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O APOCALIPSE É AGORA: A EXTINÇÃO DAS ABELHAS

2022, ANAIS DO I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CRÍTICA FEMINISTA E AUTORIA FEMININA

Abstract

Este trabalho propõe uma análise do livro A extinção das abelhas (2021), da gaúcha Natalia Borges Polesso. Publicado no ano 2 da pandemia por COVID-19 que abala o século XXI, o novo romance de Polesso apresenta o futuro próximo e possível de um Brasil devastado pelo uso de agrotóxicos e pesticidas que gera colapso ambiental, pela governança irresponsável que agrava qualquer crise e pela realização de um jogo de violência direcionada a grupos sociais marginalizados. Ao percorrer os passos da protagonista Regina, busco as conexões entre realidade e ficção e percebo a resistência das mulheres mesmo nas situações mais desfavoráveis.

MULHERES NEGRAS E SUBVERSÃO EM CONTOS DE "O TAPETE VOADOR", DE CRISTIANE SOBRAL

O APOCALIPSE É AGORA: A EXTINÇÃO DAS ABELHAS

POÉTICA COM LUZES NEGRAS: OLHARES SOBRE A ESCRITA DE DENISE FERREIRA DA SILVA

TRADUZIR A LITERATURA ESCRITA POR MULHERES: UM ESTUDO SOBRE A TRADUÇÃO DO CONTO RETÓRICOS ANÓNIMOS, DE MERCEDES CEBRIÁN O APOCALIPSE É AGORA: A EXTINÇÃO DAS ABELHAS

Lisiane Andriolli DANIELI (FURG) 143

RESUMO: Este trabalho propõe uma análise do livro A extinção das abelhas (2021), da gaúcha Natalia Borges Polesso. Publicado no ano 2 da pandemia por COVID-19 que abala o século XXI, o novo romance de Polesso apresenta o futuro próximo e possível de um Brasil devastado pelo uso de agrotóxicos e pesticidas que gera colapso ambiental, pela governança irresponsável que agrava qualquer crise e pela realização de um jogo de violência direcionada a grupos sociais marginalizados. Ao percorrer os passos da protagonista Regina, busco as conexões entre realidade e ficção e percebo a resistência das mulheres mesmo nas situações mais desfavoráveis.

Palavras-chave: pandemia; mulheres; violência; resistência.

ABSTRACT: This article proposes an analysis of the book A extinção das abelhas (2021), by Natalia Borges Polesso, from Rio Grande do Sul. Published in year 2 of the COVID-19 pandemic that shakes the 21st century, Polesso's new novel presents the near and possible future of a Brazil devastated by the use of pesticides and pesticides that generate environmental collapse, by irresponsible governance that aggravates any crisis and for carrying out a game of violence directed at marginalized social groups. As I walk through the steps of the protagonist Regina, I look for the connections between reality and fiction and notice the resistance of women even in the most unfavorable situations.

Keywords: pandemic; women; violence; resistance.

No momento em que escrevo este texto, o planeta Terra passa pela pandemia de COVID-19, uma doença infecciosa causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 144 . Desde o primeiro caso registrado, em 31 de dezembro de 2019, mais de 295 milhões de pessoas foram contaminadas e mais de 5 milhões de pessoas morreram em decorrência da doença, sendo 620 mil apenas no Brasil 145 . Em maio de 2020, ainda no início da situação, diversas lideranças mundiais assinaram uma carta aberta aos governos para que todas as pesquisas e os resultados de vacina e tratamentos contra a doença fossem de livre acesso e que a realização da futura imunização não fosse realizada com base no poder financeiro de cada país, visando a vacinação rápida e gratuita de toda a Depois, há uma parte chamada Vão, que descreve uma cosmogonia da vida, considerando que "No princípio era a palavra. Não a palavra inerte, mas a língua em ação." (POLESSO, 2021, p. 241), e disso surge a matéria, as cores, as plantas, criaturas móveis e ela cria um duplo, a quem chama Deus. Assim, Deus cria semelhantes "inconscientes de seus potenciais divinos" (POLESSO, 2021, p. 242) e com eles se diverte até que se entedia e os abandona.

A terceira e última parte do romance pode ser considerada esperançosa, porque, mesmo após o colapso total da região em que Regina mora, ela é encontrada por Lu, uma ex-namorada de Aline e com quem Regina também se relacionou furtivamente. A protagonista é encontrada atordoada, sozinha, suja, carregando na mochila um cadáver felino que acredita ser Paranoia. Ao mesmo tempo, somos apresentadas à cerimônia de morte e cremação de Lupe, demonstrando que só nos resta, em qualquer tempo, as memórias que temos e que outras pessoas têm de nós.

Lu está de carro e leva Regina para São Borja, onde se encontram com outras três mulheres:

Pietra, Glória e Aurora e partirão para uma comunidade na cidade de Resitencia, na Argentina, com o propósito de sobreviver ao apocalipse. É preciso que elas sejam bastante estratégicas nessa fuga, afinal, quem estava nas zonas que foram fechadas não deveriam ter sobrevivido. Elas cruzam a fronteira e quando chegam em um penúltimo ponto de abastecimento, o casal glória e Aurora dizem que não vão partir com elas para o destino final, pois querem viver uma vida normal na cidade.

Como lésbicas não são aceitas em sociedade, Aurora revela que vai utilizar de seu privilégio masculino e diz que vai entrar em Córdoba como Alceu, revelando, assim, que, para ele, ser mulher era apenas uma autoidentificação:

-Eu não quero ir pra uma comunidade; quero voltar pra uma cidade -Glória insistiu, contrariada.

-Eles não vão deixar um casal de sapatonas entrar, esqueceu? Podem tá deixando entrar gente, mas sapatão eles não deixam -Pietra disse -, vão pegar vocês e botar em jaulas. Ou vocês esqueceram do que aconteceu nos últimos anos, com esses merdas de extrema direita e essas igrejas aí? Aurora olhou para a água e mordeu os lábios. Depois falou, meio sem graça. A narrativa termina com duas cartas, uma de Lupe para Regina, contando sua chegada no norte, que aquela era uma comunidade aberta que recebia pessoas fugindo do apocalipse e que recentemente havia chegado um grupo de mulheres e que outras estavam por vir. E uma última