O Código Do Macho

Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 15
REVISTA ELETRONICA DISCENTE DO CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 0 CODIGO DO MACHO: A ESTRUTURA HISTORIC DO CODI60 PENAL BRASILEIRO E 0 CRIME DE ESTUPRO THE MALE CODE: THE HISTORICAL STRUCTURE OF THE BRAZILIAN CRIMINAL CODE AND THE CRIME OF RAPE RAKELL DHAMARYS MOREIRA »* Resumo Esse artigo visa analisar como as categorias de género ¢ esteredtipos operam no Cédigo Penal e como estes opera para (re)produzir as categorias supracitadas. Para seguir na investigagao, faz-sen (0 apresentar 0 contexto histérico do Cédigo Penal brasileiro. Editado durante o Iuminismo e as teorias de inferioridade da “raga” humana, que inelui a inferioridade das mulheres, segundo Greco (2012), em um cendrio marcado pela caga s bruxas narradas por Federici (2015) que também reforgam a inferioridade e objetificagio da mulher. Epoca em que se podem verificar os elementos de género delineados por Chaui (1985), entre outros autores, e materializados pelos esteredtipos de Pereira (2002), que também reforgam questées da feminilidade como sendo inferioridade, passividade, entre outras. Logo, as questdes de género, esteredtipos, patriarcado em vigor no contexto da edicdo do Cédigo Penal provavelmente influenciaram a sua construgdo na Epoca e hoje continuam a operar através dele. Palavras-chave: Violéncia de géner: stupro; Cédigo Penal; Histéria Abstract This article aims to analyze how gender categories and stereotypes operate in the Penal Code and how they operate to (re)produce the aforementioned categories. To continue the investigation, it is necessary to present the historical context of the Brazilian Penal Code. Edited during the Enlightenment and the theories of inferiority of the human “race”, which includes the inferiority of women, according to Greco (2012), in a scenario marked by the witch hunts narrated by Federici (2015) that also reinforce the inferiority and objectification of women. women. A period in which one can verify the elements of gender outlined by Chaui (1985), among other authors, and materialized by the stereotypes of Pereira (2002), which also reinforce issues of femininity such as inferiority, 46 Advogada e Professora, Possui graduagio em Direito pela Faculdade Padrio (2014), Especialista em Direito Tributirio e Processo Tributirio - Pontificia Universidade Cat6lica de Goids (2016). Especialista, em Dircitos Humanos, Democracia ¢ Cultura - Universidade Fedetal de Goids (2018). Mestre em Direitos Humanos pela Universidade Federal de Goiis com Bolsa de Auxilio pela CAPES (2020). Doutoranda Direitos Humanos pela Universidade Federal de Goids (2020). Atuou como advogada no direito privado em conflites familiares c no pablico com énfase no Dircito Tributério ¢ nos Dircitos Humanos. Docente estagifria na Faculdade de Informasao FIC/UFG, Ex-servidora piiblica da Diretoria Geral de Administragao Penitenciaria (DGAP/SSP-GO, atuando para a promogio dos Direitos Humanos nos servigos prestados & Central de Alvards de Soltura, E atualmente integra o Projeto de Pesquisa em andamento "A culpabilizago das mulheres nas narrativas sobre violéncia de géneto nos boletins de ocorréncia e nos jornais didrios de Goidinia” da Faculdade de Informago e Comunicagio FICIUFG. 118 REVISTA ELETRONICA DISCENTE DO CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 passivity, among others. Therefore, the issues of gender, stereotypes, patriarchy in force in the context of the edition of the Penal Code probably influenced its construction at the time and today continue to operate through it, ‘Keywords: Gender violence; Rape; Penal Code; History. Introducio estupro é uma violéncia que acompanha e macula a historia da humanidade. No entanto, sua tipificagdo como crime varia de paises, momentos histéricos ¢ politicos a contra mulheres partir do século XIX. Por essa via, estudar 0 estupro como violén requer uma anilise de género, porém, ressalvamos que nio se restringe a ela. Apenas significa dizer que essa pesquisa partir do entendimento de que a violéncia em estudo decorre das relagdes assimétricas de poder construidas entre homens ¢ mulheres na sociedade brasileira. Ruth Cardoso, na apresentagdo do livro de Maria Gregori (1993, p. 9), destaca 0 progresso de se incorporar 0 género nos estudos relacionados 4 mulher. Para ela, “o conceito de género esta ai para desvendar as relagdes que tecem entre © masculino e o feminino uma rede de poderes contrapoderes. © artigo 1° da Convengdo Interamericana para Prevenir, Punir ¢ Erradicar a Violéncia contra a Mulher, Belém do Para de 1994, enxerga a relagao entre violéncia e género, sendo a violéncia: “qualquer ato ou