrast to gruelling social dramas that
abandoned by society, and the harsh realities can be common on the continent.
that the film’s two protagonists must navigate.

on Baby
by Fraser White “It’s very difficult to
represent a contradictory
country like Brazil.”

After his release from juvenile prison, 17-year-old Throughout his work, Caetano approaches
Wellington, forsaken by his family, is left to build relationships, identity, class, and racial and
a life for himself on the streets of São Paulo. He sexual diversity with affection and sensitivity.
encounters the older Ronaldo in an adult cinema, After screening two short films at IFFR, he found
Caetano wants to get us moving in times and he helps him survive in a world of hustling and the perfect home for the world premiere of his
sex work. The passionate, often toxic, relationship debut feature Corpo elétrico at the festival
of inertia. The Brazilian filmmaker discusses between the two becomes the heart of the film. in 2017. At the time, he already had the initial
his São Paulo Mostra-selected Baby, “People were touched by the love story, about the idea for Baby that he later submitted to the
impossibility of love between two people that are Hubert Bals Fund, which awarded the project a
and how he put it together with the help very, very different from each other.” development grant of €10,000 later that year.

of the Hubert Bals Fund, CineMart This contrast, between the violence within Reflecting on his many visits to IFFR, he says
and Dutch filmmaking talent. Brazilian society, and the love between two the festival helped him find his feet within
individuals operating at its fringes, was crucial the industry. “It’s not an elitist festival, it’s a

10
Put ourselves in motion Marcelo Caetano on Baby

democratic way of watching and discussing


films.” An ambience where you can get close to
meant they could set up their co-production,
only to be met with the pandemic.
x
your icons is what has made it special for him.
“I had a lot of good experiences of Q&As with Caetano reflects positively on the lengthy
directors that I like a lot; I saw an IFFR Talk with process however, allowing time for the project
Sean Baker, for example. It’s very interesting to breathe. “I took this time to study a lot and
how you can get close to these people that are to rewrite the film.” In this period, he directed
very established in the market. I think it’s one of two TV series which he believes were critical for
the qualities that makes it very good for a young sharpening his understanding of how to reach
filmmaker to go to Rotterdam.” an audience. “You are trying to put cinema into
the TV series, but there was also learning from
With the initial impetus that came with the HBF the other side. I wanted to make a film that’s very
development fund, the project could gather connected to the forms of cinema that I like —
pace. It was invited to BoostNL, a development my obsessions, my eccentricities, my desires, the
collaboration that started at the Holland Film forms, the way I like to shoot. But I want to get to
Meeting during the Netherlands Film Festival in people, to get into people’s minds and hearts. TV
“I want to get to people, September, and concluded at IFFR, where it was series have to create this connection.”
Stills from Baby to get into people’s presented at the festival’s co-production market
CineMart in 2018. They were able to secure Motivated by a mission to connect his work as an
minds and hearts.” the projects co-producers Circe Films (the auteur with a form that can grab an audience, he
Netherlands) and Still Moving (France), as well landed on the artistic, and political, core of Baby:
as a second Dutch co-producer Kaap Holland movement. As Wellington finds his freedom from
Film, that would both later offer plenty creative prison, he drifts through the downtown streets of
input as well as post-production for the sound. the city, reconnecting with the gay urban scene
and his group of friends as they vogue on public
Despite getting development funds and co- transport. Under Ronaldo’s wing they move
producers on board, there were still plenty of between different spaces and groups, like the
hurdles to overcome, not least the Bolsonaro warmth of the queer family of his former partner
government that came head-to-head with his Priscilla and her wife. There’s a dangerous side to
struggle for joyous representations of often- this vagrant life, but the energy of the city is alive
stigmatised groups. “The industry in general under the racy funk of the film’s sound design.
was very attacked by his government, but
LGBTQIA+ projects, cultural and artistic Caetano shot the downtown scenes with
projects specifically.” Unable to get national hidden cameras to capture the actors in the real
funding, the project was stalled until they environment, that of his very own neighbourhood.
eventually received regional support which “I’ve been shooting the same place for 15 years,

11
Put ourselves in motion Marcelo Caetano on Baby

and it’s the area where I live. I can generally walk


to the set locations — I’m walking all the time. It’s
not going to parties. People are using dating
apps. We are getting more and more and more
x
my day-to-day life, my friends, my neighbours, stuck.” For Caetano, Baby is rallying cry to “put
the people that live on the streets that I talk to.” ourselves in motion.”

From an insider’s perspective, he wanted to Another element Caetano sees as fundamental


challenge the images he was used to seeing to his politics is the casting. Tired of seeing
of São Paulo. “When it’s represented in film, the same faces across Brazilian film and TV, he
generally it’s grey and sad. But there’s a lot of sets up public castings that he announces in
colourful things happening under the skin of local newspapers. João Pedro Mariano, who
the city. It’s a very dynamic place: there are very plays Wellington, was chosen from nearly
vibrant and colourful migrant, gay, electronic 2,500 hopefuls who sent in their pitch. Ricardo
subcultures that exist in the downtown city.” Teodoro, who plays Ronaldo, had worked with
Caetano on a TV series after a similar casting
process, and was recognised at Cannes’s
“There are very vibrant Semaine de la Critique, winning on the Prix
Fondation Louis Roederer de la Révélation, the
and colourful migrant, gay, rising star award.
Stills from Baby
electronic subcultures that exist
Placing the actors in the real surroundings
in the downtown city.” of gritty downtown São Paulo, his directing
style keeps his philosophy at heart.
“You can get deeper into the stories if you
Bringing the audience in contact with this understand that people are not only victims.”
vibrancy through the film’s ceaseless energy Even though the characters are dealing with
was key, not only to the film’s appeal, but also its trauma, with violence and with exclusion, they
social argument. can’t identify as victims, he tells them. Instead:
“You have to think of yourself as a fighter, as
“This was something that was very political the resistance, as a soldier. You are fighting.
because it’s not a film set in an apartment. The You are defending yourself.”
movement gives us the perspective of diversity,
because you’re finding new things, new identities “Sometimes the best defence is love, is sex, is
all the time.” He wants the film to get us moving pleasure, is music” — and for Caetano, film.
at a time when many suffer from inertia. “People
are on the couch watching Netflix. People are
not going to political gatherings. People are

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Fazer a gente Foram sete anos de dedicação ao seu segundo
filme, Baby, mas a verdadeira essência do
longa do cineasta brasileiro Marcelo Caetano,
dramas sociais extenuantes que muitas vezes
são comuns em todo o continente.
x

se mexer:
apoiado pelo Hubert Bals Fund, revelou-se Em sua obra, Caetano aborda relacionamentos,
somente na estreia: “Quando exibi o filme em identidade, classe e diversidade racial e sexual
Cannes, pensei: ‘Meu Deus, é uma história com afeto e sensibilidade. Após exibir dois

Baby, de
de amor!’” Uma surpresa, dada a intenção de curtas-metragens no Festival Internacional de
fazer um comentário social sobre um jovem Cinema de Roterdã (IFFR), ele viu no festival
gay abandonado pela sociedade e as duras o lugar perfeito para a estreia mundial do seu
realidades dos dois protagonistas. primeiro longa, Corpo Elétrico, em 2017. Na

Marcelo Caetano Após sair da prisão juvenil, Wellington,


de 17 anos, abandonado pela família,
época Caetano já tinha a ideia inicial para Baby,
e mais tarde inscreveu o projeto no Hubert Bals
Fund, onde, no fim daquele mesmo ano, ganhou
por Fraser White precisa construir uma vida para si mesmo uma bolsa de desenvolvimento de 10 mil euros.
nas ruas de São Paulo. Ronaldo, um homem
mais velho com quem encontra em um
cinema adulto, o ajuda a sobreviver em um
mundo de prostituição e trabalho sexual. “É muito interessante como
O relacionamento passional e muitas vezes
tóxico entre os dois se torna o coração do você consegue se aproximar
filme. “As pessoas foram tocadas pela história de pessoas já muito
de amor, sobre a impossibilidade do amor
entre duas pessoas que são muito, muito consolidadas no mercado.”
diferentes uma da outra.”

Esse contraste entre a violência na sociedade Em retrospecto sobre suas muitas visitas ao
Caetano quer gerar movimento brasileira e o amor entre dois indivíduos IFFR, ele diz que o festival o ajudou a se firmar
sobrevivendo às suas margens era crucial para na indústria. “Não é um festival elitista, é uma
em tempos de inércia. O cineasta brasileiro Caetano. “É muito difícil representar um país forma democrática de assistir a filmes e discutir
conta sobre Baby, selecionado para a contraditório como o Brasil, porque é muito filmes.” O ambiente onde é possível se aproximar
desigual, é muito violento, mas as pessoas de seus ídolos é o que o torna especial para
Mostra de São Paulo, feito com a ajuda do aqui encontram maneiras de sobreviver com ele. “Tive muitas experiências boas em sessões
solidariedade, com felicidade, com muita de debate com diretores de quem gosto muito;
Hubert Bals Fund, do CineMart e de talentos alegria, com muita sensualidade.” O bom cinema vi uma palestra com Sean Baker, por exemplo.
cinematográficos holandeses. brasileiro, diz ele, encontra maneiras de equilibrar É muito interessante como você consegue se
o negativo com alegria e cor, em contraste com aproximar de pessoas já muito consolidadas no

13
Fazer a gente se mexer Baby, de Marcelo Caetano

mercado. Acho que é um dos maiores atrativos


para qualquer jovem cineasta ir a Roterdã.”
estudar muito e reescrever o filme.” Nesse
período, ele dirigiu duas séries de TV que
x
acredita terem sido essenciais para aguçar
Com o pontapé inicial dado pelo fundo de sua compreensão de como atingir o público.
desenvolvimento do HBF, o projeto passou a “Você tenta colocar cinema na série de TV, mas
ganhar movimento. Ele foi convidado para o também há um aprendizado do outro lado. Eu
BoostNL, uma colaboração de desenvolvimento queria fazer um filme que fosse muito conectado
que começou no Holland Film Meeting, durante às formas cinematográficas que eu gosto —
o Netherlands Film Festival, em setembro, minhas obsessões, minhas excentricidades,
e foi concluída no IFFR, onde o projeto foi meus desejos, as formas e a maneira como
apresentado no mercado de coprodução gosto de filmar. Mas eu queria atingir as pessoas,
CineMart, em 2018. Foi assim que entraram os entrar na mente e no coração delas. As séries de
coprodutores do projeto, Circe Films (Holanda) TV precisam criar essa conexão.”
e Still Moving (França), bem como um segundo
coprodutor holandês, Kaap Holland Film, que Motivado pela missão de conectar seu trabalho
mais tarde trariam muitas contribuições criativas, autoral com uma forma que pudesse prender
“Quero chegar até as pessoas, bem como a pós-produção de som. o público, ele chegou ao cerne artístico e
Stills de Baby entrar nas mentes político de Baby: movimento. Ao sair da prisão,
Apesar de ter fundos de desenvolvimento Wellington vagueia pelas ruas do centro da
e corações delas.” e coprodutores a bordo, ainda havia muitos cidade, reconectando-se com a cena urbana gay
obstáculos a serem superados. Entre eles, o e seu grupo de amigos enquanto eles desfilam
governo Bolsonaro, que entrou em confronto no transporte público. Debaixo da asa de
direto com a luta do diretor por representações Ronaldo, ele se move entre diferentes espaços
alegres de grupos frequentemente e grupos, como o calor da família queer de sua
estigmatizados. “A indústria em geral foi ex-parceira Priscilla e sua esposa. Há um lado
muito atacada por seu governo, mas mais perigoso nessa vida errante, mas a energia da
especificamente projetos LGBTQIA+, culturais cidade pulsa sob o funk ousado do design de
e artísticos.” Incapaz de obter financiamento som do filme.
nacional, o projeto ficou paralisado até
finalmente conseguir apoio regional, o que Caetano filmou as cenas do centro da cidade
significava que a coprodução poderia seguir em com câmeras escondidas para captar os atores
frente. Só que ela deu de cara com a pandemia. no ambiente real, o do seu próprio bairro.
“Estou filmando no mesmo lugar há 15 anos,
Apesar de tudo, Caetano reflete positivamente na área onde eu moro. Geralmente consigo ir
sobre o longo processo, que deu tempo para a pé até o set — eu ando o tempo todo. Essa
o projeto respirar. “Aproveitei esse tempo para é a minha vida cotidiana, meus amigos, meus

