Academia.eduAcademia.edu

Os Fenícios

– 1. – N‟NK – Fenícia Origem do Nome O nome “Fenícia” vem do Latin punicus, que por sua vez é um derivado do Grego (phoînix)1, geralmente se referindo a “Púrpura de Tiro, carmesim ou ao Murex Brandaris (Molusco Gastrópode Carnívoro (phoínos Marinho)”, possível derivado de 2 – “sangue vermelho”) . O professor Michael Astour3 argumenta que o nome dos Fenícios provavelmente se refere ao fato dos “... gregos chamarem as pessoas que vendiam carmesim e púrpura de – (foiníkes). 2. Os Primórdios Os Fenícios são de Origem Cananita, e a primeira menção feita sobre eles está em Gênesis 10.19, mencionando a cidade de Sidom como território cananita na região costeira. Os primeiros assentamentos desta região estão datados de 3000 – 2500 a.C. As cidades da região nunca formaram um reino unificado sob um mesmo rei, pois eram parecidas com os modelos de cidades estado gregas. Estas cidades tinham independentes política umas das outras, e tinham apenas governadores locais, mas que não governavam com sistemas feudais, havia certa liberdade de propriedade e de enriquecimento. Porém, as cidades formavam uma coalizão para fins de defesa. 2.1 Sidom Sidom foi a primeira cidade da região, isso é confirmado pelo texto de Isaías 23.12 que fala de Tiro com “filha” de Sidom. No entanto, durante todo o segundo milênio e a primeira metade do primeiro milênio Sidom esteve politicamente à Sombra de Tiro. 1 Vermelho púrpura, púrpura ou carmesim. Isso se dá por causa da descoberta do precoce uso desta cor pelos Fenícios (Fenícia – 2 – foiníke). LIDDELL, H. G.; SCOTT. Art: in An Intermediate Greek-English Lexicon. 7ª ed. 1999. Clarendon Press, Oxford, NY, USA. 3 ASTOUR, Michael C. The Origin of the Terms “Canaan, Phoenician, and Purple” in Journal of Near Eastern Studies, vol. 24, nº 4, October, 1965, p. 346. 1 2.1.1 Sidom e o Egito Textos do 14º século, pertencentes às cartas de Amarna, escritos pelo Príncipe de Biblos, Rib-Addi, ao faraó Akh-en-Aton (Amen-hotep IV – 13501334 a.C.) mencionam que o Rei de Sidom, Zimreda estava escrevendo “dia após dia para o criminoso „Aziru filho [às vezes chamando-o de cão-hapiri4] de „Abdu-Ashita [rei dos amorreus], a cerca de tudo que ele ouviu do Egito” 5. Essa intriga entre os reis de Tiro e Sidom demonstra que apesar da coalizão de defesa a amizade entre as cidades não era tão pacífica quanto se poderia imaginar. Além de mostrar que aparentemente o rei de Sidom não estava satisfeito em ser vassalo do faraó Akh-en-Aton. 2.1.2 Sidom e Assíria Durante o Império Assírio a Fenícia foi dominada inicialmente de forma pacífica por causa de sua grande importância comercial por seu domínio das técnicas marítimas, mas pagava tributos aos reis assírios. Há relatos de Tiglate-Pileser I recolhendo tributos de Biblos, Assurbanipal II recebeu tributos de Tiro, Sidom e Biblos6 o que também ocorreu nos tempos de Salmaneser III7. Depois, Senaqueribe marchou contra Luli (Elulaeus) rei de Sidom8 e subjugou suas terras, Luli tentou escapar pelo mar, mas foi morto. Senaqueribe dominou todas as principais cidades da Fenícia (Sidom, Bit-Zitti, Zaribtu, Mahalliba, Tiro, Akzib, Akko) colocando como governante desta região Ethba„al (Tuba‟lu). Quando Abdimilkute se tornou rei de Sidom ele se insurgiu contra o domínio Assírio desobedecendo a ordens diretas do imperador9, na época Esarhaddon (Ashur-akh-iddina)10, que destruiu e saqueou Sidom11 e construiu uma nova cidade num lugar próximo chamada Kar-Esar-haddon12. 4 MENDENHALL, Geoge E. e HERION, Gary A. Ancient Israel's Faith and History: An Introduction to the Bible in Context. Westminster John Knox Press, 2001, p. 31. 