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Candidatura ao CFM é suspensa após médica divulgar pesquisa que seria falsa

Pesquisa polêmica: decisão precisa ser confirmada pela Comissão Nacional Eleitoral  - Reprodução/UOL
Pesquisa polêmica: decisão precisa ser confirmada pela Comissão Nacional Eleitoral Imagem: Reprodução/UOL
do UOL

Do UOL, em Brasília

04/08/2024 14h45

A quatro dias de uma disputa polarizada politicamente na categoria, o registro de candidatura de uma chapa ao CFM (Conselho Federal de Medicina) foi suspenso após uma médica divulgar informações supostamente falsas relacionadas a uma pesquisa eleitoral.

A decisão, tomada por uma comissão regional, precisa ser confirmada pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) do Conselho, que pode recolocar a chapa nas eleições.

O que aconteceu

A médica Rosylane Mercês Rocha, da Chapa 1, enviou uma pesquisa eleitoral para algumas pessoas em um aplicativo de mensagem e, dias depois, mencionou-a numa rede social. Nela, seu grupo aparecia em primeiro lugar nas intenções de voto, com margem de erro de 3,2%.

Rosylane, que é vice-presidente do CFM e atua como médica do trabalho, já comemorou os ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. "Agora vai", disse ela em uma rede social, chamando de "pessoas de bem" os militantes bolsonaristas que invadiam os prédios do Executivo, do Legislativo e do Judiciário em Brasília.

A Chapa 3 pediu o cancelamento da candidatura da Chapa 1. A suspensão foi determinada pela Comissão Regional Eleitoral do Distrito Federal (CRE-DF) na noite de sábado (3).

Rosylane disse ao UOL neste domingo (4) que foi inocentada das acusações relacionadas ao 8 de janeiro e afirmou que a pesquisa eleitoral não é falsa. "Já entramos com recurso e vai ser julgado hoje ainda", disse. Segundo ela, a decisão da CRE não muda a situação. "A Chapa 1 continua no pleito normalmente."

A reportagem procurou o CFM e o Conselho Regional no DF por meio de correio eletrônico, telefonemas e mensagens para o presidente do CFM, José Hiran Gallo. Os esclarecimentos sobre a real situação da Chapa 1 serão publicados quando foram recebidos.

04.ago.2024 - Médica envia pesquisa considerada falsa para pessoa por whatsapp - Reprodução/UOL - Reprodução/UOL
Pesquisa é enviada por whatsapp
Imagem: Reprodução/UOL

As eleições para conselheiros do CFM acontecem na terça (6) e na quarta-feira (7). Os médicos votam de forma remota, pela internet. Cada estado e o DF elegem representantes para o Conselho. A AMB (Associação Médica Brasileira) indica mais dois representantes. Eleitos os conselheiros, é feita uma eleição interna para se definirem a presidência e as vice-presidências.
Nestas eleições, os médicos candidatos têm buscado apoio de parlamentares e partidos. Os pedidos muitas vezes refletem a polarização nacional entre PT e PL.

Empresa de pesquisa mudou versão

A confusão da pesquisa começou no mês passado. Questionada, a empresa de pesquisa Exata OP afirmou a um médico, primeiramente, que jamais fez levantamento eleitoral mencionado na mensagem de Rosylane, da Chapa 1. "A pesquisa em questão não foi conduzida pelo Exata OP", disse o diretor da empresa, Marcus Caldas, em resposta aos médicos. "Houve uma utilização indevida do nosso nome, associando-o a dados que não produzimos."

04.ago.2024 - Diretor de empresa negou realizar pesquisa eleitoral - Reprodução/UOL - Reprodução/UOL
Exata OP negou pesquisa e depois recuou
Imagem: Reprodução/UOL

Após receber a denúncia da Chapa 3, a comissão regional questionou diretamente a empresa Exata OP. A empresa de pesquisas mudou a versão inicial e afirmou ter feito um levantamento sobre as eleições entre 29 de junho e 8 de julho, após ser subcontratada por uma empresa que por sua vez foi contratada pela Chapa 1.

A margem de erro era de 4%, e não 3,2%. A pesquisa se referia a votos válidos e não a totais, enfatizou a comissão regional. Seriam 328 entrevistas por telefone com médicos do Distrito Federal, de acordo com a Exata. O intervalo de confiança foi de 92%. "Em nenhum momento o Instituto foi comunicado ou solicitada autorização para divulgação da referida pesquisa", afirmou a comissão na decisão.

A pesquisa custou R$ 12 mil e foi paga por uma empresa terceirizada contratada pela Chapa 1 para "estruturar o trabalho interno de marketing". Os candidatos da Chapa 1 não souberam explicar detalhes do levantamento.

