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Os organizadores
Porto Velho (RO), agosto de 2020.
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O livro que o leitor tem em mãos é fruto de um trabalho cole vo levado a
efeito pelos autores que acolheram o desa o proposto pelos organizadores de
r mv u Filoso a do Direito a par r de diversos contextos e problemas, mas
que tem um, por assim dizer, núcleo comum: a contemporaneidade. É certo que
os conceitos, quando dissociados de seu necessário contexto, são nada mais do
que chavões que não cumprem a função para as quais aqueles existem: orientar
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buscou, ao m e ao cabo, responder. Posto isso, o que devemos entender por
contemporâneo? A seguir, as lições de Roland Barthes no o
, “[…]
contemporâneo é o intempes vo”. Trata-se, como se pode perceber, de um
conceito interessante, quase um paradoxo: se geralmente pensamos o contemporâneo como aquilo que nos é atual, no tempo e no espaço, para Barthes ele
signi ca aquilo que é extemporâneo, aquilo que chega atrasado e, por isso, é
imprevisto, mesmo inoportuno. Nesse sen do, todos os trabalhos aqui reunidos se preocupam em dar respostas a problemas contemporâneos-extemporâneos da loso a jurídica, seja em sen do estrito, seja em uma interpenetração
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Portanto, queremos agradecer a todos quanto colaboraram para o surgimento desta coletânea e à Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento
das Ações Cien cas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia (FAPERO), cujo nanciamento permi u a organização e a publicação deste material.
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Copyright © 2020 dos autores.
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parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9. 10).
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os acontecimentos políticos mundiais dos últimos anos é provavelmente
o espanto. Antes que positivos, negativos ou mesmo trágicos, eles resulі
tam antes de qualquer coisa inesperados. Mais ainda, se opõem a todo
cálculo razoável de probabilidade. Da queda repentina e incruenta do
sistema soviético em 1989 ao ataque de 11 de setembro de 2001, com
tudo o que lhes há seguido, pelo menos o que se pode dizer é que não
ņłŀĸŁŇĸŁĴķĴŁłņĹĴōļĴļŀĴĺļŁŏіĿłņёĶłŀłёļŁĶĿňņļʼnĸёńňĸŇňķłļŁķňōļĴĴ
considerá-los inverossímeis.
Naturalmente, certo grau de imprevisibilidade acompanha todo
acontecimento coletivo, como a história o demonstra desde sempre. No
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consentidos por uma série de condições que os zeram, se não prováveis,
certamente possíveis. A mesma consideração se pode fazer, de forma ainda
mais clara, para as quatro décadas que procederam ao nal da Segunda
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ĴłļŀŃŅĸʼnļņŇłёĴŃłŁŇłķĸńňĸłńňĸłĶłŅŅĸňёĸŀĶĴķĴňŀķłņķłļņĵĿłĶłņё
ŃĴŅĸĶĸňņĸŅłŅĸņňĿŇĴķłńňĴņĸĴňŇłŀŏŇļĶłķĸňŀĽłĺłĶłŁĻĸĶļķłĸŃŅĸʼnļņƓі
vel em todos seus movimentos.
Não obstante, esta ordem política que parecia ter que governar ainі
ķĴ ŃłŅ ŀňļŇł ŀĴļņ ŇĸŀŃł Ĵņ ŅĸĿĴŬƹĸņ ļŁŇĸŅŁĴĶļłŁĴļņё ĹĴōіņĸ ĸŀ ŃĸķĴŬłņ
de repente. Primeiro na forma de implosão, o sistema soviético, e depois,
de explosão, com o terrorismo. Por quê? Como se explica esta inesperaі
ķĴ ŀňķĴŁŬĴ ķĸ ĹĴņĸѝ ķĸłŁķĸёĸŋĴŇĴŀĸŁŇĸё ņĸłŅļĺļŁĴѝ ŅĸņŃłņŇĴ ńňĸ
geralmente afronta a estas interrogações se faz referindo-se ao nal da
guerra fria e à conseguinte chegada da globalização. Contudo, deste modo,
ņĸ ĶłŅŅĸł ŅļņĶł ķĸ ļŁŇĸŅĶĴŀĵļĴŅ Ĵ ĶĴňņĴ Ķłŀ ł ĸĹĸļŇłё łĹĸŅĸĶĸŁķł Ķłŀł
explicação o que deveria ser explicado.
1 Trata-se da exposição feita pelo autor na Cidade de Buenos Aires, no dia 25 de setembro de 200 , por ocasião de
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Também a tese, mais recente, que faz referência ao chamado choі
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enfrentar o tema com uma interpretação adequada. Por que as civilizações,
ņĸ ńňļņĸŅŀłņ ňŇļĿļōĴŅ ĸņŇĴ ŃĴĿĴʼnŅĴ ĶłŀŃĿĸŋĴё ķĸŃłļņ ķĸ ŇĸŅĸŀ ĶłŁʼnļʼnļķł
paci camente por mais de meio milênio, ameaçam hoje se enfrentar com
resultados catastró cos? Por que se estende o terrorismo internacional em
sua forma mais virulenta? E, de maneira simétrica, por que as democracias
łĶļķĸŁŇĴļņŁőłŃĴŅĸĶĸŀĶĴŃĴōĸņķĸĸŁĹŅĸŁŇŏіĿłёĴŁőłņĸŅńňĸňŇļĿļōĸŀļŁ
trumentos e estratégias que ao largo minam os valores sobre os quais se
ĹňŁķĴŀĸņŇĴņķĸŀłĶŅĴĶļĴņѝ
Também a resposta que geralmente se dá a esta última pergunta,
acerca da crescente crise das instituições democráticas, acerca da di і
ĶňĿķĴķĸķĸĶłŁĽňĺĴŅķļŅĸļŇłņļŁķļʼnļķňĴļņĸĶłĿĸŇļʼnłņёĿļĵĸŅķĴķĸĸņĸĺňŅĴŁ
ça, cai encerrada no círculo interpretativo que deveria abrir. A impressão
é que continuamos nos movendo dentro de uma semântica que já não é
capaz de restituir traços signi cativos da realidade contemporânea; caiі
іņĸё ķĸ ńňĴĿńňĸŅŀłķłё ŁĴ ņňŃĸŅĹƓĶļĸ łň ŁĴŀĴŅĺĸŀ ķĸ ňŀ ŀłʼnļŀĸŁŇł
que é muito mais profundo.
A verdade é que enquanto nos movemos dentro desta linguagem
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avançamos realmente. Não só com relação a uma situação completamente
inédita, mas também com relação a uma situação cuja radical novidade iluі
mina de outro modo inclusive à interpretação da fase anterior. O que não
ĹňŁĶļłŁĴŁĸņŇĴņŅĸņŃłņŇĴņёŀĴļņńňĸłņĶłŁĶĸļŇłņŇłŀĴķłņņĸŃĴŅĴķĴŀĸŁŇĸё
é o marco geral no qual estes conceitos estão insertos.