conduta baseada no género, que cause morte, dano ou sofrimento fisico, sexual ou psicolégico 4 mulher, tanto na esfera publica como na esfera privada”, © artigo 3°, IV da Constituigdo Federal de 1988, dispde que, entre os objetivos fundamentais da RepSblica Federativa do Brasil, estdo: “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raga, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminagio. Entretanto, apesar da vedagao de preconceito e discriminagio por questdes ligadas 40 Sexo, direito enxerga o estupro apenas como categoria tipificada no Cédigo Penal. Todavia, o estupro tipificado no artigo 213 e seguintes do Cédigo Penal trata, também, de um ato de discriminagao do homem em relagdo & mulher ¢ & alimentado por diversos estereétipos e preconeeitos, ou seja, é um atentado contra a dignidade sexual causado por uma hierarquia de poder. Por isso, as legislagdes ¢ os seus endurecimentos nao dio conta por si s6 do problema do estupro no pais, visto que este reine diversas categorias nfo enquadradas 119 REVISTA ELETRONICA DISCENTE DO CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 por lei, E a raiz de tudo encontra-se nos esterestipos reproduzidos socialmente que mantém intactas as desigualdades de género em razo dos grupos opostos, como a exempli gratia homens/mulheres e dominador/dominada, jé que essas categorias acabam por ibelecer uma ligagao por oposi hierarquia de que o homem é dominador, a mulher € a dominada ~ ou seja, pressupde-se uma ideia de ligago em que o homem domina ou i deva dominar a mulher como um direito a sua superioridade, abrindo portas, portanto, para a violéncia, inclusive, a sexual. Afinal, so eles que materializam ¢ mantém os elementos de género. A partir dessas observagGes, a proposta deste artigo consiste em analisar através de uma pesquisa documental com abordagem qualitativa, a andlise de questdes hist6rieas de género, estereétipos, patriarcado em vigor no contexto da edigiio do Cédigo Penal e que, provavelmente, influenciaram sua construg4o na época e ainda hoje continuam a operar através dele. Acstrutura histérica do cédigo penal brasileiro © atual Cédigo Penal (1940) é dividido em duas partes: geral ¢ especial — a parte geral compreende do artigo 1° ao 120 ¢ a parte especial vai do artigo 121 ao 361. 0 CP visa tutelar os bens juridicos mais relevantes para a sociedade, por essa razdo a parte especial, principalmente, foi classificada ¢ estruturada em titulos, capitulos segdes, segundo Greco (2012), nos quais 0 legislador ordenou 0 CP pelo rol de importancia, nominando os delitos. Curiosamente, os crimes contra a pessoa inauguram a parte especial, sendo 0 homicidio, artigo 121 do diploma penal, o primeiro crime da parte especial. Segundo ele, ‘vem um rol extenso de titulos e capitulos, tais como crimes contra o patriménio, contra a propriedade imaterial, contra a organizagdo do trabalho, contra o sentimento religioso ¢ contra o respeito aos mortos para, entdo, chegar-se aos crimes contra a dignidade sexual, em que esté previsto o estupro. Sdo mais de cem crimes para se chegar ao estupro, inclusive, o crime contra os mortos tem maior destaque na atual estruturagio do Cédigo Penal do que a violéncia sexual. Parte dos resultados obtidos por essa pesquisa direciona a investigagao para compreender a razio do crime de estupro constar depois do crime contra os mortos e nao no inicio da parte especial, no rol de crimes contra pessoa, 120 REVISTA ELETRONICA DISCENTE DO CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 Neste ponto, diante da auséncia de literatura que explique a questio levantada, tal estudo faz uma critica a estruturagdo do Cédigo Penal, pois ndo se duvida que crime de estupro seja um crime contra a dignidade e a liberdade sexual, todavia, ¢ um crime contra pessoas, do qual as maiores vitimas so mulheres, Mulheres sao pessoas, no entanto, o CP, em sua estruturagao, ainda trata mulheres a com a mesma mentalidade de 1940. E por essa razio, a anilise que se estabelece entre 0 passado anteriormente estudado ¢ o presente & que, apesar das alteragSes legislativas, ndo houve mudangas na estrutura que ainda objetifica mulheres, nem na legislagio tampouco na sociedade. Uma explicagdo para a permanéncia dessa realidade no ordenamento juridico brasileiro, na visio de Moura, ao citar Foucault (2017, p. 50), é que o patriarcado, as categorias de esterestipos € género se apropriam de tecnologias, ou seja, as “tecnologias sociais” para sutilmente se “infiltrar no cinema, nas préticas culturais ou da vida cotidiana”, Esse estudo compreende, a partir da estruturagéo do CP, da forma como a violéncia sexual é tratada pelo Direito, midia e sociedade, que hd uma dificuldade