Navio do explorador Ernest Shackleton é encontrado no fundo do mar
Caçadores de naufrágio acharam a embarcação Quest usando equipamentos de sonar
Caçadores de naufrágios encontraram o navio Quest – outrora capitaneado pelo renomado explorador antártico Ernest Shackleton – praticamente intacto no fundo do oceano, a 15 milhas náuticas da costa do Canadá, anunciou a Royal Canadian Geographical Society.
Shackleton estava a bordo do famoso navio de exploração quando morreu de ataque cardíaco em janeiro de 1922. O Quest carrega não apenas a história de suas viagens, mas potencialmente artefatos de expedições que continuaram até 1962, quando o navio afundou, dizem os especialistas.
“Achar o Quest é um dos capítulos finais da extraordinária história de Sir Ernest Shackleton”, disse John Geiger, líder da expedição de busca e CEO da sociedade, num comunicado à imprensa. “Shackleton era conhecido pela sua coragem e brilhantismo como líder em tempos de crise. A trágica ironia é que esta foi a única morte ocorrida em qualquer um dos navios sob seu comando direto”.
Uma equipe de especialistas internacionais localizou o Quest usando equipamento de sonar em 9 de junho, após uma busca de 17 horas que cobriu cerca de 24 milhas náuticas. Antes de localizar o navio, a equipe conduziu meses de pesquisas e análises para encontrar a melhor área para procurar os destroços, disse o cientista marinho e oceanógrafo David Mearns, diretor da busca, em entrevista coletiva na quarta-feira (12) realizada pela sociedade.
Shackleton estava no que teria sido sua quarta expedição à Antártida quando morreu aos 47 anos enquanto atracava na Ilha Geórgia do Sul, no Atlântico Sul. O célebre explorador polar foi enterrado lá, e o navio e a tripulação continuaram, tentando completar a chamada Expedição Shackleton-Rowett. Mas o gelo dificultou a conclusão da viagem e o Quest regressou à Cidade do Cabo, na África do Sul, segundo o Museu de História Natural de Londres.
Originalmente, Shackleton pretendia usar o Quest para uma expedição canadense ao Ártico, mas não conseguiu a aprovação do primeiro-ministro do Canadá na época.
Sua morte marcou o fim do que é conhecido como a “era heroica” da exploração da Antártida. Mas a jornada da Quest não terminou aí.
Depois de ser vendido para uma empresa norueguesa, o navio realizou diversas outras expedições antes de terminar como embarcação utilizada para caça às focas. O Quest afundou em 5 de maio de 1962, após ser esmagado pelo gelo no Mar de Labrador, perto do Canadá, de acordo com o comunicado à imprensa. A tripulação abandonou o navio e marcou a localização final conhecida da embarcação, que ficava a 2,5 quilômetros de onde a expedição de pesquisa o encontrou.
“O fato de o Quest ter sido encontrado agora, aproximadamente em águas pelas quais ele teria passado se tivesse tido sucesso em seu sonho de uma expedição canadense ao Ártico, é de alguma forma apropriado que terminasse aqui”, disse Geiger em entrevista coletiva.
O navio afundou primeiro pela popa, devido ao seu motor pesado, e agora está em pé, 390 metros abaixo da superfície do oceano, disse Mearns em entrevista coletiva. “Estamos muito entusiasmados com a segunda fase da expedição, que consiste em fotografar e documentar visualmente o naufrágio e os artefatos”.
A sociedade espera retornar aos destroços para a segunda fase da expedição com um veículo operado remotamente, ainda este ano, disse Mearns.
O legado de Shackleton
Em 2022, caçadores de naufrágios encontraram o Endurance — um navio de uma das expedições anteriores de Shackleton — em águas antárticas, a mais de 3.000 metros abaixo da superfície.
O Endurance afundou em 1915 durante a viagem de Shackleton para tentar a primeira travessia terrestre da Antártida, depois que o navio ficou preso por placas de gelo no Mar de Weddell, perto da parte norte do continente gelado.
A tripulação levou botes salva-vidas para uma ilha desabitada próxima, conhecida como Ilha Elefante, mas foi apenas o pensamento rápido e a coragem de Shackleton que tirou todos da ilha quatro meses depois, quando ele e alguns homens viajaram num bote salva-vidas por 1.287 quilômetros para encontrar ajuda na Geórgia do Sul. Todos os 27 tripulantes sobreviveram, segundo a sociedade.
“Qualquer lembrança séria da liderança de Ernest Shackleton é uma coisa realmente boa no mundo de hoje”, disse Nancy Koehn, historiadora e professora de administração de empresas na Harvard Business School que estudou Shackleton. “Ele é apenas um excelente exemplo de líder que tornou ele e sua equipe capazes de tornar o impossível possível.”
É digno de nota que alguns homens da expedição Quest de Shackleton também estiveram na expedição Endurance que se tornou missão de sobrevivência, disse Koehn.
“Sempre que o mundo lê um pouco mais sobre Ernest Shackleton, ficamos um pouco mais inspirados, levamos um pouco mais a sério o nosso propósito e somos um pouco melhores na tentativa de nos tornarmos bons líderes”, disse ele.