Como entender, através deste marco, a opção suicida dos terroristas
kamikazes? Ou também a antinomia das chamadas guerras humanitárias
ńňĸŇĸŅŀļŁĴŀķĸʼnĴņŇĴŁķłĴņŀĸņŀĴņŃłŃňĿĴŬƹĸņŃĸĿĴņńňĴļņņőłĹĸļŇĴņѝ
ĶłŀłĶłŁĶļĿļĴŅĴļķĸļĴķĸĺňĸŅŅĴŃŅĸʼnĸŁŇļʼnĴĶłŀĴłŃŬőłŃĸĿĴŃĴōĶłŀŃĴŅі
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ĶƓŃļłņĸĶňĿĴŅķĴŁőłļŁŇĸŅʼnĸŁŬőłŁłņĴņņňŁŇłņļŁŇĸŅŁłņķłņłňŇŅłņ ņŇĴķłņ
ņłĵĸŅĴŁłņѝĴļņńňĸĴĽňķĴŅĴņłĿňĶļłŁĴŅņĸŀĸĿĻĴŁŇĸņŃŅłĵĿĸŀĴņёŀĸŃĴі
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ĴĵļŃłĿĴŅļķĴķĸĸŁŇŅĸķļŅĸļŇłņļŁķļʼnļķňĴļņĸņłĵĸŅĴŁļĴĸņŇĴŇĴĿёĶłŁŇŅļĵňļŃłŅ
torná-los cada vez mais insolúveis.
Não se trata só de uma inadequação de léxico ou de uma perspectiva
insu ciente, mas sim de um verdadeiro efeito de ocultamento. É como se
este léxico ocultasse detrás da própria cortina semântica outra coisa, outra
ĶĸŁĴёłňŇŅĴĿƷĺļĶĴńňĸĿĸʼnĴņłĵŅĸņĸňņłŀĵŅłņķĸņķĸĻŏŀňļŇłŇĸŀŃłёŀĴņ
que só recentemente está saindo à luz de maneira irrefreável. De que se traі
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ta? Qual é essa outra cena, essa outra lógica, esse outro objeto que a loso a
ŃłĿƓŇļĶĴŀłķĸŅŁĴŁőłĿłĺŅĴĸŋŃŅĸņņĴŅĸёŀĸĿĻłŅĴļŁķĴёŇĸŁķĸĴłĵņĶňŅĸĶĸŅѝ
ŅĸļłńňĸķĸʼnĸŀłņŁłņŅĸĹĸŅļŅĴĸņņĸĶłŁĽňŁŇłķĸĴĶłŁŇĸĶļŀĸŁŇłņ
que, ao menos, a partir dos estudos de Michel Foucault, mas que em verі
dade já desde alguma década antes, tem assumido o nome de Biopolítica.
ĸŀŃłķĸŅĴĺłŅĴŀĸķĸŇĸŅŁĴĺĸŁĸĴĿłĺļĴķłĶłŁĶĸļŇłҎńňĸŅĸĶłŁņŇŅňƓĸŀ
ķĸŇĴĿĻĸŁňŀĿļʼnŅłŅĸĶĸŁŇĸҏёĸŇĴŀŃłňĶłŁłņŀňļŇłņņĸŁŇļķłņńňĸĴłĿłŁĺł
do tempo (e até mesmo dentro da obra do mesmo Foucault) há adquirido,
ķļĺĴŀłņńňĸĸŀņňĴĹłŅŀňĿĴŬőłŀĴļņĺĸŅĴĿĸņŇĸŇĸŅŀłņĸŅĸĹĸŅĸŎļŀŃĿļĶĴі
ŬőłĶĴķĴʼnĸōŀĴļņļŁŇĸŁņĴĸķļŅĸŇĴńňĸņĸĸņŇĴĵĸĿĸĶĸёĴŃĴŅŇļŅķĸĶĸŅŇĴĹĴņĸ
ńňĸņĸŃłķĸņļŇňĴŅŁĴņĸĺňŁķĴŀłķĸŅŁļķĴķĸёĸŁŇŅĸĴņķļŁŐŀļĶĴņŃłĿƓŇļĶĴņ
e a vida humana entendida em sua dimensão especi camente biológica.
Naturalmente se poderia observar que desde sempre a política tem
a haver com a vida; que a vida, também em sentido biológico, sempre há
constituído o marco material no qual ela está necessariamente inscrita. A
política agrária dos impérios antigos ou aquela higiênico-sanitária desenі
ʼnłĿʼnļķĴŃłŅłŀĴŁőłķĸʼnĸŅļĴŀņĸŅļŁĶĿňƓķĴņёĴŃĿĸŁłŇƓŇňĿłёŁĴŃłĿƓŇļĶĴķĴ
ʼnļķĴѝ ĴŅĸĿĴŬőłķĸķłŀļŁĴŬőłņłĵŅĸłĶłŅŃłķłņĸņĶŅĴʼnłņŃłŅŃĴŅŇĸķłņ
ŅĸĺļŀĸņĴŁŇļĺłņłňёŀĴļņĴļŁķĴёłŃłķĸŅķĸʼnļķĴłňŀłŅŇĸĸŋĸŅĶļķłņłĵŅĸ
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ŃłķĸŅĸĵƓłņ? De outra parte, já Platão, em particular na RepúblicaёŁѡO
Político e n’As LeisёĴĶłŁņĸĿĻĴŃŅŏŇļĶĴņĸňĺĸŁļņŇĴņńňĸĶĻĸĺĴŀĴłļŁĹĴŁŇļі
cídio das crianças com saúde débil.
No entanto, isto não basta para situar estes acontecimentos e estes
textos numa órbita efetivamente Biopolítica, ou melhor, nunca, na época
ĴŁŇļĺĴ ĸ ŀĸķļĸʼnĴĿё Ĵ ĶłŁņĸŅʼnĴŬőł ķĴ ʼnļķĴ ĸŁńňĴŁŇł ŇĴĿ Ļŏ ĶłŁņŇļŇňƓķł ł
objeto prioritário do atuar político, como precisamente ocorre na Idade
Moderna. Como Hannah Arendt recordou, até certo momento a preocuі
ŃĴŬőłŃĸĿĴŀĴŁňŇĸŁŬőłĸĴŅĸŃŅłķňŬőłķĴʼnļķĴŃĸŅŇĸŁĶĸňĴňŀĴĸņĹĸŅĴńňĸ
não era em si mesma política e pública, mas sim econômica e privada. A
ponto de a ação especi camente política ter sentido e relevo precisamente
em contraste com ela.