em visualizar 0 dano, Nos crimes de roubo, é visivel para a sociedade e os operadores do direito a diminuigao patrimonial da vitima e a subtragio da coisa, no feminicidio/homicidio taml isivel o cadaver, a interrupgao da vida. Ja no estupro, a sociedade ¢ 0 istema juridico nfo conseguem ver o dano materialmente falando, além do que ¢ narrado pela vitima, Nao se pretende aqui reduzir © dano dos crimes de estupro apenas ao que as mulheres vi mas narram, até porque o dano de um crime sexual é provavelmente imensurivel ¢ a dor psicologica, entre outras, nem sempre podem ser traduzidas em palavras ou depoimentos. © que se problematiza neste trabalho & a dificuldade do operador do Direito, principalmente, visualizar 0 dano ~ afinal, o proprio crime de estupro nao € considerado penalmente como um crime contra pessoas, mas apenas contra a dignidade sexual. Por essa raz, o posicionamento de que o estupro, da forma como foi estruturado pela legislagao brasileira atualmente, passa a ideia de algo natural ao convivio social que nao mereca muita atengZo, pois o dano no é contra a pessoa, é um dano minimo para a sociedade, bastando que a vitima, apés a relagdo sexual violenta, lavar a regidio com agua, sabo, passar um creme e continuar a vida, Um engano que tem vitimado intimeras mulheres brasileiras. 121 REVISTA ELETRONICA DISCENTE 00 CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 A forma como o CP esta estruturada é prejudicial aos avangos legislativos e a construgdo de uma sociedade igualitéria entre homens ¢ mulheres. Isto porque essa estruturagdo é sutil, perigosa e quase imperceptivel e, aparentemente, nao oferece grandes resisténcias, criticas, andlise, pois parece inofensivo. Porém, por essa razio de nao oferecer resisténcias, é altamente potente para reforgar a objetificagdo das mulheres, os 7 comportamentos sociais, a visio que o estupro da mulher tem no ordenamento juridico, 0 seu grau de importancia para o direito, etc. Na sutileza dessa estruturagdo também se reforga esteredtipos, géneros ¢ comportamentos patriarcais que sio capazes de esvaziar e desconstruir todas as conquistas obtidas até © momento, Além disso, & possivel fazer uma ligaga do poder destrutivo da sutileza com as grandes hist6rias de guerras e desgragas da humanidade tanto na mitologia quanto na vida real. O Cavalo de Troia''” foi um presente sutil dos gregos para os troianos, um presente que ndo representava perigo ou resisténcia e que, por isso, foi internalizado pelos troianos em sua cidade. Ninguém imaginava que era uma forma sutil de ataque e, por isso, os troianos néo ofereceram nenhuma defesa — ao contrario, foram dormir e, durante a noite, © Cavalo de Troia estava cheio de guerreiros que invadiram e tomaram a cidade, Igualmente, o sutil discurso de Hitler, 0 que pode ser inferido nos documentarios € filmes sobre 0 nazismo'"*® , convenceu centenas de pessoas boas a cometerem o Holocausto. Fazendo uma associa¢ao da sutileza com o meio ardiloso da guerra e com a estruturagdo do CP, é possivel depreender o porqué a reforma da estruturagao do diploma penal é estratégica por sua sutileza, pois ela construiria legalmente a visio de que o estupro ¢ um crime contra pessoas ¢ a dignidade, portanto, merece tratamento juridico no seu grau de importincia, tais como os demais crimes contra pessoa. um crime que recai na maior parte contra mulheres, ou seja, so pessoas e ndo objetos ou propriedade de homens. Alterar essa visio deve partir da legislagao, do direito penal, do Cédigo Penal, do comportamento dos operadores do direito, das narrativas dos instrumentos juridicos, das narrativas dos jomalistas ¢ da visio do individuo, do comportamento da sociedade e, com is so, surgem diversos caminhos para alterar aos poucos as desigualdades de género. Na visdo de Bourdieu (2014), apresentada anteriormente, a atual estruturagao do CP vista por ele como uma violéneia simbélica contra as mulheres. Isto porque ele 3" Wolfgang Petersen. Trofa. Filme. Wamer Bros. Pictures. Estados Unidos: 2004 28Christian Duguay. Hitler ~ A Ascenso do Mal. Filme. CBS. Alliance Atlantis. Estados Unidos, 2003, 122 REVISTA ELETRONICA DISCENTE 00 CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 entende que essa sutileza ¢ uma suavidade quase invisivel de dominagio caracteri ica dessa violéncia que mantém as estruturas de dominagdo masculina no que ele denomina 19 de “paradoxo da doxa'’®, que representa o contraditério em que o mundo esta inserido a0 admitir condigdes intoleraveis como naturais ou culturais, O que vem a calhar com a realidade do estupro no pais, pois ao justificar o crime sexual como algo que a vitima A provocou, as legislagdes penais em vigor acabam no mesmo