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Ecos da Lava Jato: por que Lula evita comentar possível prisão de Bolsonaro

Aliados veem poucos benefícios em comentário de Lula sobre possível indiciamento de Bolsonaro - Kleyton Amorim/UOL
Aliados veem poucos benefícios em comentário de Lula sobre possível indiciamento de Bolsonaro Imagem: Kleyton Amorim/UOL
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Do UOL, em Brasília

10/07/2024 04h00

O presidente Lula (PT) tem motivos para evitar falar sobre o possível indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Oficialmente, o Planalto diz que não cabe ao petista comentar o caso, mas ele também tem razões ligadas ao tempo que passou na prisão para não tratar do assunto.

O que aconteceu

A PF (Polícia Federal) fez o pedido de indiciamento de Bolsonaro na última segunda (8). O ex-presidente é acusado de formar associação criminosa para desviar mais de R$ 6 milhões em presentes recebidos por ele em visitas oficiais enquanto chefe de Estado. O caso seguiu para análise da PGR (Procuradoria-Geral da República), que tem 15 dias para se pronunciar.

Lula evita comentar o assunto. Não postou nada em suas redes sociais sobre o inquérito nem tratou disso nos últimos discursos. Além de já ter sido aconselhado a não ficar falando o nome de Bolsonaro, Lula insiste no direito de defesa e na presunção de inocência, num tom mais brando do que costuma usar para avaliar o governo do ex-presidente.

Há dois motivos principais, segundo aliados, e ambos estão indiretamente ligados à Lava Jato. Preso pela operação, Lula quer manter a coerência do discurso de "inocente até que se prove o contrário", usado por ele, inclusive, para acusações contra ministros, e também quer evitar o impulsionamento da narrativa, já usada por bolsonaristas, de que Bolsonaro estaria sofrendo perseguição política.

Presunção de inocência

Desde que foi preso, em 2018, Lula se tornou um dos grandes críticos das operações espetaculosas. Conduzido coercitivamente pela Lava Jato naquela época para prestar depoimento, o presidente tem repetido com frequência desde então que "todos têm direito a uma defesa justa" e que "indiciamento não é prova".

Argumento explica seu caso e os de pessoas próximas. É assim, por exemplo, que ele defende e justifica a permanência do ministro Juscelino Filho (Comunicações), que também tem pedido de indiciamento da PF por suposta corrupção e lavagem de dinheiro enquanto deputado. Depois de muita pressão, Lula disse que ele sai da equipe ministerial se a PGR aceitar a denúncia. Até lá, fica no cargo.

Bolsonaro não poderia ser tratado diferente, dizem aliados. Além de manter a coerência do discurso, Lula não quer que isso seja usado como forma de ataque a ele e a seu partido no futuro.

Ecos da Lava Jato

Volta mais forte após prisão. Lula gosta de lembrar da resistência enquanto esteve preso, quando disse que voltaria mais forte à política. Por isso, tanto aliados quanto o próprio presidente reforçam a estratégia de evitar citar o nome de Bolsonaro —plano muitas vezes ignorado pelo próprio petista—, focando as críticas na administração dele e esquecendo "a pessoa física".

O ponto é tentar não ajudar na narrativa de perseguição. No Planalto, argumentam que há provas irrefutáveis contra o ex-presidente em diferentes investigações, como no caso das joias, do cartão de vacinação e, em especial, da tentativa de golpe, por isso os processos devem avançar.

Também evita-se a narrativa do injustiçado e margem a dar capital político. Lula já liderava as pesquisas para as eleições de 2018 quando foi preso, mas, no Planalto, ninguém nega que a saída da prisão e a anulação do processo lhe deram mais força para concorrer em 2022. Propagandear a prisão de Bolsonaro poderia, indiretamente, contribuir para ocorrer algo semelhante com o adversário.

Qualquer manifestação pública do presidente, dizem, teria mais impacto negativo do que benefícios. Lula tem preferido destacar a autonomia da Polícia Federal na sua gestão, fazendo mais um contraponto a Bolsonaro, acusado por ex-ministros de interferir nas ações da instituição em prol da sua família.

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