14
Fazer a gente se mexer Baby, de Marcelo Caetano

vizinhos, as pessoas que moram na rua com


quem eu converso.”
entre quase 2.500 candidatos que enviaram
audições. Ricardo Teodoro, que interpreta
x
Ronaldo, trabalhou com Caetano em uma série
Da perspectiva de quem vê de dentro, ele de TV após um processo de seleção semelhante
queria contestar a imagem comum que se tem e foi reconhecido na Semaine de la Critique
de São Paulo. “Quando é representada em de Cannes, vencendo o Prix Fondation Louis
filmes, a cidade geralmente é cinza e triste. Mas Roederer de la Révélation, prêmio voltado a
abaixo da superfície há muita cor. É um lugar estrelas em ascensão.
muito dinâmico: subculturas imigrantes, gays,
eletrônicas, todas muito vibrantes e coloridas, Ao colocar os atores no ambiente real do centro
convivem no centro da cidade.” Colocar o público de São Paulo, seu estilo de direção se mantém
em contato com essa vibração por meio da fiel à sua filosofia. “Você pode ir mais a fundo
energia incessante do filme foi fundamental, não nas histórias se entender que as pessoas não
apenas para torná-lo atrativo, mas também como são apenas vítimas.” Embora os personagens
parte de seu argumento social. estejam lidando com traumas, com violência e
com exclusão, eles não podem se identificar
“Há algo muito político aí, porque não é um como vítimas, diz ele. Pelo contrário: “Você
filme em um apartamento. O movimento nos tem que pensar em si mesmo como um lutador,
dá a perspectiva da diversidade, porque você como a resistência, como um soldado. Você está
encontra coisas novas, novas identidades lutando. Você está se defendendo.”
o tempo todo.” Ele quer que o filme faça as
pessoas se moverem em um momento em que “Às vezes a melhor defesa é o amor, é o sexo, é o
muitos sofrem de inércia. “As pessoas estão no prazer, é a música” — e para Caetano, o cinema.
“Você pode ir sofá assistindo Netflix. As pessoas não estão
indo para encontros políticos. As pessoas não
mais a fundo estão indo para festas. As pessoas estão usando
aplicativos de namoro. Estamos cada vez mais e
nas histórias mais e mais presos.” Para Caetano, Baby é um
se entender grito de guerra para “fazer a gente se mexer”.

que as Outro elemento que Caetano vê como


fundamental para sua política é o elenco.
pessoas não Cansado de ver os mesmos rostos no cinema
são apenas e TV brasileiros, ele organiza castings públicos
que anuncia em jornais locais. João Pedro
vítimas.” Stills de Baby Mariano, que interpreta Wellington, foi escolhido

15
Be there for Indian filmmaker Payal Kapadia credits
the nonfiction process on her poetic,
transcendent documentary debut A Night
city developers, they take a trip to the coast for the
second act where bright, saturated hues emerge.
x

each other:
of Knowing Nothing (2021) for freeing her
approach to fiction. “Some people are very
good at sitting in their house and imagining
“I think when you leave a city
Payal Kapadia on
something,” she says with admiration, but
for Kapadia, the real inspiration comes from
going out into the world and gathering evidence. and come back, you really
This same yearning for liberation flows through see the change in it.”
All We Imagine the protagonists in her Hubert Bals Fund-
supported fiction debut All We Imagine as Light
— two nurses and a hospital cook in Mumbai

as Light
whose escape from society’s constraints lies in
their imaginations.
“The seasons are monsoon and then not
Embarking on the feature, she sought to monsoon, that’s all there is”, says Kapaida,
by Fraser White
gather testimonies and images to create an explaining how the moody atmosphere matched
“archive of ideas”. She interviewed people the inner worlds of her characters. “In Hindi
who moved to Mumbai in order to find a better cinema, you’ll often find lovers dancing in the
life, and with her cameraman Ranabir Das, rain. And it’s ‘oh, so nice’, but actually, it’s a
went out into the city “every chance we got” miserable time to be living in Mumbai because
to gather footage. “We would just be in the car it’s horrible to get to work every day. Your train
and take these travelling shots, which kind of stops, your socks are wet.”
became the style of the opening sequence of
going across Mumbai.” The rain gives weight not only to her character’s
Kapadia’s tender, dream-like fiction debut emotions, but the changing urban dynamics
Divided into two parts, Mumbai is the backdrop as well. “I think when you leave a city and
was one of 2024’s festival sensations. to the first, bathing the lives of the three nurses come back, you really see the change in it”,
She explains her love-hate relationship in the melancholic blue of the monsoon season she reflects. Going to school in the south of
night. Prabha and her younger roommate Anu India and film school in Pune, she was always
with Mumbai, using documentary techniques, work together in the hospital, yearning for a world struck by the pace of the city’s development.
where Prabha can reunite with her estranged “Especially if you see the skyline in Mumbai, it’s
and the role of the Hubert Bals Fund, husband who works in Germany, and where Anu changed so much. Every time there is a new
and CineMart, in bringing the film to life. can live freely with the boy she’s dating. When building.” The film is shot largely in Lower Parel,
their friend Parvaty faces eviction at the hands of an area formerly home to the communities who

16
Be there for each other Payal Kapadia on Payal Kapadia on All We Imagine as Light

worked in the area’s textile mills, before they


were closed following labour disputes in the
interesting microcosm of the country, or the city,
especially because it’s one place where there are
x
1980s. “It’s not just gentrification — it’s a violent a lot of women who work.” This became the basis
takeover because of the real estate boom.” for the film, with the hospital the perfect setting to
“delve deeper into the zeitgeist of what was going
on in the country.”

“To have a grant at this stage,


it’s really great because then you
don’t have to take up commercial
work to survive.”

At the same time, there’s a beauty in the way A year later, it had outgrown a film school
Kapadia captures Mumbai, contrasting the project and was presented to the Hubert
loneliness, alienation and suspended time of life Bals Fund. “It’s a fund that if you go to film
spent on public transit, with the possibility for school in India, you know about because it’s
connection: the poetic advances of Prabha’s the first one that you can apply to. You don’t
doctor colleague and scenes from the Ganpati need a European producer to apply, which
“It’s not just gentrification festival, for example, accompanied by the gentle is a great, great thing if you’re just starting out
— it’s a violent takeover.” sounds of Ethiopian pianist, Emahoy Tsegué- a project and you don’t have all your partners in
Maryam Guèbrou. Mumbai, she says, “gives place. You can apply directly and there are not
a lot of opportunity compared to the rest of too many grants like that.” The fund awarded the
the country. Mumbai has a more free feeling, project Development Support with a €9,000
especially for women.” It’s all part of Kapadia’s grant, which proved vital for getting immersed
bitter-sweet relationship with her home city. in the research.
Still from All We Imagine as Light
When making her film school graduation project Kapadia relishes the development process —
in 2018, Kapadia spent a lot of time in hospitals applying, pitching, finding collaborators, securing
with family members. “I started hanging around funding. “I always tell young filmmakers who are
a lot with some of the nurses I met and also complaining about writing for grants…it’s a good
started seeing the space of a hospital as a very process if you put yourself through it.” Keeping

17
Be there for each other Payal Kapadia on Payal Kapadia on All We Imagine as Light

your project fresh is what’s important. “I think


it’s always good to continuously move forward,
grading and extra sound recording. “Meeting
people and meeting technicians from around the
x
otherwise, it’s a very lonely and sad place to be world, it enhances your project so much”, she
an independent filmmaker.” says of working in the international context. “It’s
only a good thing.”
With development funds in place, Kapadia was
selected for Cannes’s Cinéfondation Residence, There’s a universal appeal to her approach,
where she began working with her French that places women at the centre but never
producers petit chaos, who suggested an victimises or pities them. That can partially
application to IFFR Pro’s co-production market explain its festival success, winning the Grand
CineMart, where the project was selected to Prix at Cannes and screening across the world
participate in 2020. The process of attending the at festivals like TIFF, San Sebastián, Shanghai,
market, where the project was given a mentor Durban, Mostra de São Paulo and plenty more.
familiar with the script, allowed Kapadia to
solidify her ideas. “CineMart was the first time But filmmaking is a personal endeavour, she
that I was pitching the project with such clarity… says. “These are the themes that bother me,
that editing process for the presentation, it and I think that is the good thing about diversity
helped me a lot because then it made me think in filmmakers for their point of view.” Enabling
about exactly what was important to me.” personal views to come to the fore is what the
film industry needs: “that’s why we must support
At CineMart, she met Frank Hoeve from BALDR filmmakers of all different backgrounds, coming Still from All We Imagine as Light “That we can in some way
Film, who would later become a co-producer from different places, coming from different
on the project with which they could apply and access of resources, different languages, be there for each other.”
receive production funds from NFF+HBF, a different genders, different sexual orientations,
collaboration between the Netherlands Film and that is how we will have diversity in cinema.
Fund and the Hubert Bals Fund supporting I think that’s what the HBF is about, and that’s
Dutch co-productions, as well as HBF+Europe: why IFFR is a great festival also.”
Minority Co-production Support, supported by
Creative Europe — MEDIA. Finding these connections — “that we can in
some way be there for each other” — is where
Keeping the balance in the creative team Kapadia finds hope, and where her films do too.
despite a four-country co-production structure “That, I feel, is the only sort of reconciliation I
was vital, with Kapadia ensuring her crew have with the times we’re in.”
remained local and familiar to her, for the most
part. Post-production was done in France and
the Netherlands, with the latter handling colour

18
Apoiar uns A cineasta indiana Payal Kapadia atribui ao
processo de criação do seu documentário de
estreia, o poético e transcendental A Night
por empreiteiras da cidade, as três fazem uma
viagem para a costa, em um segundo ato onde
tons brilhantes e saturados emergem.
x

aos outros:
of Knowing Nothing (2021), o mérito de tê-la
libertado para o gênero da ficção. “Algumas
pessoas são muito boas em sentar em casa “Acho que quando você

Payal Kapadia
e imaginar algo”, diz ela com admiração. Mas,
para Kapadia, a verdadeira inspiração vem ao sai de uma cidade e volta
sair para o mundo e colher pistas. Essa mesma é que você realmente vê as
ânsia de libertação flui através dos protagonistas

sobre Tudo Que da sua estreia na ficção, Tudo Que Imaginamos


Como Luz, que recebeu apoio do Hubert Bals
Fund e retrata duas enfermeiras e uma cozinheira
mudanças nela.”

Imaginamos
de um hospital em Mumbai cujas fugas das “As estações aqui são monções e depois as
restrições sociais residem na imaginação. não-monções. É só isso que existe”, diz ela,
explicando como a atmosfera temperamental

Como Luz
Para embarcar no longa, ela reuniu depoimentos conversa com os universos interiores das
e imagens para criar um “arquivo de ideias”. A personagens. “No cinema indiano, você
cineasta entrevistou pessoas que se mudaram frequentemente vê casais dançando na chuva,
para Mumbai em busca de uma vida melhor e parece ‘oh, que legal’, mas no fundo é uma
por Fraser White e saía pela cidade com o seu cameraman época terrível para se viver em Mumbai. É
Ranabir Das “sempre que podíamos” para horrível ir para o trabalho todos os dias. Os trens
gravar. “Nós simplesmente ficávamos no carro param, suas meias vivem encharcadas...”
fazendo travellings, que acabaram resultando na
sequência de abertura, através de Mumbai.” A chuva dá peso não apenas às emoções de sua
O longa sensível e onírico que marca a estreia personagem, mas também à dinâmica urbana em
O filme é dividido em duas partes. Mumbai, constante mutação. “Acho que quando você sai
de Kapadia na ficção foi uma das sensações pano de fundo da primeira, banha as vidas de uma cidade e volta é que você realmente vê a
dos festivais internacionais em 2024. de três enfermeiras no azul melancólico das mudança nela”, reflete. Tendo frequentado uma
noites de monções. Prabha e sua colega de escola no sul da Índia e estudado cinema em
A cineasta conta sobre a sua relação de amor quarto mais jovem, Anu, trabalham juntas no Pune, ela sempre se impressionou com o ritmo
hospital, ansiando por um mundo em que Prabha de desenvolvimento da cidade. “Especialmente
e ódio com Mumbai, o uso de técnicas de possa se reunir com seu marido, que trabalha se você olha para o skyline de Mumbai, mudou
documentário e o papel do Hubert Bals Fund na Alemanha, e Anu possa viver livremente muito. Sempre há um novo prédio.” O filme foi
com o garoto que namora. Quando a amiga rodado em grande parte em Lower Parel, uma
e do CineMart para dar vida ao filme. delas, Parvaty, está prestes a ser despejada área que antigamente abrigava as comunidades

19
Apoiar uns aos outros Tudo Que Imaginamos Como Luz, de Payal Kapadia

que trabalhavam nas fábricas têxteis da região,


fechadas após disputas trabalhistas na década
especialmente porque é um lugar onde há
muitas mulheres trabalhando.” Isso se tornou
x
de 1980. “Não se trata apenas da gentrificação a base do filme, com o hospital como cenário
— é uma tomada de controle violenta causada perfeito para “mergulhar mais fundo no zeitgeist
pelo boom imobiliário.” do que estava acontecendo no país.”

“Ter um apoio financeiro nesse estágio


é muito bom, porque assim você não precisa
de trabalhos comerciais para sobreviver.”