paradoxo citado por Bourdieu (2014), ou seja, naturalizam aquilo que dizem combater. Moura (2017, p. $4) é enfética ao afirmar que todas as correntes feministas lutam “pelo reconhecimento do estupro enquanto crime contra a propria mulher (pessoa humana) ¢ ndo contra a propriedade masculina ou contra a moralidade sexual”, Por isso, mesmo com os avangos legislativos ou o endurecimento das legislagdes, © crime de estupro ainda permanece na mesma estrutura como algo que ndo merece muita importincia social e para o sistema penal, esvaziando, a nosso ver, as conquistas legislativas. E uma visdo paradoxal que ainda objetifica mulheres e que, conforme veremos adiante, causa culpabilizagio, Tanto é que, antigamente, 0 artigo 213 do Cédigo Penal previa o crime de estupro como sendo: “constranger mulher 4 conjungdo camal, mediante violencia ou grave ameaga”. A lei previa apenas a mulher como vit ma co estupro originalmente foi previsto apés os crimes contra os mortos € nio no titulo dos crimes contra a pessoa, o que presume dizer que em 1940, época da criagdo do CP, a mulher ndo era uma pessoa, mas sim uma coisa, objeto ou propricdade. A figura do estupro conjugal, de acordo com Sousa e Adesse (2005, p. 46), que hoje & conceituado como “todo aquele que ocorre nas circunstincias do casamento ¢ da unio estavel, quando 0 marido/companheiro é 0 sujeito ativo do crime”, nao era reconhecido pela doutrina majoritéria juridiea como um fato criminoso, pois os doutrinadores defendiam que o sexo era um direito do homem no casamento. Tampouco hoje possui previsdo legalmente expressa, 0 que, juntamente com a estruturagdo do CP, favorece para a visio da mulher como um objeto de dominagdo do homem. © CP em vigor passou por alteragdes, sendo as duas principais trazidas pela Lei n° 11.106/2005 ¢ pela Lei n° 12.015/2009. O Cédigo Penal Brasileiro, em sua redagZo original, possuia uma concepedo bem patriarcal de género no tocante aos crimes sexuais, ™ Doxa vem do grego significa opiniio popular ou crenga comum. Disponivel_ em itps://pL.m.wikipedia.org/wiki/Doxa, Acesso em: Margo de 2022. 123 REVISTA ELETRONICA DISCENTE 00 CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 principalmente, por trazer o termo “mulher honesta”. Apenas em 2005, com a Lei n° 11.106/2005, 0 CP foi alterado ¢ 0 termo “mulher honesta iu, na teoria, do diploma penal — todavia, o titulo do livro do CP que tratava dos crimes sexuais ainda grafava “dos crimes contra os bons costumes”. Com o advento da Lei n® 12.015/2009, o bem juridico tutelado “os bons costumes” 7 {oi alterado para “dos crimes contra a dignidade sexual”, ou seja, a livre escolha de dispor do corpo para fins sexuais em qualquer circunstancia, com qualquer pessoa, inclusive, cOnjuge. A partir dessa lei, a vitima pode ser qualquer pessoa, independente do sexo ou género, o estupro passou a ser entendido como quaisquer atos libidinosos ¢ o estupro de vulneravel como praticar qualquer ato libidinoso, entre eles, a conjungao carnal, com menor de 14 anos ou incapaz. que nio tenha o discemimento necessirio. Essa lei também inseriu o estupro em qualquer uma de suas formas como um delito hediondo'”. Vejamos os artigos 213 e 217-A do CP: Art. 213 Constranger alguém, mediante violéncia ou grave ameaga, a ter camal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclustio, de 6 (seis) a 10 (de2) anos. § Lo Se da conduta resulta lesio corporal de natureza grave ou se a vitima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusdo, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. § 20 Se da conduta resulta morte: Pena - reclusio, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos, Art. 217-A Ter conjungdo carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusio, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 15 Incorre na mesma pena quem pratica as ages deseritas no eaput com, alguém que, por enfermidade ou deficiéncia mental, no tem o necessério discemnimento para a pratica do ato, ou que, por qualquer outra causa, ndo pode oferecer resistencia, § 32 Se da conduta resulta lesdo corporal de natureza grave: Pena - reclusio, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. § 42 Se da conduta resulta morte Pena -reclusi, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos § 5° As penas previstas no eaput e nos §§ 1°, 3° e 4° deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vitima ou do fato de ela ter mantido relagbes sexuais anteriormente ao crime. (BRASIL, 1940, on-line, sip) Essas alteragdes foram um passo significativo na busca de uma sociedade igualitéria, todavia, ndo houve nenhuma legislag&o ou reforma transformadora, Ou seja, no entendimento deste estudo, como aquela que provoque uma transformagio na estrutura do Cédigo Penal e, a partir dele, no ordenamento juridico. Afinal, o crime de estupto é um crime que primeiramente recaira sobre a pessoa e sobre o seu corpo para entio atingir Crimes hediondos sio aqucles definidos pela Lei n° 8.072/1990, dentre eles o estupro, os quais merecem ‘maior reprimenda por parte do Estado diante do seu grau de repugnancia social (ROSSI, 2016). 