É provável que com Hobbes, vale dizer, na época das guerras reliі
ĺļłņĴņёńňĸĴńňĸņŇőłķĴʼnļķĴņĸļŁņŇĴĿĴŁłĶłŅĴŬőłŀĸņŀłķĴŇĸłŅļĴĸķĴ
práxis política. Para sua defesa é instituído o Estado Leviatã e, em troca
ķĸŃŅłŇĸŬőłёłņņDzķļŇłņĿĻĸĸŁŇŅĸĺĴŀĴńňĸĿĸņŃłķĸŅĸņķłņńňĴļņĸņŇő
turalmente dotados. Todas as categorias políticas empregadas por Hobbes
ĸŃłŅłňŇŅłņĴňŇłŅĸņёĴňŇłŅļŇŏŅļłņłňĿļĵĸŅĴļņёńňĸĿĻĸņĸĺňĸŀҎņłĵĸŅĴŁļĴё
ŅĸŃŅĸņĸŁŇĴŬőłёļŁķļʼnƓķňłҏёĸŀŅĸĴĿļķĴķĸņőłňŀĴŀłķĴĿļķĴķĸĿļŁĺňƓņŇļĶĴĸ
conceitual de nomear ou traduzir em termos losó cos políticos a quesі
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Ňőł ļłŃłĿƓŇļĶĴķĴņĴĿʼnĴĺňĴŅķĴķĴʼnļķĴĻňŀĴŁĴĸŀŅĸĿĴŬőłĴłņŃĸŅļĺłņķĸ
extinção violenta que a ameaçam.
Neste sentido, se poderia chegar a dizer que não foi a modernidade que
ŃŅĴŁŇĸłňłŃŅłĵĿĸŀĴķĴĴňŇłŃŅĸņĸŅʼnĴŬőłķĴʼnļķĴёŀĴņńňĸĹłļĸņŇĸŃŅłĵĿĸŀĴł
ńňĸķĸňŅĸĴĿļķĴķĸłňёŃĴŅĴķļōĸіĿłķĸłňŇŅłŀłķłёńňĸļŁʼnĸŁŇłňĴŀłķĸŅŁļķĴķĸ
como complexo de categorias capaz de soluciona-lo. Em seu conjunto, o que
chamamos modernidade, a nal de contas, poderia não ser nada mais que a
linguagem que permitiu dar a resposta mais e caz a uma série de exigências
de autotutela que emanaram do fundo mesmo da sociedade.
ŁĸĶĸņņļķĴķĸķĸŅĸĿĴŇłņ salví cos (podemos pensar, por exemplo,
ŁłķłĶłŁŇŅĴŇłņłĶļĴĿҏёŇĸŅļĴŁĴņĶļķłķĸņŇĸŀłķłёĸŇĸŅļĴņĸĹĸļŇłĶĴķĴʼnĸō
ŀĴļņňŅĺĸŁŇĸńňĴŁķłļŁļĶļĴŅĴŀĴķĸĵļĿļŇĴŅіņĸĴņķĸĹĸņĴņńňĸĶłŁņŇļŇňƓĴŀ
a carapaça de proteção simbólica da experiência humana até esse moі
mento, isto é, a partir da perspectiva transcendente de matriz teológica.
ļŀļŁňƓķĴņĸņŇĴņķĸĹĸņĴņŁĴŇňŅĴļņёĴŅŅĴļĺĴķĴņŁłņĸŁņłĶłŀňŀёĸņŇĸŇļŃł
de envoltura imunitária primitiva se fez necessário, de nitivamente, um
aparato ulterior, desta vez arti cial, destinado a proteger a vida humana
ķĸŅļņĶłņĶĴķĴ ʼnĸōŀĴļņļŁņňņŇĸŁŇŏʼnĸļņĶłŀłłņĶĴňņĴķłņ ŃĸĿĴņ ĺňĸŅŅĴņ
civis ou pelas invasões estrangeiras.
Precisamente enquanto projetado para o exterior numa forma nunca
antes experimentada, o homem moderno necessita de uma série de aparaі
ŇłņļŀňŁļŇŏŅļłņķĸņŇļŁĴķłņĴŃŅłŇĸĺĸŅĶłŀŃĿĸŇĴŀĸŁŇĸňŀĴʼnļķĴńňĸёŃĸĿĴ
ņĸĶňĿĴŅļōĴŬőłķĴņŅĸĹĸŅŴŁĶļĴņŅĸĿļĺļłņĴņёĸņŇŏĶłŀŃĿĸŇĴŀĸŁŇĸĸŁŇŅĸĺňĸĴņļ
mesma. É então que as categorias políticas tradicionais como a de ordem e
também a de liberdade assumem um sentido que as impele cada vez mais
até às exigências de segurança. A liberdade, por exemplo, deixa de ser enі
ŇĸŁķļķĴĶłŀłŃĴŅŇļĶļŃĴŬőłŁĴķļŅĸŬőłŃłĿƓŇļĶĴķĴŃłĿļņёŃĴŅĴĶłŁʼnĸŅŇĸŅіņĸ
em termos de segurança pessoal ao largo de uma deriva que chega até nós:
é livre aquele que pode mover-se sem temer por sua vida e por seus bens.
Isso não signi ca que estamos ainda hoje dentro do campo de proі
blemas abertos por Hobbes. E muito menos que suas categorias sirvam
para interpretar a situação atual. Se fosse assim, não nos encontraríamos
na necessidade de construir uma nova linguagem jurídica. Em realidade,
entre a fase que podemos de nir genericamente moderna e a nossa, transі
ĶłŅŅĸňŀĴŁƓŇļķĴķĸņĶłŁŇļŁňļķĴķĸńňĸŃłķĸŀłņņļŇňĴŅĽňņŇłŁĴńňĸĿĴņ
meiras décadas do século passado nas quais surge a re exão, verdadeira e
propriamente, Biopolítica.
Qual é esta diferença? Trata-se do fato de que, embora na primeira
ŀłķĸŅŁļķĴķĸёĴŅĸĿĴŬőłĸŁŇŅĸŃłĿƓŇļĶĴĸĶłŁņĸŅʼnĴŬőłķĴʼnļķĴёŇĴĿĶłŀłĸņŇĴ
belecida por Hobbes, ainda fosse indireta, estava ltrada por um paradigі
ma de ordem que precisamente se articulou através dos conceitos de sobeі
ŅĴŁļĴёķĸŅĸŃŅĸņĸŁŇĴŬőłёķĸķļŅĸļŇłņļŁķļʼnļķňĴļņńňĸŀĸŁĶļłŁŏʼnĴŀłņĴŁŇĸņђ
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na segunda fase, que chega até nós de maneiras diferentes ao mesmo temі
ŃłĸŀńňĸķĸņĶłŁŇƓŁňĴņёĴŀĸķļĴŬőłʼnĴļŃŅłĺŅĸņņļʼnĴŀĸŁŇĸķĸņĴŃĴŅĸĶĸŁķł
ĸŀĹĴʼnłŅķĸňŀĴņňŃĸŅŃłņļŬőłŀňļŇłŀĴļņļŀĸķļĴŇĴĸŁŇŅĸŃłĿƓŇļĶĴĸĵƓłņ.