Ao mesmo tempo, há uma beleza na forma Após um ano, o projeto já havia se tornado
como Kapadia retrata Mumbai, contrastando a muito maior do que um filme universitário e foi
solidão, a alienação e o tempo em suspensão apresentado ao Hubert Bals Fund. “É um fundo
da vida gasto no transporte público com a que, se você frequenta uma escola de cinema
possibilidade de conexão: os avanços poéticos na Índia, você conhece, porque é o primeiro
do colega médico de Prabha e as cenas do ao qual você pode se candidatar. Você não
festival Ganpati, por exemplo, acompanhadas precisa de um produtor europeu, o que é muito
pela suave música da pianista etíope Emahoy bom logo no início, quando você ainda não
Tsegué-Maryam Guèbrou. Mumbai, diz ela, tem todos os seus parceiros. E é possível se
“Não se trata apenas de gentrificação “oferece muitas oportunidades em comparação inscrever diretamente. Não há muitos fundos
com o resto do país. Mumbai dá uma sensação como esse.” O HBF concedeu ao projeto o
— é uma tomada de controle violenta.” de maior liberdade, especialmente para as apoio Development Support, um subsídio de 9
mulheres.” Tudo isto faz parte da relação mil euros, que se mostrou vital para sua imersão
ambivalente de Kapadia com sua cidade natal. na pesquisa. “Trabalhar de forma independente
e ter um apoio financeiro nesse estágio é muito
Still de Tudo Que Imaginamos Como Luz Ao fazer seu trabalho de conclusão do curso bom, porque assim você não precisa fazer
de cinema, em 2018, Kapadia passou muito trabalho comercial para sobreviver.”
tempo em hospitais com familiares dos
pacientes. “Passei a andar muito com algumas Kapadia dá valor ao processo de desenvolvimento
das enfermeiras que conheci e comecei a ver o — inscrever e apresentar projetos, fazer pitches, ir
espaço de um hospital como um microcosmo atrás de colaboradores e garantir o financiamento.
muito interessante do país, ou da cidade, “Eu sempre digo aos jovens cineastas que

20
Apoiar uns aos outros Tudo Que Imaginamos Como Luz, de Payal Kapadia

reclamam de ter que inscrever seus projetos em


bolsas e fundos: é um bom processo se você
equipe criativa, mesmo com uma estrutura
de coprodução que envolvia quatro países, e
x
se dedicar a ele.” Manter o frescor do projeto Kapadia garantiu que sua equipe permanecesse
é o mais importante. “Acho que é sempre bom local e familiar para ela, na maior parte do tempo.
manter-se em constante movimento, caso A pós-produção foi feita em dois países, França
contrário, ser um cineasta independente pode e Holanda, sendo realizados neste último o
virar algo muito solitário e triste.” tratamento de cor e a gravação de som adicional.
“Conhecer pessoas e técnicos de todo o mundo
Com os fundos de desenvolvimento disponíveis, aprimora muito o seu projeto”, diz ela sobre o
Kapadia foi selecionada para a Residência trabalho em um contexto internacional. “É algo
Cinéfondation de Cannes, onde começou a que só tem lados positivos.”
trabalhar com os produtores franceses da Petit
Chaos, que sugeriram uma inscrição no mercado Há um atrativo universal em sua abordagem,
de coprodução CineMart do IFFR Pro, área que coloca as mulheres no centro da narrativa,
de mercado do Festival de Roterdã. O projeto mas nunca as vitimiza ou tem pena delas. Isso
foi selecionado em 2020, e a participação pode explicar parcialmente o sucesso do filme
no mercado, onde recebeu mentoria por uma em diversos festivais — ele ganhou o Grand Prix
pessoa já familiarizada com o roteiro, permitiu em Cannes e foi exibido em todo o mundo em
que Kapadia solidificasse suas ideias. “O festivais como os de Toronto, San Sebastián,
CineMart foi a primeira vez em que eu apresentei Xangai, Durban, na Mostra Internacional de
o projeto com tanta clareza... O processo de Cinema de São Paulo e muitos outros.
edição da apresentação me ajudou muito, Still de Tudo Que Imaginamos Como Luz “Para que possamos,
porque me fez pensar exatamente no que era Mas fazer filmes é um empreendimento pessoal,
importante para mim.” diz ela. “Esses são os temas que me incomodam, de alguma forma,
e acho que essa é a vantagem da diversidade estar presentes uns
No CineMart ela conheceu Frank Hoeve, da de cineastas em relação a seus pontos de
produtora BALDR Film, que mais tarde se vista.” Para Kapadia, permitir que perspectivas para os outros.”
tornaria coprodutora do projeto, e com a qual pessoais venham à tona é o que a indústria
eles puderam se candidatar e receber fundos cinematográfica precisa: “é por isso que devemos
de produção do NFF+HBF, uma colaboração apoiar cineastas de diferentes origens, vindos
entre o Netherlands Film Fund e o Hubert Bals de diferentes lugares, com diferentes acessos a Encontrar essas conexões — “para que
Fund para apoiar coproduções holandesas, bem recursos, diferentes idiomas, diferentes gêneros, possamos, de alguma forma, apoiar uns aos
como do HBF+Europe: Minority Co-production diferentes orientações sexuais, e é assim que outros” — permite que Kapadia encontre
Support (Apoio a Coproduções Minoritárias), teremos diversidade no cinema. Acho que é disso esperança, bem como em seus filmes. “Sinto
apoiado pelo Creative Europe — MEDIA. que se trata o HBF, e é por isso que o Festival de que esse é o único tipo de reconciliação que
Foi fundamental manter o equilíbrio na Roterdã também é um grande festival”. tenho com a época em que vivemos.”

21
Vanja Kaludjercic Tamara Tatishvili (TT): My background
aligns with the context in which the HBF
was established — operating from a region
this model gained dominance, it inadvertently
created a closed ecosystem, which goes against
Huub’s original intention of fostering openness
x

and Tamara Tatishvili on


outside the EU with limited infrastructure and, and the possibility of discovery.
historically, restricted freedom of expression,
if you look into the history of Georgian cinema. TT: You’re right, the HBF has a historic mission

the Hubert Bals Fund


It’s fascinating to look back and see how the that remains relevant today: to protect and nurture
support mechanism empowered numerous cultural diversity in all its forms. However, I feel
international filmmakers to move forward. that the spontaneity and openness that initially
However, the critical question remains: is drove the Fund have become more restricted and
this support still as relevant today as it restrained by a more structured funding system,
was at its inception? Our main challenge is predominantly reliant on public subsidies.
to recalibrate effectively for the future,    The paradox in our industry is that while we
especially given the significant changes strive to position ourselves as progressive and
within the funding ecosystem. forward-thinking, we often become protective
when it’s time to embrace change. Even when
Vanja Kaludjercic (VK): Huub Bals (the there is a crystal clear indication that the time
founder of the festival) launched both the festival has come to change a scheme or change a
and the Fund with a vision to support those direction, we often become so protective.
lacking opportunities in financing and exposure. Of course this is not always the case, but
This was the foundation for both initiatives. He quite often that’s what happens. Although
devised a straightforward wealth redistribution it’s understandable that altering established
model that had a profound impact, creating practices can be challenging, I believe in
numerous positive opportunities. For instance, the necessity of motion within organisations.
Brazil has benefited significantly from the Fund Everytime I worked on a transformation project,
As Tamara Tatishvili approaches her one-year mark over the years, with talents like Kleber Mendonça I first reminded myself that life itself is a moving
Filho, whose film Neighbouring Sounds received thing. It is never still. This is why evolving with
as Head of the Hubert Bals Fund, she and IFFR’s support from the HBF before being showcased a professional mission is equally important.
Festival Director Vanja Kaludjercic sat down to reflect in the Tiger Competition. We’ve also supported It breathes life into a structure and makes
exciting projects from Maya Da-Rin, André collaborative work more fun.
on the Fund’s legacy and its future direction. They Novais Oliveira, João Paulo Miranda Maria, and
Marcelo Caetano, among many others. VK: Absolutely, that aligns perfectly with why
explored how the Fund can best support filmmakers    The industry standard that Huub established this festival was started back in 1972. The
while staying true to its mission amid the evolving all those decades ago has since been emulated question that we need to keep asking ourselves:
by various independent film festival structures if we change direction, will we leave someone
landscape of the film industry. and funds. And quite successfully. However, as behind? How indispensable are we for certain

22
Vanja Kaludjercic and Tamara Tatishvili on the Hubert Bals Fund

groups and communities? This is an intriguing


self-reflection.
including immersive media, gallery installations,
and audiovisual performances.
x
   It’s essential to also consider the broader    We want this progressive approach to
ecosystem of industries and productions. permeate everything we do, including the future
We must gain a deeper understanding of of the Hubert Bals Fund. Currently, there’s no
why certain films and cinematic styles thrive established model yet for funding these kinds
at film festivals while others do not. Are we of artistic works that reach beyond the cinema
witnessing success for specific films because screen. Simultaneously to that we also need
a robust industry supports them, whether to consider how to support a broader array
driven by festivals or by sales companies, of cinema that goes beyond arthouse, think
or through the entire mechanism of national for instance of encompassing more classical
distribution? And through the success of and popular forms. All this, of course, without
some of these films, are we overlooking others necessarily increasing budgets. It’s challenging
that could potentially benefit actually more by for sure, but equally exciting.
presenting them with funding or a platform to
showcase themselves internationally? TT: This desire for innovation in the festival
truly drew me to this position. It indicates a
TT: Indeed — it’s vital to pause and evaluate willingness to explore new directions, which
whether we’re making the impact we aim for. If I find exhilarating. While it won’t be a smooth
we find we’re not, let’s be willing to experiment journey, it certainly promises excitement with
and discover a new path. In the context of both new players and potential partners outside the
the Fund and the festival, where can we create traditional festival sphere.
opportunities for those who need them most?    We also need to reassess how we
communicate our mission. When we speak
Still from Greice VK: Learning from the past is crucial for forging about “diverse voices” in contemporary times,
Still de Greice new paths for the future, especially regarding I personally find that promoting fair practices in
cinematic storytelling. This means examining co-productions and ethical cooperation is far
storytelling in its entirety — not just within more compelling than merely justifying funding
screening rooms but also beyond those spaces. decisions based on external criteria that attempt
We have a rich history of embracing visionary to classify this complicated world.
audiovisual art and challenging conventions. For    This necessitates a transformation in
example, in 1996, we recognised the shifting how we collaborate, empowering those
media landscape and created the Exploding who may lack economic resources to become
Cinema section, which evolved into today’s Art stronger contributors. Yet, this cannot be
Directions. This forward-thinking programme accomplished from an office in Rotterdam.
explores the potential of cinema in various forms, We must step outside our comfort zones,

23
Vanja Kaludjercic and Tamara Tatishvili on the Hubert Bals Fund

forge new alliances, and engage with


producers and other initiatives to genuinely
and celebrating the fact that great cinema is not
confined to any single genre or style.
x
cultivate and propel a new vision. We certainly    It’s important to note that not every title
want to continue our collaborative efforts with supported by the HBF will be presented at the
our partners, including Projeto Paradiso. With festival. With the long history of the Fund and
that in mind, how do you envision our approach the many films it has supported over the years
to Brazil in programming? there are dozens and dozens of HBF supported
films that would be eligible for selection at the
VK: Brazil has always had a strong presence festival each year. Sometimes, when titles are
at IFFR. For example, in 2016, we featured the presented already at other international festivals
thematic programme Soul in the Eye, which and performed well, we might think, “you’re
highlighted Black Brazilian cinema. More going to thrive even without our exposure at
recently, at IFFR 2024, we showcased two IFFR.” Instead, we focus on those works that
remarkable Brazilian films in our competitions: haven’t premiered elsewhere and that could
Portrait of a Certain Orient by Marcelo Gomes in really benefit most from our support. In both
the Big Screen Competition, and Praia Formosa scenarios, we maintain a strong connection with
by Julia De Simone in the Tiger Competition. the filmmakers and their works. The bond we
The latter, which received HBF Development share with them — whether it’s through the Fund
Support several years ago, is a beautiful blend of or the festival — is incredibly meaningful and fills
past and present, set in Rio’s port area. It’s also us with pride.
worth mentioning that we premiered Leonardo
Mouramateus’ latest feature, Greice, at IFFR TT: The incredible legacy and cultural value that Tamara Tatishvili Vanja Kaludjercic
2024. He’s a great example of a filmmaker we’ve the HBF has built over the years is essential
supported early on through his short films — we for inspiring the Fund’s future identity. I’m less
even presented a focus on his shorts in 2020 — interested in getting caught up in circular routines.
and who continues to have a strong presence at While the future may not be entirely clear today,
the festival with his feature work. change must originate from within, and now is the
   Our commitment to showcasing Brazilian right time to concentrate our efforts on it.
cinema reflects our belief in its richness and
versatility. Whether it’s a strikingly original
short, an art house feature, a documentary,
or avant-garde work, to popular cinema, we
aim to illustrate the breadth of Brazilian
storytelling and show that outstanding films
can emerge in all forms. It’s about presenting
a diverse range of voices and approaches,

24
Vanja Kaludjercic Tamara Tatishvili (TT): Minha origem está
muito ligada ao contexto em que o HBF
foi criado — se pensarmos na história do
independentes. E com bastante sucesso.
No entanto, à medida em que se tornou
predominante, esse modelo inadvertidamente
x

e Tamara Tatishvili
cinema georgiano, é uma região fora da criou um ecossistema fechado, o que vai contra
União Europeia, com infraestrutura limitada a intenção original de Huub de promover a
e, historicamente, com restrições à liberdade abertura e a possibilidade de novas descobertas.

sobre o Hubert
de expressão. É fascinante olhar para trás e
ver como o mecanismo de apoio possibilitou TT: Você tem razão, o HBF tem uma missão
a diversos cineastas internacionais que histórica que permanece relevante até hoje:
seguissem em frente. No entanto, uma questão proteger e fomentar a diversidade cultural

Bals Fund crítica permanece: esse apoio segue sendo tão


relevante hoje quanto era quando foi criado?
Nosso principal desafio é nos recalibrarmos
em todas as suas formas. No entanto, me
parece que a espontaneidade e a abertura que
inicialmente impulsionaram o Fundo se tornaram
efetivamente para o futuro, especialmente mais restritas e limitadas por um sistema de
dadas as mudanças significativas nos financiamento mais estruturado, que depende
ecossistemas de financiamento. primordialmente de subsídios públicos.
  O paradoxo do nosso setor é que,
Vanja Kaludjercic (VK): Huub Bals (o apesar do esforço em nos colocarmos como
fundador do IFFR) criou o festival e o fundo progressistas e com visão de futuro, muitas
com o objetivo de apoiar aqueles que não têm vezes adotamos uma posição defensiva quando
oportunidades de financiamento e visibilidade. é hora de realizar mudanças. Mesmo quando há
Essa foi a base de ambas as iniciativas. Ele uma indicação clara de que chegou a hora de
elaborou um modelo simples de redistribuição mudar um esquema ou uma direção, geralmente
Prestes a completar um ano como diretora do Hubert de riqueza que teve um impacto profundo, nos tornamos muito defensivos. É claro que
criando inúmeras oportunidades. O Brasil, por nem sempre esse é o caso, mas muitas vezes
Bals Fund, Tamara Tatishvili e a diretora do Festival exemplo, vem sendo muito beneficiado pelo acontece. Embora seja compreensível que
Internacional de Cinema de Roterdã (IFFR), Vanja fundo ao longo dos anos, com talentos como mudar práticas já estabelecidas possa ser um
Kleber Mendonça Filho, cujo filme O Som ao desafio, é necessário haver movimento dentro
Kaludjercic, refletem sobre o legado do fundo e Redor recebeu apoio do HBF antes de ser das organizações. Todas as vezes em que
exibido na Tiger Competition do IFFR. Também trabalhei em um projeto de transformação, a
caminhos para o futuro. Elas discutem as melhores apoiamos projetos incríveis de Maya Da-Rin, primeira coisa que fazia era me lembrar de que
formas de apoio pelo HBF a cineastas, mantendo-se André Novais Oliveira, João Paulo Miranda Maria a vida em si é algo em constante movimento.
e Marcelo Caetano, entre muitos outros. Ela nunca para. É por isso que evoluir com uma
fiel à sua missão em meio à constante evolução da   O padrão que Huub estabeleceu no setor, missão profissional é igualmente importante. Isso
tantas décadas atrás, foi reproduzido por várias dá um sopro de vida a uma estrutura e torna o
indústria cinematográfica. estruturas e fundos de festivais de cinema trabalho colaborativo mais divertido.