124 REVISTA ELETRONICA DISCENTE 00 CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 a sua dignidade, Logo, é um crime que deve vir no inicio do Cédigo Penal, no titulo dos crimes contra as pessoas. “Mascarada pela neutralidade que institui 0 poder masculino e operacionaliza a objetificagdo sexual das mulheres. Nesse sentido, o Estado ¢ masculino: ‘o Direito vé trata as mulheres da mesma maneira que os homens veem ¢ tratam as mulheres’ A (MACKINNON apud MOURA, 2017, p. 46). A compreensio da contribuigo do dircito para a manutengo ds hegemonia masculina no obnubila a sua possibilidade latent de consttuir um terreno propicio 20 desenvolvimento de regras que podem dar otigem a ‘ansformagGes importantes, inclusive na relagdo entre os dois sexos. (DAHL, apud MOURA, 2017, p. 48. Da forma como esti o CP, somado ao Direito, operam para manter as estruturas sociais de desigualdade e violéncia de género. Afinal, como diz Moura (2017, p. 48), 0 Direito evoluiu como uma “tecnologia de género” ”! ¢, por isso, reproduz inteligivelmente as categorias patriarcais que mantém as desigualdades entre homens e mulheres. © CP, por sua vez, acaba sendo um instrumento dessa tecnologia ao manter sua estruturagdo com os mesmos padrées, minando os avangos legislativos sobre o tema. Todavia, isso nao impede que esse diploma penal também seja transformado e utilizado como um caminho de transformagdes significativas para a sociedade e para os direitos das mulheres. O ESTUPRO E A CONSTRUGAO DOS DIREITOS SEXUAIS O termo stuprum é de origem latina e tinha a conotagdo de desonra ou vergonha, No “antigo Direito Romano, significava qualquer impudicicia praticada com homem ou mulher, casado ou nao” (FRAGOSO apud PECEt 30, 2018, p. 11) e era punido com morte, Com a Lex Julia de adulteris, em 18 d.C., 0 Direito Romano separou o estupro do adultério, referindo-se ao estupro como unio ilegal com vitiva e ao adultério como a “io sexual com mulher casada, Susan Brownmiller (1975, p. 15), destaca que “de tempos pré-histricos até o presente, (...) 0 estupro exerceu uma fungao critica. (...) E um processo consciente de Tecnologia de género, termo utilizado por Teresa de Lauretis em Technologies: essays on theory, film, and fiction (1987), delineia este construto tebrico a partir da visio foucaultiana sobre sexualidade enquanto tecnologia do sexo: segundo Michel Foucault, a sexualidade teria sido produzida pelo entrelagamento de uma complexa politica (normas, convengies, préticas, instituigdes) que produ. efeitos em corpos, comportamentos e relagSes sociais, e que por isso mesmo, ndo caracteriza algo existente a priori nos seres ‘humanahos. Género, em sua tcoria, segue a mesma linha: como representagdo da autorrepresentacao (SIC), & produto das diferentes tecnologias sociais, como o cinema, por exemplo. (MOURA, 2017, p. 49-50). 125 REVISTA ELETRONICA DISCENTE 00 CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 intimidago pelo qual — todos os homens ~ mantém — todas as mulheres — em um estado de medo”. Isso possui relagdo com a leitura que Maria Filomena Gregori (1993) faz do medo da violéncia, como ele mantém a mulher na condigio de vitima (nao sujeito de direitos) e na reprodugao da violéneia pelo medo. Brownmiller faz uma interessante abordagem sobre a visio da mulher como uma A propriedade do homem, em que é possivel estabelecer uma conexdo com os esterestipos do capitulo anterior. Segundo a autora, antigamente era “comum” estuprar a mulher do oponente durante a guerra como uma forma de retaliagdo & propriedade do adversario—a mulher. Por isso, manter 0 inimigo longe do territério ¢ ainda garantir a protegdo das mulheres era um desafio bastante dificil. E diante desses fatores, somados a incapacidade das mulheres em se autoprotegerem, é que surgiram as leis de estupro. A propésito, Pécego (2018) narra que foi na Idade Média que surgiu a figura do estupro como ato violento cuja pena era a morte. Igualmente, nesse sentido, 0 autor menciona que as OrdenagGes Filipinas puniam todo o homem que dormisse forgosamente com uma mulher. O crime de upto ndo era visto “como um crime do homem contra a mulher. (...) Mulheres eram subsididrios préprios e ndo seres independentes. Estupro no poderia ser imaginado como uma questo de consentimento ou recusa