A importância que já no nal do século XVIII adquirem, na lógica
do governo, as políticas sanitárias, demográ cas e urbanas marca esta
mudança. Mas é só o primeiro passo até uma caracterização Biopolítica
que penetra todas as relações em que está organizada a sociedade. Fouі
ĶĴňĿŇĴŁĴĿļņłňĴņķļĹĸŅĸŁŇĸņĸŇĴŃĴņķĸņŇĸŃŅłĶĸņņłķĸĺłʼnĸŅŁĴŀĸŁŇĴĿļōĴŬőł
ķĴʼnļķĴёķĸņķĸłĶĻĴŀĴķłŃłķĸŅŃĴņŇłŅĴĿёʼnļŁĶňĿĴķłŎŃŅŏŇļĶĴĶĴŇƷĿļĶĴķĴ
con ssão, até a Razão de Estado, até os saberes de ŃłĿƓĶļĴҎŇĸŅŀłĶłŀł
qual, então, se referia a todas as práticas alusivas ao bem-estar material).
ŃĴŅŇļŅķĸņŇĸŀłŀĸŁŇłёŃłŅňŀĿĴķłёĴʼnļķĴҎņňĴŀĴŁňŇĸŁŬőłёņĸňķĸņĸ
volvimento, sua expansão) assume uma relevância política estratégica,
se converte na aposta decisiva dos con itos políticos e, por outro lado, a
mesma política tende a con gurar-se seguindo modelos biológicos e, em
particular, médicos.
Como sabemos, também esta mistura entre linguagem política
e linguagem biomédica tem uma longa história. Basta pensar na milenar
ķňŅĴŬőłķĴŀĸŇŏĹłŅĴķłĶłŅѳѳĿƓŇļĶł ou também em termos políticos de
ŃŅłĶĸķŴŁĶļĴĵļłĿƷĺļĶĴĶłŀłŁĴŬőłłň ĶłŁņŇļŇňļŬőł. Mas o duplo processo
ĶŅňōĴķłķĸŃłĿļŇļōĴŬőłķĴʼnļķĴĸĵļłĿłĺļōĴŬőłķĴŃłĿƓŇļĶĴёńňĸņĸķĸņŃŅĸŁ
de a partir de inícios do século passado, têm um alcance diferente. Não
ņƷŃłŅńňĸŃƹĸĴʼnļķĴĶĴķĴʼnĸōŀĴļņŁłĶĸŁŇŅłķłĽłĺłŃłĿƓŇļĶłёŀĴņ
ńňĸёĸŀĴĿĺňŀĴņĶłŁķļŬƹĸņёĶĻĸĺĴĴļŁʼnĸŅŇĸŅĸņŇĸʼnĸŇłŅĵļłŃłĿƓŇļĶłĸŀņĸň
łŃłņŇłŇĴŁĴҳѳĿƓŇļĶłёĶĻĸĺĴĴʼnļŁĶňĿĴŅĴĵĴŇĴĿĻĴŃĸĿĴʼnļķĴĶłŀłňŀĴŃŅŏі
tica de morte. É a questão estabelecida por Foucault em seus termos mais
ĶŅňņё ńňĴŁķł ņĸ ŃĸŅĺňŁŇĴё Ķłŀ ňŀ ńňĸņŇļłŁĴŀĸŁŇł ńňĸ ĶłŁŇļŁňĴ ĴļŁķĴ
ļŁŇĸŅŃĸĿĴŁķłіŁłņĻłĽĸёŃłŅńňĸňŀĴŃłĿƓŇļĶĴķĴʼnļķĴĴŀĸĴŬĴĶłŁŇļŁňĴŀĸŁі
te contradizer-se numa prática de morte.
ņŇĸŅĸņňĿŇĴķłĸņŇĴʼnĴķĸĴĿĺňŀŀłķłĽŏļŀŃĿƓĶļŇłŁłńňĸĸňŀĸņŀł
tenho de nido como o paradigma imunitário da política moderna, entenі
dendo com isso a expressão e também a tendência cada vez mais forte de
ŃŅłŇĸĺĸŅĴʼnļķĴķłņŅļņĶłņļŀŃĿƓĶļŇłņŁĴŅĸĿĴŬőłĸŁŇŅĸłņĻłŀĸŁņёĸŀķĸŇŅļі
mento da extinção dos vínculos comunitários (é o que, por exemplo, presі
creve Hobbes). Assim como para defender-se preventivamente do contágio
se injeta uma porção de mal no corpo que se quer salvaguardar, também
na imunização social a vida é protegida de uma forma que lhe nega seu
sentido mais intensamente comum.
ĴņňŀʼnĸŅķĴķĸļŅłņĴĿŇłķĸńňĴĿļķĴķĸёĸŀķļŅĸŬőłŀłŅŇƓĹĸŅĴёņĸŇĸŀ
ńňĴŁķłĸņŇĴŃŅĸĺĴļŀňŁļŇŏŅļĴķłŃĸŅĶňŅņłĵļłŃłĿƓŇļĶłņĸĸŁŇŅĸĶŅňōĴё
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ŀĸļŅłёĶłŀ Ĵ ŃĴŅŏĵłĿĴ ķł ŁĴĶļłŁĴĿļņŀł ĸё ĸŀ ņĸĺňļķĴё Ķłŀ Ĵ ķł ŅĴĶļņ
mo. Então, a questão da conservação da vida passa do plano individual,
ŇƓŃļĶłķĴĹĴņĸŀłķĸŅŁĴёĴłķł ņŇĴķłŁĴĶļłŁĴĿĸķĴŃłŃňĿĴŬőłĸŁńňĴŁŇł
corpo etnicamente de nido numa modalidade que os contrapõe, respecі
tivamente, a outros Estados e a outras populações. No momento em que
a vida de um povo, racialmente caracterizada, é assumida como o valor
ņňŃŅĸŀłńňĸņĸķĸʼnĸĶłŁņĸŅʼnĴŅļŁŇĴĶŇłĸŀņňĴĶłŁņŇļŇňļŬőłłŅļĺļŁŏŅļĴłň
mesmo como o que há que se expandir para além de seus con ns, é óbvio
ńňĸĴłňŇŅĴʼnļķĴёĴʼnļķĴķłņłňŇŅłņŃłʼnłņĸķĴņłňŇŅĴņŅĴŬĴņёŇĸŁķĸŀĴņĸŅ
consideradas um obstáculo para este projeto e, portanto, sacri cadas a
ele. O ĵƓłņ é arti cialmente recortado, por uma série de umbrais, em zoі
ŁĴņķłŇĴķĴņ ķĸķļĹĸŅĸŁŇĸņʼnĴĿłŅĸņńňĸņňĵŀĸŇĸŀňŀĴ ķĸņňĴņŃĴŅŇĸņĴł
domínio violento e destrutivo da outra.