5 PRITCHARD, James B. (Editor). Ancient Near Eastern Texts: Relating to the Old Testament, Princeton University Press, New Jersey, USA, 1969. EA, No 147, p. 484. 6 ANET. Idem, p. 275 – 276. 7 ANET. Idem, (d) Epigraphs. p. 281. 8 ANET, Idem, p. 287. 9 TENNEY, Merrill C. (Editor Geral). The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible. ELDEREN, Van B. Artg.: Sidon. Grand Rapids, Michigan, US, 1975. vol. 5, p. 833 – 835 10 É muito interessante que o Rei Assírio sempre se refere a Sidom com as terras de “Hatti” se referindo ao extinto império Hitita. 11 KATZENSTEIN, H. Jacob. The History of Tyre. Schocken Institute for Jewish Research, Jerusalém, 1973, p. 259. 12 ANET, Opcit, p. 291. 2 Apesar desta grande conquista de Esar-haddon, a conquista da Fenícia não foi completa porque ele morreu pouco tempo depois. O único que conseguiu tal façanha foi o babilônico Nabucodonosor II. 2.1.3 Sidom e Babilônia Durante o reinado de Nabucodonosor II a cidade de Tiro foi destruída e Sidom voltou a ser a cidade mais proeminente da região. 2.1.4 Sidom e Pérsia Sidom neste período já estava bem enfraquecida e em declínio, mas ainda tinha domínio sobre Dor e Joppe até pelo menos 539 a.C. Pois, depois, os Aquemênidas (ou Hakhâmanišiya), da primeira dinastia da Pérsia advindos do Irã e que estavam sob o controle de Ciro II conquistaram a área em 538 a.C., durante o período persa Sidom foi a principal cidade costeira deste império. 2.2 Tiro Segundo o historiador Heródoto, tiro nasceu por volta de 2740 a.C., filha de Sidom (cf. Isaías 23.12) e logo sobrepujou sua mãe em importância política durante um longo tempo. 2.2.1 Tito e Egito Uma carta de Tel-el-Amarna datada de 1430 a.C. endereçada a Amenhotep IV13 contém um pedido de socorro do Rei de Tiro ao Egito por causa de uma invasão de certos “Habiri”. Essa carta demonstra a dependência Fenícia do Egito e sua estreita ligação com este país, provavelmente decorrente de parcerias comerciais. 2.2.2 Tiro e Assíria A época de ouro de Tiro foi de 612 – 606 a.C.14 sob o império Assírio, os diversos conflitos que Sidom teve com os Assírios trouxe certa paz para Tiro que viveu um tempo de certa prosperidade. 2.2.3 Tiro e Babilônia 13 ANET Opcit p. 484. 14 TENNEY, Merrill C. (Editor Geral). Opcit, BLAIKLOCK, E. M. Artg.: Tyre. p. 833 – 835. 3 A derrocada de Tiro aconteceu ante os babilônios, Tiro ousou medir forçar e resistir aos Babilônicos, então Nabucodonosor II pôs fim ao porto e ao domínio de Tiro. 2.2.4 Tiro e Pérsia Esdras 3.7 relata que Ciro II ordenou que madeira de Tiro fosse usada para a reconstrução do segundo templo. Porém, relatos posteriores do Egito demonstram que a exploração constante de madeira levou à escassez deste material esgotando os recursos e grande período de prosperidade Fenício que logo foi suplantado pelos gregos. 3. Fenícia e na Bíblia Os Fenícios foram uma das partes que Israel deixou de expulsar da terra, o texto de Josué (cf. 13.5) cita a cidade de Gibleus entre as cidades não conquistadas sob seu comando, esta cidade ficava a 70 km de Biblos no território da Fenícia. Em juízes 18.7 diz-se do povo de Laís que eles viviam segundo o costume dos (shoqet – calmos, tranqüilos, em paz, sidônios (habitantes de Sidom) que estavam 15 sossegados, descansados, serenos ) e (boteach – seguros, despreocupados). Percebemos assim que os Fenícios, pelo menos no período de juízes, eram povos pacíficos que viviam da pesca e do comércio e não participavam de guerras. Posteriormente, Israelitas e fenícios se tornaram parceiros comerciais de Israel durante um bom