feminina” (BROWNMILLER, 1975, p. 18). Essa visio sobre como os crimes sexuais foram ganhando protesdo legal leva Brownmiller (1975, p. 18) a afirmar que “o estupro entrou para a lei pela porta dos fundos, por assim dizer, como um crime de propriedade de homem contra homem. A mulher, ¢ claro, era vista como a propriedade”. Percebe-se que, antigamente, ndo se cogitava 0 estupro como uma violéncia ao direito da mulher a integridade, dignidade ou liberdade sexual, pelo contratio, isso era impensével na época. Alias, ainda hoje nos discursos dos estupradores, eles no se definem como criminosos e veem 0 corpo da mulher como objeto de satisfagdo do homem que tem 0 direito de usufruir (SCARPATI, 2017). Em 1830, passou-se entdo a pena de prisdo para o estuprador, como narra Pécego (2018). No Brasil, 0 marco inicial sobre esse delito é pré-colonial, em que cada tribo indigena aplicava sua pena especifica ¢ era denominado “periodo da vinganga” (ROSSI, 2016, p.49). No periodo colonial, o pais colénia de Portugal até 1822 submeteu-se, entre outras ordenagdes reais, as Ordenages Filipinas ou “ 126 ‘édigo de Filipo, promulgado por REVISTA ELETRONICA DISCENTE 00 CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 Filipe I de Portugal”, 0 qual no titulo XVIII' previa que “todo homem, de qualquer estado e condigdo que seja, que forgosamente dormir com qualquer mulher posto que ganhe dinheiro por seu corpo, ou seja escrava, morra po ello”, ou seja, 0 estupro era punido com a pena de morte, exceto se a mulher fosse prostituta ou eserava, Apés a Proclamagio da Independéncia em 1822, editoram-se no Brasil alguns 7 Cédigos Penais, como narra Rossi (2016), sendo eles o Cédigo Penal do Império em 1830 que, além de ser o primeiro cédigo penal no pafs, usow a palavra estupro, o Cédigo Penal dos Estados Unidos do Brasil em 1890, as Consolidagdes das Leis Penais em 1932 e, finalmente, 0 Cédigo Penal de 1940. Em todos esses cédigos, 0 estupro era visto como uma protego das mulheres enquanto propriedades de homens, fossem eles o pai, o irmao, © marido, ete Esses perfodos das edigdes penais brasileiras dialogam com o t6pico estudado sobre as categorias de género em que, segundo Chaui (1985), as mulheres so vista como ‘um ser para o outro ea feminilidade e a maternidade fazem do corpo da mulher o ambiente perfeito para a sua dominagao e inferiorizag3o. Ou mesmo na visio de Safiotti (2004) sobre a construgo do patriarcado do género, na qual o patriarcado se apropria de diversos pensamentos para convencer as mulheres de sua inferioridade e para domind-las, ou mesmo, na visio de Lugones (2014), sobre a colonialidade do género no periodo colonial para explicar a inferioridade dos colonizados, ou ainda, como uma construgdo cultural de Gomes, L. F. (2018). Independente das abordagens com que essas autoras trabalham, é nesses petiodos do século XVI em diante que a categoria género surge para endossar a inferioridade das. mulheres, inclusive, a sua sujeigdo como uma coisa ou propriedade de um homem, Nesse aspecto, é importante fazer uma ponte com a ligdo de Silvia Federici (2015) sobre a caga as bruxas do século XVI e XVII na Europa, que reduziram as mulheres a objetos administrados por homens em favor do sistema capitalista, alienando seu direito reprodutivo e sexual, retirando a capacidade de sujeito e as transformando em propriedades dos homens, inferiores, passivas, irracionais. Isto, segundo a autora, deu-se através da legislagao, logo, tanto na Alemanha, Itilia, Franga, ete, foram editadas leis retirando a capacidade da mulher de gerir sua vida € negécios, inclusive, elas ndo poderiam sair sozinhas sem a companhia de um homem, sob a pena de serem atacadas, estuprad: et RASIL. Ordenagdes Filipinas. Disponivel em hltp://www! ci.uc.pUlhti/proj/flipinas/ Sind him, Acesso em: 08 jan, 2020. Termos e palavras extraidas e mantidas sem eorregdo, conforme versio original 127 REVISTA ELETRONICA DISCENTE DO CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 Através das legislagdes, prossegue Federici (2015), passou-se a exigir das mulheres uma mudanga de comportamento que foi adotada pela sociedade européia culminou na queima de centenas de mulheres acusadas de serem bruxas por ndo se studa no comportarem nos moldes legais e sociais, esteredtipos dos quais, conforme se t6pico anterior, foram criados para as mulheres no passado, mas que se aplicam hoje no presente, Tal fato, segundo a mesma autora, globalizou-se ¢ alastrou-se na América Latina no final do século XVII, coincidindo com o periodo em que diversos Cédigos Penais foram criados no Brasil, como visto anteriormente, ¢ o tratamento que estes atribuiam ao crime de estupro ¢ a objetificagdo da mulher. Inclusive, tem-se