Nietzsche é o lósofo que aferra com maior radicalidade este passo:
ĸŀŃĴŅŇĸĴņņňŀļŁķłіłĶłŀłņĸňŃŅƷŃŅļłŃłŁŇłķĸʼnļņŇĴёĸŀŃĴŅŇĸĶŅļŇļĶĴŁі
do-o em seus resultados niilísticos. Quando ele fala de vontade de poder
ĶłŀłłĹňŁķĴŀĸŁŇłŀĸņŀłķĴʼnļķĴёłňńňĴŁķłŁőłŃƹĸŁłĶĸŁŇŅłķĴņķļі
ŁŐŀļĶĴņļŁŇĸŅіĻňŀĴŁĴņĴĶłŁņĶļŴŁĶļĴёŀĴņņļŀłĶłŅŃłŀĸņŀłķłņļŁķļʼnƓі
duos, então, faz da vida o único sujeito e objeto da política. Que a vida seja
para Nietzsche vontade de poder não quer dizer que a vida queira o poder
łňńňĸłŃłķĸŅķĸŇĸŅŀļŁĸķĸņķĸłļŁŇĸŅļłŅŎʼnļķĴёŀĴņņļŀńňĸĴʼnļķĴŁőł
conhece modos de ser diferentes de uma contínua potencialização. O que
ĶłŁķĸŁĴĴņļŁņŇļŇňļŬƹĸņŀłķĸŅŁĴņҎł ņŇĴķłёłŃĴŅĿĴŀĸŁŇłёłņŃĴŅŇļķłņҏŎ
ine cácia e a ine ciência é precisamente sua incapacidade de situar-se
neste nível de discurso.
Mas Nietzsche não se limita a isto. A extraordinária relevância, mas
também o risco, de sua perspectiva Biopolítica consiste não somente em
ĻĴʼnĸŅŃłņŇłĴʼnļķĴĵļłĿƷĺļĶĴёłĶłŅŃłёŁłĶĸŁŇŅłķĴņķļŁŐŀļĶĴņ ŃłĿƓŇļĶĴņё
mas também na lucidez absoluta com que prevê que a de nição de vida
humana (a decisão sobre o que é, qual é, uma verdadeira vida humana)
constituirá no mais relevante objeto de con itos nos séculos por vir. Numa
ĶłŁĻĸĶļķĴ ŃĴņņĴĺĸŀ ķłņ Fragmentos Póstumosё ńňĴŁķł ņĸ ŃĸŅĺňŁŇĴ
ѢŃłŅńňĸ Łőł Ňĸŀłņ ńňĸ ŅĸĴĿļōĴŅ Łł Ļłŀĸŀ ł ńňĸ łņ ĶĻļŁĸņĸņ ĿłĺŅĴŅĴŀ
fazer com a árvore, de modo que uma parte produz rosas e outra peras”,
ŁłņĸŁĶłŁŇŅĴŀłņĹŅĸŁŇĸĴňŀŃĴņņłĸŋŇŅĸŀĴŀĸŁŇĸķĸĿļĶĴķłńňĸʼnĴļķĸňŀĴ
ŃłĿƓŇļĶĴķĴĴķŀļŁļņŇŅĴŬőłķĴʼnļķĴĵļłĿƷĺļĶĴŃĴŅĴňŀĴŃłĿƓŇļĶĴńňĸŃŅĸʼnŴĴ
possibilidade de sua transformação arti cial.
ĸņņĸŀłķłёĴłŀĸŁłņŃłŇĸŁĶļĴĿŀĸŁŇĸёĴʼnļķĴĻňŀĴŁĴņĸĶłŁʼnĸŅŇĸ
Łňŀ ŇĸŅŅĸŁł ķĸ ķĸĶļņƹĸņ ńňĸ ĶłŁĶĸŅŁĸŀ Łőł ņłŀĸŁŇĸ Ĵ ņĸňņ ňŀĵŅĴļņ
ĸŋŇĸŅŁłņҎŃłŅĸŋĸŀŃĿłёłńňĸĴķļņŇļŁĺňĸķĴʼnļķĴĴŁļŀĴĿłňʼnĸĺĸŇĴĿҏёŀĴņ
também a seus umbrais internos. Isto signi ca que será concedido, ou
o o
o
o
om lro m
melhor, exigido a política de decidir qual é a vida biologicamente melhor
e como potencializá-la através do uso, da exploração, ou se faria a morte
da vida menos valiosa biologicamente.
O totalitarismo do século XX, sobretudo o nazista, assinala o ápice
dessa deriva tanatopolítica. A vida do povo alemão se converte no ídolo
biopolítico ao qual se sacri ca a existência de qualquer outro povo e em
ŃĴŅŇļĶňĿĴŅķłŃłʼnłĽňķĸňńňĸŃĴŅĸĶĸĶłŁŇĴŀļŁŏіĿĴĸķĸĵļĿļŇŏіĿĴļŁŇĸŅŁĴŀĸŁ
te. Nunca como neste caso, o dispositivo imunitário assinala uma absoluta
coincidência entre proteção e negação da vida. A potencialização suprema
da vida de uma raça, que se pretende pura, é paga com a produção da morte
em grande escala. Em primeiro lugar, a dos outros e, ao nal, no momento
da derrota, também da própria, como testemunha a ordem de destruição
transmitida por Hitler assediado no ĵňŁľĸŅ de Berlin. Como nas enfermiі
ķĴķĸņĶĻĴŀĴķĴņĴňŇłļŀňŁĸņёłņļņŇĸŀĴļŀňŁłĿƷĺļĶłņĸŇłŅŁĴŇőłĹłŅŇĸńňĸ
ataca o mesmo corpo que deveria salvar, determinando sua decomposição.
Eu creio que não é conveniente esfumar a absoluta especi cidade
do que ocorreu na Alemanha nos anos trinta e quarenta do século passaі
do. A mesma categoria de totalitarismo – que inclusive teve o mérito de
ĶĻĴŀĴŅĴĴŇĸŁŬőłņłĵŅĸĶĸŅŇĴņĶłŁĸŋƹĸņĸŁŇŅĸłņņļņŇĸŀĴņĴŁŇļķĸŀłĶŅŏі
ŇļĶłņķłŇĸŀŃł҂ĴŀĸĴŬĴŀŀĴŁĶĻĴŅłňёĴłŀĸŁłņёĸŀŃĴĿļķĸĶĸŅłĶĴŅŏŇĸŅ
ļŅŅĸķňŇƓʼnĸĿķłŁĴōļņŀłёŁőłņƷĴŇłķĴņĴņĶĴŇĸĺłŅļĴņŃłĿƓŇļĶĴņŀłķĸŅŁĴņё
das quais assinala precisamente a ruína, mas também sua irredutibilidade
ao comunismo-stalinista.
ŀĵłŅĴĸņŇĸDzĿŇļŀłĴļŁķĴŃłņņĴņĸŅĶłŁņļķĸŅĴķłĶłŀłňŀĴĸŋĴĶĸŅі
bação paroxística da loso a da história moderna, o nazismo está comі
pletamente fora, não só da modernidade, como também de sua tradição
losó ca. Isso não signi ca que não tenha uma loso a; mas se trata de
uma loso a integralmente traduzida em termos de biologia. O nazismo
não é, como, pelo contrário, quis ser o comunismo, uma loso a realizada,
porque foi isto sim uma biologia realizada. Se o transcendental do comuі
nismo, isto é, a categoria constitutiva da qual todas as outras descendem,
é a história, a do nazismo é a vida, entendida desde o ponto de vista da
biologia comparada entre raças humanas e raças animais.