25
Vanja Kaludjercic e Tamara Tatishvili sobre o Hubert Bals Fund

VK: Com certeza, e isso está perfeitamente


alinhado com o motivo pelo qual este
sua totalidade — não apenas nas salas de
exibição, mas também fora desses espaços.
x
festival começou, em 1972. A pergunta que Historicamente abraçamos novas formas
precisamos sempre nos fazer é: se mudarmos de audiovisual e desafios às convenções.
de direção, deixaremos alguém para trás? Em 1996, por exemplo, vimos mudanças
Até que ponto somos indispensáveis para ocorrendo em termos de mídia, e criamos
determinados grupos e comunidades? Essa é a seção Exploding Cinema, que evoluiu para
uma autorreflexão instigante. o Art Directions de hoje. Esse programa, voltado
É essencial considerarmos também o ao que há de mais novo, explora o potencial
ecossistema mais amplo de indústrias e do cinema em suas várias formas, incluindo
produções. Precisamos entender mais a mídia imersiva, instalações em galerias e
fundo por que determinados filmes e estilos performances audiovisuais.
de linguagem e narrativa fazem sucesso Buscamos ter essa abordagem inovadora
nos festivais, enquanto outros não. Será em tudo o que fazemos, inclusive no futuro do
que o sucesso de filmes específicos se deve Hubert Bals Fund. Atualmente, ainda não existe
a um apoio robusto do setor, seja por meio um modelo estabelecido de financiamento para
de festivais ou empresas de vendas, ou por trabalhos artísticos que vão além da tela do
todo o mecanismo de distribuição nacional? cinema. Simultaneamente a isso, precisamos
E, com o sucesso de alguns desses filmes, pensar em como apoiar uma gama mais
será que estamos deixando de lado outros que ampla de gêneros que vão além do cinema
poderiam se beneficiar ainda mais com a oferta de arte, como, por exemplo, formatos mais
de financiamento ou de uma plataforma de clássicos e populares. Tudo isso, é claro, sem
exibição internacional? necessariamente aumentar os orçamentos. É um
desafio, com certeza, mas igualmente animador.
Still from Portrait of a Certain Orient TT: De fato. É fundamental fazer uma pausa
Still de Retrato de um Certo Oriente e avaliar se estamos causando o impacto que TT: Essa busca por inovação que há no festival
almejamos. Se a resposta for não, precisamos realmente me atraiu para esse cargo. Isso indica
estar dispostos a testar e explorar um novo uma predisposição para explorar novas direções,
caminho. No contexto do fundo e do festival, o que me anima muito. Embora não seja uma
onde podemos criar oportunidades para aqueles jornada mansa, certamente traz entusiasmo com
que mais precisam? novos profissionais e potenciais parceiros fora
da esfera tradicional dos festivais.
VK: Aprender com o passado é fundamental    Também precisamos reavaliar a forma como
para traçar novos caminhos para o futuro, comunicamos nossa missão. Quando falamos
especialmente com relação à narrativa de “vozes diversas” nos tempos atuais, acredito
cinematográfica. Isso significa analisá-la em que promover práticas justas em coprodução e

26
Vanja Kaludjercic e Tamara Tatishvili sobre o Hubert Bals Fund

cooperações éticas é muito mais contundente


do que simplesmente justificar decisões de
dos seus curtas-metragens — tivemos inclusive
uma mostra com foco em seus curtas em 2020
essenciais para inspirar a futura identidade do
fundo. Não tenho interesse em me ver presa a
x
financiamento com base em critérios externos —, e que continua tendo uma forte presença no rotinas circulares. Embora o futuro não esteja
que tentam classificar esse mundo complicado. festival com seus trabalhos de longa-metragem. totalmente claro hoje, a mudança deve vir de
Isso exige uma transformação na forma   Nosso compromisso em mostrar o cinema dentro para fora, e agora é o momento certo
como colaboramos, empoderando aqueles brasileiro reflete nossa crença em sua riqueza para concentrar nossos esforços nisso.
que talvez não tenham recursos econômicos e versatilidade. Seja através de um curta
para se tornarem participantes mais fortes. surpreendentemente original, um longa de arte,
No entanto, isso não pode ser feito de um um documentário, um trabalho de vanguarda
escritório em Roterdã. Precisamos sair das ou um filme popular, nosso objetivo é ilustrar a
nossas zonas de conforto, selar novas alianças amplitude da narrativa brasileira e mostrar que
e nos envolver com produtores e outras filmes excepcionais podem surgir em todas
iniciativas para cultivar e impulsionar de forma as formas. Trata-se de apresentar uma gama
genuína uma nova visão. Certamente queremos diversificada de vozes e abordagens e celebrar
seguir com nossos esforços de colaboração o fato de que o cinema de qualidade não se
com nossos parceiros, incluindo o Projeto limita a um único gênero ou estilo.
Paradiso. Tendo isso em mente, como você   É importante lembrar que nem todos os
imagina ter o Brasil na nossa programação? títulos apoiados pelo HBF são apresentados no Still from Praia Formosa
festival. Com a longa história do fundo, foram Still de Praia Formosa
VK: O Brasil sempre teve uma forte presença muitos filmes apoiados ao longo dos anos, e
no IFFR. Em 2016, por exemplo, tivemos o dezenas e dezenas deles seriam elegíveis para a
programa temático Soul in the Eye, que deu seleção no festival todo ano. Às vezes, quando
destaque ao cinema negro brasileiro. Mais já foram apresentados em outros festivais
recentemente, no IFFR 2024, tivemos dois filmes internacionais e tiveram um bom desempenho,
brasileiros extraordinários nas nossas mostras pensamos: “vocês vão fazer sucesso mesmo
competitivas: Retrato de um Certo Oriente, de sem a exposição no IFFR”. Por isso, optamos por
Marcelo Gomes, na Big Screen Competition, focar em trabalhos que não estrearam em outros
e Praia Formosa, de Julia De Simone, na Tiger lugares e que podem se beneficiar mais do nosso
Competition. Este último, que recebeu o HBF apoio. Em ambos os cenários, mantemos uma
Development Support há muitos anos, é uma forte conexão com os cineastas e suas obras.
bela mistura de passado e presente, ambientada O vínculo que compartilhamos com eles, seja
na zona portuária do Rio de Janeiro. Também por meio do fundo ou do festival, é extremamente
vale mencionar que estreamos o último longa- significativo e nos enche de orgulho.
metragem de Leonardo Mouramateus, Greice,
no IFFR 2024. Leonardo é um ótimo exemplo de TT: O incrível legado e o valor cultural que
cineasta que apoiamos desde o início através o HBF construiu ao longo dos anos são

27
Overview of The following is a statistical overview covering the period between 2014 and 2023.
The information is for reference only and is not academic in its accuracy.
x

Hubert Bals Fund 23 50%


support in Brazil Total number of projects supported
(2014–2023)
Percentage of Brazilian projects that had a
second international co-producer attached at the
time of the funding announcement

41%
Average percentage of the development budget
covered by the HBF 8
Number of Brazilian projects that were supported
in development and then further supported
through an HBF co-production scheme such

5% as HBF+Europe: Minority Co-production and


NFF+HBF in collaboration with the Netherlands
Film Fund
The Hubert Bals Fund has supported more projects Average percentage of the total film budget
covered by the HBF
from Brazil across its 35-year history than any other
country. Brazilian projects represent the biggest
geographical presence in HBF applications
(an average of 16% between 2014 and 2023), 100% €750,500
and the vast majority of those are for the
Percentage of Brazilian projects that had a local
Development Support scheme (95%). producer attached by the time of the application Amount granted over 2011–2023

28
Panorama dos apoios O que se segue é uma panorâmica estatística que abrange o período entre 2014 e 2023.
A informação é apenas para referência e não tem qualquer rigor académico.
x

do Hubert Bals Fund


no Brasil 23 50%
Projetos brasileiros apoiados Percentual de projetos brasileiros que já tinham
por este fundo entre 2014 e 2023 um segundo coprodutor internacional vinculado
no momento do anúncio do apoio

41%
Percentual médio do orçamento de
desenvolvimento coberto pelo HBF 8
Número de projetos brasileiros que
receberam aporte para o desenvolvimento

5% e, posteriormente, foram apoiados em uma


linha de estímulo à coprodução do HBF,
como HBF+Europe: Minority Co-production
O Hubert Bals Fund apoiou mais projetos do Brasil Percentual médio do orçamento total do filme e NFF+HBF, uma colaboração com o fundo
coberto pelo HBF holandês Netherlands Film Fund
do que de qualquer outro país ao longo de seus 35
anos de história. Os brasileiros também representam
a maior presença geográfica nos pedidos de apoio
100%
750.500 €
ao HBF (uma média de 16% entre 2014 e 2023),
sendo a grande maioria deles voltada ao programa Percentual de projetos brasileiros que tinham
um produtor local vinculado no momento do
Development Support (Apoio ao Desenvolvimento). pedido de apoio Valor oferecido entre 2011–2023

29
Overview of Hubert Bals Fund support in Brazil Panorama dos apoios do Hubert Bals Fund no Brasil

Distribution according Alocação de recursos de Number of HBF grants Quantidade de apoios do x


to HBF funding acordo com a linha de given to Brazilian projects HBF a projetos brasileiros
scheme financiamento do HBF across all funding schemes em todas as linhas entre
from 2014–2023 2014–2023
17.2%
NFF+HBF
(supported by the
Netherlands Film Fund)
(com o apoio do
Netherlands Film Fund)
4
10.3%
HBF+Europe
(supported by Creative
Europe MEDIA) 3
(com o apoio do
Creative Europe
MEDIA) 2

3.4%
Post-production
1
Pós-Produção

0
69% 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2022 2023
Development
Desenvolvimento

This refers to the funding scheme in place Refere-se ao regime de financiamento


until 2016, not the HBF+Europe: em vigor até 2016, e não ao HBF+Europe:
Post-production scheme Post-production scheme.

