Milton Ribeiro deixa MEC: relembre as crises dos 4 ministros da Educação sob Jair Bolsonaro
Um dos ministérios mais importantes do governo terá seu quinto ministro desde o início do governo de Jair Bolsonaro. Milton Ribeiro pediu demissão nesta segunda (28/03) do cargo de titular da Educação.
A pasta tem um dos maiores orçamentos da Esplanada dos Ministérios, mas foi uma das áreas mais afetadas por cortes de gastos - justamente durante o período da pandemia, quando as escolas tiveram que se adaptar para o ensino online e híbrido.
Foi também uma das pastas em que a ala ideológica do governo se fez mais presente.
Alguns especialistas em educação criticam o Ministério da Educação (MEC) na atual gestão por focar demais em propostas muito ligadas às pautas de costumes do governo Bolsonaro, como as escolas cívico-militares e o homeschooling, e menos nos desafios mais amplos da educação brasileira, como ajudar as redes municipais e estaduais a implementar e executar o ensino online durante o auge da pandemia de covid-19.
Milton Ribeiro, que é pastor evangélico, deu várias declarações polêmicas durante os quase dois anos em que permaneceu no cargo.
Em uma entrevista, associou a homossexualidade a "famílias desajustadas" e que adolescentes estavam "optando por serem gays" - declarações que o levaram a ser denunciado pela Procuradoria-Geral da União por suposto crime de homofobia.
Mas o que levou à demissão do ministro foi a revelação de um aparente esquema de corrupção dentro do Ministério da Educação, em que prefeituras ligadas a pastores evangélicos e ao chamado bloco do Centrão estariam sendo favorecidas com mais recursos na educação.
Em um áudio revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, Milton Ribeiro disse que dava preferência a indicações dos pastores a pedido do próprio Bolsonaro - algo que o ministro depois negou.
Bolsonaro disse em sua live semanal que botava "a cara no fogo" por Ribeiro, mas o desgaste político acabou levando à saída do ministro.
Agora, com a saída de Ribeiro, assume interinamente o atual secretário-executivo do ministério, Victor Godoy Veiga.
Os desafios na Educação são históricos, e ficaram mais graves desde a pandemia de covid-19.
O Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, principal porta de entrada para o ensino superior, teve menos de 3,5 milhões de inscritos em sua edição de 2021, o número mais baixo desde 2005. A prova já chegou a ter 8,7 milhões de participantes.
O Inep, órgão do MEC que prepara a prova do Enem e outras avaliações essenciais para medir a qualidade do ensino, passa por uma crise de grandes proporções, depois de denúncias de tentativas de interferência do governo federal no conteúdo das questões e de assédio moral contra servidores, no final do ano passado.
Passado um ano e meio desde o início da pandemia, mais da metade (51%) dos alunos da rede pública brasileira seguiam, em 2021, sem ter acesso a um computador com internet, apontou uma pesquisa publicada no início de novembro, realizada pelo instituto Datafolha sob encomenda de institutos educacionais.
Outra pesquisa, do Instituto de Estudos Socioeconômicos, calcula que um em cada cinco alunos (ou 20%) do ensino médio da rede pública brasileira ficou sem aulas durante a pandemia - proporção que aumenta para 26,8% entre estudantes da zona rural.
As crises com os ministros anteriores
Antes de Milton Ribeiro, o último ministro ficou apenas cinco dias no cargo: Carlos Decotelli, nomeado em junho de 2020, pediu demissão quando vieram à tona denúncias de irregularidades em seu currículo lattes, desde acusações de plágio em sua produção acadêmica até questionamentos aos títulos que ele dizia ter.
Ao anunciar o nome do novo ministro em suas redes sociais, Bolsonaro destacou sua formação: "Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela UERJ, mestre pela Fundação FGV, doutor pela Universidade de Rosário, Argentina, e pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha".
As inconsistências começaram a aparecer depois que o próprio reitor da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, Franco Bartolacci, afirmou que o novo nome anunciado para o MEC nunca concluiu o doutorado e que a tese dele foi reprovada, justamente o contrário do registrado no currículo do professor.
Antes de Decotelli, o titular do MEC foi Abraham Weintraub, um dos ministros mais beligerantes do governo Bolsonaro e que ficou pouco mais de um ano no cargo.
Próximo dos filhos do presidente e popular entre a militância bolsonarista, Weintraub deixou o cargo após a escalada da crise causada por suas declarações contra ministros do STF.
A declaração que detonou essa crise ocorreu naquela reunião ministerial de 22 de abril de 2020, que foi tornada pública por ordem judicial: "'Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF".
A declaração inflamou a crise entre o governo e o Supremo Tribunal Federal e fez com que Weintraub acabasse sendo incluído no inquérito do STF sobre divulgação de notícias falsas e ofensas aos ministros da Corte.
Weintraub também foi alvo de outro inquérito por racismo, depois de uma postagem que teve a China como alvo.
Em abril de 2020, no início da pandemia do novo coronavírus, ele publicou em sua rede social a capa de um gibi da Turma da Mônica, uma edição especial sobre a China.
E, zombando do sotaque de alguns asiáticos ao falar português, ele afirmou que a China estaria por trás de um "plano infalível" para dominar o mundo pós-pandemia.
A reação de diplomatas chineses foi dura, classificando a postagem de "absurda" e "racista".
O primeiro ministro da Educação sob Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodríguez, foi demitido em abril de 2019, pouco mais de um ano depois de assumir.
Vélez havia proposto revisões polêmicas em livros didáticos, propondo mudar a forma como o golpe de 1964 e a ditadura militar eram ensinados. Também pediu que as escolas filmassem as crianças cantando o hino nacional, e recuou depois que emergiu a preocupação com a privacidade dessas crianças.
O que derrubou o ministro, colombiano naturalizado brasileiro, foi uma disputa de poderes dentro do Ministério da Educação, entre as alas militares e ideológica - esta última ligada ao guru bolsonarista Olavo de Carvalho, morto em janeiro deste ano.
Outra polêmica que reverberou nas redes sociais foi quando o ministro disse que "o brasileiro, viajando, é um canibal": "Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola".
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