Isso não signi ca que o poder político passou diretamente às mãos
ķłņĵļƷĿłĺłņё ŀĴņ ņļŀńňĸ łņ ŃłĿƓŇļĶłņ ĴĿĸŀőĸņ ķł ŇĸŀŃł ĴņņňŀļŅĴŀ łņ
parâmetros da biologia comparada como critério intrínseco de sua ação.
Neste sentido, não se tratou tampouco de uma simples instrumentalizaі
ção; não é que os nazistas se limitaram a empregar para seus objetivos as
investigações biológicas da época. Eles chegaram a identi car a mesma
política com a biologia numa forma completamente inédita de biocracia.
o u
v o
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Isso explica o papel absolutamente extraordinário que desempenhaі
ŅĴŀŁłŁĴōļņŀłёķĸňŀĿĴķłёłņĴŁŇŅłŃƷĿłĺłņҎĸŀĸņŇŅĸļŇĴŅĸĿĴŬőłķĸĶłŁŇļі
guidade com os zoólogos) e, de outro lado, os médicos. No primeiro caso, a
ĶĸŁŇŅĴĿļķĴķĸļŀĸķļĴŇĴŀĸŁŇĸŃłĿƓŇļĶĴķĴĴŁŇŅłŃłōłłĿłĺļĴķĸʼnĸņĸŅŅĸĹĸŅļķĴŎ
ŅĸĿĸʼnŐŁĶļĴńňĸłņŁĴōļņŇĴņķĸŅĴŀĴĶĴŇĸĺłŅļĴķĴĻňŀĴŁļŇĴņ (um célebre maі
ŁňĴĿķĸŃłĿƓŇļĶĴŅĴĶļĴĿŇĸʼnĸŃŅĸĶļņĴŀĸŁŇĸĸņŇĸŁłŀĸҏёĸŁŇĸŁķļķĴĶłŀłłĵĽĸŇł
de contínua reelaboração através da de nição de umbrais biológicos entre
ōłŁĴņķĸʼnļķĴņŃŅłʼnļķĴņĸłňŇŅĴņķĸņŃŅłʼnļķĴņķĸʼnĴĿłŅёŇĴĿĶłŀłłĸŋŃŅĸņņłň
um tristemente célebre texto sobre a vida “que não é digna de ser vivida”.
Quanto aos médicos, sua participação direta em todas as etapas do
genocídio (desde a seleção nas plataformas de trens até a incineração nal
dos prisioneiros) é conhecida e está abundantemente documentada. Como
ņĸķĸķňōķĴņķĸĶĿĴŅĴŬƹĸņŁłņķļĹĸŅĸŁŇĸņŃŅłĶĸņņłņĸŀńňĸĹłŅĴŀĴĶňņĴķłņё
ĸĿĸņļŁŇĸŅŃŅĸŇĴŅĴŀłŃŅƷŃŅļłŇŅĴĵĴĿĻłķĸŀłŅŇĸĶłŀłĴŀļņņőłŃŅƷŃŅļĴķł
médico: curar o corpo da Alemanha afetado por uma grave enfermidade,
eliminando a parte infectada e os germes invasores de forma de nitiva.
ňĴ łĵŅĴ Ňĸʼnĸ Ĵ ņĸňņ łĿĻłņłĶĴŅŏŇĸŅ ķĸ ňŀĴ ĺŅĴŁķĸķĸņļŁĹĸĶŬőłё ŁĸĶĸņі
ņŏŅļĴŁňŀŀňŁķł ĽŏļŁʼnĴķļķłŃĸĿłņŃŅłĶĸņņłņķĸķĸĺĸŁĸŅĴŬőł ĵļłĿƷĺļĶĴё
dos quais a raça hebreia constituía o elemento mais letal. Não por nada,
Hitler, chamado “o grande médico alemão”, considerava “a descoberta do
vírus hebreu como uma das maiores revoluções deste mundo. A batalha na
qual estamos empenhados, continuava, é igual àquela combatida, no sécuі
lo passado, por Pasteur e Koch”.
Deste ponto de vista, o nazismo também constitui um ponto de rupі
tura e, por sua vez, de viragem decisiva dentro da Biopolítica. O nazismo,
ĶłŀĸĹĸļŇłёĶłŁķňōļňĴ ļłŃłĿƓŇļĶĴŎŀŏŋļŀĴĴŁŇļŁłŀļĴńňĸŃłķĸĶłŁŇĸŅ
łŃŅļŁĶƓŃļłņĸĺňŁķłłńňĴĿĴʼnļķĴņĸŃŅłŇĸĺĸĸņĸķĸņĸŁʼnłĿʼnĸņłŀĸŁŇ
pliando progressivamente o círculo da morte. Também a lógica é radicalі
mente transformada. Enquanto, pelo menos em sua formulação clássica,
só o soberano mantém o direito de vida e de morte sobre os súditos, agora,
este direito é concedido a todos os cidadãos do Reich. Se se trata da defesa
ŅĴĶļĴĿķłŃłʼnłĴĿĸŀőłёńňĴĿńňĸŅňŀĸņŇŏĿĸĺļŇļŀĴķłёłňŀĸĿĻłŅёłĵŅļĺĴķłĴ
procurar a morte de qualquer outro, e no nal, se a solução o exige, como
no momento da derrota nal, também a procurar a sua própria morte.
ńňļёķĸĹĸņĴķĴʼnļķĴĸŃŅłķňŬőłķĴŀłŅŇĸŅĸĴĿŀĸŁŇĸŇłĶĴŀňŀŁƓʼnĸĿ
de absoluta indistinção. A enfermidade que os nazistas quiseram eliminar
foi precisamente a morte da própria raça. Foi isto o que eles quiseram
ŀĴŇĴŅŁłĶłŅŃłķłņĽňķĸňņĸķĸŇłķłņłņńňĸŃĴŅĸĶļĴŀĴŀĸĴŬŏіĿĴķĸņķĸł
interior e desde o exterior. De outra parte, esta vida infectada era consiі
derada como já morta. Portanto, os nazistas não perceberam sua própria
ação como um verdadeiro assassinato. Eles só restabeleceriam os direiі
o o
o
o
om lro m
ŇłņķĴʼnļķĴёŅĸņŇļŇňļŁķłŎŀłŅŇĸňŀĴʼnļķĴĽŏĹĴĿĸĶļķĴёķĴŁķłŀłŅŇĸĴňŀĴ
vida habitada e corrompida, desde sempre, pela morte. Assumiram a morte
como objeto e, ao mesmo tempo, instrumento de cura em favor da vida.
