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Filme “A Queda do Céu” sobre os Yanomami estreia na Quinzena dos Cineastas de Cannes

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O documentário “A Queda do Céu", de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, foi o primeiro dos filmes brasileiros selecionados este ano a ser exibido no Festival de Cannes. A estreia do longa aconteceu neste domingo (19) na prestigiosa mostra paralela Quinzena dos Cineastas, na presença dos codiretores, do xamã Davi Kopenawa e do antropólogo francês Bruce Albert. 

O documetário brasileiro "A Queda do Céu", sobre a cosmologia Yanomami, estreiou em Cannes na mostra "Quinzena dos Cineastas"
O documetário brasileiro "A Queda do Céu", sobre a cosmologia Yanomami, estreiou em Cannes na mostra "Quinzena dos Cineastas" © Divulgação
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Adriana Brandão, enviada especial da RFI à Cannes

“A Queda do Céu”, sobre a cosmologia Yanomami, é baseado no livro homônimo de Davi Kopenawa e Bruce Albert. A obra foi publicada inicialmente em francês em 2010 e a tradução para o português é de 2013. “Li esse livro e foi um impacto muito forte. Costume dizer que o livro mudou meu cérebro de lugar”, lembra, em entrevista à RFI, Gabriela Carneiro da Cunha. “Passei a ver o meu mundo, o mundo não indígena, em uma perspectiva que nunca havia visto antes”. 

A ideia surgiu em 2017 e o longa levou 7 anos para ficar pronto. O filme foi rodado na Amazônia, no território e na língua Yanomami. Davi Kopenawa é “o narrador, o guia” do documentário, centrado na festa Reahu, o ritual funerário desse povo indígena.  

“O Davi nos convidou para filmar a festa Reahu em homenagem ao sogro dele, lá na comunidade de Watoriki. A Reahu é a principal festa Yanomami, que homenageia os mortos, as pessoas importantes que partiram”, conta Eryk Rocha à RFI, em Cannes. 

Os diretores de "A Queda do Céu", Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha.
Os diretores de "A Queda do Céu", Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. © Adriana Brandao/RFI

A equipe de filmagem, formada por apenas cinco pessoas, passou um mês com os indígenas na floresta. A experiência foi transformadora para o filme e também para a equipe. “Foi uma experiência muito radical de vida, de cinema, com toda a floresta poliglota, com todas essas vozes humanas e não humanas que habitam esse território Yanomami amazônico”, diz Rocha. 

A Reahu dura um mês, mas “começa a ser preparada um ano antes”, detalha Gabriela Carneiro da Cunha. A codiretora ressalta que “é bonito perceber como as coisas precisam de tempo". Ela fala de "uma festa comunitária em homenagem à vida de um grande homem, feita para encaminhar o espírito desse grande homem para o mundo dos mortos, que também é feita para segurar o céu sobre as nossas cabeças”. 

Ameaças contra os Yanomami e contra o planeta 

“A Queda do Céu” também aborda questões de hoje e ameaças contra os Yanomami, a floresta e o planeta. Segundo Eryk Rocha, o documentário “tem três eixos fundamentais”. O primeiro “é um diagnóstico da falência de um sistema que é o sistema capitalista ocidental”. 

O segundo eixo é o do alerta “sobre o fim do mundo, de uma catástrofe que já está acontecendo, porque, na verdade, o céu já está caindo sobre nós”, adverte Eryk Rocha. O codiretor indica que a tragédia atual no Rio Grande do Sul “é mais um exemplo marcante disso que o Davi chama da vingança, revolta da Terra, e que os cientistas chamam de aquecimento global”. 

A terceira e última temática, considerada primordial pelo o documentarista, é a “do convite. O convite para o sonho, para tentar inventar outros paradigmas de sociedade e de convivência, outros mundos”. 

A história, a evolução, dessa ameaça real é ilustrada no final do documentário com cenas de destruição dos filmes “Os Bandeirantes”, do brasileiro Humberto Mauro, e “A natureza”, do armênio Artavazd Pelechian, que retratam duas épocas diferentes. Esse final contrasta com a criação para o teatro de Gabriela Carneiro da Cunha, “Altamira 2042”, que também denuncia as consequências da destruição da floresta para os povos indígenas, mas termina com a imagem da usina de Belo Monte sendo destruída. Para ela, “para evitar a queda do céu é necessário evitar a construção de outras usinas como Belo Monte”. 

Encontro de dois mundos 

“A Queda do Céu” não pode ser definido apenas como um documentário etnográfico ou de denúncia. O filme começa com um longo e belo plano sequência da tribu liderada por Davi Kopenawa marchando em direção à câmera. Essa é, segundo Eryk Rocha, a imagem síntese do filme. 

“É um filme que fala do encontro ou desse desencontro, né?, desse embate entre mundos. É um filme tanto sobre a cosmologia Yanomami, quanto sobre nós mesmos. Não é só o Davi refletindo sobre a cosmologia ou o sonho, mas ele virando a câmera, o espelho para nós, para mostrar para quem quiser ver e ouvir a nossa própria fratura”, conclui o documentarista. 

“A Queda do Céu” concorre a vários prêmios, como o “Olho de Ouro” de melhor documentário, ou o do público, criado pela primeira vez este ano pela Quinzena dos Cineastas. O filho de Glauber Rocha já venceu o "Olho de Ouro", o prêmio de melhor documentário de Cannes, em 2016 com "Cinema Novo", sobre o movimento liderado pelo pai.

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