Por que preço do petróleo está subindo novamente apesar de baixa demanda

Uma plataforma de petróleo russa no Ártico

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Rússia produz mais de 10 milhões de barris de petróleo por dia

Os maiores exportadores de petróleo do mundo se reuniram em 5 de outubro, em meio a apelos de todo o mundo para reduzir o preço do petróleo.

Os preços atingiram seus níveis mais altos em oito anos em junho. Desde então, perderam força, mas permanecem em patamar historicamente alto.

Nesse cenário, os países importadores pediam aos membros do grupo de produtores de petróleo, a Opep+, que aumentassem seus suprimentos.

No entanto, os principais países da Opep+ não parecem dispostos a ajudar.

Na contramão dos anseios dos países importadores, os maiores exportadores de petróleo do mundo chegaram a um acordo para reduzir a produção em 2 milhões de barris por dia.

O grupo, que inclui a Rússia, tem como objetivo manter os preços do petróleo elevados, mesmo em meio a uma demanda enfraquecida pelo esfriamento da economia global.

O que é a Opep+?

A Opep+ é um grupo de 23 países exportadores de petróleo que se reúne regularmente para decidir quanto petróleo bruto vender no mercado mundial.

No núcleo deste grupo estão os 13 membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que são principalmente países do Oriente Médio e da África. A Opep foi formada em 1960 como um cartel, com o objetivo de fixar a oferta mundial de petróleo e seu preço.

Hoje, os países da Opep produzem cerca de 30% do petróleo bruto do mundo. A Arábia Saudita é o maior produtor de petróleo da Opep, produzindo mais de 10 milhões de barris por dia.

Em 2016, quando os preços do petróleo estavam particularmente baixos, a Opep uniu forças com 10 outros produtores de petróleo para criar a Opep+.

Esses novos membros incluíam a Rússia, que também produz mais de 10 milhões de barris por dia.

Juntas, essas nações produzem cerca de 40% de todo o petróleo bruto do mundo.

"A Opep+ adapta a oferta e a demanda para equilibrar o mercado", diz Kate Dourian, do Energy Institute de Londres. "Eles mantêm os preços altos ao reduzir a oferta quando a demanda por petróleo cai."

A organização também pode baixar os preços colocando mais petróleo no mercado.

Por que a Opep+ está reduzindo a produção de petróleo?

Em sua primeira reunião presencial em Viena desde março de 2020, os membros da Opep+ concordaram em reduzir a produção dos níveis de agosto de 2022 em dois milhões de barris por dia, para menos de 42 milhões de barris.

O corte, que entrará em vigor a partir de novembro, representa cerca de 2% da oferta global de petróleo e é maior do que o esperado.

É a maior redução da Opep+ desde 2020, quando o grupo cortou a produção em mais de 9 milhões de barris por dia em resposta à pandemia.

A medida foi projetada para aumentar o preço do petróleo, que caiu abaixo de US$ 90 (R$ 468), de uma máxima de US$ 122 em junho. Os preços subiram após o anúncio.

A alta do petróleo elevou os preços da gasolina em todo o mundo e contribuiu para o aumento da inflação nos países.

Os Estados Unidos pediram à Opep+ que não avançasse com os cortes de produção, em parte porque preços mais baixos significam menos receita para a Rússia. A Casa Branca chamou a decisão de "míope".

Em julho, o presidente dos EUA, Joe Biden, visitou a Arábia Saudita, o maior produtor de petróleo da Opep+, para pedir ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman que aumentasse a produção de petróleo. O líder saudita recusou.

O ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson também pediu à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos para aumentar a produção, sem sucesso.

Por que os preços do petróleo dispararam?

Em 2020, quando a covid-19 se espalhou pelo mundo e os países entraram em confinamento, o preço do petróleo caiu devido à falta de compradores.

"Os produtores estavam pagando às pessoas para tirar o óleo de suas mãos, porque não tinham espaço suficiente para armazenar tudo", diz Dourian.

Depois disso, os membros da Opep+ concordaram em reduzir a produção em 9,7 milhões de barris por dia, para ajudar a elevar o preço.

Desde então, o grupo aumentou lentamente a produção, à medida que a demanda também cresceu.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, o preço do petróleo subiu para mais de US$ 100 por barril. Os mercados estavam preocupados que as sanções globais pudessem levar à escassez de petróleo russo.

O preço caiu desde então, provocando especulações de que a Opep+ cortaria a produção.

O que está acontecendo com o petróleo russo?

O presidente russo Vladimir Putin e o secretário-geral da Opep Mohammad Barkindo

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Legenda da foto, O presidente russo, Vladimir Putin, e o secretário-geral da Opep, Mohammad Barkindo

Depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, muitos países compraram menos petróleo russo e seu preço começou a cair.

A certa altura, o petróleo russo estava mais de US$ 30 por barril mais barato do que o petróleo Brent, referência internacional do mercado de petróleo. No final de setembro, estava cerca de US$ 20 por barril mais barato.

Índia e China — que não tomaram parte nas sanções contra a Rússia devido à guerra na Ucrânia — agora respondem por metade das exportações de petróleo do país.

A Rússia é agora o maior fornecedor de petróleo da China, substituindo a Arábia Saudita.

Em março deste ano, a China e a Índia importaram mais petróleo da Rússia do que os 27 estados membros da União Europeia (EU).

A UE planeja impor um embargo ao petróleo bruto russo a partir de 5 de dezembro. O embargo valerá para o petróleo bruto enviado por navios-tanques e para a maioria dos suprimentos canalizados.

No Brasil, a alta dos preços dos combustíveis levou o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, a reduzir o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Produtos) sobre esses produtos.

Junto à queda do barril do petróleo desde junho, a medida contribuiu para redução do preço da gasolina, diesel e gás de cozinha e para a deflação registrada em julho e agosto.

Agora, com os preços do petróleo novamente em alta, a expectativa seria de reajuste de preços pela Petrobras. Mas, às vésperas do segundo turno das eleições, a petroleira informou que considera as altas recentes do petróleo "movimentos especulativos", insuficientes para reajustes.

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