30
Overview of Hubert Bals Fund support in Brazil Panorama dos apoios do Hubert Bals Fund no Brasil

Percentage of yearly funding Percentual de apoios anuais Gender of filmmaker Gênero do realizador x
allocation to films by debut, destinados a cineastas
second-time or more estreantes, em seu segundo
established filmmakers longa ou mais consagrados

44%
Male
100% Masculino

75%

50%

25%
56%
Female
0% Feminino
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2022 2023

Debut 2nd film More


Estreia 2º filme Outros

31
Overview of Hubert Bals Fund support in Brazil Panorama dos apoios do Hubert Bals Fund no Brasil

Production stage Fase de produção Selection at A-list* festivals Seleção em festivais classe A* x
of supported projects dos projetos apoiados
as of October 2024 em outubro de 2024

8%
Development
Desenvolvimento
40% 40,9%
Completed Yes
Concluído Sim

28%
Financing
Financiamento

59,1%
No
Não

8% 16%
Production Post-production
Produção Pós-produção *A-list / classe A:
Berlinale, Cannes, Locarno,
IFFR, Sundance, Venice

32
Overview of Hubert Bals Fund support in Brazil Panorama dos apoios do Hubert Bals Fund no Brasil

Complete list of • O Fio da Memória, Eduardo Coutinho,


1991, Brazil, production funding
• Mil e uma, Susana Moraes, 1994, Brazil,
• Antonia, Tata Amaral, 2006, Brazil,
post-production funding or final-financing
• Not by Chance, Philippe Barcinski, 2007,
x

Brazilian titles
production funding Brazil, Development Support
• The Call of the Oboe, Claudio Mac Dowell, • Mutum, Sandra Kogut, 2007, Brazil, Germany,
1998, Brazil, Paraguay, distribution Development Support

supported by the
• Atraves de janela, Tata Amaral, 2000, Brazil, • Happy Desert, Paulo Caldas, 2007, Brazil,
post-production funding or final-financing Germany, post-production funding or
• Urbania, Flávio Frederico, 2001, Brazil, final-financing
post-production funding or final-financing • Alice’s House, Chico Teixeira, 2007, Brazil,

Hubert Bals Fund • Domésticas, Fernando Meirelles, 2001,


Brazil, distribution, post-production
funding or final-financing
post-production funding or final-financing
• Mutum, Sandra Kogut, 2007, Brazil, France,
HBF Dioraphte Award

1988–2024
• Madame Satâ, Karim Aïnouz, 2002, • End of the Line, Gustavo Steinberg, 2008,
Brazil, France, post-production funding Brazil, Development Support
or final-financing, Production • The Dead Girl’s Feast, Matheus Nachtergaele,


• As tres Marias, Aluízio Abranches, 2002, 2008, Brazil, Argentina, Development Support
Brazil, Italy, Development Support • FilmPhobia, Kiko Goifman, 2008, Brazil,
• 33, Kiko Goifman, 2002, Brazil, distribution, Development Support
post-production funding or final-financing • Topografia de um desnudo, Teresa Aguiar,

Lista completa • Narradores de Javé, Eliane Caffé, 2003,


Brazil, Development Support
• O diabo a quatro, Alice De Andrade, 2004,
2009, Brazil, Development Support
• The Joy, Felipe Bragança, Marina Meliande,
2010, Brazil, post-production funding or

dos títulos brasileiros


Brazil, France, Portugal, Development Support final-financing
• Nina, Heitor Dhalia, 2004, Brazil, • Sudoeste, Eduardo Nunes, 2011, Brazil,
Development Support, post-production Development Support

apoiados pelo
funding or final-financing • Girimunho, Helvécio Marins Jr., 2011,
• What is it Worth?, Sérgio Bianchi, 2005, Brazil, Spain, Germany, post-production
Brazil, Development Support funding or final-financing
• Cinema, Aspirins and Vultures, Marcelo • Rat Fever, Cláudio Assis, 2011, Brazil,

Hubert Bals Fund Gomes, 2005, Brazil, post-production funding


or final-financing, Development Support
• O amigo Dunor, Jose Eduardo Alcazar,
Development Support
• Neighbouring Sounds, Kleber Mendonça Filho,
2012, Brazil, post-production funding or

1988–2024
2005, Brazil, Paraguay, post-production final-financing, Development Support
funding or final-financing • Tatuagem, Hilton Lacerda, 2013, Brazil,
Development Support

33
Overview of Hubert Bals Fund support in Brazil Panorama dos apoios do Hubert Bals Fund no Brasil

• Nós Outros, Marina Dias Weis, 2013, • Memory House, João Paulo Miranda Maria, • Nightsong, Maya Da-Rin, in production, Brazil,
Brazil, Chile, Paraguay, Venezuela, Cuba, 2020, Brazil, France, HBF+Europe Minority France, Development Support
x
Development Support Co-production Support • A margem do rio, Enock Carvalho,
• Entre Vales, Philippe Barcinski, 2013, Brazil, • Zé, Rafael Conde, 2023, Brazil, Matheus Farias, in production, Brazil,
Uruguay, Germany, Development Support Development Support Development Support
• Harmonica’s Howl, Bruno Safadi, 2013, Brazil, • Praia formosa, Julia De Simone, 2024, Brazil, • The Marriage, Maíra Bühler, in production,
post-production funding or final-financing Portugal, Development Support Brazil, France, Development Support
• Rio Belongs to Us, Ricardo Pretti, 2013, Brazil, • Baby, Marcelo Caetano, 2024, Brazil, • Leite em po, Carlos Segundo, in production,
post-production funding or final-financing France, Netherlands, Development Support, Brazil, France, Development Support
• Era o Hotel Cambridge, Eliane Caffé, 2016, NFF+HBF Co-production Scheme • The Secret of Sikán, Everlane Moraes,
Brazil, France, post-production funding or • Do Fish Sleep with Their Eyes Open?, in production, Brazil, Development Support
final-financing Nele Wohlatz, 2024, Argentina, Brazil, • Fantasma neon, Leonardo Martinelli,
• Neon Bull, Gabriel Mascaro, 2015, Brazil, Development Support in production, Brazil, Development Support
Development Support • The Wife of the Man Who Eats Laser Beams, • El mundo es nuestro, Francisco Márquez,
• Don’t Swallow My Heart, Alligator Girl, Helvécio Marins Jr., in production, Brazil, in production, Argentina, France, Brazil,
Felipe Bragança, 2017, Brazil, France, Germany, Development Support HBF+Europe Minority Co-production Support
Netherlands, Development Support, • A Happy Death, Eduardo Nunes, in production, Still from Neighbouring Sounds
NFF+HBF Co-production Scheme Brazil, Argentina, Chile, Development Support Still de O Som ao Redor
• Elon Rabin Doesn’t Believe in Death, • The Centre of the Earth, Gabriel Mascaro,
Ricardo Alves Jr., 2017, Brazil, in production, Brazil, Development Support
Development Support • The French Teacher, Ricardo Alves Jr.,
• Pendular, Julia Murat, 2017, Brazil, in production, Brazil, Portugal, France,
Argentina, Development Support Development Support
• Deslembro, Flavia Castro, 2018, • From Guiné, Caroline Leone, in production,
Brazil, Development Support Brazil, Development Support
• Mormaço, Marina Meliande, 2018, Brazil, • Marina, Laís Santos Araújo, Pethrus Tibúrcio,
Development Support in production, Brazil, Development Support
• Hard Paint, Marcio Reolon, • If I Was Alive, André Novais Oliveira,
Filipe Matzembacher, 2018, Brazil, in production, Brazil, Development Support
Development Support • Deaf Love 1500, Grace Passo, in production,
• The Fever, Maya Da-Rin, 2019, Brazil, Brazil, Development Support
France, Development Support • Quatro meninas, Karen Suzane, in production,
• Sick, Sick, Sick, Alice Furtado, 2019, Brazil, Brazil, Netherlands, Development Support,
France, Netherlands, Development Support, NFF+HBF Co-production Scheme,
NFF+HBF Co-production Scheme HBF+Europe Minority Co-production Support

34
Development Current context
As the audiovisual industry becomes more
complex, characterised by the emergence
projects applied for R$7.1 billion in production
funds via public calls. Ultimately, 417 projects
x

support in the
of newer and more prominent players and were selected, receiving R$1 billion in funds.
fierce competition for audience engagement,
the development stage is gaining increasing “Considering that the demand for investments

Brazilian audiovisual
relevance in film and series financing logic. in the production of projects that have already
been developed is greater than the volume of
In the realm of Brazilian public policy, however, resources available, wouldn’t it make more sense
investment at this stage remains a tangled knot, to earmark resources to perfect development

industry: history and as it challenges standard state model practices


where the release of resources takes place only
after the guarantee that the work will be filmed.
instead of merely encouraging the quantitative
increase of new works?” asks ANCINE’s
Director-President, Alex Braga. “We need to

perspectives
evaluate the FSA’s investment logic at every turn.”
This paradigm, however, fails to consider that
supporting the development of an idea might Although the beginning of policies to support
be a form of mitigating high-investment risks, Brazilian cinema dates back nearly a century, it is
by Ana Paula Sousa and Maria Marta Pinto
contributing to a project arriving on set more worth noting that the first time the federal public
mature and, consequently, with greater potential financing system directed specific resources to
to achieve its artistic and commercial objectives. a pre-filming phase was only in 2013. That year,
ANCINE launched three programmes focused
Given the large number of projects seeking on development: Creative Hubs (Prodav 03),
production support, the Agency for National Project Laboratories (Prodav 04), and Isolated
This study, by Ana Paula Sousa and Maria Marta Pinto, Cinema (ANCINE) proposes to resume the Project Development (Prodav 05).
allocation of development resources, via new
researchers and specialists in audiovisual public categories of Audiovisual Sector Fund (FSA) Between 2013 and 2018, ANCINE made
policies, provides data on financing fluctuations for calls for projects (editais1) that distributors and additional investments in the development stage,
production companies can apply to. but results monitoring was deficient. Between
this stage and an overview of the sector’s challenges 2014 and 2018, while the FSA directed less
According to the report presented to the than 6% of resources toward development,
and opportunities. It reinforces the importance of Superior Council of Cinema (CSC) in July of production (here understood as the making of
continuous support for development as a fundamental 2024, between 2023 and 2024, 3,200 film a film or series) received 63% of the budget2.

component capable of strengthening the whole 1 Editais are national, state-level, and/or local calls for 2A
 NCINE (2019), Audiovisual Sector Fund (FSA)
proposals (public notices of call) to apply for programmes Consolidated Results — Consolidated results of resources
audiovisual industry. that grant financial support to cultural, and more specifically invested by the FSA in audiovisual sector programmes and
audiovisual, projects. projects between 2009 and 2018.

35
Development support in the Brazilian audiovisual industry: history and perspectives

2014 was the year ANCINE made the highest


investment in development, making R$47
This rapid expansion allowed the FSA to
effectively operate as an audiovisual sector
The first two editions, launched in 2013 and
2014, were executed as financial support
total, 127 projects received R$10 million.
The second model allocated roughly R$33
x
available for this specific stage. instigator, diversifying its activities and targeting programmes and did not require companies million to develop 3447 individual works. Like the
various stages of the production chain, as to reimburse the FSA. The following editions Creative Hubs, the first two editions functioned
To put things into perspective, in 2022, Creative the law had anticipated4. It was within this required companies to return the investment. The as financial support programmes, whereas the
Europe — the European Union’s funding framework — and this new budgetary possibility FSA selected 98 Creative Hubs, which received funding in subsequent editions was investment-
programme supporting creative sectors — —that modalities aimed at the development of approximately R$96 million5. based, expecting some financial return. The
invested 15% of its audiovisual budget, €55.5 audiovisual projects were created. primary difference between the two labs was
million3, in development. In Brazil that same year, In 2016, the FSA launched a programme to that beneficiaries received only the monetary
the FSA did not allocate development funding. Between 2013 and 2017, the FSA launched renew previously contemplated Creative Hubs. contribution, not the creative support.
The interruption of resources occurred four years four programmes with the primary objective of To be eligible, applicants were required to have
earlier, in 2018, which marked the start of an financing support for idea development, which completed the development of all portfolio Between 2013 and 2017, the FSA issued ten
institutional, operational, and politically unstable included forming scriptwriting teams, undertaking projects and have financed at least two-fifths rounds of public project calls, receiving a total of
period for ANCINE. research trips, and acquiring exclusive rights. of the works in question. Only 15 hubs were over 10,000 project applications. Of these, 993
renewed — together, they received roughly projects were selected, and R$160 million was
The indication that this type of support is back The main programme, the Creative Hubs R$13 million.6 distributed. All editions had quotas for projects
on the public management radar suggests that a (Núcleos Criativos), ran five editions. The first, outside the Rio-São Paulo region.
retrospective analysis of development-focused launched in 2013, received 203 submissions. The other two programme lines created during
policies is timely — to shed light on motivations, The call for projects provided independent this period were the Development Laboratories According to a 2018 ANCINE analysis,8 of
expose results and failures, and understand what production companies with grants of up to (Prodav 04), held in 2013 and 2014, and the the 982 selected projects, 357 (36.4%) were
features a development-oriented policy may have R$1 million to create and sustain — under the Unique Project Development (Prodav 05), which finalised by June of the same year. Among them,
a decade after the first experience. direction of a leader — a group of professionals had four editions between 2013 and 2016. 150 (42%) were registered in FSA programmes
to collaborate on developing a portfolio with at aimed at production or commercialization — of
Primary policies least five feature films and TV series projects. The first form of support, replicating the standard which 40 (26.7%) were selected.
The FSA was established by governmental edict model in international labs — commonly linked
in 2006. In 2011, with the ratification of Law No. After 24 months, producers were required to to film festivals — consisted of supporting the Regarding the Laboratories, ANCINE does not
12,485 (known as the Paid TV law), its budget deliver a script, a budget and two plans (one development of independent projects. Over have a record of how many films or series were
expanded to a new level. By transferring taxes for financing and another for marketing). If the three weeks, selected participants had in-person generated.
from Brazilian telecommunication companies production company was unable to gather meetings and remote supervision coordinated by
to the FSA, the government raised the fund’s 20% of the necessary resources to produce companies ANCINE chose via electronic auction. It is possible to conclude that, by 2018, about
resources from an estimated R$40 million to at least two-fifths of the developed projects, it a quarter of the projects had been produced.
R$800 million. was barred from participating in future public The production companies Klaxon and Coração From then on, no data is available to continue
development opportunities. da Selva coordinated nine labs for the FSA. In evaluating the policy’s outcomes.