Por isto, eles sempre mantiveram o culto de seus próprios antepassados
ŀłŅŇłņђ ŃłŅńňĸё ŁňŀĴ ŃĸŅņŃĸĶŇļʼnĴ ļłŃłĿƓŇļĶĴ ĶłŀŃĿĸŇĴŀĸŁŇĸ ļŁʼnĸŅŇļķĴ
ĸŀŇĴŁĴҳѳĿƓŇļĶĴёņƷĴŀłŅŇĸŃłķĸŇłĶĴŅłŃĴŃĸĿķĸķĸĹĸŁķĸŅĴʼnļķĴĸŀņļ
mesma, submetendo toda a vida ao regime da morte. O cinquenta milhões
ķĸŀłŅŇĸņŃŅłķňōļķłņŃĸĿĴĸĺňŁķĴňĸŅŅĴňŁķļĴĿĶłŁņŇļŇňĸŀłŅĸ
do inevitável a que deveria conduzir esta lógica.
Esta catástrofe, no entanto, não pôs m a Biopolítica, como o
comprova o fato de que ela, em suas diferentes con gurações, tem uma
ĻļņŇƷŅļĴŀňļŇłŀĴļņĴŀŃĿĴĸŀĴļņĿĴŅĺĴńňĸłŁĴōļņŀłёńňĸŃĴŅĸĶĸĿĸʼnŏіĿĴ
a seu resultado estremo. A Biopolítica não é um produto do nazismo, mas,
isto sim, o nazismo é o produto paroxístico e degenerado de uma certa
forma de Biopolítica. É um ponto sobre o qual convém insistir com força,
ŃłŅńňĸ Ńłķĸ ĶłŁķňōļŅё łňŀĸĿĻłŅёĽŏ Ňĸŀ ĶłŁķňōļķłё Ĵ ŁňŀĸŅłņłņĸńňƓі
vocos. Contrariamente às ilusões dos que têm imaginado passar por alto
ł ŃĴŅŴŁŇĸņļņ ŁĴōļņŇĴ ŃĴŅĴ ŅĸĶłŁņŇŅňļŅ Ĵņ ŀĸķļĴŬƹĸņ łŅķĸŁĴķłŅĴņ ķĴ ĹĴņĸ
precedente, vida e política estão atadas num nó que já é impossível desatar.
Esta ilusão tem sido alimentada pelo período de paz aberto ao nal
da Segunda Guerra Mundial, ao menos no mundo ocidental. Mas, prescinі
dindo da circunstância de que também esta paz (ou não-guerra, como foi a
guerra fria) se baseou no equilíbrio do terror, determinado pela ameaça atôі
ŀļĶĴĸёŃłŅļņņłёĶłŀŃĿĸŇĴŀĸŁŇĸļŁņĶŅļŇĴķĸŁŇŅłķĸňŀĴĿƷĺļĶĴļŀňŁļŇŏŅļĴё
ela só propôs por algumas décadas o que antes ou depois havia ocorrido de
todos os modos. E, com efeito, o desmonte do sistema soviético, interpretaі
do como vitória de nitiva da democracia contra seus potenciais inimigos, e
inclusive como m da história, assinala, pelo contrário, o m de uma ilusão.
ŁƷĸŁŇŅĸŃłĿƓŇļĶĴĸʼnļķĴёńňĸłŇłŇĴĿļŇĴŅļņŀłĴŃĸŅŇłňķĸňŀĴĹłŅŀĴ
destrutiva para ambas, ainda está perante nós. Melhor ainda, se pode dizer
que se converteu no epicentro de toda dinâmica politicamente signi cativa.
Desde a relevância cada vez maior assumida pelo elemento étnico nas relaі
Ŭƹĸņ ļŁŇĸŅŁĴĶļłŁĴļņĴłļŀŃĴĶŇł ķĴņĵļłŇĸĶŁłĿłĺļĴņ ņłĵŅĸ ł ĶłŅŃł ĻňŀĴŁłё
ķĸņķĸĴĶĸŁŇŅĴĿļķĴķĸķĴńňĸņŇőłņĴŁļŇŏŅļĴĶłŀłƓŁķļĶĸŃŅļʼnļĿĸĺļĴķłķłĹňŁі
cionamento do sistema econômico-produtivo à prioridade da exigência de
ņĸĺňŅĴŁŬĴĸŀŇłķłņ łņŃŅłĺŅĴŀĴņ ķĸ ĺłʼnĸŅŁłё Ĵ ŃłĿƓŇļĶĴ ĴŃĴŅĸĶĸ ĶĴķĴʼnĸō
ŀĴļņĸņŀĴĺĴķĴĶłŁŇŅĴĴķĸņŁňķĴĶĴŃĴĵļłĿƷĺļĶĴёņĸŁőłņłĵŅĸłĶłŅŃłŀĸņŀł
dos cidadãos em todas as partes do mundo. A progressiva indistinção entre
ŁłŅŀĴņĸĸŋĶĸŬőłķĸŇĸŅŀļŁĴķĴŃĸĿĴĸŋŇĸŁņőłļŁķļņĶŅļŀļŁĴķĴķĴņĿĸĺļņĿĴŬƹĸņ
de emergência, junto ao uxo crescente de imigrantes privados de toda idenі
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ŇļķĴķĸĽňŅƓķļĶĴĸņňĵŀĸŇļķłņĴłĶłŁŇŅłĿĸķļŅĸŇłķĴŃłĿƓĶļĴёŇňķłļņŇłĴņņļŁĴĿĴ
um ulterior deslizamento da política mundial em direção a Biopolítica.
Também é necessário re etir sobre esta situação mundial mais além
das atuais teorias da globalização. Pode-se dizer que, contrariamente ao
que sustentaram Heidegger e Hannah Arendt, a questão da vida forma
uma unidade com a do mundo. A ideia losó ca, proveniente da fenomeі
nologia, de “mundo da vida”, nalmente se inverte naquela, simétrica, de
“vida do mundo”, no sentido de que o mundo inteiro aparece cada vez mais
como um corpo uni cado por uma única ameaça global que, ao mesmo
tempo, o mantém unido e o ameaça faze-lo em pedaços. Diferentemente
do que sucedia em um tempo, já não é possível que uma parte do munі
do (América, Europa) se salve, enquanto o outro se destrói. O mundo, o
ŀňŁķłļŁŇĸļŅłёņňĴʼnļķĴёĶłŀŃĴŅŇļĿĻĴňŀŀĸņŀłķĸņŇļŁłѓłňĸŁĶłŁŇŅĴŅŏł
modo de sobreviver todo junto ou perecerá todo junto.