que a prépria construgdo do Direito ¢ do sistema juridico penal & pautada nesses valores que veem © homem como superior € a mulher como inferior, sendo que aquela que nio se adeque aos padrdes comportamentais sociais so tidas como Joucas e maldosas. Nao 4 toa, Samantha Moura, ao citar Mackinnon (2017, p. 45), diz que por “tras de uma aparente neutralidade das categorias juridicas, como se vé, esconde-se uma adesio prévia ao patriarcado” Para que 0 estupro deixasse de ser um crime contra mulher propriedades de homens -, segundo Samantha Moura (2017), para ser um crime contra os direitos sexuais, conceituados por Chacham (2004) como a dispos do corpo, a liberdade para 0 exercicio da sexualidade em seus amplos aspectos, bem como das preferéncias sexuais, da liberdade em escolher o parceiro ¢ das atividades sexuais, foi necessaria uma (des)construgo provocada por lutas feministas. Segundo Chacham (2004), essa construgio foi progressiva, todavia, lenta em relagio aos documentos das Organizagao das Nagdes Unidas que, apés diversas lutas, elevou o estupro como uma violagao de direitos humanos. Chacham (2004) assevera que 0 direito sexual propriamente dito teve inicio no Brasil a partir de 1960 com o feminismo de segunda onda, apés a invengdo da pilula anticoncepcional e da TV Conferéneia Mundial da Muther em 1995 na cidade de Pequim, que afirmou o direito 4 liberdade sexual como parte dos direitos humanos. Somente a partir dessa mudanga de cendrio pelas lutas feministas € que os direitos sexuais foram ecoando mudangas pontuais no Cédigo Penal de 1940, atualmente em vigor. O “Projeto de Lei da deputada Iara Bernardi resume as propostas dos movimentos feministas e juristas preocupadas com as situagées de discriminagio e violéncia as quais as mulheres eram secularmente sujeitas” (SOUSA; ADESSE, 2005, p.52). 128 REVISTA ELETRONICA DISCENTE DO CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 Consideragies Finais Observou-se, por meio deste trabalho, a fragilidade historica da legislagao brasileira quanto ao crime de estupro, pois, de acordo com as leis ainda vigentes, quem decidiré se uma violéncia sexual & crime ou ndo & 0 juiz, através da seletividade e de outros elementos juridicos, tais como: a motivacao, as circunstincias do crime e 0 comportamento da vitima, Segundo as teorias da vitimologia, diante da escassez de provas, num Direito Penal arcaico e patriarcal, moralista e conservador, 0 que vai pesar na sentenga sera se 0 comportamento da vitima foi ou nfio adequado e se sua palavra tem ou nio valor para condenar o seu agressor. Observou-se ainda, que o estupro e o estupro de vulneravel sio tipificados no artigo 213 ¢ 217-A do Cédigo Penal brasileiro e ambos so uma figura abstrata, pois 0 juiz decidiré em cada caso concreto se houve ou ndo estupro, ou seja, para fatos semelhantes, sentengas divergentes. Isso evidencia que o juiz nao sabe 0 que é um estupro —além da abstragao juridica, ¢ claro, tampouco o operador do Direito e os policiais que atendem as vitimas, a violéncia sexual é somada aos valores morais conservadores que recaem sobre o comportamento das mulheres vitimadas. Acrescenta-se que tais vitimas de estupro, até chegar a condenagdo de seus agressores, tém um triste caminho pela frente, afinal, necessitam noticiar 0 ocorrido as autoridades da seguranga piblica, em que, apesar de grandes avangos ¢ alteragdes pontuais, ainda permanece na estruturagdo do Cédigo Penal, Ou seja, 0 cédigo do macho, que em sua diviso tem o crime de estupro depois dos crimes contra os mortos, ¢ no nos crimes contra pessoas. Além da ideia de que o dano desse crime nao ultrapasse a esfera pessoal diante de uma sociedade liberal, cujo dano desaparece com Agua e sabio, fazendo com que 0 estupro ndo merega rigor em sua condenagao, pois faz parte do convivio social de uma sociedade machista, em que 0 macho é o predador ea fémea sua caga, Data de Submissao: 10/03/2022 Data de Aceite: 01/04/2022 Referéncias Fontes 129 REVISTA ELETRONICA DISCENTE 00 CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 BOURDIEU, Pierre. A dominacio masculina: a condigéo feminina e a violéncia simbélica, Rio de Janeiro: Bestbolso, 2014. BRASIL, Decreto n° 1.973, de 1° de agosto de 1996. Promulga a Convengao Interamericana para Prevenir, Punir ¢ Erradicar a Violéncia contra a Mulher, concluida em Belém do Pari, em 9 de junho de 1994. Disponivel em http:/www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/decreto/1996/D1973.htm, Acesso em: 05. jan. 2020. BRASIL, Decreto-Lei n” 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Cédigo Penal. Disponivel em http://www planalto gov.briceivil_03/decreto-lei/del2848compilado,htm, Acesso em: 05 jan, 2020. BRASIL. ONUBR. Documentos Temiaticos: Objetivos de Desenvolvimento Sustentével, Disponivel_ em __https://www.mma.gov-brlinformma/item/11600- informacoes-ambientais-ods-mma-publicacoes.html. Acesso em: 06 jan. 2020, BRASIL. Ministério da Educa io. Estereétipos, preconceito discriminagio racial. 