3 European Commission (2023), Creative Europe 2021– 4 Sousa (2018), O Cinema Que não Se Vê (Unseen Cinema - 5 Sources: FSA´s report on development project calls 7 Ibidem
2022 — Monitoring Report The Political War Behind the Production of Brazilian Films in (released by ANCINE in 2018); FSA’s Annual Management
the 21st Century). Reports between 2018 and 2023. 8 ANCINE (2018). Report on the development project calls
for the Audiovisual Sector Fund
6 Ibidem

36
Development support in the Brazilian audiovisual industry: history and perspectives

Local experiences
While the allocation of development resources
At the state level, the São Paulo Secretariat
of Culture, Economy, and Creative Industries
measures, the agency’s focus and the sector’s
demand were directed toward resuscitating
From a more general point of view, a significant
difficulty was the operational cost of project
x
was interrupted at the federal level, investments launched in 2024 a call for Audiovisual production capacities. calls. “A proportional reduction of the number
in this area began emerging at the regional level. Screenplay Development projects as part of the of projects selected and the increase in the
Cultural Action Programme (ProAC) directives. During this period, pressured by demands over average selection time, combined with the
The Paulo Gustavo Law (Complementary R$720 thousand will be distributed among 12 accountability and the deregulation of the FSA, relatively low amount of resources available, lead
Law No. 195, 2022) — created to foster the winners, chosen from 1,178 applicants.13 the agency also began to prioritise mechanisms to the conclusion that development calls present
recovery of the cultural sector after the Covid-19 that allowed for greater agility in internal a high operational cost for the agency, impacting
pandemic — established that, in the category The impact of public policy procedures, favouring automatic processes over the operation of other programmes,” reads one
of support for audiovisual production, some Any analysis of development policies at a federal project calls that required the analysis of merit — agency report.16
projects could be Creative Hubs. level14 becomes clouded by two parallel facts such as those focused on development.15
that converge: the lack of a more effective Producers who participated in development
Spcine, the city of São Paulo’s cinema and methodology for monitoring results and the crisis Within this context, it seems the Creative Hubs Hubs and Labs backed by ANCINE felt the
audiovisual company, was one of the country’s that occurred to ANCINE in the period following and development project calls became a thing of problems were structural for the sector, but
public institutions to use this mechanism. In the launch of the programmes. the past. Official documents do not record any some critics also expressed concerns about
2023, it launched a Creative Hubs call for attempts to implement this support model but they specific aspects of these calls.
projects worth R$3 million.9 The first thing to consider is that the interruption do offer reflections on the problems they faced.
of the Prodav lines occurred within a broader Ana Saito of Gullane Entertainment, a
What was novel about Spcine’s project call context of Brazilian audiovisual policy. In 2018, For example, regarding development production company, points out the delivery
compared to those ANCINE had launched in the Brazilian Court of Federal Auditors (Tribunal lines, the agency encountered difficulties required by the Creative Hubs was too extensive
the past, was the requirement that the Hub be de Contas da União — TCU) began questioning tracking produced works with scheduled and, in practice, incompatible with the amount
composed of two or three companies. Out of the FSA’s governance and accountability FSA returns. The possibilities of confirming the received and the established five-project
106 applicants, Spcine selected six.10 In 2021, practices. In addition, sitting President deliveries also proved weak — a script, after minimum. According to Saito, these factors
the company launched a Creative Hubs call that Bolsonaro’s government expressed the desire all, involves a variable number of treatments affected the quality of the delivery.
allocated R$2 million among 13 projects.11 to “extinguish” the agency, creating a political and research investment — as well as the
crisis. Along with the operational paralysis of expenditures themselves. Another criticism concerns the requirement that
The state of Espírito Santo was another federal the fund, the Covid-19 pandemic kept movie producers prove the production of a percentage
entity to to use resources from the Paulo theatres and sets closed. As for the Creative Hubs, issues related to the of the developed projects to renew the Hub.
Gustavo Law to create Creative Hubs. In 2023, high turnover of professionals, the complete Isabella Vidal, also from Gullane, believes that the
the State Secretariat of Culture distributed As the FSA resumed allocating resources change of project portfolios, and signs of fear of being unable to meet such requirements
R$1.6 million among five projects.12 and the government eased social isolation resource misallocation were reported. may limit the possibility of taking risks.

9 SPCINE (2023). Notice 04/2023 — Creative Hubs. São 13 State Government of São Paulo (2023). Call 10/2023 — 15 Ikeda, Marcelo (2021). O Papel da ANCINE nas Política 16 A
 NCINE (2018). Audiovisual Sector Fund Development
Paulo: Spcine Cultural Action Programme (ProAC) Públicas do Audiovisual (The Role of ANCINE in Project Calls Report
Audiovisual Public Policy)
10 SPCINE (2023). Notice 04/2023 — Creative Hubs. São 14 A
 n analysis of development policies at the local level is not
Paulo: Spcine possible, as there is not enough data available.

11 SPCINE (2021). Notice 05/2021 — Creative Hubs

12 S
 tate Government of Espírito Santo (2023). Call for
Creative Hubs 2023. 37
Development support in the Brazilian audiovisual industry: history and perspectives

“Obviously, we want to responsible for covering the difference. Despite ANCINE Director Paulo Alcoforado, who stage of experimentation where mistakes cost
x
recognising the importance of such a measure participated in creating the Creative Hubs less and different paths can be tried and tested.
achieve success and as it pertains to projects developed with public programmes in the last decade, says,
produce works, but at the resources, Ana Saito believes that it can become however, that minimising risks was one of It is not only about refining a work before
quite onerous for an independent producer, the motivations behind creating the policy. putting its production into motion but also
same time, being able to take taking into account that licensing amounts are Alcoforado believes the Hub model produced about reducing risks. Gustavo Rosa de Moura,
not always sufficient to honour the return from better results than the project calls aimed at founder of Mira Films, states that development
risks without that concern the FSA and cover additional expenses incurred developing individual projects. is crucial for understanding whether a project
would also be interesting,” throughout the development process. is worthwhile or not. “By the end of production,
“In the case of the laboratories, when hiring an you’ve already spent a lot,” says Moura.
claims Saito. “When you In the production sector, there is the perception executing company, it was difficult to find a legal-
that the government maintains a certain resistance administrative path that would meet the public Paulo Alcoforado said this was the founding idea
have to make a decision that to investing in the development of projects administration requirements without stifling the behind the project calls of the past decade. “We’ve
allows for a quicker project because the investment may not necessarily creative process,” explains Alcoforado. all experienced being in a cinema, in front of the
lead to the making of the audiovisual product. television, or streaming a work in which the idea
viability, it isn’t always the The issue of return, in this case, has nothing to Today, everyone seems to understand that was good but could have been better developed,”
do with commercial return but with the rules development-specific investments must be linked he says. “The moment for testing, stressing the
creative decision you would governing practices of public money expenditure with other audiovisual policies. “It is important to idea, seeing its limits, considering the arc of a
take for the long term.” and the “traumas” experienced by the sector in have a very slick flow of resources that go from series or a character, testing the visual composition
the 1990s. The films Chatô — O Rei do Brasil, development to exhibition”, says Moura. of an animation project is during development.”
which began raising funds in 1995 and was only
Another delicate point, which became even more released in 2015, and O Guarani (1996), which Rafael Sampaio, founding partner of Klaxon Within the Hub experience, films have become
relevant with the arrival of streaming platforms in had problems with the invoices presented during Audiovisual and coordinator of eight laboratories series, projects were discontinued, and some
Brazil (especially from 2020 onwards), concerns accountability, became famous cases. financed in Prodav 04, agrees and takes ideas, years after testing, have become new
the property rights of developed projects. this idea further: “Development investments projects. For example, in 2015, screenwriter
Within the investment framework, project calls Regarding development policies, producer must be combined with festivals and markets Wislam Esmeraldo conducted research as part
stipulated that a percentage of the invested Gustavo Moura of Mira Filmes — one of the where commercial agreements are closed.” For of the Núcleo do Crime (Crime Hub), a Creative
amount reverted back to the FSA. In the case of production companies with the most projects Sampaio, the abrupt interruption of support Hub funded by ANCINE and spearheaded by
Creative Hubs, if a production company licences selected in the Creative Hubs — points out prevented a complete policy evaluation. filmmaker Karim Aïnouz.
or yields a project’s patrimonial or production that the non-completion of a project does not
rights to create a non-independent work, then necessarily imply failure. According to Moura, Why invest in development? At the time, Wislam researched stories that fit
it must revert 30% of the licensing value to the these project calls should be seen and analysed All creative work involves some subjective and the group’s proposal, planting the seed for a
Fund within five years of delivery. as a long-term policy whose objectives go intangible elements. It’s not by chance that the screenplay that, years later, and independently
beyond producing audiovisual works. However, term “green light” signals putting a work into from the Creative Hub, would become the
Should this amount represent less than 50% of given the low rate of return, Creative Hubs came production — even in Hollywood! In this context, feature film Motel Destino, selected for
the amount invested by the Fund, the producer is to be called “paper mills” by public management. the development phase can be defined as a competition in Cannes in 2024.

38
Development support in the Brazilian audiovisual industry: history and perspectives

The development phase is the ideal moment


to deepen and expand a project. Available
for those involved in this process. Teamwork,
in which people with different professional
culture for the success of his film Ela e Eu, a
romantic comedy released in 2022, which won
Braga’s statements indicate that, at this moment,
public investment in a project’s initial phases
x
resources are often used for conducting and personal experiences connect, leads to best screenplay at the 54th Festival de Brasília is, once again, seen as a model capable of
research — which was the case for the exchanges, learning, and, consequently, the do Cinema Brasileiro. contributing to the balance between production
screenwriter of Motel Destino — travelling to development of the industry itself. and demand, investment and return, and risk and
possible locations and hiring consultants. In his book, The Rise of the Creative Class predictability.
“Creation also requires practice,” observes Moura. (2022), American researcher Richard Florida
Ideally, the experimentation phase reduces risks “Writing, sitting down, and facing the problems is argued (as far back as the early 2000s) that As this article has
and qualifies the project for later financial and essential. People sometimes think this is the only creating spaces to stimulate creativity, diversity,
commercial viability. A well-developed project way to lift the project off the ground, but it also and tolerance is fundamental for economic demonstrated, the
tends to be more consistent and qualified, which plays a very relevant educational role. How many growth and social development.
can facilitate both financing for production and screenwriters have Creative Hubs helped train
development phase — in
preliminary agreements for distribution. This and placed in the market?” The return of financial support programmes which an idea is tested,
process also allows for the transformation “The dynamics of the audiovisual market are
of ideas into intellectual properties, the most This truth is not limited to screenwriters. In the uncertainty and risk. It’s the nature of the experimented with, shared,
valuable asset within the creative industry. Muiraquitã Filmes Creative Hub, supported by business in Brazil and around the world,”
ANCINE, producer Eliane Ferreira learned what confirmed Alex Braga when asked if there
and re-evaluated — not
The sector also sees development project it means to be a creative producer. Although she was a possibility of development-phase support only enables innovation and
calls as a path for industry diversification, as has not yet produced any projects from the Hub, policies returning. “To cope with this reality,
they allow small and medium-sized producers Eliane believes the experience strengthened we must adopt a logic of monetizing the the mitigation of risk but
to do what, without public policy, only larger Muiraquitã as a company. portfolio of Brazilian films.”
companies with working capital can do.
also fosters professional
From the perspective of different producers, Braga underscores that it is a question of growth, encourages creative
According to ANCINE, calls focused on Creative Hubs stimulate a culture of creative investing in a film portfolio of all sizes and
development offered low entry barriers for collaboration. Ana Saito confirms that, at Gullane, profiles rather than in projects. Although he collaboration, and contributes
market players with less proven experience.17 the model led to changes in how the company avoids mentioning the experience of the
Consequently, emerging companies classified at tackles development by increasing multiple public calls of the past decade, ANCINE’s
to market diversity.
fundraising levels 1 and 218 received 65% of the project convergence. Previously, projects tended director-president is an advocate of
invested resources. to be developed in a more solitary, less organic “investments which ensure a correlation Although this stage has always been a
Development is also a formative experience way. A project developed in this changed between development and production.” component of the audiovisual industry, today,
environment was Fernando Coimbra’s film Os with the facilities that technological advances
17 ANCINE (2018). Audiovisual Sector Fund Development Enforcados, selected for Toronto in 2024. In new public calls to be launched in 2024, have brought to filming and post-production, it
Project Calls Report the development stage can be considered for has gained greater centrality — especially as it
18 According to Normative Instruction No. 119 (June 16, This creates a culture of “honest feedback” in financial support that production companies or is not uncommon for a film to move beyond its
2015) companies that have produced a maximum of 4 favour of the works, adds Gustavo Moura. Moura distributors can access, as an incentive for the scripted version before it has had enough time
audiovisual works per year are designated as Categories 1
and 2 when applying for funding.
emphasises the relevance of this collaborative project’s commercial viability. and money invested in it to mature.