tempo, suprindo madeira, tanto para o Templo de Salomão quanto para o segundo Templo com a ajuda de Hirão o fenício. Mas, essa ajuda se baseava em outros interesses, pois a região da Fenícia é uma região de agricultura pobre e a troca de produtos sempre foi necessária: “Também habitavam em Jerusalém tírios que traziam peixes e toda sorte de mercadorias, que no sábado vendiam aos filhos de Judá e em Jerusalém (Neemias 13.6)”. O reinado de Acabe, que ocupa uma extensão considerável no relato bíblico devido à crise religiosa que se desencadeou com o seu casamento com a rainha fenícia Jezabel (1 Rs 16.29 – 22.40). Durante o reinado de Acabe, Elias exerceu o seu ministério16 onde vemos um interessantíssimo contraste (cf. I Reis 17) enquanto Jezabel, que semeava morte em Israel (I Reis 18.4), o ministério do profeta Elias levava vida a sarepta localidade fenícia, situada a uns 15 Km ao Sul de Sidom. Além disso, o termo sidônios, aparece em I Reis 5.6, neste contexto, designa os fenícios, que, em questões de arte e técnica com madeira, estavam muito mais avançados que os israelitas. Por isso, a arquitetura do templo e de outras construções realizadas por Salomão reflete uma 15 STRONG, J. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Art.: Brasil2002; 2005 (versão eletrônica). 16 Idem Ibid. 4 (shaqat). Sociedade Bíblica do marcante influência fenícia (Hirão foi o artesão Fenício responsável pela construção do templo)17. 4. A Cultura A cultura fenícia era admirada em pelo menos três aspectos, o primeiro deles era a boa qualidade da madeira da região e de seus artesãos. Um texto Egípcio antigo traz o relato de Wenamon (Wenamun), oficial do Faraó Ramsés XI (1100 – 1070)18 que foi enviado a Biblos (extremo norte do território fenício) para comprar madeira para a construção de um bote sagrado para Amom no tempo de Zakar-Baal rei de Biblos19. O segundo aspecto importante é a navegação, desde tempos muito antigos os fenícios dominavam a navegação e faziam o comercio de mercadorias por todo o mediterrâneo, e até a África Atlântica, inclusive organizando colônias em várias regiões dentre elas a mais conhecida é Cartago. Mas a principal contribuição dos fenícios, sem nenhum sombra de dúvida foi a criação do alfabeto que possibilitou além do uso comercial para o qual ele foi criado, o registro dos acontecimentos históricos. Outras contribuições conhecidas dos fenícios são, a já citada criação da cor vermelha carmesim, que acabou nomeando este povo e 5. Religião Fenícia Os fenícios eram politeístas e tinham um panteão vasto de deuses, mas algo a se destacar na religião fenícia são os sacrifícios. Esses rituais estavam ligados com algum tipo de crença na morte e ressurreição do deus moloque. E a preferência desses sacrifícios eram de crianças, em especial os primogênitos, que com sua morte garantiria o pagamento dos pecados de toda a comunidade garantindo assim seu futuro. Astarote (ashtoreth – “estrela”) era a principal divindade feminina dos fenícios cujo culto era associado à guerra e à fertilidade, também “Ishtar” na Assíria e “Astarte” para os gregos e romanos20. 17 Sociedade Bíblica do Brasil. Bíblia de Estudo Almeida - Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2005. 18 Esta data coincide com a data da independência da Fenícia de um longo domínio Egípcio incluído também algumas invasões dos Hicsos (1800 – 1100) (cf. http://phoenicia.org/history.html acessado em 17 de outubro 2008). 19 BARTON, George A. Archaeology and the Bible, 7a ed. P. 449 – 452. 20 STRONG, J. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, 2005 (versão eletrônica). 5