2009. Disponivel em hutps://grupos.moodle.ufse.br/pluginfile.php/1706/mod_resource/content/0/modulo4/mo d4_unidade?_texto5.pdf, Acesso em: 29 nov. 2019. BRASIL, SSP/GO. Estupro em — Gis. Disponivel em hutps://www.seguranca.go.gov.br/ultimo-minuto/registros-de-estupro-recuam-226-em- goias-e-308-em-goiania.html, Acesso em: 05 dez. 2019, BRASIL. TJGO. Julgado. Disponivel em https://www.tigo jus.br/jurisprudencia/juris php, Acesso em: 29 dez. 2019. BRASIL. Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violéncia doméstica ¢ familiar contra a mulher, nos termos do § 80 do art, 226 da Constituigao Federal, da Convengao sobre a eliminago de todas as formas de discriminagio contra as mulheres ¢ da Convengdo Interamericana para Prevenir, Punir ¢ Erradicar a Violéncia contra a Mulher; 73 dispée sobre a criagdo dos Juizados de Violéncia Doméstica ¢ Familiar contra a Mulher; altera 0 Cédigo de Proceso Penal, 0 Cédigo Penal ¢ a Lei de Execugio Penal; ¢ da outras providéncias Diario Oficial da Unido, Brasilia, DF, 8.8.2006. 130 REVISTA ELETRONICA DISCENTE 00 CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 BRASIL. Lei n° 13.104, de 9 de margo de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Cédigo Penal, para prever 0 feminicidio como circunstancia qualificadora do crime de homicidio, e o art. 1o da Lei no 8,072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicidio no rol dos crimes hediondos. Diario Oficial da Unio, Brasilia, DF, 10.3.2015 7 Referéncias Bibliogréficas BROWNMILLER, Susan. Against our will: men, women, and rape. Bantam Books, 1975, CARDOSO, Isabela et al. A midia na culpabilizagio da vitima de violéncia sexual: os discursos de noticias sobre estupro em jornais eletrénicos. EID&A — Revista Eletronica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentagdo. Iheiis, n° 7, p. 69-85, dez. 2014. Disponivel em _http://uesc.br/tevistas/eidea/revistas/revista7/eid&a_n7_05_iv.pdf. Acesso: 10 jan. 2019, CHAU, Marilena, Participando do debate sobre mulher e violéncia. In: Franchetto, Bruna, Cavalcanti, Antropolégicas da Mulher 4, Sao Paulo: Zahar Editores, 1985, DUGUAY, Christian. Hitler — A Ascensio do Mal. Filme, CBS. Alliance Atlantis. Estados Unidos, 2003. FEDERICI, Silvia. Caliba e a bruxa, Mulheres, corpo ¢ acumulagao primitiva. Trad. Coletivo Sycorax. Sao Paulo: Elefante, 2015. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir, Nascimento da prisdo. 25. ed. Trad. Raquel Ramalhete. Petropolis: Vozes, 2002. GOMES, Luiz Flévio. Feminicidio: entenda as questdes controvertidas da Lei 13.104/2015. JusBrasil, 2018. Disponivel em |ttps://professorl fg jusbrasil.com. br/artigos/173139525/feminicidio-entenda-as- questoes-controvertidas-da-lei- 13104-2015. Acesso em: 05 jan. 2020. LUGONES, Maria. Rumo a um feminismo descolonial. Rev. Estud. Fem. 2014, vol. 22, n, 3, p. 935-952, ISSN 0104-026X. Disponivel em http://dx.doi.org/10.1590/S0104- 026X2014000300013. Acesso em: 05 jan. 2020. 131 REVISTA ELETRONICA DISCENTE 00 CURSO DE HISTORIA ~ UFAM, VOLUME 5, ANO 2, 2021 MOURA, Samantha N. C. Estupro de mulheres como crime de guerra: ligdes sobre dircito, feminismo e vitimizagdo, Campinas-SP: Servanda, 2017. ONU. Declaracgaéo dos Principios Basicos de Justica Relativos 4s Vitimas da Criminalidade e de Abuso de Poder. Adotada pela Assembléia Geral das Nagdes Unidas na sua resolugdo 40/34, de 29 de Novembro de 1985, Disponivel em hitps://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes- permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica- externa/DecPrincBasJustVitCriAbuPod.html. Acesso em: 05 jan. 2020. PECEGO, Anténio J. F. S. Delito de estupro: uma leitura tipolégica. Sao Paulo: Nova edigdes académicas, 2018. PEREIRA, E. M. Psicologia social dos esteredtipos. Sio Paulo: EPU, 2002. ROSSI, Giovanna. A culpabilizagio da vitima no crime de estupro: os esterestipos de género € 0 mito da imparcialidade juridica. Florianépolis: Empério do direito, 2016 SCARPATI, Arielle S. A cultura do estupro faz a culpa ser transferida do agressor para a vitima, Disponivel em hitps://professorlfg,jusbrasil.com.br/artigos/173139525/feminicidio-entenda-as- questoes-controvertidas-da-lei«13104-2015. Acesso em: 30 dez. 2019. SOUSA, Renata Floriano de. Cultura do estupro: pratica incitagdo a violencia sexual contra mulheres. Rev. Estud. Fem., Florianépolis, v. 25, n. 1, p. 9-29, abr. 2017. 132

You might also like