39
O apoio ao Contexto atual
À medida que a indústria audiovisual se
complexifica, com novos e maiores players
de 2024, houve, entre 2023 e 2024, 3,2 mil
inscritos nos editais para produção de
cinema que, no conjunto, demandavam cerca
x

desenvolvimento
em ação e uma disputa feroz pela atenção do de R$ 7,1 bilhões. Foram, no fim, selecionados
espectador, a etapa do desenvolvimento parece 417 projetos, com aporte de R$ 1 bilhão.
ganhar, dentro da lógica do financiamento de um

no audiovisual
filme ou série, cada vez mais relevância. “Sendo essa a relação entre a oferta de
recursos e a demanda por investimentos
No âmbito da política pública brasileira, no em projetos que, de alguma forma, foram
entanto, o investimento nessa etapa parece desenvolvidos, será que não faz mais sentido

brasileiro: histórico e um nó a ser desatado, até por desafiar uma


prática que, por anos, foi padrão dentro dos
modelos do Estado: a da liberação de recursos
destacarmos recursos para aperfeiçoar o
desenvolvimento do que apenas estimular
novos projetos?”, questiona-se Alex Braga,

perspectivas
para a produção a partir do momento em que diretor-presidente da Ancine. “Temos que
houvesse a garantia de que determinada obra avaliar a lógica de investimento do FSA a
seria de fato filmada. cada momento.”

por Ana Paula Sousa and Maria Marta Pinto


Esse paradigma deixa, porém, de levar em Cabe lembrar que, embora o início das políticas
conta que apoiar o desenvolvimento de uma de apoio ao cinema brasileiro remonte a quase
ideia pode ser uma forma de mitigar os riscos um século, a primeira vez em que o sistema
do alto investimento na realização de uma obra público federal de financiamento direcionou
e contribuir para que um projeto chegue ao set recursos específicos para uma etapa anterior
O estudo, conduzido pelas pesquisadoras e mais amadurecido e, consequentemente, com às filmagens foi em 2013. Nesse ano, a Ancine
maior potencial para concretizar seus objetivos lançou três linhas voltadas ao desenvolvimento:
especialistas em políticas públicas em audiovisual artísticos e comerciais. Núcleos Criativos (Prodav 03), Laboratórios
Ana Paula Sousa e Maria Marta Pinto, traz dados de Projetos (Prodav 04) e Desenvolvimento de
Diante do grande volume de projetos pleiteando Projetos Isolados (Prodav 05).
sobre as oscilações no financiamento dessa apoio para a produção, a própria Agência
Nacional do Cinema (Ancine) se propõe a Desde aquele ano até 2018, outros
fase para fundamentar uma reflexão qualificada retomar, em novos editais do Fundo Setorial do investimentos específicos nessa área foram
sobre os desafios e oportunidades para o setor, Audiovisual (FSA), a previsão de recursos para feitos, mas de forma incipiente e com
o desenvolvimento em linhas acessadas por deficiências no monitoramento de resultados.
reforçando a importância de um apoio contínuo ao distribuidoras e produtoras. Entre 2014 e 2018, enquanto menos de 6% dos
recursos do FSA foram direcionados a editais de
desenvolvimento como um pilar capaz de fortalecer a De acordo com o balanço apresentado ao desenvolvimento, a produção — aqui entendida
indústria audiovisual como um todo. Conselho Superior de Cinema (CSC) em julho como a realização de um filme ou série —

40
O apoio ao desenvolvimento no audiovisual brasileiro: histórico e perspectivas

As primeiras políticas
recebeu, no mesmo período, 63% da verba1.
Em 2014, o ano em que mais se investiu em Em 2011, com a aprovação da Lei n°12.485,
2013 e recebeu 203 inscrições. O edital previa
repasses de até R$ 1 milhão a produtoras
proponente precisava ter concluído o
desenvolvimento de todos os projetos da
x
desenvolvimento no país, foram disponibilizados, conhecida como Lei da TV Paga, o FSA, que independentes a serem empregados na criação carteira e viabilizado ao menos dois quintos
para essa etapa específica, R$ 47 milhões. havia sido instituído por lei em 2006, atingiu um e na sustentação de um grupo de profissionais, deles. Apenas 15 núcleos foram renovados —
novo patamar. Ao transferir um tributo arrecadado sob a direção de um líder, com o objetivo de juntos, eles receberam cerca de R$ 13 milhões5.
Para se ter uma ideia do que isso significa, pelas empresas de telecomunicações em desenvolver, de maneira colaborativa, uma As outras duas linhas criadas no período foram
em 2022, o Creative Europe, programa de atividade no país para o FSA, a legislação fez carteira com, no mínimo, cinco projetos de os Laboratórios de Desenvolvimento (Prodav 04),
financiamento da União Europeia de apoio com que o orçamento do fundo saltasse de cerca longas-metragens e séries de TV. realizados em 2013 e 2014, e o Desenvolvimento
aos setores criativos, investiu 15% do de R$ 40 milhões para R$ 800 milhões. de Projetos Únicos (Prodav 05), que teve quatro
orçamento destinado ao audiovisual em Após 24 meses, a produtora deveria entregar edições, entre 2013 e 2016.
linhas de desenvolvimento, totalizando 55,5 A rápida expansão no volume de recursos um roteiro, um orçamento e dois planos, um
milhões de euros2. Nesse mesmo ano, no permitiu que o FSA passasse a funcionar, de de financiamento e outro de comercialização. A primeira forma de apoio, que replica um
Brasil, não houve, no FSA, previsão de fato, como um indutor do setor audiovisual e Caso não conseguisse reunir 20% dos recursos modelo comum nos laboratórios internacionais
recursos para o desenvolvimento. pudesse diversificar sua atuação, mirando, como necessários para produzir pelo menos dois — em geral, ligados a festivais de cinema —,
previa a lei que o criou, diversas etapas da quintos dos projetos desenvolvidos, a empresa consistia no suporte ao desenvolvimento de
A interrupção dessas linhas específicas havia se cadeia produtiva3. Foi dentro dessa lógica — e não poderia participar de novas chamadas projetos independentes. Ao longo de três
dado quatro anos antes, em 2018, momento que dessa nova possibilidade orçamentária — que públicas de desenvolvimento. semanas, os contemplados tinham encontros
marca o início de um período de instabilidade nasceram as linhas voltadas ao desenvolvimento presenciais e supervisão à distância coordenada
institucional, operacional e política da Ancine. de projetos audiovisuais. As duas primeiras edições, lançadas em por empresas selecionadas pela Ancine por
2013 e 2014, foram realizadas na modalidade meio de pregão eletrônico.
A sinalização de que esse tipo de apoio Entre 2013 e 2017, foram lançadas quatro linhas de apoio financeiro, que não demandava
está novamente no radar da gestão pública que tinham, como principal objetivo, oferecer reembolso financeiro ao FSA. As seguintes Foram realizados nove laboratórios, coordenados
parece tornar oportuna uma análise retrospectiva apoio financeiro para o desenvolvimento de previam que as empresas retornassem o pelas produtoras Klaxon e Coração da Selva,
das políticas voltadas ao desenvolvimento que ideias — que inclui não apenas a formação investimento ao fundo. Foram selecionados, que mobilizaram R$ 10 milhões do FSA e
possa jogar luz sobre o que as motivou; expor de times para a escrita de roteiros, mas, por ao todo, 98 Núcleos Criativos, que receberam beneficiaram 127 projetos.
seus resultados e falhas; e compreender que exemplo, a realização de viagens para pesquisas aproximadamente R$ 96 milhões4.
feições pode ter, passada uma década da e a aquisição de direitos. O segundo modelo destinou cerca de
primeira experiência, uma política voltada ao Em 2016, foi lançada uma linha para a R$ 33 milhões para o desenvolvimento de
desenvolvimento. A principal delas, os Núcleos Criativos, teve renovação de Núcleos Criativos contemplados 344 obras individuais6. Assim como aconteceu
cinco edições. A primeira delas foi lançada em em editais anteriores. Para ser elegível, a nos Núcleos, as duas primeiras edições foram

1 Ancine (2019), Resultados consolidados do Fundo Setorial 3 Sousa (2018), O Cinema Que não Se Vê 4 Para calcular esses dados, foi utilizado o Relatório das 5 Ibidem
do Audiovisual — Resultados consolidados dos recursos chamadas de desenvolvimento do Fundo Setorial do
aplicados pelo FSA em programas e projetos do setor Audiovisual, divulgado pela Ancine em 2018, assim como os 6 Ibidem
audiovisual entre 2009 e 2018. Relatórios Anuais de Gestão do FSA entre 2018 e 2023.

2 Comissão Europeia (2023), Creative Europe 2021–2022 —


Monitoring Report

41
O apoio ao desenvolvimento no audiovisual brasileiro: histórico e perspectivas

Experiências locais
realizadas na modalidade de apoio financeiro, e
as seguintes na de investimento. A diferença, em Enquanto no âmbito federal a destinação
Secretaria estadual de Cultura distribuiu R$ 1,6
milhão entre cinco projetos11.
a crise política gerada pelo governo Bolsonaro,
que chegou a manifestar o desejo de “extinguir”
x
relação aos laboratórios, é que o beneficiário de recursos para o desenvolvimento foi a agência; a paralisação operacional do fundo;
recebia apenas o aporte financeiro, e não o interrompida, regionalmente, aqui e ali, foram Já a Secretaria da Cultura, Economia e Indústrias e a pandemia, que manteve as salas de cinema
apoio criativo. surgindo investimentos nessa área. Criativas de São Paulo lançou, em 2024, fechadas e os sets parados.
um chamamento para a seleção de projetos
Entre 2013 e 2017, foram realizadas dez edições A Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº195, de Desenvolvimento de Roteiro para Audiovisual Conforme os recursos do FSA voltaram a ser
de editais de desenvolvimento, totalizando de 2022), criada para apoiar a recuperação do como parte dos editais do Programa de Ação liberados e as medidas de isolamento social
mais de 10 mil projetos inscritos, 993 projetos setor cultural após a pandemia de Covid-19, Cultural (ProAC). Serão R$ 720 mil distribuídos foram sendo amainadas, o foco da agência e
selecionados e R$ 160 milhões distribuídos. estabeleceu que, na categoria de apoio à entre 12 contemplados — a serem escolhidos a própria demanda do setor se direcionavam à
Todas as chamadas possuíam cotas para produção audiovisual, parte dos projetos entre 1.178 inscritos12. retomada da produção.
projetos de fora do eixo Rio-São Paulo. poderiam ser Núcleos Criativos.
Os resultados da política Além disso, nesse período, pressionada pelas
De acordo com uma análise realizada pela Ancine A Spcine, empresa de cinema e audiovisual da A análise dos resultados das políticas de cobranças em torno da prestação de contas e
em 20187, dos 982 projetos contemplados, 357 Cidade de São Paulo, foi uma das instituições desenvolvimento realizadas no âmbito federal — da desburocratização do FSA, a agência passou
(36,4%) foram entregues como concluídos até públicas do país a utilizar esse mecanismo, as locais não têm tempo suficiente para serem a priorizar mecanismos que permitissem maior
julho daquele ano. Dentre eles, 150 (42%) tinham lançando, em 2023, o edital de Núcleos avaliadas — é turvada por dois fatos paralelos agilidade aos trâmites internos, privilegiando
sido também inscritos em chamadas do FSA Criativos, no valor de R$ 3 milhões8. que acabam por convergir: a falta de uma os mecanismos automáticos em detrimento
voltadas à produção ou comercialização — 40 metodologia mais efetiva para monitoramento de editais que exigissem análise de mérito
(26,7%) foram selecionados. Uma novidade dessa chamada em relação às da dos resultados e a crise que se abateu sobre a — como funcionavam aqueles voltados ao
Ancine era a exigência de que o Núcleo fosse Ancine no período subsequente ao lançamento desenvolvimento13.
No caso dos laboratórios, a Ancine não tem o composto por duas ou três empresas. De um das linhas.
registro de quantos deles geraram filmes ou total de 106 inscritos, foram selecionados seis9. Com tudo isso, os Núcleos Criativos e os editais
séries. Em 2021, a empresa havia lançado um edital de A primeira coisa a ser levada em conta é que a de desenvolvimento parecem não só ter saído
Núcleos Criativos que distribuiu R$ 2 milhões interrupção dessas linhas do Prodav se deu em do horizonte, como se perdido no tempo. Não
Até 2018, um quarto dos projetos foi produzido. entre 13 projetos10. um contexto mais amplo da política audiovisual existe, em documentos oficiais, um balanço
A partir daí, no entanto, não há dados brasileira. A partir de 2018, o FSA teve seu analítico das tentativas de implantação desse
disponíveis para avaliar os desdobramentos da No âmbito estadual, o Espírito Santo utilizou modelo de governança e de prestação de modelo de apoio. Há, no entanto, algumas
política pública. os recursos da Lei Paulo Gustavo para fazer contas questionado pelo Tribunal de Contas da reflexões correntes sobre seus aspectos
um edital de Núcleos Criativos. Em 2023, a União (TCU). A isso somaram-se, em seguida, problemáticos.

7 ANCINE (2018). Relatório das chamadas de 8 SPCINE (2023). Edital 04/2023 — Núcleos Criativos. São 11 Governo do Estado do Espírito Santo (2023). Edital de 13 Ikeda, Marcelo (2021). O Papel da Ancine nas Política
desenvolvimento do Fundo Setorial do Audiovisual Paulo: Spcine Núcleos Criativos 2023. Públicas do Audiovisual

9 SPCINE (2023). Edital 04/2023 — Núcleos Criativos. São 12 Governo do Estado de São Paulo. Edital 10/2023 —
Paulo: Spcine Programa de Ação Cultural (ProAC).