ņĹĴŇłņķĸņĸŁĶĴķĸĴķłņŃĸĿłĴŇĴńňĸķĸӄӄķĸņĸŇĸŀĵŅłķĸӅӃӃӄŁőł
ĶłŁņŇļŇňĸŀłŃŅļŁĶƓŃļłёĶłŀłņĸķļōĶłŀňŀĸŁŇĸёŀĴņņļŀńňĸņőłёņļŀі
ŃĿĸņŀĸŁŇĸё ł ķĸŇłŁĴķłŅ ķĸ ňŀ ŃŅłĶĸņņł ńňĸ Ľŏ ĻĴʼnļĴ ĶłŀĸŬĴķł Ķłŀ ł
nal do sistema soviético, o último ľĴŇųĶĻłŁńňĸĹŅĸłňłņĸŀŃňŅŅƹĸņĴň
todestrutivos do mundo com a mordaça do medo recíproco. Caído este
DzĿŇļŀłŀňŅłńňĸłňŇłŅĺłňĴłŀňŁķłňŀĴĹłŅŀĴķňĴĿёĽŏŁőłŃĴŅĸĶĸńňĸ
ņĸŃłņņĴŀķĸŇĸŅĴņķļŁŐŀļĶĴņ ļłŃłĿƓŇļĶĴņńňĸĸņŇĴʼnĴŀĶłŁŇļķĴņķĸŁŇŅł
dos velhos muros de contenção.
A guerra no Iraque assinala provavelmente o ápice dessa deriva, tanі
ŇłŃĸĿłŀłķłŃĸĿłńňĴĿŇĸŀņļķłĴŃŅĸņĸŁŇĴķĴĶłŀłŃłŅĴńňĸĿĸĸŀńňĸŇĸŀ
sido e é conduzida atualmente. A ideia de uma guerra preventiva desloca
ŅĴķļĶĴĿŀĸŁŇĸ łņ ŇĸŅŀłņ ķĴ ńňĸņŇőł ŇĴŁŇł ĸŀ ŅĸĿĴŬőłŎņ ĺňĸŅŅĴņ ĸĹĸŇļʼnĴņ
como em relação à chamada guerra fria. Em comparação com esta última,
é como se o negativo do procedimento imunitário se duplicasse até ocupar
todo o espaço. A guerra já não é mais a exceção, o recurso último, o reverso
ņĸŀŃŅĸŃłņņƓʼnĸĿёŀĴņņļŀĴDzŁļĶĴĹłŅŀĴķĸĶłĸŋļņŇŴŁĶļĴĺĿłĵĴĿёĴĶĴŇĸĺłі
ria constitutiva da existência contemporânea. Daí a consequência, da qual
ŁőłņĸĻŏķĸņĸņňŅŃŅĸĸŁķĸŅёķĸňŀĴŀňĿŇļŃĿļĶĴŬőłĸŀĸŋĶĸņņłķłņŀĸņŀłņ
riscos que se quiseram evitar. O resultado mais evidente é o da absoluta
ņňŃĸŅŃłņļŬőłķłņłŃłņŇłņѓŃĴōĸĺňĸŅŅĴёĴŇĴńňĸĸķĸĹĸņĴёʼnļķĴĸŀłŅŇĸņĸ
superpõem cada vez mais.
ĸŁłņķĸŇļʼnĸŅŀłņĴĸŋĴŀļŁĴŅŀĴļņķĸŇĴĿĻĴķĴŀĸŁŇĸĴĿƷĺļĶĴĻłŀļ
cida e suicida das atuais práticas terroristas, não é difícil reconhecer um
passo ulterior em direção a tanatopolítica nazista. Já não se trata de que
ĴŀłŅŇĸŇĸŁĻĴņňĴĸŁŇŅĴķĴķĸňŀŀłķłĶłŁŇňŁķĸŁŇĸŁňŀĴʼnļķĴёŀĴņņļŀ
que é essa vida a que se constitui no instrumento da morte. Que é, especiі
camente, um kamikaze, se não um fragmento de vida que se lança sobre
outras vidas para produzir a morte? Não se desloca o alvo dos atentados
o o
o
o
om lro m
terroristas cada vez mais para as mulheres e as crianças, isto é, sobre os
ŀĴŁĴŁĶļĴļņŀĸņŀłķĴʼnļķĴѝ
A barbárie da decapitação dos reféns parece conduzir-nos à época
pré-moderna dos suplícios em praça, com um toque hipermoderno, consі
tituído pela plateia planetária da Internet a partir da qual se pode assistir
ao espetáculo. O virtual, mais que o oposto ao real, constitui, neste caso, a
ŀĴļņĶłŁĶŅĸŇĴŀĴŁļĹĸņŇĴŬőłŁłĶłŅŃłŀĸņŀłķĴņʼnƓŇļŀĴņĸŁłņĴŁĺňĸńňĸ
parece salpicar na tela. Nunca como nestes dias, a política se praticou soі
bre os corpos e sobre os corpos das vítimas inermes e inocentes.
Mas o que é ainda mais signi cativo da atual deriva Biopolítica é a
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tende a apropriar-se de suas modalidades e a reproduzi-las. Como ler de
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para os terroristas como para os reféns? E, noutro plano, não é também
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o corpo dos condenados da Colônia Penal de Ka a e a bestialização do
inimigo de matriz nazista? Que na recente guerra no Afeganistão os mesі
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ções é, quiçá, o sinal tangível da superposição mais acabada entre defesa
da vida e produção de morte.
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pensar a Biopolítica? É possível uma Biopolítica nalmente a rmativa,
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da vida? E como deveria o poderia con gurar-se?
Pelo momento um primeiro e não inútil esclarecimento. Concedenі
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qualquer curto-circuito entre loso a e política. Sua implicação não pode
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loso a seja a de propor modelos de instituições políticas ou que se possa
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to de cada um, reformista.
Minha impressão é que se tem de percorrer um caminho muito mais
largo e articulado, que passa por um esforço especi camente losó co de
nova elaboração conceitual. Se, como Deleuze crê, a loso a é a prática
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transforma, este é o momento de repensar a relação entre política e vida
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manifestamente ocorreu no curso do último século), introduzir na política
a potência da vida. O que conta não é enfrentar a Biopolítica desde seu
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até agora tem caído afastado por seu oposto.
Naturalmente a referência a este oposto é necessária, ao menos
para xar um ponto de partida e contraste. Em meu livro, elegi o camiі
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política, isto é, o nazismo, de seus dispositivos tanatopolíticos, para busі
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uma política diferente da vida. Dou-me conta de que isto possa parecer
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ĶłŀłŃłĿƓŇļĶĴķĴĵƓłņ, mesmo que utilizando mais corretamente o léxico
aristotélico, deveria dizer ōłų.
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é, à clausura da ĵƓłņķĸŁŇŅłķĴĿĸļķĸņňĴķĸņŇŅňļŬőłёŎķňŃĿĴĶĿĴňņňŅĴķł
corpo, à imunização homicida e suicida do povo alemão dentro da guі
ra de um único corpo racialmente puri cado. Finalmente, à supressão
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momento de seu surgimento.
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ria. Sem poder retomar aqui em detalhe os argumentos propostos, eles se
orientam no sentido de uma conjugação inédita entre linguagem da vida e
forma política mediante a re exão losó ca. Ainda não podemos saber o
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a rmativa. O que me interessa é assinalar vestígios, enovelar os capazes
de adiantar algo que ainda não emergiu com claridade no horizonte.
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