04.ago.2024 - Médica divulga pesquisa considerada falsa em rede social - Reprodução/UOL - Reprodução/UOL
Pesquisa é divulgada em rede social
Imagem: Reprodução/UOL

A Chapa 1 negou ter divulgado a pesquisa, apesar de ter enviado imagem dela por meio de aplicativo de mensagens.

O envio da pesquisa por whatsapp, conforme assumido pela chapa 1 e 'prints' abaixo, também se configura como propaganda eleitoral mesmo que o envio seja individual, logo a alegação da chapa 1 de que não havia divulgado antes por somente ter enviado por whatsapp carece de fundamentos lógicos.
Decisão da Comissão Regional Eleitoral do DF

A Chapa 1 disse que só divulgou informações da pesquisa diante de ataques da chapa 3 de que teria produzido um levantamento falso. A comissão levantou "sérias dúvidas sobre a conduta da Chapa 1". "A Chapa 1, ao se deparar com 'supostos ataques da Chapa 3', deveria ter acionado a CRE para apuração dos fatos e aguardado uma decisão oficial e não utilizar disso para divulgar uma pesquisa que ela não consegue sequer provar que é verdadeira ou atende a legislação eleitoral."

A comissão regional também viu incoerência nas declarações da empresa de pesquisa Exata OP. "Há uma inconsistência notável nas declarações da empresa Exata, que inicialmente afirmou não ter realizado a pesquisa e, logo depois, reverteu essa alegação, informando que a pesquisa havia sido feita, mas os dados se referiam a votos válidos e não totais".

Diante das evidências apresentadas (...) esta Comissão Regional Eleitoral decide (...) determinando o cancelamento do registro da Chapa 1 - "Reunir & Trabalhar", com fundamento no art. 11, §2º e art. 47, II, da Resolução CFM nº 2.335/2023, pela divulgação de informações falsas que comprometem a lisura do processo eleitoral.
Decisão da Comissão Regional Eleitoral do DF

A comissão encaminhou o processo para o Ministério Público Federal (MPF) para verificar se algum crime foi cometido em atitudes "relacionadas à produção e disseminação de informações falsas no contexto eleitoral". "A evidência de suposto crime eleitoral coloca a chapa sub júdice inclusive até depois do pleito, pois pode ser condenada até na Justiça federal", afirmou a médica Isadora Calvo, da Chapa 3, adversária de Rosylane, à reportagem.

Decisão precisa ser confirmada

A comissão regional encaminhou a decisão à Comissão Nacional Eleitoral para ser confirmada. Com base nisso, na manhã deste sábado (3), Rosylane Rocha divulgou um vídeo em que disse que sua Chapa 1 continua na disputa.

"Estão espalhando uma fakenews de que a Chapa 1 não está mais no pleito", reclamou Rosylane. Ela disse que uma decisão anterior da CRE também foi anulada pela comissão nacional. "Tenho certeza de que esta também vai ser anulada, porque é mais uma tentativa de tirar a chapa preferida, a chapa vencedora do páreo."

Pesquisa é verdadeira, diz médica

Em entrevista ao UOL, Rosylane disse que a pesquisa é verdadeira. O levantamento, segundo ela, não foi divulgado publicamente, mas apenas compartilhado com uma pessoa numa conversa privada que foi obtida pela Chapa 3.

Sim, é verdadeira, só que a gente não fez a divulgação. Quem fez a divulgação foi a Chapa 3. A gente estava fazendo a pesquisa para alinhar nossa campanha. Não era para divulgar.
Rosylane Rocha, médica da Chapa 1

Ela disse que a menção em rede social só aconteceu depois quando o site Metrópoles noticiou que a empresa Exata OP mudou de posição e afirmou que o levantamento existia. "Isso aí foi depois", contou ao UOL. "Eu coloquei a publicação do 'Metrópoles'." Ela reclamou da decisão da CRE ter chegado à imprensa, porque o processo é sigiloso.

Rosylane não quis explicar o que quis dizer ao chamar militantes de "pessoas de bem" na invasão dos prédios dos Três Poderes em 8 de janeiro com a frase "Agora vai". Mas a médica afirmou que foi investigada e inocentada ao final de tudo, sem dar detalhes. "Eu já respondi tudo o que tinha que responder. Passei por todas as investigações e processos. Eu fui inocentada de tudo. Não tenho mais nada o que falar. Eu não estava lá. Eu não fiz nada daquilo. Já sofri várias perseguições por causa disso aí."

A integrante da Chapa 3 Isadora Calvo disse à reportagem que a pesquisa favoreceu os adversários. "Um membro de alto escalão tentar manipular a opinião pública, divulgando informação falsa de pesquisa, é imoral e incompatível com o cargo", afirmou ela ao UOL.

A ética, transparência e a verdade devem prevalecer em qualquer pleito eleitoral e eventuais infrações devem ser punidas de acordo com as normas eleitorais.
Isadora Calvo, médica da Chapa 3

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