10 SPCINE (2021). Edital 05/2021 — Núcleos Criativos.

42
O apoio ao desenvolvimento no audiovisual brasileiro: histórico e perspectivas

No caso das linhas de desenvolvimento, a


agência encontrou dificuldades, por exemplo,
incompatível com o valor recebido e com
o número mínimo de cinco projetos. Isso
Outro ponto delicado, e que se torna ainda mais
relevante a partir da chegada das plataformas
“traumas” vivenciados pelo setor na década
de 1990. Os casos dos filmes Chatô — O
x
para rastrear a obra produzida quando estava tudo, segundo ela, acabou por afetar a de streaming ao Brasil, especialmente a partir Rei do Brasil, que começou a captar recursos
previsto o retorno ao FSA. Se demonstraram qualidade da entrega. de 2020, diz respeito aos direitos patrimoniais em 1995 e só seria lançado em 2015, e de
também frágeis as possibilidades de sobre a obra desenvolvida. O Guarani, que teve problemas com as notas
comprovação das entregas — um roteiro, afinal Outra crítica está relacionada ao fato de a fiscais apresentadas na prestação de contas,
de contas, envolve um número muito variável de produtora precisar comprovar a produção de Na modalidade de investimento, os editais exigem ficaram famosos.
tratamentos e de investimento em pesquisa — e uma porcentagem dos projetos desenvolvidos que uma porcentagem do valor investido seja
dos próprios gastos. para renovar o Núcleo. Isabella Vidal, também revertida ao FSA. No caso do Núcleos Criativos, Em uma política de desenvolvimento, como
da Gullane, acredita que o medo de não se caso a produtora licenciasse ou cedesse os assinala o produtor Gustavo Moura, da Mira
Nos Núcleos Criativos, houve problemas conseguir cumprir essa exigência pode limitar a direitos patrimoniais ou direitos de produção dos Filmes, uma das produtoras com mais projetos
ligados à grande rotatividade dos profissionais, possibilidade de arriscar. projetos desenvolvidos para a realização de uma selecionados nos editais de Núcleos Criativos,
à mudança integral da carteira de projetos obra não independente em até cinco anos a partir a não conclusão de uma obra não significa
e indícios de desvio da finalidade no uso da entrega, deveria repassar ao Fundo 30% do necessariamente fracasso. Esses editais,
dos recursos. valor do licenciamento. segundo ele, devem ser vistos e analisados
“É óbvio que a gente quer como uma política de longo prazo, cujo objetivos
Outra dificuldade significativa é o custo Caso esse valor representasse menos que 50% vão além da produção de obras audiovisuais.
operacional desses editais. “A redução alcançar sucesso e produzir do valor investido pelo Fundo no desenvolvimento Mas, na gestão pública, os Núcleos Criativos,
proporcional dos projetos selecionados e o as obras, mas, ao mesmo do projeto, a própria produtora deveria custear a dado o baixo índice de retorno, chegaram a ser
aumento no tempo médio de seleção, aliados diferença. Apesar de reconhecer a importância chamados de “fábricas de papel”.
ao baixo valor relativo disponibilizado em cada tempo, poder arriscar sem ter de tal medida por se tratar de projetos
edital, levam a concluir que as chamadas de desenvolvidos com recursos públicos, Saito Paulo Alcoforado, diretor da Ancine que, na
desenvolvimento apresentam um alto custo essa preocupação também, acredita que ela pode se tornar bastante onerosa década passada, participou da criação dos
operacional para a Agência, com impacto na seria interessante”, completa para um produtor independente, levando-se editais de Núcleos Criativos, afirma, porém,
operação de outras chamadas”, lê-se em um em conta que os valores de licenciamento nem que a minimização de riscos foi uma das
relatório da agência.14 Saito. “Quando tem que sempre são suficientes para honrar o retorno do motivações para a criação da política. Para
FSA e cobrir os gastos adicionais feitos ao longo ele, o modelo de Núcleo produziu melhores
Do lado dos produtores que foram beneficiados tomar uma decisão que te do processo de desenvolvimento. resultados que os editais de desenvolvimento
por essas linhas ficou a sensação de que elas possibilite uma viabilização de projetos individuais.
são estruturantes para o setor, mas restaram Há, no setor da produção, a percepção de que
também algumas críticas a aspectos específicos mais rápida de um projeto, o poder público ainda tem certa resistência “No caso dos laboratórios, tivemos dificuldade
dos editais. a investir em desenvolvimento pelo fato de o em encontrar um caminho jurídico administrativo
nem sempre essa é a aporte não necessariamente levar a uma obra. para contratação da empresa executora que
Ana Saito, da Gullane Entretentimento, pontua decisão criativa que se A preocupação é menos em torno do retorno atendesse às exigências da administração
que a entrega exigida pelo edital de Núcleos comercial, mas sim com as próprias regras de pública sem engessar o modelo e o processo
Criativos era muito extensa e, na prática, tomaria no longo prazo.” bom uso do dinheiro público e, inclusive, dos criativo”, exemplifica Alcoforado.

14 ANCINE (2018). Relatório das chamadas de


desenvolvimento do Fundo Setorial do Audiovisual 43
O apoio ao desenvolvimento no audiovisual brasileiro: histórico e perspectivas

Hoje, todos parecem compreender que o


investimento em desenvolvimento deve estar
Era essa também, de acordo com Alcoforado, a
ideia-base dos editais da década passada.
Esse foi o caso, por exemplo, de uma pesquisa
realizada em 2015 pelo roteirista Wislam
permitem que produtores de pequeno e médio
porte façam aquilo que, sem a política pública,
x
articulado com as demais políticas audiovisuais. Esmeraldo, que fez parte do Núcleo do Crime, apenas empresas maiores, com capital de giro,
“É importante existir um fluxo muito azeitado contemplado pelo edital da Ancine e liderado podem fazer.
de recursos que vão do desenvolvimento até a pelo cineasta Karim Aïnouz.
exibição”, diz Moura. “Todos vivemos mais de uma Segundo a Ancine15, as chamadas voltadas ao
Wislam, à época, realizou pesquisas para pensar desenvolvimento ofereceram, de fato, baixas
Rafael Sampaio, sócio-fundador da Klaxon vez experiências de estar em em histórias que se encaixassem na proposta barreiras de entrada aos agentes de mercado
Audiovisual e coordenador de oito laboratórios uma sala de cinema, diante do grupo. Veio dali a semente para o roteiro com menor experiência comprovada. Como
financiados no Prodav 04, compartilha que, anos depois, e de maneira desvinculada do consequência, empresas classificadas nos
dessa ideia e vai além: “O investimento em da televisão, ou no streaming, Núcleo Criativo, viraria o longa-metragem Motel níveis da captação 1 e 216 receberam 65% dos
desenvolvimento deve estar articulado com Destino, selecionado para a Mostra Competitiva recursos investidos.
festivais e mercados onde são fechados acordos de uma obra que a ideia é do Festival de Cannes em 2024.
comerciais”. Para Sampaio, a interrupção boa, mas podia estar melhor O desenvolvimento tem ainda um papel
abrupta dos apoios impediu uma avaliação A fase de desenvolvimento é, ainda, o momento formativo sobre as pessoas que fazem desse
completa da política. desenvolvida”, diz. “O de se aprofundar um projeto. Os recursos processo. O trabalho em equipe, no qual
disponibilizados são, muitas vezes, utilizados diferentes experiências se conectam, leva à
Por que investir em desenvolvimento? momento de testar, estressar para a realização de pesquisas — caso, troca, ao aprendizado e, por consequência, ao
Todo trabalho criativo carrega algo de subjetivo e a ideia, ver seus limites, justamente, do roteirista de Motel Destino desenvolvimento da própria indústria.
intangível. Não à toa, uma das expressões-chave, — viagens em busca de possíveis locações e
mesmo na indústria hollywoodiana, é green light pensar a curva de uma contratação de consultores. “A formação precisa de prática também”,
— ou, numa tradução literal, o sinal verde para observa Moura. “Escrever, sentar e enfrentar os
que se coloque uma produção para rodar. A fase série ou de um personagem, A fase de experimentação, idealmente, reduz problemas é essencial. Às vezes as pessoas
do desenvolvimento pode ser definida, nesse de testar a composição riscos e qualifica o projeto para posterior só pensam nisso como uma maneira de levantar
contexto, como aquela da experimentação, na viabilização financeira e comercial. Um projeto o projeto do zero, mas ele tem um papel de
qual o erro custa menos e diferentes caminhos visual de um projeto de bem desenvolvido tende a ser mais consistente formação muito relevante. Quantos roteiristas o
podem ser trilhados e testados. e qualificado, o que pode facilitar tanto o edital de Núcleo Criativos não ajudou a formar e
animação, é o momento do financiamento para a produção quanto acordos colocou no mercado?”
Trata-se, de certa forma, não apenas de burilar desenvolvimento.” prévios para a distribuição. Também é esse
uma obra antes de mobilizar sua produção, processo que permite a transformação de ideias Esse papel não se restringe aos roteiristas.
mas de reduzir riscos. Como diz Gustavo em propriedades intelectuais, o ativo mais Foi no Núcleo Criativo da Muiraquitã Filmes,
Rosa de Moura, fundador da Mira Filmes, o valioso dentro das indústrias criativas.
desenvolvimento é crucial para se entenda Ao longo das experiências dos Núcleos, houve 15 A
 NCINE (2018). Relatório das chamadas de
desenvolvimento do Fundo Setorial do Audiovisual
se um projeto vale a pena ou não. “Depois de filmes que viraram séries; projetos que foram Os editais de desenvolvimento também são
produzir, você já gastou muito”, diz ele. descontinuados; e até ideias testadas que, vistos, por parte do setor, como um caminho 16 Segundo Instrução Normativa n.º 119, de 16 de junho de 2015,
fazem parte das Categorias de captação 1 e 2 empresas que
anos depois, se tornariam um novo projeto. para a diversificação na indústria, uma vez que produziram no máximo 4 obras audiovisuais por ano

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O apoio ao desenvolvimento no audiovisual brasileiro: histórico e perspectivas

A volta dos apoios


apoiado pela Ancine, que a produtora Eliane
Ferreira aprendeu o que é ser uma produtora “A dinâmica do mercado audiovisual funciona
redução de riscos como fomenta a formação de
profissionais, incentiva a colaboração criativa e
x
criativa. Apesar de ainda não ter produzido com muita incerteza e risco. É da natureza da contribui para a diversidade do mercado.
nenhum dos projetos que fizeram parte do atividade, no Brasil e no mundo”, afirma, ao ser
Núcleo, Eliane acredita que a experiência perguntado sobre a possibilidade de retorno Embora essa etapa sempre tenho sido
fortaleceu a Muiraquitã como empresa. das políticas de apoio ao desenvolvimento, Alex constitutiva da indústria audiovisual, hoje, com
Braga. “Para lidar com essa realidade é preciso as facilidades que os avanços tecnológicos
Na visão de diferentes produtores, os Núcleos adotar uma lógica de rentabilização do portfólio, trouxeram para filmagens e pós-produção, ela
Criativos estimulam a cultura de colaboração da carteira de filmes brasileiros.” tem ganhado maior centralidade — até porque
criativa. Saito confirma que, na Gullane, o não é raro que um filme saia do papel antes
modelo levou a mudanças na forma de a Trata-se, sublinha ele, de se investir num portfólio de ter tido investimento de tempo e dinheiro
empresa trabalhar o desenvolvimento, criando de filmes — de todos os tamanhos e perfis —, suficientes para sua maturação.
uma maior interface entre os projetos. Antes, os e não de projetos. Embora evite mencionar a
projetos tendiam a ser desenvolvidos de forma experiência dos editais da década passada, o
mais solitária, menos orgânica. Um projeto que diretor-presidente da Ancine defende que “os
se desenvolveu nesse ambiente de troca foi investimentos assegurem uma correlação entre o
o filme Os Enforcados, de Fernando Coimbra, desenvolvimento e a produção”.
selecionado para o Festival de Toronto de 2024.
Nas novas chamadas públicas a serem lançadas
Gustavo Moura acrescenta, a esse pensamento, em 2024, a etapa do desenvolvimento deve
a criação da cultura do “feedback honesto”, estar contemplada não apenas nas linhas
sempre em favor da obra. Ele destaca a a serem acessadas pelas produtoras, mas
relevância dessa cultura colaborativa para pelas distribuidoras — buscando estimular um
o sucesso do seu filme Ela e Eu, comédia desenvolvimento que leve em conta também as
romântica lançada em 2022, e premiada como possibilidades de comercialização de um projeto.
Melhor Roteiro no 54º Festival de Brasília do
Cinema Brasileiro. O que as afirmações de Braga indicam é
que, neste momento, o investimento público
Como defendia, já no início dos anos 2000, nas fases iniciais de um projeto volta a ser
o pesquisador norte-americano Richard visto como um modelo capaz de contribuir
Florida, no livro A ascensão da Classe Criativa para o equilíbrio entre produção e demanda;
(2022), a criação de espaços que estimulem investimento e retorno; e risco e previsibilidade.
a criatividade, a diversidade e a tolerância são
fundamentais para o crescimento econômico e o A fase de desenvolvimento, na qual uma ideia
desenvolvimento social. é testada, experimentada, compartilhada e
reavaliada, não só possibilita a inovação e a

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Colophon x

Ficha técnica
Head of the Hubert Bals Fund Translation
Diretora do Hubert Bals Fund Tradução
Tamara Tatishvili Ana Key Kapaz
Julia Downey de Oliveira
Executive Director of Projeto Paradiso
Diretora Executiva do Projeto Paradiso With the support of the IFFR team
Josephine Bourgois Com apoio da equipe do IFFR
Festival Director Vanja Kaludjercic
Project coordinator Chief of Content Melissa van der Schoor
Coordenadora do projeto Head of Communications Anne Wabeke
Ayumi Filippone Communications Interns Smaranda Mihaila and Maria Spyrelli

Editor — English With the support of the Projeto Paradiso team


Edição — Inglês Com apoio da equipe do Projeto Paradiso
Fraser White Diretora de Programas Rachel do Valle
Analista de Programas Milena Larissa
Texts Assistente de Comunicação Luanna Sampaio
Textos
Josephine Bourgois With thanks to
Luísa Lucciola Agradecimentos
Maria Marta Pinto Marcelo Caetano
Ana Paula Sousa Payal Kapadia
Tamara Tatishvili
Safo Nunes Graphic design
Fraser White Design gráfico
Dina Milovčić and Franka Tretinjak (NJI3)

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